Capítulo 2
Isabela se virou para olhar Sandro. Era curioso como palavras tão decisivas agora pareciam deslizar com facilidade.

Sandro, com uma expressão gélida, retrucou sem titubear:

— Não vou me divorciar de você. Você sabe disso muito bem.

— Você é advogado, deveria entender o que está em jogo. Se eu for condenada, vou parar na cadeia...

— Com as provas contra você, Isabela, não posso fazer nada além de seguir o que a lei manda...

— Não, Sandro. Não é sobre provas. É sobre você acreditar na Milena e não em mim.

Isabela sentia cada palavra pesando no ar. Era mais do que simplesmente uma questão de confiança: ele estava disposto a vê-la presa para defender Milena.

Ele baixou os olhos e, evitando a intensidade do olhar dela, depois caminhou para as escadas, sem oferecer qualquer explicação:

— Vamos para casa.

Isabela ajustou o casaco grosso ao corpo e seguiu até o carro. Aquele dia estava frio e o vento cortava o rosto dela como pequenas lâminas geladas. Ela entrou no carro e o silêncio entre eles era denso e sufocante.

Quando chegaram em casa, Sandro permaneceu no carro enquanto ela descia. Sem trocarem uma palavra, ele acelerou e sumiu na rua logo em seguida. Isabela assistiu ao carro se afastando, um turbilhão de pensamentos passando pela mente.

"Provavelmente deve estar ansioso para resolver o caso da Milena", pensou com um nó apertando o peito.

Em casa, Isabela decidiu dar um ponto final definitivo naquela história. Ela se sentou na mesa e redigiu uma proposta de divórcio. Em seguida, começou a arrumar suas coisas. O apartamento, recém-comprado por Sandro e localizado em um dos bairros mais luxuosos, era grande, com mais de trezentos metros quadrados. Como haviam se mudado havia pouco tempo, ainda não tinham acumulado muitas coisas e bastou uma mala grande para guardar o que era dela.

Quando terminou, olhou ao redor, satisfeita com a ordem impecável do lugar, afinal, sabia da obsessão de Sandro por limpeza. Não queria deixar rastros de sua presença. Ao terminar, tirou a aliança que tinha usado por quatro anos sem jamais removê-la. Observou o anel por um instante e, com um suspiro, colocou ele junto ao acordo de divórcio sobre a mesa do escritório de Sandro.

Ao sair do condomínio, Isabela percebeu que voltar para casa não era uma opção. Contar aos pais seria enfrentar uma chuva de perguntas, preocupação e conselhos. Quanto à Viviane, esta já estava morando com o namorado, então também não queria incomodar ela. Decidiu que, pelo menos por ora, ficaria em um hotel.

A vibração do celular interrompeu seus pensamentos. Era Viviane ligando.

Ela atendeu o telefone, segurando-o com o ombro enquanto se concentrava em alguma coisa.

— Oi.

— E aí, como foi? Precisa que eu vá depor por você?

Isabela olhou para o currículo que estava atualizando no notebook, sentindo um gosto amargo na boca. Com um sorriso triste, respondeu:

— Não precisa mais. Já acabou.

— O Sandro finalmente acreditou em você? — Viviane bufou do outro lado. — Pois já era tempo! Aquela Milena... No fim, ela não conseguiu superar o lugar que você ocupa no coração dele...

— Não, Viviane. Nós vamos nos divorciar.

Do outro lado da linha, Viviane ficou em silêncio por alguns segundos antes de responder, com uma voz firme e decidida:

— Onde você está? Me mande a localização que vou te encontrar.

Isabela compartilhou o endereço do hotel e não demorou para Viviane chegar.

Ela abriu a porta e encontrou a amiga encostada casualmente no batente, vestindo um vestido vermelho intenso e um casaco longo de lã preta que realçavam seus cachos soltos e volumosos. Com um charme natural, ela ajeitou o cabelo e perguntou:

— O que aconteceu?

— Entra. Vou te contar.

Viviane entrou e, ao observar o quarto de hotel, ergueu as sobrancelhas.

— Você está morando aqui?

— Temporariamente. — Respondeu Isabela, lhe entregando um copo de água. — O que aconteceu foi o seguinte: ele não acreditou em mim. Essa relação já não tem mais sentido. Deixei o acordo de divórcio no escritório dele, então ele deve encontrar quando voltar.

Viviane hesitou, tentando encontrar palavras que pudessem confortá-la, mas ficou em silêncio.

— Na verdade...

— Eu sei o que vai dizer... Que é uma pena. — Isabela abaixou o olhar, pensando em tudo que havia acontecido. — Dei uma chance para ele, mas ele não a aproveitou.

Viviane assentiu, respeitando o desabafo da amiga.

— E agora, o que vai fazer? Precisa de ajuda com alguma coisa?

— Vou começar a procurar trabalho. — Isabela sorriu, mais para si do que para a amiga. — Acho que está na hora de voltar a cuidar da minha vida, da minha carreira, de mim mesma. Passei quatro anos longe do meu sonho de ser advogada. Vou correr atrás de novo. Ninguém mais merece que eu abra mão dos meus objetivos.

— Isso aí! Ótima decisão. — Viviane deu um tapinha encorajador no ombro dela. Ela parou por um instante, pensativa, e depois abriu um sorriso travesso. — Vamos comemorar esse divórcio! O que acha de uma bebida? Por minha conta.

Isabela sabia que a amiga estava tentando aliviar o peso daquele momento e deu uma risada leve.

— Vamos beber? Que tentação... Me dê um segundo. Vou trocar de roupa.

Viviane assentiu e, antes de Isabela sair para o quarto, disse com um sorriso esperto:

— Se vista bonita! Nada de qualquer coisa.

Isabela abriu a mala. Que roupa bonita o quê! No armário, o que havia eram apenas peças confortáveis e práticas para as tarefas diárias. Ela passava a maior parte do tempo em casa, cuidando do Sandro e fazendo compras no mercado e na feira. As roupas eram largas e fáceis de se mover, ideais para carregar coisas pesadas.

— Que tal comprarmos algo agora? — Ela ergueu os olhos para Viviane, animada com a ideia.

Viviane abriu um sorriso maroto.

— Vocês ainda nem oficializaram o divórcio, né? Olha, use o cartão dele, Isa! Aproveite enquanto ainda pode. Afinal, tudo que comprar ainda será seu.

Isabela soltou uma risada, deixando-se contagiar pelo bom humor da amiga.

— É verdade, né?

— Então vamos! — Viviane agarrou Isabela pelo braço e as duas saíram do hotel.

...

Naquele mesmo momento, do outro lado da cidade, Gabriel Santos, amigo de Sandro, e alguns amigos se reuniram para aliviar a tensão do Sandro. Todos sabiam que aquele dia tinha sido o julgamento e que, de algum modo, as coisas já deviam estar resolvidas. Mas o rosto de Sandro estava sombrio, exalando tensão. Ele já tinha se informado. A polícia já havia aberto um inquérito e estava bem ciente dos crimes cometidos por Milena.

Gabriel suspeitava que, porque Isabela foi presa, ele estava se sentindo mal.

— Cara, acho que talvez a Isabela tenha ficado tempo demais sem ter o que fazer. Vai ver, foi isso que fez ela agir daquele jeito... — Gabriel tentou acalmar ele.

O clima na sala estava pesado, quase sufocante.

Fabiano Alves decidiu intervir, tentando aliviar a situação com um tom mais descontraído.

— Ué, e a Milena, não vem? — Ele cutucou Sandro de maneira sugestiva. — Não precisa ficar tão tenso, rapaz. Ainda tem a "pequena patroa" para te fazer companhia...

Sandro cerrou os dentes, o comentário "pequena patroa" o irritando. Sem pensar duas vezes, lançou o copo que estava segurando na direção da parede. O silêncio se espalhou pela sala.

Gabriel, tentando entender, arriscou:

— É por causa da Isabela, né? A gente sabe que você deve estar mal com isso. Mas, pelo que falaram, a quantidade de droga que encontraram com ela foi mínima. Mesmo que ela seja condenada, a pena vai ser curta. E, além do mais, você ainda tem a Milena ao seu lado para te apoiar...

— Já chega, tá bom? — Sandro explodiu, perdendo a paciência. A insistência em mencionar Milena fazia ele perder o controle.

Milena havia mentido, tocando em pontos que ele jamais aceitaria. E agora, com o pedido de divórcio de Isabela, sua mente estava um caos.

Num impulso, ele pegou o casaco e saiu do lugar.

— Ei, Sandro! — Gabriel ficou confuso com a reação dele.

Na porta, ele parou, lançou um olhar frio para os amigos e avisou:

— A partir de agora, parem de falar sobre a Milena. Quem mencionar, eu corto relações.

Ele saiu, batendo a porta e deixando os amigos perplexos, trocando olhares sem entender nada.

— O que deu nele? — Danilo levantou uma sobrancelha, ainda no fundo do salão.

— Sei lá... Coisa de maluco. — Gabriel deu de ombros, suspirando.

Sandro se dirigiu direto para casa. Era estranho não ter Isabela ali para recebê-lo. Em dias normais, ao escutar o som da porta, ela logo largava tudo o que estivesse fazendo, vinha ao seu encontro com um sorriso e colocava os chinelos ao lado dele. Tirava o casaco dele com cuidado, como se quisesse afastar todo o cansaço que ele carregava.

Mas aquele dia, ao abrir a porta, tudo estava em completo silêncio. O ambiente parecia frio e vazio, sem a presença de Isabela.

Um tanto desorientado, largou o casaco sobre o sofá e se abaixou para pegar os chinelos da sapateira. Caminhou até a sala e, exausto, se jogou no sofá, deixando o corpo relaxar.

— Isa, estou cansado... — Murmurou, com a esperança de que ela viesse, como sempre fazia, para oferecer uma massagem e acalmar o seu espírito.

Porém, nenhum sinal dela. O silêncio absoluto preenchia o espaço.

— Isabela? — Chamou ele, a voz mais alta dessa vez, sentindo uma estranha inquietação.

Sem obter resposta, Sandro começou a andar pela casa, a buscando em cada canto.
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