Khadija
Allah!
Eu me acostumaria com tudo isso?
Ele se afastou, eu percebi que a minha tristeza afetou Zafir. Antes de sair, ele olhou para trás por cima do ombro, e eu pude ver seu semblante triste, carregado. Isso me tocou profundamente, eu não queria deixá-lo assim.
—Pare! Pare! —Disse alto para mim mesma. — Calma!
Eu não podia ter recaídas de amargura. Eu já tinha feito minha escolha e precisava lidar com as consequências. Era nítido que Zafir estava fazendo de tudo para eu me sentir confortável com tudo isso. Eu percebia o quanto ele era cuidadoso com as palavras. Contudo, não tinha jeito, Jamile sempre estaria entre nós.
Você saberá lidar com tudo isso!
Respirei fundo e com esse pensamento otimista eu me levantei. Depois de tomar um banho rápido coloquei um vestido verde escu
ZafirEu apertei meus lábios. A verdade era que eu evitei Jamile, como sempre fiz nesse casamento. E agora eu me dava conta disso.No começo não, eu tentei amá-la, tentei...Mas depois....Percebi que passei a arranjar desculpas, a mim mesmo, para não voltar cedo para casa. Eu não queria que ela soubesse disso. Era feio demais essa minha realidade. Meu casamento com Jamile já era! E agora com Khadija estava cada vez mais difícil. Tanto que eu estava pensando em conversar com meu pai, pedi uma opinião a respeito disso.—Fiquei no escritório. Estudando alguns papéis. —Menti.—Sua mãe esteve aqui ontem. Se queixou que você trabalha muito.Eu soltei o ar. No mínimo veio ver se estava tudo se encaminhando bem para a gravidez de Khadija.—Esteve? O que ela queria?—Ela queria ver se eu e
ZafirA semana tinha sido dura comigo assim como os últimos dias. Eu retomei minhas atividades na empresa com tudo. Tudo muito corrido, muitas coisas se encaminhando para serem resolvidas. O trabalho tinha se acumulado.À tarde o escritório estava calmo quando meu pai entrou sem ser anunciado, o que não era algo incomum, ou surpreendente.Papai andava impecável sempre. Embora tenha se aposentado e me passado o comando dos negócios, usava terno. Calças bem passadas, colete cinza, e um blazer preto. Asseado com precisão militar. Da mesma forma agia. Nunca tive moleza com meu pai.—Baba.—Atrapalho?Eu me levantei.—Não, claro que não papai. O Senhor nunca atrapalha.—Como andam os negócios?—Bem, expandindo como sempre. Posso te dar o relatório desse semestre se quiser? Eu os tenho comigo
JamileAh, isso não ia ficaria assim! Senti uma grande dor no meu peito. Cretino! Idiota! O que essa miserável tem que o fez olhar para ela como ele nunca olhou para mim!Ontem esse bint kalb (Filho da ...) ficou até mais tarde no escritório para não me comer!Mas tudo bem, avingança é um pratoque se come frio! al’ama! (Maldito!)Quando eu sou boa, eu sou boa. Mas quando eu sou má, sou melhor ainda!A primeira coisa que eu vi na frente eu peguei com as minhas mãos e joguei no chão. Era só um vaso da dinastia Ming no valor de quinhentos mil dólares.Allah!Gritei com raiva.Uma das empregadas apareceu correndo.—Limpe. Sem querer caiu. Depois que limpar essa sujeira, não quero ninguém rondando pela casa.—Todos já se recolheram, só eu m
No dia seguinte tomei café da manhã na mesa de jantar, sozinha. Agradeci aos céus por isso. Mas minha alegria não durou muito, pois logo Jamile apareceu quando eu estava deixando a mesa.—Sabah el khair. (Bom dia) —Ela disse com um sorriso.—Sabah el khair.—Como foi o jantar?—Foi bom. —Eu disse sem demonstrar qualquer tipo de emoção.—Bom? —Ela me perguntou com um sorriso. —Não precisa fazer essa cara de paisagem. Pode dizer que você amou, que Zafir foi maravilhoso, um gentleman.—Foi. Está satisfeita? —Eu perguntei e sorri.—Sim, bem melhor. Você não levou muito a sério quando disse que poderemos ser amigas?—Não acho muito confortável essa amizade.—Você me disse outro dia que estava resignada. Que aceitou sua condição n
Os dias passaram-se lentamente. Eu detestava aquela situação. Todos os dias evitei Jamile. Levantei cedo e algumas vezes almocei no quarto. Zafir contratou uma professora que vinha a tarde e passou a me ensinar a pintar.O duro de tudo isso, era ficar longe de Zafir.Não era fácil!O amigo certo conhece-se nos momentos incertos. E eu nesses últimos dias, me aproximei muito de Zamira. Fizemos uma grande amizade. Nas idas dela ao meu quarto, sempre conversávamos muito. Algumas amizades passam rápido, num piscar de olhos e outras são feitas para durar até que você pisque pela última vez. Acho que Zamira era uma delas.—Obrigada Zamira. — Eu disse quando ela trouxe meu almoço. — Hoje é o dia que Jamile decidirá se pedirá o divórcio ou não.—Allah! Espero que tudo se resolva entre vocês. Desde que você
ZafirQuando o rosto dela se esfregava no meu peito, as minhas mãos começaram a se mover sobre ela como se tivessem vida própria. A apertei nos braços, cheirando-a, sentindo-a.Eu a afastei para dizer:— Acabou nosso jejum. Não fico mais um minuto sem você. Que se dane o resto. Ela já deu sua resposta e ela fará minha caveira mesmo para eles.— Então me ame, Zafir...Minhas mãos tocam todos os cantos do seu corpo. Ela continuava passando o rosto em mim, sentindo meu cheiro.Allah! Ela me deixava louco.Ela aos poucos foi cortando minhas preocupações, meu passado e firmando meu agora.Só importava o agora...Eu apoiei as mãos nos seus ombros.—Vamos nos livrar dessas roupas.khadijaEu parei de respirar, seu braço estava apertado em volta do meu ombro. Eu queria me aconchegar nele, e
ZafirNão era fácil encarar que eu estava sendo enganado. Que ela me odiava a ponto de não querer a minha felicidade para manter a sua vida dupla sugando o otário aqui.Eu não era do tipo que ficava parado, esperando as coisas acontecerem. Não via a hora de agir. Rolei a noite inteira na cama. Toda hora me levantava, tomava água e me deitava de novo. Quando consegui dormir já eram umas cinco horas da manhã.Quando acordei, percebi que estava sozinho na cama, o relógio marcava oito horas. Um barulho no banheiro me fez aguçar os ouvidos.Khadija estava vomitando? Senti um frio na boca do estômago. Me levantei da cama e vesti minhas roupas. Coloquei a cabeça dentro do banheiro para ver o que estava acontecendo. Ela estava ajoelhada em frente ao vaso, agarrada a ele, vomitando, os espasmos sacudindo seu corpo com força. Me aproximei
KhadijaZamira quando não me viu no café da manhã surgiu no quarto com um carrinho cheio de frutas e coisas gostosas.―Você não apareceu para tomar café, então tomei a liberdade de te trazer algumas coisas. ―Ela disse tirando tudo do carrinho e distribuindo em uma mesa perto da janela.―Obrigada. ―Eu lhe dei um sorriso. ―Eu estava sem fome. Mas, vendo tudo isso agora, abriu meu apetite.―Está certo. Vou indo.Eu adorava conversar com Zamira. Ela era adorável, a voz dela era sempre calma. E tranquilizante. Estranhei ela querer sair do meu quarto correndo.―Fique um pouco para conversarmos.Ela balançou a cabeça negando.―Não posso, estou de saída.―Não pode sair mais tarde?―Vou sair com Jamile.Eu que enchia a minha xícara de café parei e a olhei curiosa.―Sair