03 - Fogo

Para Elliot, aquele fora um dia cansativo. Mais do que o comum, já que a rotina atarefada costuma o agradar, ao contrário de muitas pessoas acomodadas com uma vida calma e sem muitos acontecimentos.

Porém, um momento daquele longo dia o marcou de forma diferente. Dentre todas as pessoas que entrevistou durante a tarde, ele se sentiu especialmente intrigado por Jonathan Jones. E agora, horas mais tarde, ele continuava confuso sobre a conexão repentina que sentiu.

Ele estava parado em sua cobertura, debruçado na varanda que dava para uma incrível vista na cidade. Vestindo apenas um robe de seda roxo, ele segurava um cigarro delicadamente entre seus dedos longos, observando com atenção como a fumaça se dissipava através do vento que atingia seu corpo parcialmente nu.

Mesmo com um tecido que mal cobria suas partes, ele não se importou com o frio da noite escura. Muito pelo contrário. Ele se debruçou cuidadosamente sobre o vidro que o protege na sacada e continuou observando a lua majestosamente colocada no céu, admirando toda a sua beleza.

Tocado pela magnitude de tudo que o cerca, ele percebeu como se sentia vazio, solitário. O homem que estava em seu quarto nesse exato momento se sentiria ofendido se pudesse ler os seus pensamentos mais profundos. Mas infelizmente, era a realidade.

As noites de amor intenso com pessoas que apareciam em seu caminho não passavam de momentos rápidos e casuais. Para Elliot, era apenas uma noite. Foi assim com todos eles, e dessa vez, não seria diferente.

Nenhuma dessas pessoas despertou em Park o que ele sentiu durante os poucos minutos em que ficou na presença de Jonathan. O fogo voraz que o consumiu ao olhar nos olhos negros do estagiário era algo completamente inédito. Ele se sentiu como um viciado, certo de que precisava sentir mais da adrenalina que o levou a querer experimentar mais da sensação inebriante que o invadiu.

Mesmo tomando cuidado para que Jonathan não percebesse seus pensamentos impróprios, a fim de não o deixar desconfortável, era extremamente difícil resistir a tentação de manter suas mãos longe dele.

A esse ponto, Elliot já havia entendido que contratá-lo não era a melhor das opções. Mas de forma inevitável, ele sentiu que precisava sentir mais daquela sensação.

Park se sente extremamente atraído por desafios, e, para ele, Jonathan se tornou o mais instigante de todos.

Ignorando o inevitável fato de que em algum momento ele precisaria expulsar o homem que dormia tranquilamente em seu quarto, ele passeou pela sala, andando em círculos até ouvir o telefone tocar.

Ele atendeu imediatamente, ansioso, já sabendo que teria as informações que precisava.

Cumprindo as ordens de Elliot, sua secretária lhe enviou um arquivo com todas as informações que tinha acesso sobre Jonathan Jones. E mesmo surpresa com seu comportamento incomum, ela acatou suas ordens sem questionar.

Não era do seu feitio ter tanto interesse em um funcionário, mas nesse caso, ele precisou agir de forma diferente.

Como um predador, ele sentia que precisava conhecer a sua presa. Todos os seus pontos fortes e fracos. Tinha que ter uma vantagem.

Mesmo assim, uma parte sua continuou em negação, se convencendo de que o seu magnetismo se dava devido ao talento do jovem. Em seu interior, ele sabia com exatidão que seu interesse era muito mais do que profissional.

Aquele dia, o que deu início dentro de si foi como uma pequena faísca que, aos poucos, revelaria o fogo intenso que cresceria dentro dele. 

O fim de semana passou lentamente para Jonathan, que estava uma pilha de nervos. Seu dia de domingo se resumiu a trocar os títulos da N*****x repetidamente, sem conseguir concentrar a sua atenção em algo importante.

Tudo o que conseguia pensar, era o quanto estava ansioso para o seu primeiro dia de trabalho.

Ele se esforçou para estar o mais apresentável possível, e assim que chegou na empresa, sentiu todos os olhares sobre ele.

O escritório, cheio de pessoas despojadas e casuais, não estava acostumado com alguém como Jonathan. Seu senso de moda era algo admirável, e alguém com a sua aparência não passaria despercebido tão fácil.

Isso se aplica ao seu próprio chefe, que ao chegar um pouco mais tarde na empresa, observou o estagiário completamente atento enquanto recebia as informações sobre seus afazeres.

Elliot sentiu seu corpo formigar ao ver o belo garoto vestindo uma camisa roxa, com uma leve transparência.

Somente aquilo foi o suficiente para levar sua imaginação a lugares que ele evitava visitar.

Sua mente devassa se permitiu, por um momento, imaginar as possibilidades que as roupas de Jonathan guardavam por baixo de todo aquele tecido. Porém, ele se arrependeu rapidamente, já que sua imaginação fértil era mais torturante do que ele conseguia lidar.

Um tanto nervoso, Elliot apertou o botão que o conectava a sua secretária no exato momento em que colocou os pés em sua sala.

“Mande o novato vir em minha sala agora, por favor.”

Jonathan estranhou seu chefe pedir para vê-lo logo no primeiro dia. Mesmo assim, obedeceu.

Ele deu três toques tímidos na porta antes de se apresentar.

Seus passos tímidos tinham dificuldade de o levar mais perto de Elliot, e Jonathan sentia receio de se aproximar demais do olhar intenso que parecia o devorar.

Park não disfarçou, não quis disfarçar. Seus olhos percorreram por todo o corpo do novato sem qualquer pudor.

Sem reação, Jonathan corou levemente ao perceber tal fato. Ele estava envergonhado, sentindo o suor repentino escorrer em suas têmporas. Porém, algo dentro de si podia dizer que ele gostou de ser olhado daquela forma.

“Precisa de algo, Sr. Park?” Sua pergunta poderia ser respondida pelo modo em que estava sendo observado. Mesmo assim, ele aguardou uma resposta em silêncio.

“Preciso de mais coisas do que pode imaginar, Jones.” O tom na voz de Elliot fez Jonathan tremer. “Tenho um cliente exclusivo que precisa da minha orientação na produção do seu novo álbum. Quero que vá comigo, acho que pode ser interessante para você”.

 

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