Ernie deu alguns passos pela escada, não tive incertezas quanto a seus sentimentos e o abracei com força. Nós dois começamos a chorar, e quase desmaiei de tanta emoção. Para Perséfone seria mil vezes mais intenso.
Ele estava vivo, era o que importava. O plano funcionou.
— Está com a minha filha, não é? — A esperança e o desespero em sua voz me encheram de alegria, ele não a odiava.
— Estou sim, senhor. Ela me mandou.
— Eu sofri tanto, Berth! — Passou as mãos sobre o rosto, e juntos descemos o último lance de escadas. — Pensei que a essa altura minha menina tivesse morrido na floresta maldita. Diga, onde
Yuna providenciou um local reservado para Perséfone e o senhor Ernie ficarem a sós e esclarecem tudo que aconteceu. Contei a ela sobre a facilidade da missão, e fiquei satisfeita por ganhar elogios e um certo reconhecimento.— Aposto que a rainha Evelyne já conta com a morte de Perséfone, por isso não se preocupou tanto com a segurança! — comentei.— Você teve sorte por ter encontrado o senhor Ernie em casa e a partícula de sol, mas não pense que acabou.Os boatos sobre nossa façanha já corriam soltos, espalhando-se como um incêndio descontrolado entre os vilões. Drizella abafava as fofocas com ameaças e gritos pelos corredores.
— Lembra quando nos conhecemos? Procuramos por um velho lá na feira para devolver a carteira, e Aristóteles invadiu minha mente. Foi horrível.— Lembro, eu odiava você.— A mulher disse que eu poderia fazer uma pergunta ao Aristóteles, e eu perguntei qual era o segredo da vida.— Que idiota! Eu teria simplesmente perguntado como ficar rica.— Ele me torturou, me chamou de feia, e disse que a dor que eu sentia, de quebrar os ossos, era o peso da resposta.— E então, qual era o segredo da vida, segundo Aristóteles?— O segredo é que
Bom, já que Berth começou essa história falando sobre mim, nada mais justo do que eu terminá-la falando sobre ela.Hoje é o dia da coroação de Berth, princesa de Artémise. E nesse ponto você já deve ter entendido que a mocinha da história nunca foi Amália nem Justin, sempre foi ela.Não chamaria isto de conto de fadas oficial, pois os papéis se inverteram. A heroína, a personagem secundária e a princesa eram Berth, a melhor amiga da vilãDepois do pedido de Annethy, Berth chorou por quase trinta minutos, falou coisas desconexas e incoerentes com a realidade e cantou uma música sobre sonhos e superação. Ela disse que se
Olá, caro leitor. Antes de começarmos, permita-me que me apresente.Eu me chamo Berth, e não, eu não sou a protagonista nem a antagonista do livro, só acompanhei uma delas bem de perto.A história que tenho para contar a você hoje, não é a de uma heroína ou uma princesa; é a de uma vilã, uma bruxa. Mas ela não é uma vilã convencional como você está pensando, porque ela realmente se arrependeu e até tentou consertar seus erros.Perséfone sempre foi muito complicada, mas se você analisar bem o caminho tortuoso e incerto dela por essas páginas, vai perceber que ela não é de fato uma pessoa ruim. Talvez só tenha, comotodosnós, tomado decisões erradas em situações mais erradas ainda. E acredite, ela não é a única vilã que passou p
Como você já sabe, todas aquelas histórias fantásticas sobre os reinos, princesas e fadas são reais. Então não ache estranho qualquer manifestação de magia que apareça por aqui. Mas não é porque essas maravilhas existem que alguma vez vai acontecer com você. Não existem príncipes suficientes nesse mundo para todas as plebeias injustiçadas.Nosso reino se chama Artémise, uma homenagem a deusa da lua, caça, partos e animais selvagens. Nunca ouviu falar nele? Nenhuma história extraordinária jamais aconteceu por aqui, na verdade somos apenas um reino muito pequeno cercado por outros também pequenos e uma floresta que dizem ser mal-assombrada. Claro que temos um castelo e uma monarquia, apesar de achar a democracia ligeiramente mais eficiente. Nosso
Perséfone falou rapidamente sobre a organização das prateleiras e me esforcei para decorar tudo até ter tempo de anotar. Em uns quatro minutos ela falou sobre rótulos, localizações, funções e até um pouco sobre sua vida pessoal. Eu apenas acenei como se tivesse compreendido tudo.— E você não pode entrar na área de trabalho ou tocar nos vidros com as caveiras desenhadas sem ninguém por perto, entendeu?— Sim.— Ótimo, agora preciso que vá até a livraria do senhor Blunt e pegue algumas coisas. - Perséfone tirou de debaixo do balcão uma caderneta e um lápis, começou a fazer algumas anotações.
Os dias foram se passando e continuei exercendo o trabalho na loja com tranquilidade. O senhor Ernie saia de vez em quando, mas sempre que estava presente me ensinava algumas coisas básicas. Geralmente eu ficava responsável por anotar os pedidos dos clientes e fazer algumas entregas, tomando muito cuidado para não cometer nenhum erro. Perséfone estava sempre por lá, ajudando o pai com alguns produtos ou lendo alguns dos seus livros. Não conversávamos muito, e o clima era meio chato.Um dia, o senhor Ernie resolveu piorar um pouco nossa relação.- Berth, preciso que deixe alguns produtos para a cabeleireira. Posso contar com você?- Claro.- Ah, e quero que leve a Per
O senhor Ernie me permitiu descansar no dia seguinte, mas logo após o almoço recebi um recado de que me esperava na loja. Apesar da dor de cabeça e do tornozelo inchado, fui com ânimo esperando que fossem apenas as necessidades do trabalho. Chegando lá, ele me convidou para acompanhá-lo até sua casa.Mesmo mancando, consegui acompanhar os passos dele sem cair. A casa ficava na mesma rua, não muito longe da loja. O jardim, apesar de mal cuidado, era bonito e espaçoso. Seguindo o padrão das outras do vilarejo, a casa possuía dois andares e sua cor era de um belo tom de azul-royal. Pelo lado de dentro, o papel de parede novo era amarelo quadriculado, com algumas pequenas flores cor-de-rosa. O que chamava mais atenção, era a quantidade de quadros de uma mesma mulher dispostos na parede.