Khadija
Como combinamos, Zamira apareceu religiosamente às dez horas da manhã no meu quarto. Embora eu não tivesse dormido quase nada à noite, eu já tinha levantado e me vestido. Coloquei um vestido preto, para combinar com meu humor negro.
Deixei a porta aberta e me sentei numa poltrona confortável ao lado da janela grande em forma de arco. De lá eu podia ver um lindo jardim de roseiras e um banco ao sol.
Ouvi a voz de Zamira.
— Sabah el-kheir. (Bom dia) A salamo a-leikom
Ela estava na porta me olhando sorridente. Ele lhe retribui sorrindo levemente para ela.
— Sabah el-kheir. A leikom es salâm
—Você tem misturas no sangue. —Ela afirmou
—Sim, minha mãe era inglesa.
—Era?
—Ela morreu.
Zamira apertou os lábios.
—Vem minha querida, vem tomar seu dejejum.
—E o senhor Xarif? Ele já acordou? —Perguntei apreensiva.
—Sim, o senhor Xarif acorda sempre cedo. Ele fo
ZafirEu não podia deixar isso acontecer. Eu estremeci de raiva, mas mantive a compostura. Caminhei com passos firmes, não me deixando dominar por esse sentimento. Eu precisava ter a cabeça no lugar.Jamile podia ser detestável, mas ela nunca me enfrentou dessa maneira. Entrei no quarto dela me lembrando da minha promessa de ontem. A palavra de um homem árabe era como por escrito.Respeito ao marido também!Khara!(merda!)Al'ama! (maldita!)Jamile quando viu minha energia se assustou.—Problemas com aquela odalisca espetaculosa? —Eu só olhei para Jamile. —Tudo bem. Não está mais aqui quem falou, habibi. —Ela disse desviando os olhos da minha carranca.—Vou tomar um banho e aumenta a temperatura desse quarto! —Eu grunhi.Jamile sorriu.—Sim, habibi.Eu entrei no banheiro, enquanto tomava ban
KhadijaDepois da morte dos meus pais a vida se tornou um vazio. Mas de alguma forma, eu consegui engolir minha dor e lidar com ela de maneira determinada e otimista.Mas agora, nessa situação, eu não sabia o que fazer. Embora eu tenha sido criada assimilando os nossos costumes, o que eu vivia agora era um martírio. Eu me apaixonei por um homem que seria dividido. No fundo, eu me sentia no papel da amante.Era claro que Zafir não se separaria. E eu o entendia perfeitamente. Ele se casou para acrescentar e não para subtrair algo de sua vida. Jamile era sua esposa. A pessoa que ele fez votos, como eu.Ele não a amava, como ele mesmo disse, mas nos nossos costumes, o divórcio era uma cicatriz para as mulheres. Ela sofreria uma grande pressão social. Seria malvista, mal falada. Se ela se divorciasse, dificilmente se casaria novamente e divórc
KhadijaEle colocou a mão sobre seus olhos, esfregando-os numa tentativa de encobrir as emoções. Eu ainda o olhava, tocada com suas palavras, bebendo sua imagem emocionada.—Por Allah! Fale alguma coisa, Khadija!—Eu estou aqui. —Disse rouca.As emoções formaram um nó na minha garganta, porque estava dizendo com essas palavras que eu seria a outra em sua vida.Não conseguia ainda me ver lidando bem com isso, mas eu o amava, era uma tentativa. E então fui atingida por uma onda de tristeza indescritível, porque o que estou vendo no futuro são apenas sombras, tudo ainda era muito doloroso. Algumas lágrimas teimosas desceram dos meus olhos.Zafir pegou meu rosto entre as mãos e secou meus olhos com os polegares dizendo:—Não chore, por favor....Corta meu coração. Fale-me o que está pensan
JamileAbri meus olhos morrendo de dor de cabeça. Procurei nas gavetas do gabinete do banheiro algum remédio. Blasfemei quando não o encontrei.Vesti uma blusa de lã e uma calça de moletom e resolvi ir até a cozinha, lá eu encontraria Tylenol numa caixa com remédios que eu guardava em um armário. Fitei o relógio. Oito horas da manhã. Daqui a pouco Zafir se levantaria para ir ao trabalho. Parei no meio do quarto e antes de ir, resolvi olhá-lo. De vez em quando me dava a louca de querer vê-lo dormindo. Eu achava sexy aquele homem enorme no meio da cama. Geralmente ele estava descoberto, mostrando aquele corpo. Era uma bela visão.Abri a porta de comunicação, estremeci de raiva quando eu não o avistei. Sua cama estava intacta! Fechei a porta soltando fogo pelas ventas.Era nítido que Zafir estava apaixonado por ela, co
KhadijaAllah!Eu me acostumaria com tudo isso?Ele se afastou, eu percebi que a minha tristeza afetou Zafir. Antes de sair, ele olhou para trás por cima do ombro, e eu pude ver seu semblante triste, carregado. Isso me tocou profundamente, eu não queria deixá-lo assim.—Pare! Pare!—Disse alto para mim mesma. —Calma!Eu não podia ter recaídas de amargura. Eu já tinha feito minha escolha e precisava lidar com as consequências. Era nítido que Zafir estava fazendo de tudo para eu me sentir confortável com tudo isso. Eu percebia o quanto ele era cuidadoso com as palavras. Contudo, não tinha jeito, Jamile sempre estaria entre nós.Você saberá lidar com tudo isso!Respirei fundo e com esse pensamento otimista eu me levantei. Depois de tomar um banho rápido coloquei um vestido verde escu
ZafirEu apertei meus lábios. A verdade era que eu evitei Jamile, como sempre fiz nesse casamento. E agora eu me dava conta disso.No começo não, eu tentei amá-la, tentei...Mas depois....Percebi que passei a arranjar desculpas, a mim mesmo, para não voltar cedo para casa. Eu não queria que ela soubesse disso. Era feio demais essa minha realidade. Meu casamento com Jamile já era! E agora com Khadija estava cada vez mais difícil. Tanto que eu estava pensando em conversar com meu pai, pedi uma opinião a respeito disso.—Fiquei no escritório. Estudando alguns papéis. —Menti.—Sua mãe esteve aqui ontem. Se queixou que você trabalha muito.Eu soltei o ar. No mínimo veio ver se estava tudo se encaminhando bem para a gravidez de Khadija.—Esteve? O que ela queria?—Ela queria ver se eu e
ZafirA semana tinha sido dura comigo assim como os últimos dias. Eu retomei minhas atividades na empresa com tudo. Tudo muito corrido, muitas coisas se encaminhando para serem resolvidas. O trabalho tinha se acumulado.À tarde o escritório estava calmo quando meu pai entrou sem ser anunciado, o que não era algo incomum, ou surpreendente.Papai andava impecável sempre. Embora tenha se aposentado e me passado o comando dos negócios, usava terno. Calças bem passadas, colete cinza, e um blazer preto. Asseado com precisão militar. Da mesma forma agia. Nunca tive moleza com meu pai.—Baba.—Atrapalho?Eu me levantei.—Não, claro que não papai. O Senhor nunca atrapalha.—Como andam os negócios?—Bem, expandindo como sempre. Posso te dar o relatório desse semestre se quiser? Eu os tenho comigo
JamileAh, isso não ia ficaria assim! Senti uma grande dor no meu peito. Cretino! Idiota! O que essa miserável tem que o fez olhar para ela como ele nunca olhou para mim!Ontem esse bint kalb (Filho da ...) ficou até mais tarde no escritório para não me comer!Mas tudo bem, avingança é um pratoque se come frio! al’ama! (Maldito!)Quando eu sou boa, eu sou boa. Mas quando eu sou má, sou melhor ainda!A primeira coisa que eu vi na frente eu peguei com as minhas mãos e joguei no chão. Era só um vaso da dinastia Ming no valor de quinhentos mil dólares.Allah!Gritei com raiva.Uma das empregadas apareceu correndo.—Limpe. Sem querer caiu. Depois que limpar essa sujeira, não quero ninguém rondando pela casa.—Todos já se recolheram, só eu m