Uma bela manhã, após muitas especulações e planejamentos, decidimos falar com Yuna. A ajuda dela era imprescindível. Mesmo que a partícula de sol estivesse perdida eternamente, levada de volta ao castelo, Perséfone ainda queria reencontrar o pai. Não viveria sem seu perdão.
Fomos à sala dela em um momento de menor movimentação, para não correr o risco de esbarrar com Drizella ou explicar uma desculpa esfarrapada para qualquer um.
Para nossa sorte, estava exatamente lá, sorrindo com Aristóteles ronronando em seu colo. Perséfone até fez menção de sair ao deparar-se com a figura do gato, mas a incentivei a ficar. Já havíamos adiado muito mais que o necessário.
Ernie deu alguns passos pela escada, não tive incertezas quanto a seus sentimentos e o abracei com força. Nós dois começamos a chorar, e quase desmaiei de tanta emoção. Para Perséfone seria mil vezes mais intenso.Ele estava vivo, era o que importava. O plano funcionou.— Está com a minha filha, não é? — A esperança e o desespero em sua voz me encheram de alegria, ele não a odiava.— Estou sim, senhor. Ela me mandou.— Eu sofri tanto, Berth! — Passou as mãos sobre o rosto, e juntos descemos o último lance de escadas. — Pensei que a essa altura minha menina tivesse morrido na floresta maldita. Diga, onde
Yuna providenciou um local reservado para Perséfone e o senhor Ernie ficarem a sós e esclarecem tudo que aconteceu. Contei a ela sobre a facilidade da missão, e fiquei satisfeita por ganhar elogios e um certo reconhecimento.— Aposto que a rainha Evelyne já conta com a morte de Perséfone, por isso não se preocupou tanto com a segurança! — comentei.— Você teve sorte por ter encontrado o senhor Ernie em casa e a partícula de sol, mas não pense que acabou.Os boatos sobre nossa façanha já corriam soltos, espalhando-se como um incêndio descontrolado entre os vilões. Drizella abafava as fofocas com ameaças e gritos pelos corredores.
— Lembra quando nos conhecemos? Procuramos por um velho lá na feira para devolver a carteira, e Aristóteles invadiu minha mente. Foi horrível.— Lembro, eu odiava você.— A mulher disse que eu poderia fazer uma pergunta ao Aristóteles, e eu perguntei qual era o segredo da vida.— Que idiota! Eu teria simplesmente perguntado como ficar rica.— Ele me torturou, me chamou de feia, e disse que a dor que eu sentia, de quebrar os ossos, era o peso da resposta.— E então, qual era o segredo da vida, segundo Aristóteles?— O segredo é que
Bom, já que Berth começou essa história falando sobre mim, nada mais justo do que eu terminá-la falando sobre ela.Hoje é o dia da coroação de Berth, princesa de Artémise. E nesse ponto você já deve ter entendido que a mocinha da história nunca foi Amália nem Justin, sempre foi ela.Não chamaria isto de conto de fadas oficial, pois os papéis se inverteram. A heroína, a personagem secundária e a princesa eram Berth, a melhor amiga da vilãDepois do pedido de Annethy, Berth chorou por quase trinta minutos, falou coisas desconexas e incoerentes com a realidade e cantou uma música sobre sonhos e superação. Ela disse que se
Olá, caro leitor. Antes de começarmos, permita-me que me apresente.Eu me chamo Berth, e não, eu não sou a protagonista nem a antagonista do livro, só acompanhei uma delas bem de perto.A história que tenho para contar a você hoje, não é a de uma heroína ou uma princesa; é a de uma vilã, uma bruxa. Mas ela não é uma vilã convencional como você está pensando, porque ela realmente se arrependeu e até tentou consertar seus erros.Perséfone sempre foi muito complicada, mas se você analisar bem o caminho tortuoso e incerto dela por essas páginas, vai perceber que ela não é de fato uma pessoa ruim. Talvez só tenha, comotodosnós, tomado decisões erradas em situações mais erradas ainda. E acredite, ela não é a única vilã que passou p
Como você já sabe, todas aquelas histórias fantásticas sobre os reinos, princesas e fadas são reais. Então não ache estranho qualquer manifestação de magia que apareça por aqui. Mas não é porque essas maravilhas existem que alguma vez vai acontecer com você. Não existem príncipes suficientes nesse mundo para todas as plebeias injustiçadas.Nosso reino se chama Artémise, uma homenagem a deusa da lua, caça, partos e animais selvagens. Nunca ouviu falar nele? Nenhuma história extraordinária jamais aconteceu por aqui, na verdade somos apenas um reino muito pequeno cercado por outros também pequenos e uma floresta que dizem ser mal-assombrada. Claro que temos um castelo e uma monarquia, apesar de achar a democracia ligeiramente mais eficiente. Nosso
Perséfone falou rapidamente sobre a organização das prateleiras e me esforcei para decorar tudo até ter tempo de anotar. Em uns quatro minutos ela falou sobre rótulos, localizações, funções e até um pouco sobre sua vida pessoal. Eu apenas acenei como se tivesse compreendido tudo.— E você não pode entrar na área de trabalho ou tocar nos vidros com as caveiras desenhadas sem ninguém por perto, entendeu?— Sim.— Ótimo, agora preciso que vá até a livraria do senhor Blunt e pegue algumas coisas. - Perséfone tirou de debaixo do balcão uma caderneta e um lápis, começou a fazer algumas anotações.
Os dias foram se passando e continuei exercendo o trabalho na loja com tranquilidade. O senhor Ernie saia de vez em quando, mas sempre que estava presente me ensinava algumas coisas básicas. Geralmente eu ficava responsável por anotar os pedidos dos clientes e fazer algumas entregas, tomando muito cuidado para não cometer nenhum erro. Perséfone estava sempre por lá, ajudando o pai com alguns produtos ou lendo alguns dos seus livros. Não conversávamos muito, e o clima era meio chato.Um dia, o senhor Ernie resolveu piorar um pouco nossa relação.- Berth, preciso que deixe alguns produtos para a cabeleireira. Posso contar com você?- Claro.- Ah, e quero que leve a Per