02 - Tensão

Ao contrário do que Jonathan imaginava, seu possível futuro chefe estava completamente atento a todas as suas ações e movimentos que ele fazia. Ele percebeu rapidamente como o nervosismo do jovem estava afetando o seu desempenho, assistindo enquanto ele esfregava suas mãos repetidamente no tecido da calça apertada que usava naquele dia.

Era um comportamento normal para alguém que se candidatou a uma vaga em uma das maiores empresas do país. Porém, o que Elliot Park não entendia, era o motivo pelo qual ele mesmo não conseguia se manter estável diante do homem sentado em frente a sua mesa.

Era um jovem comum, como diversos outros que havia entrevistado naquele dia. Nada de extraordinário, além do fato dele ser extremamente mais talentoso do que os outros, com base na checagem rápida que fez no portfólio de Jonathan.

Mesmo assim, algo o incomodava, e Park estava extremamente curioso sobre o motivo pelo qual Jonathan o causou tamanha inquietação.

“Está muito nervoso, Jones” Elliot exibiu um micro sorriso em seu rosto, tentando não parecer simpático o suficiente, para que isso não o deixasse desconfortável.

Ele, como um chefe exigente que era, achava importante ter de impor pouco de medo em seus futuros funcionários. Acreditava que era impossível obter respeito se não fosse dessa forma e, em sua defesa, estava funcionando até o momento atual.

Pelo menos era o que gostava de pensar, já que questionar seu trabalho era tarefa de outras pessoas que conviviam ao seu redor.

“Me desculpe, achei que iria me sair melhor. Pelo visto não consegui ter sucesso com os meus ensaios.” Jonathan respondeu descontraído, tentando relaxar diante da situação tensa.

O sorriso largo que ele exibiu em seu rosto fez Park se encolher levemente em sua cadeira, fincando suas mãos na mesa de mogno à sua frente. Algo se revirou dentro de si naquele momento, e ele não saberia explicar o motivo tão cedo. 

Ou se recusaria a enxergá-lo. 

“Tudo bem, vamos começar. Me conte sobre sua visão de futuro.” Park o olhou rapidamente, desviando o olhar lasso para que retornasse até o papel que estava em suas mãos, tentando disfarçar o incômodo que o acometeu ao se sentir daquela forma.

Jonathan foi pego de surpresa por receber logo de cara uma pergunta tão objetiva, e tentou utilizar todo seu raciocínio e boa eloquência para convencê-lo dos seus motivos.

“Quero ser produtor, digo, sou produtor musical. Só preciso de uma chance para mostrar que mereço estar aqui, tenho muito a oferecer.” Finalizou com essa frase após um longo monólogo composto de argumentos que ele não sabia se seriam tão efetivos assim.

Elliot se sentiu devasso ao pensar nas muitas formas que Jonathan poderia ser útil a ele. Jones certamente tem muito a oferecer para alguém como ele, mas, provavelmente, não da forma que ele poderia imaginar. 

Tentado a cessar seus pensamentos infames com o jovem candidato, Elliot retornou com mais uma de suas perguntas diretas. 

“Você é muito jovem. Costumo não contratar pessoas tão jovens assim, já que dou preferência a perfis que vão fazer jus ao nome da empresa. Mais experientes, se me permite dizer.” Elliot rabiscou algumas anotações no bloco que havia em sua mão, sem enxergar como Jones pareceu um tanto ofendido com o seu questionamento.

Mesmo sabendo que ele era apenas cinco anos mais jovem que Park, Jonathan tentou entender os motivos pelo qual ele costuma ignorar candidatos da sua idade. É difícil conhecer pessoas maduras e responsáveis aos 21 anos. E isso é algo que ele não poderia ignorar.

Então, Jones relevou a irritação passageira que as palavras do loiro lhe causaram, focando sua atenção no que precisava dizer para se sair bem naquele momento.

“Vivo sozinho há um bom tempo. Fui obrigado a ter comprometimento desde muito cedo, Senhor Park. Então, posso afirmar que não falharei nisso. Estou acostumado com grandes responsabilidades.”

Elliot se questionou sobre o motivo pelo qual um garoto tão jovem já morava sozinho. Porém, ignorou suas próprias perguntas imediatamente, pensando que não deveria ser da sua conta. Aquele menino não era ninguém para ele, não existiam motivos para que ele se envolvesse em uma questão tão pessoal.

Ainda que a curiosidade fosse maior do que gostaria, ele tentou não cogitar as inúmeras possibilidades que o levaram a ter um caminho solitário de forma tão precoce.

“Eu ouvi suas músicas, você produziu sozinho, certo?” Park mudou de assunto, voltando sua atenção para outro tópico. “São… interessantes. Me conta como é seu processo criativo.” Ele perguntou, se lembrando de perguntas bobas que precisava fazer para conduzir aquela entrevista, ignorando a vontade de saber mais sobre a vida do mais novo.

Os olhos de Jonathan brilharam ao finalmente ouvir algo que ele poderia responder com extrema segurança, pois música era sua verdadeira paixão, e isso é um fato que todos que o conhecem podem afirmar. Então, Jonathan aproveitou aquele momento e usou dos seus melhores argumentos para que fosse contratado.

Contudo, ainda que impressionado pelo conhecimento técnico de Jones, o mais velho não conseguia parar de reparar os dois primeiros botões abertos na camisa de Jonathan, que deixava parcialmente exposto seu peitoral definido e úmido pelo suor ainda presente.

Park sentiu um inexplicável magnetismo ao vê-lo sentado em sua frente, sem ao menos notar como seus olhos automaticamente passeavam pela boca de Jonathan, focando na delicada pinta que existe abaixo de seu lábio inferior.

Com a sensação ficando cada vez mais forte, ele sentiu sua testa suar em nervosismo. E assim que percebeu a distração que Jones causava em si com sua aparência deslumbrante, Elliot decidiu encerrar a entrevista antecipadamente, antes que o outro notasse a confusão interna explícita em sua feição.

“Certo, Jonathan. É o suficiente.” Elliot sequer o olhou diretamente, só queria que ele saísse de lá quanto antes. “Aila irá passar todas as orientações que precisa, você começa na segunda.”

Jones não expressou reação alguma, estava boquiaberto. Surpreso por ser interrompido de forma brusca e inexplicável, porém, agradecido por conseguir uma chance na empresa dos seus sonhos.

E, mesmo sem imaginar, a tensão que sentiu pairando no ar enquanto estava com Elliot na mesma sala o perseguiria por um longo tempo. 

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