Capítulo 3
Na cozinha, não havia sinal dela, nada do costumeiro movimento enquanto ela preparava o jantar. No quarto, o vazio reinava. A casa parecia outra sem a presença dela. Ele pegou o celular, já impaciente para ligar e perguntar onde ela estava, mas foi surpreendido ao ver a tela cheia de notificações de gastos no cartão. Como estava incomodado com as ligações constantes, havia deixado o celular no silencioso, sem imaginar que as notificações de consumo o tomariam de surpresa.

A tela do celular estava cheia de registros de gastos, e ele não pôde deixar de franzir a testa.

Ele tentou ligar para Isabela, mas ninguém atendeu. Sentiu um vazio incômodo crescendo dentro dele e puxou a gola da camisa para aliviar o desconforto, como se o ar tivesse ficado mais pesado. Em vez de se perder na angústia, foi ao escritório, buscando se distrair com trabalho, uma tentativa de colocar a cabeça no lugar. No entanto, o que ele encontrou sobre a mesa paralisou ele: o acordo de divórcio. Ao lado, a aliança que Isabela havia usado fielmente por quatro anos, sem nem sequer tirá-la uma vez.

Seu semblante endureceu na mesma hora.

Ele discou novamente o número dela.

Mas Isabela estava no bar com Viviane, curtindo a noite entre risadas, música e dança. O celular vibrava insistentemente na bolsa, mas o som alto impedia ela de ouvir.

No dia seguinte, ao acordar, Isabela viu dezenas de chamadas perdidas no celular. Esfregando a testa, ela tentou recordar a noite anterior, lembrando vagamente do quanto tinha bebido. Supôs que Sandro já tivesse visto o acordo de divórcio e, decidida, retornou a ligação.

Para sua surpresa, ele atendeu rapidamente. Um tanto impressionada, ela notou que antes ele quase nunca atendia de imediato, sempre alegando estar ocupado demais com o trabalho.

— Onde você passou a noite? — A voz dele soava grave e carregada de uma tensão familiar, como se fosse um questionamento mais do que uma simples pergunta.

Antes, a opinião e o humor de Sandro afetavam muito ela, ela sempre tentava agradá-lo, especialmente quando ele estava contrariado. Mas agora, seu tom era frio e direto:

— O acordo de divórcio está pronto. Se concordar com os termos, basta assinar.

— Isabela, você vai continuar com essa palhaçada? Estou com fome. Venha para casa fazer o café da manhã. — Sandro reagiu com descrença.

Para ele, o comportamento recente dela era só birra, uma maneira de demonstrar insatisfação. Ele sempre soube do amor de Isabela por ele e, por isso, encarava o pedido de divórcio como um capricho passageiro. Afinal, achava que ela voltaria ao normal após extravasar.

Isabela soltou uma risada amarga.

— Eu disse que quero o divórcio. Será que você não entendeu?

— Você está falando sério, Isabela? — A voz dele ficou mais intensa. Antes que ela respondesse, ele continuou. — Isabela, você se casou comigo logo depois de se formar. Nunca trabalhou. Me diz, como pretende se sustentar se divorciando?

— Se vou viver ou morrer, isso não cabe a você decidir. Se ainda tiver alguma decência, assine o acordo. Eu só pedi metade dos bens, nada mais. Afinal, foram sete anos dedicados a você.

Isabela se sentou e observou a bagunça ao redor: o salto preto e dourado, jogado ao acaso; o vestido branco, com pérolas, pendurado na cabeceira; e o sobretudo largado no chão, próximo à porta. Olhou para si mesma, constatando que estava completamente nua. Ao lado, uma nota de Viviane: [Isa, maneire na bebida! Você vomitou em tudo. Eu te ajudei a tirar a roupa. Se lave pela manhã.]

— Não se arrependa, Isabela! — A voz de Sandro rugiu do outro lado da linha.

Isabela desligou diretamente. Ela ergueu as sobrancelhas, pouco se importando. Em seguida, enviou o endereço em que estava, junto de uma mensagem: [A divisão de bens está detalhada no acordo. Se não houver objeções, assine e me envie por correio.]

Na cozinha, Sandro olhou ao redor. Sentia fome, mas não sabia cozinhar. Todos os dias, pontualmente às sete da manhã, Isabela esperava ele com o café da manhã pronto. Aquela rotina era uma das poucas certezas que ele possuía.

O celular vibrou novamente.

Era a mensagem de Isabela. Ao ler, o sangue lhe subiu à cabeça. Ela estava indo longe demais. Não acreditava que Isabela realmente quisesse o divórcio, muito menos que deixaria de amá-lo. Afinal, ela já sabia sobre Milena há tempos e sempre fingiu ignorância. Ela não deixaria ele, não era por que ela amava ele? Se ela quisesse o divórcio, já teria feito isso antes. Para ele, essa atitude era só uma maneira de mostrar o quão magoada estava.

Na onda de raiva e provocação, foi ao escritório, assinou o acordo com força e convocou um entregador para entregar o documento a ela.

Ainda se sentindo um pouco zonza, Isabela massageou o rosto, tentando clarear os pensamentos. Pelo jeito, a noite havia sido intensa. Não lembrava como voltou para casa, mas a dor de cabeça era um bom indício do quanto havia bebido. Ela se levantou e foi direto para o chuveiro, buscando se recompor.

Enrolada numa toalha, ela parou em frente ao espelho e olhou para o cabelo. Na ida ao shopping, Viviane havia convencido ela a fazer um spa completo, com tratamento de mãos, pés e cabelo. Naquele impulso, decidiu mudar o visual e cortou os longos fios. Seu cabelo naturalmente liso, com um tom loiro acastanhado, agora estava mais curto, as pontas levemente curvadas para dentro, lhe conferindo um ar moderno e limpo. Sandro adorava vê-la com os fios soltos na cama, e dizia: "Quando vejo você com o cabelo solto assim, me dá vontade de te agarrar."

Especialmente depois de um momento íntimo, quando as mechas ficavam coladas no rosto e pescoço dela, exalando um charme irresistível.

Agora, com o novo corte, seu rosto parecia mais jovem, e ela gostou do que viu no espelho, levando os fios curtos atrás das orelhas.

Naquele momento, a campainha tocou. Ela colocou um roupão e foi atender. Na porta, um entregador a esperava.

— Bom dia. A senhora é a Isabela?
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