CAPITULO 04

Owen

Entro em casa ainda meio decepcionado pelo que ouvi a Madison dizer para sua melhor amiga, no fundo eu sempre soube que nossas diferenças sociais sempre seriam um empecilho pra nossa relação. E de nós dois ela é que mais esteve consciente sobre essa situação, talvez por isso ela está lidando com tudo isso de uma maneira tão fria. Mas pensar em uma vida sem ela praticamente me deixa com falta de ar, pensar em todos os sonhos que tive para nós dois e imaginar que não poderemos concretizar nenhum deles, isso acaba comigo, jamais amarei outra mulher. Madison Cox, roubou meu coração. 

Resolvo me sentar na pequena varanda da nossa casa, daqui é possível ter uma linda visão do campo extenso. Retiro a caixinha de veludo na qual o anel de noivado está guardado, abro a caixinha e fico encarando o anel brilhante, pode não ser um diamante mas é um lindo anel. E tenho certeza que ela ia gostar muito de recebê-lo, eu desconfio que ela está fazendo tudo só pra agradar a mãe, a patroa nunca gostou de mim, ela só me suporta mesmo porque o marido gosta do meu trabalho. Mas desde que cheguei nessas terras ela me olha de um jeito feio, ela quase não aceitou quando o patrão deixou eu ficar na casa dos padrinhos. E sei que ela tem muita influência sobre a Madison, a mãe dela às vezes consegue ser muito persuasiva. 

Mas eu também sei ser muito persuasivo, e farei tudo para que possamos viver juntos. Desde que soube que estava apaixonado por ela eu idealizei nossa vida, eu pedindo ela em casamento e ela me dizendo um sim bem sonoro, nosso casamento aqui nas terras, nossa casinha construída, e faria de tudo para que não faltasse nada, até abriria mão do meu sonho de me tornar um engenheiro agrónomo só para trabalhar feito um condenado para que ela não tenha falta de nada.

— Dia difícil? — Meu padrinho pergunta ao mesmo tempo que se senta na sua poltrona velha ao meu lado. E acho que já está mais do que na hora de abrir o jogo pra ele, ele é como um pai pra mim, jamais guardaria um segredo dele. 

— Padrinho eu... 

— Eu sei de tudo Owen — olho pra ele espantado e meio confuso — sim, eu sei sobre seu envolvimento com a filha do patrão. Nesse momento eu não posso mais te julgar nem te dar uma bronca, você é um homem apaixonado, homens apaixonados agem como idiotas e sei muito bem o que você tem pensando em fazer. O que você está esperando para pedir a mão da moça no patrão? — Eu olho pra ele ainda mais alarmado e ele simplesmente começa a rir da minha cara de idiota — já está mais do que na hora de vocês casarem, sei que essa relação já foi consumada há muito tempo. 

Fico meio sem jeito quando meu padrinho diz isso e também me sinto um irresponsável por ter tirado a inocência dela sem ao menos ter noivado ela 

— Eu sei que você é diferente dessa juventude de hoje em dia. Então sei que você como um homem honrando vai colocar uma aliança naquela moça. Não te criei para ficar tirando a inocência das moças e fugir das responsabilidades — ele fala sério e sei o quanto ter honra é importante para ele. 

— Eu sei padrinho. Mas a Madison cresceu em cidade grande e ela é dessas mulheres com pensamentos modernos. Pra ela se casar tão cedo é um grande desperdício — suspiro pensando no seu jeito petulante de falar as coisas sobre modernidade. — Como o senhor descobriu sobre nós? 

— É muito fácil ver um homem apaixonado. Você ficava olhando a moça passeando e  cavalgando pelas terras  feito um burro abandonado, só faltava ronronar pra chamar a atenção dela. Olhava para ela com cara de bobão como eu olhava pra madrinha quando ela me dava um fora,  e você já não saía com Charles para as festas na cidade como faziam antes. Então daí eu tirei minhas próprias conclusões — ele ri e eu também o acompanho — a menina é bem geniosa. 

— E muito teimosa feito uma mula também. Mas vou convencer ela a fazer o certo. 

— Então o que está esperando para pedir a mão dela? — De repente me lembro do momento em que ela estava arrumando as malas. 

— Aí que está padrinho. Eu ouvi que hoje mesmo ela vai para eu Europa e também o Charles me disse que ontem ela esteve mostrando a fazendo para um desses engomadinhos que vem visitar a família. Mas o senhor está certo eu vou fazer o correto. 

Trocamos um abraço e ele diz que o horário de almoço já terminou por isso vai voltar ao trabalho e me manda descansar. Entro no interior da casa pra tomar os remédios, os malditos são tão pesados que acabaram me derrubando na cama, de novo. 

Quando despertei o sol já estava caindo, e eu levei um susto ao perceber o quanto o tempo tinha passado, não sou acostumado a dormir durante o dia. 

Deus, tomara que ela ainda não tenha ido embora por favor. Faço uma prece no íntimo do meu cérebro enquanto troco de roupa e pego o anel. Saio apressado indo em direção a casa grande, a essa hora os trabalhadores já estão indo embora. 

Estou tão apressado que esbarro em alguém quase derrubando a pessoa. 

— Owen!? — É a Lisa,  a melhor amiga da Madison. E ela me olha de um jeito tão espantado, como se tivesse visto um fantasma — o que você faz aqui? estão todos...

—A Madison está? — Ela assente — ótimo, e o senhor Cox está? 

— Ele não está, ele foi até a cidade chamar o delegado, Owen me escuta, você precisa ir embora agora — ela parece meio trémula as palavras quase não saem com sentido da sua boca. 

Saio correndo sem escutar seus protestos, preciso falar com a mulher da minha vida. Entro na casa grande do mesmo jeito que entrei mais cedo, sem me demorar no andar de baixo vou até o piso superior. Sem que ninguém me veja eu entro no quarto da Madison. 

— Mãe já falei que está tudo certo... — ela leva um susto ao ver que sou eu e não a mãe, acho que não só minha presença a surpreendeu, mas também o estado do meu rosto que ganhou tons diferentes de cores de ontem para hoje, mas não está mais inchado — Owen. — Ela sussurra enquanto aperta o roupão, as gotas de água e o cabelo molhado denunciam que ela acaba de sair do banho, e nossa, eu senti tanta saudade de a ver assim. 

— Nós precisamos conversar — falo tentando me aproximar para segurar seu braço, mas ela se afasta. 

— Não temos mais nada para conversar Owen. Siga com a sua vida, eu também farei o mesmo — eu não vejo certeza nenhuma em suas palavras. Por isso eu queria enfrentar ela de frente. — Vai embora antes que alguém te veja aqui Owen por favor. 

Sua voz está chorosa, e eu quero tanto abraçar seu corpo indefeso e dizer para ela que tudo irá ficar bem. 

— Eu vou pedir a sua mão no seu pai. A gente ainda pode ficar junto Madison, nós podemos...

— Por favor Owen para, só para de sonhar com algo tão impossível. Meu pai jamais aceitará dar a minha mão para você. Isso nunca será possível, por favor mete isso na sua cabeça. 

— Então vamos fugir. Vamos embora daqui e viver esse amor, um dia seus pais vão ter que aceitar que a gente se ama de verdade. — Falo exaltando a voz, e estou sentindo tanta raiva  das pessoas ricas que rotularam  que pobres e eles não podem se juntar. 

— Mas eu não te amo — ela grita de tal forma que posso escutar meu coração falhar uma batida — Owen eu não quero te machucar por favor. — Nesse momento o quarto ficar em silêncio, apenas nossas lágrimas rolam no silêncio da noite que já nasceu lá fora. 

Me ajoelho em frente dela pois meus pés fraquejaram.

— Owen para...

— Por favor, não faça isso comigo princesa. Eu te amo, e sei que você também me ama. Só tem medo de assumir seus sentimentos por mim, mas sei que seu coração b**e com a mesma intensidade que meu toda vez que estamos juntos — suplico a Deus para que a faça entender que podemos ser felizes juntos.

Ela respira fundo e limpa as lágrimas com rudeza, mas eu mal tenho forças de limpar as minhas. 

O barulho de sirenes invade o quarto e fico meio confuso, por isso me levanto para verificar pela janela do quarto mas antes que eu pudesse fazer qualquer movimento a Madison segura na minha mão com os olhos suplicantes. 

– Owen por favor vai embora antes que seja tarde demais — porquê está todo mundo dizendo para eu ir embora?

— Porquê você e sua amiga estão dizendo para eu ir embora? Não estou entendendo nada. Eu só quero que você dê uma chance para nós dois Madison, por favor — minha voz sai bem rouca porque estou prendendo o choro. 

— Eu sinto muito Owen. Mas não posso — ela fala num murmúrio e solta minha mão. Eu queria me aproximar para beija-la mas um soco bem forte que recebi no lado esquerdo do meu rosto me impediu. 

— Seu desgraçado! — Graças ao meu reflexo eu consigo me segurar num dos móveis do quarto. O soco quase me derrubou, minha boca está sangrando os hematomas estão fervilhando pelo agito. 

— Patrão, eu posso explicar. Não aconteceu nada, eu só vim conversar com a Madison — o homem deve estar achando que eu vim fazer alguma sem vergonhisse com a filha. Ele me olha com tanta ira que antes que eu pudesse me recuperar do soco ele estava me segurando pela gola da camisa. Mesmo sendo um homem já bem mais velho o patrão ainda tem muita disposição  — senhor Cox não estávamos fazendo nada demais, só vim conversar. 

— John — ele grita o nome do capataz que imediatamente aparece na porta do quarto — avise ao delegado que já achamos o ladrão — ele fala olhando diretamente nos meus olhos, confuso e ainda abalado pela conversa com a Madison encarro a todos com espanto. 

— Como assim? Patrão eu não roubei nada, do que vocês estão falando? Eu juro que só vim até aqui conversar nunca roubei nada não.

— Seu ingrato! — Ele rosna me batendo contra a parede — eu aceitei que você ficasse aqui achando que era um bom rapaz. Te dei trabalho e confiei em você. E em troca você se aproveita da minha filha e ainda me rouba bem debaixo do meu nariz. — Olho pra Madison que implora para o pai me soltar pois está me sufocando. 

— Madison por favor, diz para ele que nunca me aproveitaria de você. Que nós apenas estávamos vivendo nosso amor. Diz que eu te pedi em casamento por favor princesa — e recebo mais outro soco. 

— Você vai apodrecer na cadeia seu filho da puta. E vai me pagar muito caro por ter abusado da minha filha — arregalo os olhos. 

— Eu nunca abusei dela. Isso não é verdade, o senhor sabe que jamais faria algo assim. 

— Não negue o que é verdade. Quando me avisavam que você era um delinquente eu não acreditei. Primeiro eram as suas saídas misteriosas durante a noite, depois a surra que  recebeu a dias atrás de pessoas que você supostamente não conhecia, e agora isso. Você entrou na minha casa e me roubou seu desgraçado. 

— Não, eu não fiz nada. Não roubei nada e jamais faria algo assim. O senhor foi bom comigo jamais agradeceria fazendo uma coisa dessas. 

— Não negue porque tem testemunhas que viram você entrando na casa num momento em que ninguém estava presente, para além disso achamos o dinheiro escondido  na porra do seu quarto. — Ele me solta e eu quase caio no chão quando volto a puxar o ar com normalidade, na porta vejo o delegado entrando e minha madrinha chorando falando que eu não fiz nada. E tudo acontece rápido demais. Sou imobilizado contra o chão do quarto, minhas mãos são levados para as costas e são colocadas as algemas enquanto o delegado fala sobre a minha acusação e cita os meus direitos. 

Eu ainda estou numa espécie de transe, porque ainda não consegui assimilar direito o que aconteceu. 

E a única pergunta que grita na minha cabeça é porquê a Madison não me defende? Porquê ela não faz absolutamente nada para negar tudo o que o pai disse?

Quando chegamos na sala elegantemente decorada vejo que o lugar está lotado. Meus padrinhos implorando por clemência, o senhor Cox me olhando com decepção, a esposa dela me encarando daquele jeito altivo de sempre, John me encarando com aquele sorriso nojento, ele está feliz de me ver nessa situação. E Madison, simplesmente não vejo nada em seus olhos, agora ela está vestida e ao lado dos pais. 

— Eu sempre soube que esse garoto não era  flor que se cheire. No final ele nos roubou e ainda se aproveitou da minha filha — eu queria falar mas os policiais me contiveram. 

— Não quero ver você nunca mais nas minhas terras. E muito menos perto da minha filha, podem levá-lo — sou arrastado para fora da casa de forma brusca. 

— Owen, eu juro que vai ficar tudo bem meu filho. Nós vamos tirar você de lá e provar sua inocência – minha madrinha chora enquanto fala  e isso parte meu coração. Eu odeio vê-los sofrendo por minha causa. 

— Eu sinto muito, não queria meter vocês nessa situação — e então sou arremessado para dentro da viatura. E então sou levado para fora das terras onde passei os melhores momentos da minha vida.

Quando chegamos na delegacia nem se quer tive advogado, pois não tenho dinheiro para pagar um, então foi oferecido um pelo ministério público, que só irá aparecer amanhã, então fui jogado na cela como um lixo. 

— Foi burrice demais ter roubado um homem como James Cox. Se prepara pra morfar na cadeia, aqui está seu jantar — ele deixa a bandeja dentro da cela e sai — bom descanso. 

Desperto com o barulho estridente de objetos batendo nas barras de metal da cela. Quando abro os olhos me deparo com o delegado e o mesmo policial de ontem.

— Hoje é seu dia de sorte garoto — ouço atentamente o delgado falar enquanto o outro homem abre a grade da cela — o senhor Cox foi piedoso e resolveu retirar a queixa. Mas quer um concelho? Saia da cidade e nunca mais volte, já está todo mundo sabendo o que você fez, aqui você não conseguirá trabalhar sem ser apedrejado, ou ser empregado por causa do roubo. 

— Eu não roubei  nada — murmuro enquanto caminhamos pelo corredor. 

— Sei, é o que todos os ladrões pegos em flagrante dizem — Quando entramos na recepção da delegacia vejo meus padrinhos, me aproximo deles  um pouco envergonhado, mas apesar disso os dois me apertam num abraço. 

— Muito obrigada xerife. Por soltar meu menino — a madrinha agradece enquanto faz carinho no meu rosto. 

— Apenas  mantenha o seu menino longe de confusões. E já sabe garoto, nunca mais coloque os pés naquela fazenda — saímos da delegacia e caminhamos até a praça da cidade. 

— Eu sinto muito por envergonhar vocês. 

— Nós nunca tivemos motivos para sentir vergonha de você meu rapaz e não é agora que isso vai acontecer — meu padrinho me abraça bem forte, sei que essa é a nossa despedida. 

— Sabemos que você não roubou aquele dinheiro meu filho. Foi só algum infeliz que armou para você — sim, ultimamente a vida tem me aprontado cada uma. Olho para meus padrinhos e faço a pergunta que não quer se calar dentro de mim. 

— E a Madison? — Sim eu sou um masoquista. 

— A menina foi ontem para o aeroporto apanhar o voo para Europa — fico meio cabisbaixo ao ouvir isso — mas está na hora de você seguir em frente meu filho. Isso não ia dar em nada, e você só ia sofrer. 

— Não chore madrinha por favor. Eu prometo que aonde quer que eu vá eu sempre vou manter contato, sei em de cor o número do telefone de casa. Quando eu arranjar um bom emprego eu vou mandar dinheiro pra vocês. — Falo depois que minha madrinha me entrega um maço repleto de notas — mas eu não posso aceitar todo esse dinheiro. Vocês vão precisar dele.

— Vai sim, como também deve. Aqueles malditos não só levaram o dinheiro do patrão no seu quarto como também suas economias — o dinheiro que levei anos juntando com a esperança de construir uma casa. Eu os abraço juntos e quando eu finalmente estava prestes a me virar para ir embora meu padrinho me entrega um cartão. 

— Não sei exatamente em que parte do país fica esse endereço mas você precisa ligar. Ele vai te ajudar — assinto e dou um último beijo nos dois e seguro a mochila que eles trouxeram com as minhas coisas. 

Meu padrinho me entrega também uma passagem de ônibus para Austin, a capital do estado do Texas. Lá é o melhor lugar para encontrar um emprego bom por ser uma grande metrópole. 

Quando estava entrando no ônibus dei uma última olhada para os dois e para meu melhor amigo que chegou depois para se despedir de mim, acenei para eles e entrei de vez no ônibus com o coração sangrando de dor.

Austin, Texas

Algumas semanas depois

É meu horário de intervalo então resolvi usar esse tempo para usar o telefone que o chefe de obras me ofereceu caso eu precisasse ligar para alguém. Não sei no que isso vai dar, mas mesmo assim eu vou tentar. 

Digito o número que vem escrito no cartão-de-visita que meu padrinho me entregou e espero  ser atendido, por quem quer que seja.  

— Ward Imperius em que posso ser útil?  — uma voz feminina e muito educada é que atende a ligação. 

— Oi, meu nome é Owen Ramires Watson e meu padrinho disse que eu devia ligar para esse número.

Silly Roberts

Pessoal é um prazer enorme estar escrevendo aqui para vocês. este é meu primeiro livro em cenário cawboy e espero que vocês estejam curtindo quanto eu estou gostando de escrever ela. Deixe seu comentário sobre o que vocês acham que vem de seguida após Owen ter ido embora da cidade e deixado tudo para trás. Atualização de capítulos - segunda, quarta e sexta-feira.

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