Horas depois acordei naquele quarto imundo, sozinha, naquele chão de palhas, quando me movi um pouco tentando levantar senti uma dor aguda entre as pernas e algo molhado, coloquei a mão no local da dor e meus dedos molharam, levantei a mão para frente do meu rosto e vi sangue. Fiquei desesperada. Naquele tempo, eu tinha 18 anos então já tinha menstruado, mas aquela quantidade de sangue não era normal. Esforcei-me para levantar e mesmo com dores, consegui, olhei para onde estava deitada e realmente havia bastante sangue.Escutei alguém chegando e a porta sendo aberta, com medo de ser o monstro tentei correr para me esconder, mas perdi as forças das pernas e caí, a porta foi aberta, mas para minha sorte quem estava lá era uma senhora negra que ficou horrorizada com a cena que viu, ela se aproximou de mim e ajudou-me a sentar.– Criança, você não pode se movimentar, precisa ficar deitada. – Eu senti a preocupação e tristeza nos olhos daquela estranha, sabia que ela era diferente dos outr
– Desculpa pela comparação da Elena e sua imperatriz, não era minha intenção ofendê-los. – Eu realmente me senti culpada por ter sido a causadora desse clima estranho, não sabia por que me comportei dessa forma, nos conhecíamos apenas algumas horas e parecia que éramos amigos íntimos, talvez seja por ter ficado empolgada de ter escapado da aldeia e também por ter escutado as histórias do vampiro ao redor de uma fogueira, era como se eu tivesse voltado ao tempo e estivesse em uma daquelas noites com meu tio, mas a realidade é outra e eu preciso saber disso.– Não precisa se desculpar, a culpa não é sua. – Ele disse com os olhos fixos para a fogueira como se estivesse pensando em algo.– Como assim?– Por que você está fugindo de um Alfa? – Ele fixou os olhos nos meus. Estava fugindo do assunto de novo, esse homem é esperto, sabe que existe algo entre eu e o Lúcius e para não me dá uma resposta que seja comprometedora, fica colocando o Alfa na conversa.– Por que é necessário. – Falei cu
Eu estava correndo pela floresta que tanto amava, estava escuro e mesmo com a minha visão de loba, tudo estava embaçado devido às minhas lágrimas. De repente ouvi um rosnado na minha frente, tentei limpar meus olhos ajustando a visão e o vi. Era Lúcius, em sua forma de lycan, branco, gigante, com os olhos castanhos claros brilhando. Ele estava parado, me encarando, então começou a correr na minha direção. Eu corri desesperadamente na direção contrária, indo pelo mesmo percurso que tinha acabado de trilhar, tentei me transformar em loba e não consegui, ele estava me alcançando. Até que entre as árvores, alguns metros de distância à minha frente eu vi um par de olhos azuis. Apesar de ter visto apenas uma vez já sabia quem era. Drakon estava parado com um sorriso sarcástico no rosto, uma mão nas costas e o braço direito curvado em frente, na altura da barriga. – Você vai passar o resto da vida fugindo? Se quiser enfrentá-lo, apenas enfrente como fez comigo, não há nada a temer. Parei
Desde a descoberta da existência vampírica, os lobos e humanos os olharam como aberrações, seres sem sentimentos que voltaram da vida apenas com sede de sangue. Nos livros, eles eram tratados como pessoas que ofenderam os Deuses e o equilíbrio da natureza e ainda representam o próprio pecado. São pessoas sem vida e sem emoção, eram cruéis que mereciam morrer, mas eu estava começando a me questionar se era verdade mesmo tudo aquilo que foi escrito. – Por que ela te amaldiçoaria? – Não que eu estava achando que aquilo era mentira, mas deveria haver alguma explicação para que a esposa dele fizesse isso. Será se foi por ciúmes das outras esposas? Mas na terra dele se casar com mais de uma era uma coisa culturalmente normal. Ele virou-se e seus olhos negros fixaram-se para a lua, com as duas mãos entrelaçadas em suas costas. – Por que eu merecia. – Ele falou com a voz baixa, como se não quisesse admitir aquilo. – No início eu gostava, mas depois de anos sem seguir o curso natural da vida
Eu estava rolando na grama com aquele lobisomen prateado após tê-lo atacado fazendo com que nossos corpos fossem arremessados para longe da Kamilla que estava chorando no chão. O som baixinho dos seus soluços era o suficiente para minha raiva explodir mais ainda. Arranhões, mordidas, sons grotescos de duas feras gigantes lutando em um campo aberto soava por toda a floresta. Ele tentava morder meu pescoço, mas eu o impedia batendo minhas patas com unhas afiadas no seu rosto que começava a sangrar. Vendo que era inútil continuar tentando, com sua pata traseira, o lobo fincou bem onde ele sabia que minha costela ainda estava quebrada. A dor voltou forte me fazendo parar de rolar enquanto ele ficava em cima de mim, mas com minhas patas traseiras livres logo o chutei no abdômen. O Betha foi jogado um pouco longe o suficiente que eu me livrasse dele e levantasse. Ambos estávamos em pé nos encarando com os caninos para fora e rosnando. Dei um rugido alto, posicionei minha postura com a cab
Sentindo as lágrimas caírem pelo meu rosto, finalmente consegui dormir. Durante todos esses anos, eu aprendi que era muito melhor jogar para fora toda a tristeza de perder um ente querido do que deixá-la criar raiz. Passar um dia chorando toda a lágrima acumulada era mais libertador do que guardar as emoções para si e ficar calada. Se um dia eu encontrar alguém que queira chorar pela morte de alguém, eu irei abraçá-la e dizer a essa pessoa: “Vá em frente e chore”.Acordei e já era à noite, meu corpo pesava uma tonelada por ter corrido tanto. Olhei para onde estava a Kamilla e não a vi, levantei-me depressa e saí da cabana procurando-a.– Olha mamãe, olha! – a menina apareceu correndo e pulando entre as árvores toda feliz, em sua mão direita havia um coelha branco.Meu coração que estava quase saindo pela boca voltou ao normal, respirei fundo até ela chegar perto. Ela tinha visto um coelho e decidiu caçá-lo, eu poderia repreendê-la, mas ela era apenas uma criança inocente e cheia de vi
Aquele homem estava parado encarando meu tio sem dizer uma única palavra.– O que você quer? – Finalmente o Dindo quebrou o silêncio. O homem deu um leve sorriso.– É assim que você trata as visitas? – Sua voz era grossa e bonita, e estava em um tom calmo, como se estivesse batendo um papo com algum conhecido.O homem deu mais alguns passos, pegou o meu banco de madeira e sentou-se nele, o que era até uma visão engraçada devido à diferença de tamanho.– Você não é bem-vindo aqui, deve se retirar. – Meu tio ainda estava parado em pé a uns 3 metros de distância da porta. Eu conseguia ver suas costas e um pouco da sua lateral.– E quem vai me fazer ir embora? Você? – Ele zombou do meu tio. Um homem que eu sempre considerei forte e que mesmo não sabendo muito seu passado nem seu nome verdadeiro, ele me dizia que era alguém importante, um guerreiro.Para zombá-lo daquela forma aquela pessoa sentada no meu banco não deveria ser qualquer um.– Diga o que quer. – Meu tio mesmo depois de ser d
Deitada na minha cama com a Kamilla dormindo ao lado, olhei pelo buraquinho da parede que estava se formando devido ao abandono, eu podia sentir os raios solares bem fortes, era quase ao meio dia. Depois de ter dormido algumas horas, acordei com um mal-estar, uma preocupação e medo. Não sabia por que estava daquele jeito até que lembrei do que me aconteceu quando conheci o Drakon, aquelas emoções que não me pertenciam pareciam ter voltado e aquilo estava ficando cada vez mais forte. Mas por que eu ainda as sinto? O sangue que tomei para me recuperar foi há dias, já deveria ter se dissolvido no meu organismo, mesmo assim aquelas emoções ainda estavam lá.Tentei parar de sentir aquilo, mas só parecia piorar. Eu respirava fundo, tentava dormir novamente e nada adiantava, era como se o causador daquelas emoções estivesse me chamando, gritando pelo meu nome. Esfreguei minhas mãos no rosto várias vezes tentando me acalmar, pois a Elena não estava mais conosco para cuidar da Kamilla se eu pe