A Segunda Chance com o Amor
A Segunda Chance com o Amor
Por: Naiara Costa
Capítulo 1
Naquele dia, quando Isabela Lopes foi levada ao tribunal pelo próprio marido, Sandro Marques, uma nevasca intensa tomava conta da cidade.

Ela ainda se lembrava de como acreditava em seu amor. Durante sete anos, desde que se apaixonaram até o casamento, sempre teve certeza de que ele amava ela e que viviam um casamento feliz.

Tudo mudou, porém, quando ele entregou ela às autoridades, sem hesitar, por causa de uma palavra dita por Milena.

O juiz começou a leitura do caso de Isabela, acusada de porte de substâncias proibidas.

— No dia 23 deste mês, durante uma blitz na Rua Oeste, agentes encontraram substâncias ilícitas no veículo conduzido pela Sra. Isabela. — Declarou o juiz. — Esta audiência é para examinar os detalhes da acusação. Solicito que o autor leia suas alegações.

Sandro se levantou, o corpo alto e imponente vestido com um terno preto impecável, que só aumentava seu ar sério e afiado. Seus olhos, que um dia transbordavam de amor por sua esposa, agora mostravam apenas desapontamento e frieza.

— No dia 23 de novembro, a Sra. Isabela dirigia um carro branco, placa V8861. No interior do veículo, foram encontrados cinco gramas de substâncias ilícitas. A própria Sra. Isabela disse que foi Sra. Milena quem chamou ela, pedindo que fosse buscar ela no Clube Estrela para ajudar o marido embriagado, que sou eu. Após a investigação, não há registro de ligação alguma entre a Sra. Milena e a Sra. Isabela. — Ele ergueu os olhos e, mirando Isabela com uma expressão gélida, cheio de desprezo, continuou. — Eu também não estava no Clube Estrela naquela noite. A Milena nunca te ligou. Por que mentir? Frente às evidências, você admite sua culpa?

Aquela última frase, "você admite sua culpa?", caiu sobre ela como um trovão, lhe esmagando o coração. Isabela olhava para Sandro em descrença, mas a única coisa que encontrou foi o frio em seu olhar. Era como se ele não sentisse mais nada, e ela, de repente, viu seu corpo perder as forças, enquanto um gosto amargo surgia em sua boca.

Nunca imaginou que o homem com quem se casou, que agora era um dos melhores advogados de um dos maiores escritórios de advocacia, usaria suas habilidades para ferir ela dessa forma.

Ela tentou dar um sorriso, mas as lágrimas, incontroláveis, desceram por seu rosto. Lembranças antigas surgiram com uma clareza dolorosa. Há seis anos, ela e Sandro eram alunos destacados da faculdade de Direito. Namoravam havia um ano e o amor entre eles só crescia. Até que um dia, o orientador deles anunciou uma oportunidade de intercâmbio no exterior.

Na época, Isabela e Sandro tinham um desempenho acadêmico excelente e eram os favoritos para a vaga, mas só havia uma. Ela sabia o quanto ele desejava aquele futuro. Então, sem contar a ele, Isabela se retirou da seleção, simulando estar doente para não comparecer ao dia decisivo.

Quando ele foi escolhido, veio correndo compartilhar a alegria com ela. Ao ver o sorriso em seu rosto, Isabela sentiu que tinha tomado a decisão certa.

Dois anos depois, ele voltou, formado e com novas conquistas. Foi então que ele pediu a ela em casamento. Naquele momento, Isabela acreditava que era a mulher mais sortuda do mundo e que não tinha errado ao escolhê-lo como seu companheiro.

A trajetória deles, do namoro à troca de alianças, se tornou um exemplo para todos os amigos. Após o casamento, Isabela abriu mão de seu sonho de atuar na área de Direito, se dedicando inteiramente a apoiar Sandro. Ela se tornava a esposa dedicada, seu alicerce, sua confidente, o porto seguro para os momentos difíceis.

Quando ele enfrentava desafios no trabalho, ela estava ao lado dele, ajudando a encontrar soluções. E nos dias em que ele voltava para casa exausto, era ela quem recebia ele com uma refeição quente e o conforto de um lar acolhedor.

Com o passar de um ano, a carreira de Sandro decolou. Ele começou a ganhar prestígio e reconhecimento, especialmente após ser promovido a sócio no escritório de advocacia. Foi então que surgiu Milena Moura, uma assistente jovem, recém-formada em Direito, que parecia ser a imagem da juventude e da doçura.

Sandro passou a levá-la a todos os eventos sociais, e numa dessas ocasiões, Isabela ouviu amigos dele se referindo a Milena como "a pequena patroa". Naquele instante, ela sentiu o peso cortante da traição, mas não teve coragem de confrontá-lo.

Ela ainda o amava.

Com o tempo, Sandro e Milena se tornaram inseparáveis. Nas reuniões e eventos, todos passaram a ver os dois como um casal, deixando clara a humilhação de Isabela. Sua posição como esposa legítima era constantemente desrespeitada, como se fosse invisível, ela não encontrava forças nem para questioná-lo. Sua vida girava em torno dele.

Agora, sentada no tribunal, Isabela ergueu a cabeça, encarando o homem a quem havia devotado sete anos de sua vida. O desprezo e a falta de confiança estampados no rosto dele atingiram ela como um golpe final.

Nos olhos de Sandro, ela viu a imagem triste e humilhada de si mesma. Naquele momento, ela sentiu seu coração se despedaçar por completo.

Isabela se levantou, a voz firme e decidida, como se cada palavra ecoasse pelo tribunal:

— Eu não me declaro culpada. Eu... Não cometi crime algum.

O juiz franziu as sobrancelhas e, com um tom inquisitivo, indagou:

— A senhora possui novas evidências para provar sua inocência?

— Sim. — Isabela ergueu uma mão, revelando um relógio.

Ela explicou que, no momento em que Milena lhe telefonou, estava conversando com Viviane Silva, sua melhor amiga, pelo relógio com função de telefone, que também fazia gravações automáticas. Seu celular tinha sido "perdido" de maneira suspeita, mas o relógio era agora sua única prova de que, na noite do dia 23, por volta das nove, Milena realmente havia contatado ela. E, ainda melhor, a conversa estava gravada.

Ela ativou o áudio e a voz de Milena soou pelo tribunal: [Isabela, o Dr. Sandro está bêbado. Pode vir buscar ele? Ele está no Clube Estrela.]

Isabela voltou-se ao juiz, agora com uma postura que exalava calma e segurança:

— Para chegar ao Clube Estrela, é obrigatório passar pela Rua Oeste, exatamente onde a blitz ocorria naquele dia. Fica evidente que Milena me manipulou para cair naquela situação. — Pausou ela, deixando que todos assimilassem suas palavras, antes de continuar. — Aqui está outra prova de que alguém, de forma premeditada, colocou essas substâncias no meu carro.

Isabela explicou ao juiz e à corte que, em outubro, numa visita ao escritório de Sandro, havia deixado seu carro estacionado na garagem subterrânea. As câmeras de segurança mostraram, de maneira clara, uma mulher abrindo a porta do carro e colocando algo dentro. Aquela mulher era Milena.

Ela se virou para encarar Sandro. Seus olhos, antes cheios de amor, estavam agora marcados por uma firmeza de quem já tinha superado a dor e emergia de uma transformação interior.

— Dr. Sandro, minha chave do carro possui duas cópias. Uma sempre ficou comigo, e a outra... Que eu saiba, estava com você. Eu pergunto: você, por acaso, entregou minha chave para alguém?

O olhar de Sandro recaiu sobre Milena, que estava sentada entre o público. Ela, claramente abalada, se levantou num rompante, tentando se explicar:

— Não, não é isso, não foi assim...

O juiz bateu o martelo, pedindo ordem na sala.

Milena, obrigada a se sentar novamente, agora parecia uma sombra do que foi. Suas mãos tremiam e lágrimas rolavam de seus olhos enquanto ela sussurrava, mais para si mesma do que para os outros:

— Eu não fiz nada... Não fui eu...

Era como se o ar firme e decidido de Sandro, que ganhava fama pela capacidade de desmontar argumentos com precisão, tivesse se quebrado por completo. Inacreditável, ele agora percebia que Milena, aquela jovem que sempre julgou delicada e confiável, havia mentido e se aproveitado de sua confiança para pegar a chave de Isabela.

O rosto de Sandro revelava um vislumbre de choque e confusão e ele olhou para a esposa, com um olhar onde transparecia um misto de arrependimento e dúvida.

Isabela, firme, se dirigiu ao juiz:

— Solicito que, com base nessas provas, uma nova investigação seja conduzida. Precisamos entender por que a Sra. Milena mentiu, por que ela entrou no meu carro sem autorização e de onde vieram essas substâncias ilegais.

Com o tom seguro e determinado, Isabela finalizou sua fala, se sentando para aguardar o veredito. As evidências detalhadas e inquestionáveis que ela havia apresentado desmontaram a acusação e a provaram inocente, levando Milena a ser detida para investigação.

Quando Isabela saiu do tribunal, viu que a neve ainda caía, cobrindo tudo de branco ao redor. Ela ergueu o rosto para o céu, sentindo o toque gelado dos flocos de neve em suas bochechas, uma frieza que parecia cortar até os ossos.

De repente, Sandro apareceu ao seu lado e, sem encarar ela, perguntou:

— Se tinha todas essas provas, por que não contou antes?

Isabela estendeu a mão para o alto, deixando que um floco de neve caísse em sua palma, derretendo em segundos.

— Eu te contei. — Respondeu ela, com amargura na voz. — Mas, alguma vez, você me ouviu?

Ela se lembrou das inúmeras vezes que havia tentado se explicar, das palavras ditas que ele simplesmente não quis ouvir. E a resposta dele ainda ecoava em sua mente: "A Milena mentiria?"

Ele preferiu acreditar que a mentirosa era ela, e não Milena.

Aquela dor em seu peito era resultado de anos de uma união que agora se revelava vazia. Ela não havia apresentado as provas antes porque, ainda no fundo, guardava uma última esperança de que ele, o homem que amava, não fosse capaz de levá-la até o fim desse sofrimento. Ela acreditou que ele jamais destruiria ela.

Mas Sandro provou que estava disposta a tudo, inclusive enviar ela para a prisão com base nas palavras de Milena.

— Sandro, vamos nos divorciar.
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