Zafir
—Zafir! Como ousa? Como ousa sumir assim sem dar notícias? —Sua voz tremia do outro lado.
—Jamile. É natural. Eu acho que mereço umas férias depois de matar um leão por dia para te dar o melhor.
—Mas esse tempo todo você deixou o celular desligado! E se algo acontecesse comigo?
—Meu pai me ligaria aqui.
—Eu liguei para a casa de sua tia no Marrocos, ela disse que você viajou. Mas não me abriu nada. Aonde vocês foram? —Minha tia conhecia Jamile e seu jeito inoportuno, ela com certeza me ligaria aqui, por isso ela não revelou nada.
—Quando eu chegar, conversaremos.
—Você comprou alguma coisa para mim? —Ela perguntou melosa.
Merda!
—Não, ainda não.
—Ainda não? Você vem amanhã! Qu
O taxi deslizava pelas ruas de Londres. Zafir acariciou minha mão e a segurou na sua enquanto o taxista dirigia em direção aquilo que seria “nossa casa.”—Antes de chegarmos, teremos que falar daquilo que evitamos esses dias. — Ele disse com lábios apertados. Havia apreensão em seu comportamento.Eu olhei para ele em confusão.—Seja mais claro habibi.Ele suspirou e me trouxe em seu peito, acariciando meu cabelo enquanto eu descansei minha bochecha contra ele.—Evite Jamile. Ela fez de tudo para eu me casar pela segunda vez, mas tem tido acessos de arrependimento tardio. Quero que você e ela tenham uma convivência pacífica.Eu endureci meu corpo contra o dele. Me afastei.—Você está se casando pela segunda vez? Quem é Jamile?Olhei para ele no escuro do carro. Ele estava ansiosamente olhando para mim com os
ZafirCom o coração doendo, a angústia apertando minha garganta como um laço, caminhei até a cozinha. Cabeça baixa, ombros caídos e a lembrança de como estávamos felizes juntos dilacerou meu coração.Inventamos todo tipo de coisa para dar asas a esse sonho e eu acreditei que Khadija soubesse de tudo, que ela evitava o assunto como eu. Eu tive medo de sair daquele sonho e descobrir algo diferente disso. Tive medo de que isso fosse uma ameaça ao nosso amor.Agora dentro de mim aquele lamento, meu coração sofria quando eu pensava nela. Não mais meu corpo a desejava, agora era a minha alma. Ela me deixou uma marca. Um fogo inextinguível.Eu precisei ser duro com ela, num momento que eu mais queria era abraçá-la e dizer-lhe que estava tudo bem, que eu a amava mais que tudo nesse mundo. Mas não pude, tive que impo
Khadija Como combinamos, Zamira apareceu religiosamente às dez horas da manhã no meu quarto. Embora eu não tivesse dormido quase nada à noite, eu já tinha levantado e me vestido. Coloquei um vestido preto, para combinar com meu humor negro. Deixei a porta aberta e me sentei numa poltrona confortável ao lado da janela grande em forma de arco. De lá eu podia ver um lindo jardim de roseiras e um banco ao sol. Ouvi a voz de Zamira. — Sabah el-kheir. (Bom dia) A salamo a-leikom Ela estava na porta me olhando sorridente. Ele lhe retribui sorrindo levemente para ela. — Sabah el-kheir. A leikom es salâm —Você tem misturas no sangue. —Ela afirmou —Sim, minha mãe era inglesa. —Era? —Ela morreu. Zamira apertou os lábios. —Vem minha querida, vem tomar seu dejejum. —E o senhor Xarif? Ele já acordou? —Perguntei apreensiva. —Sim, o senhor Xarif acorda sempre cedo. Ele fo
ZafirEu não podia deixar isso acontecer. Eu estremeci de raiva, mas mantive a compostura. Caminhei com passos firmes, não me deixando dominar por esse sentimento. Eu precisava ter a cabeça no lugar.Jamile podia ser detestável, mas ela nunca me enfrentou dessa maneira. Entrei no quarto dela me lembrando da minha promessa de ontem. A palavra de um homem árabe era como por escrito.Respeito ao marido também!Khara!(merda!)Al'ama! (maldita!)Jamile quando viu minha energia se assustou.—Problemas com aquela odalisca espetaculosa? —Eu só olhei para Jamile. —Tudo bem. Não está mais aqui quem falou, habibi. —Ela disse desviando os olhos da minha carranca.—Vou tomar um banho e aumenta a temperatura desse quarto! —Eu grunhi.Jamile sorriu.—Sim, habibi.Eu entrei no banheiro, enquanto tomava ban
KhadijaDepois da morte dos meus pais a vida se tornou um vazio. Mas de alguma forma, eu consegui engolir minha dor e lidar com ela de maneira determinada e otimista.Mas agora, nessa situação, eu não sabia o que fazer. Embora eu tenha sido criada assimilando os nossos costumes, o que eu vivia agora era um martírio. Eu me apaixonei por um homem que seria dividido. No fundo, eu me sentia no papel da amante.Era claro que Zafir não se separaria. E eu o entendia perfeitamente. Ele se casou para acrescentar e não para subtrair algo de sua vida. Jamile era sua esposa. A pessoa que ele fez votos, como eu.Ele não a amava, como ele mesmo disse, mas nos nossos costumes, o divórcio era uma cicatriz para as mulheres. Ela sofreria uma grande pressão social. Seria malvista, mal falada. Se ela se divorciasse, dificilmente se casaria novamente e divórc
KhadijaEle colocou a mão sobre seus olhos, esfregando-os numa tentativa de encobrir as emoções. Eu ainda o olhava, tocada com suas palavras, bebendo sua imagem emocionada.—Por Allah! Fale alguma coisa, Khadija!—Eu estou aqui. —Disse rouca.As emoções formaram um nó na minha garganta, porque estava dizendo com essas palavras que eu seria a outra em sua vida.Não conseguia ainda me ver lidando bem com isso, mas eu o amava, era uma tentativa. E então fui atingida por uma onda de tristeza indescritível, porque o que estou vendo no futuro são apenas sombras, tudo ainda era muito doloroso. Algumas lágrimas teimosas desceram dos meus olhos.Zafir pegou meu rosto entre as mãos e secou meus olhos com os polegares dizendo:—Não chore, por favor....Corta meu coração. Fale-me o que está pensan
JamileAbri meus olhos morrendo de dor de cabeça. Procurei nas gavetas do gabinete do banheiro algum remédio. Blasfemei quando não o encontrei.Vesti uma blusa de lã e uma calça de moletom e resolvi ir até a cozinha, lá eu encontraria Tylenol numa caixa com remédios que eu guardava em um armário. Fitei o relógio. Oito horas da manhã. Daqui a pouco Zafir se levantaria para ir ao trabalho. Parei no meio do quarto e antes de ir, resolvi olhá-lo. De vez em quando me dava a louca de querer vê-lo dormindo. Eu achava sexy aquele homem enorme no meio da cama. Geralmente ele estava descoberto, mostrando aquele corpo. Era uma bela visão.Abri a porta de comunicação, estremeci de raiva quando eu não o avistei. Sua cama estava intacta! Fechei a porta soltando fogo pelas ventas.Era nítido que Zafir estava apaixonado por ela, co
KhadijaAllah!Eu me acostumaria com tudo isso?Ele se afastou, eu percebi que a minha tristeza afetou Zafir. Antes de sair, ele olhou para trás por cima do ombro, e eu pude ver seu semblante triste, carregado. Isso me tocou profundamente, eu não queria deixá-lo assim.—Pare! Pare!—Disse alto para mim mesma. —Calma!Eu não podia ter recaídas de amargura. Eu já tinha feito minha escolha e precisava lidar com as consequências. Era nítido que Zafir estava fazendo de tudo para eu me sentir confortável com tudo isso. Eu percebia o quanto ele era cuidadoso com as palavras. Contudo, não tinha jeito, Jamile sempre estaria entre nós.Você saberá lidar com tudo isso!Respirei fundo e com esse pensamento otimista eu me levantei. Depois de tomar um banho rápido coloquei um vestido verde escu