Na cozinha, não havia sinal dela, nada do costumeiro movimento enquanto ela preparava o jantar. No quarto, o vazio reinava. A casa parecia outra sem a presença dela. Ele pegou o celular, já impaciente para ligar e perguntar onde ela estava, mas foi surpreendido ao ver a tela cheia de notificações de gastos no cartão. Como estava incomodado com as ligações constantes, havia deixado o celular no silencioso, sem imaginar que as notificações de consumo o tomariam de surpresa.A tela do celular estava cheia de registros de gastos, e ele não pôde deixar de franzir a testa.Ele tentou ligar para Isabela, mas ninguém atendeu. Sentiu um vazio incômodo crescendo dentro dele e puxou a gola da camisa para aliviar o desconforto, como se o ar tivesse ficado mais pesado. Em vez de se perder na angústia, foi ao escritório, buscando se distrair com trabalho, uma tentativa de colocar a cabeça no lugar. No entanto, o que ele encontrou sobre a mesa paralisou ele: o acordo de divórcio. Ao lado, a aliança q
— Sou eu, sim. — Disse Isabela, com um leve aceno de cabeça.— Este é um envio urgente para a senhora. — Respondeu o entregador, estendendo-lhe uma prancheta. — Pode assinar aqui, por favor?Isabela pegou a prancheta, assinou rapidamente e a devolveu ao rapaz. Em troca, ele lhe passou um envelope grosso, de papel pardo, que ela recebeu com uma expressão enigmática. Assim que fechou a porta, respirou fundo e rasgou o lacre com um pouco de pressa. Ao abrir, seus olhos pousaram sobre o documento que não imaginava receber tão cedo: o acordo de divórcio assinado por Sandro.Seus olhos brilharam com uma expressão de leve surpresa e satisfação ao ver a assinatura dele ali, estampada de maneira firme. Colocou o envelope ao lado e abriu o notebook na mesa. Ao observar tudo aquilo, ela constatou que o acordo de divisão de bens havia sido aceito. Isso significava que Sandro não tinha objeções em relação aos termos que ela havia estabelecido.Com a decisão dele em mãos, Isabela começou a organizar
André também já tinha chegado na idade de aposentadoria, mas ele andava ganhando bastante visibilidade graças ao destaque que Sandro conquistou na área.— Eu fui injusta com o professor Davi... — Disse Isabela, desviando o olhar para a janela, a voz baixa e cheia de remorso.Ela pensou em como o professor Davi sempre estimou a ela e investiu nela. Ele preparou ela com todo o cuidado, talvez até mais do que a própria neta, Viviane. E, no final das contas, como foi que ela retribuiu? Deixou ele terminar a carreira de forma humilhante e injusta. E tudo por causa do seu "amor cego". Esse erro foi o que acabou manchando a honra do professor Davi.Lágrimas começaram a surgir, silenciosas e inevitáveis, preenchendo seus olhos.— Ah, Isa, não fique assim! — Disse Viviane ao perceber as lágrimas da amiga, claramente preocupada. — Meu avô e o professor André se enfrentaram a vida toda! Os dois nasceram para serem rivais. Já faz tanto tempo, não se cobre assim, tá?Para aliviar a tensão, Viviane
— Olá, eu sou uma aluna do professor Davi. — Isabela respondeu rapidamente.Do outro lado, houve uma breve pausa antes da resposta seca:— Agora estou ocupado.Isabela hesitou um pouco, mas tentou se manter educada e prestativa:— Posso me adequar ao seu horário. Quando seria conveniente para o senhor?— Depois das seis. Onde você pode se encontrar comigo?— Onde for melhor para o senhor, eu posso ir. — Respondeu ela, tentando esconder a ansiedade.— Certo, venha ao escritório da Advocacia Nova Justiça às seis.— Combinado.A ligação foi finalizada de repente. Isabela piscou, um pouco surpresa com a frieza dele.Era ainda de manhã e como só iria encontrá-lo à noite, às seis, teria o dia inteiro para se organizar. Decidiu ligar para Viviane para combinar de transferir o dinheiro que queria investir com ela. No entanto, Viviane estava atarefada e não poderia encontrá-la, então Isabela marcou para uma próxima oportunidade.Refletindo sobre sua situação, ela percebeu que ficar no hotel não
Dito isso, Isabela deu meia-volta e passou por Sandro sem hesitar, sem ao menos uma pausa.Sandro ficou furioso. Sempre que os dois brigavam, era Isabela quem vinha atrás dele para fazer as pazes. Ele estava acostumado a esse padrão. Agora, pedir desculpas ou ceder não fazia parte de sua personalidade, mesmo que quisesse que ela voltasse para ele.Tomado por uma irritação crescente, ele resolveu chamar os amigos para um bar e afogar o mal-estar em alguns copos.A atmosfera na sala era estranha e pesada. Todos permaneciam em silêncio e ninguém parecia à vontade para iniciar uma conversa. Nos últimos dias, o assunto de que Milena havia sido presa ganhava todas as redes sociais e rodinhas de amigos. As revelações sobre o envolvimento de Milena com substâncias ilícitas e o fato de ela ter armado contra Isabela pegaram todos de surpresa.Cada um deles havia acreditado na farsa, caindo na ilusão de que Isabela estava sozinha e entediada em casa e que, assim, poderia ter caído em vícios. A ma
Isabela ficou em silêncio, apenas pensando: "Essa informação é pesada, hein?" Já era tarde, ela acabou adormecendo em cima dos documentos sobre a mesa. Na manhã seguinte, acordou com o corpo dolorido por ter dormido numa posição tão desconfortável.Viviane, que agora estava sóbria, deu um sorriso travesso e balançou o cartão de crédito na frente de Isabela.— Valeu! — Disse ela, animada.Isabela retribuiu o sorriso antes que Viviane fosse embora. Logo depois, organizou suas coisas e seguiu para o escritório.Assim que chegou na firma, Jorge chamou ela até a sala dele e avisou que ela acompanharia ele para encontrar um cliente.— Preciso preparar algo? — Perguntou Isabela, tentando parecer atenta e profissional.— Só preste atenção.Jorge pegou o paletó, o vestindo com naturalidade enquanto se dirigia para a saída.— Ah, claro. — Isabela respondeu, se apressando para acompanhá-lo. Precisava quase correr para acompanhar o ritmo dos passos dele. "Culpa daquelas pernas longas.", pensou e
Danilo observou a cena à distância e, da perspectiva dele, parecia que Jorge e Isabela estavam em um contato extremamente próximo. Ele franziu a testa, perdendo até a vontade de comer.Isabela puxou discretamente o braço de volta e a mão de Jorge acabou ficando suspensa por um instante. Ele recolheu a mão sem demonstrar nenhuma reação.Ao entrarem no restaurante, perceberam que o primeiro andar estava lotado, então foram para o segundo andar e se acomodaram em uma mesa próxima à janela.— Você tem alguma restrição alimentar? — Perguntou ela.— Nenhuma. — Respondeu Jorge.— Alguma preferência de sabor? Algo mais suave, apimentado ou adocicado?— Suave. — Disse ele, com a habitual economia de palavras, o que deixava a resposta quase fria.Isabela se pegou pensando: "Como será que a esposa ou namorada dele aguenta? Com uma pessoa tão... Fechada assim, deve ser uma convivência bem sem graça!"Ela escolheu pratos que já conhecia e sabia que tinham um sabor mais suave. Pediu também um prato
Ela tirou o celular do bolso e atendeu.— Alô?— Sou eu.— Danilo? — Isabela ficou surpresa ao ouvir a voz dele. — O que houve?Danilo estava parado na calçada, observando a figura de Isabela à distância. Naquele momento, se Isabela olhasse para trás, veria Danilo parado atrás dela.— Amanhã é meu aniversário. Vai vir?Isabela hesitou por um instante. Ir à comemoração significaria, com certeza, encontrar Sandro. Mas ela e Danilo sempre tiveram uma relação muito próxima. Além disso, ela conhecia Danilo antes mesmo de conhecer Sandro, eles eram todos colegas de faculdade.— Vou sim. — Respondeu ela, decidida.— Ótimo, então nos vemos no mesmo lugar de sempre. — Disse Danilo, satisfeito.— Tudo bem....Depois do trabalho, Isabela passou em uma loja e escolheu um presente com cuidado, fazendo questão de embalar tudo com capricho. Chamou um táxi e foi até o Restaurante Primavera, onde eles costumavam celebrar aniversários. Parou diante da porta do reservado e, ao estender a mão para abrir,