Capítulo 4
— Sou eu, sim. — Disse Isabela, com um leve aceno de cabeça.

— Este é um envio urgente para a senhora. — Respondeu o entregador, estendendo-lhe uma prancheta. — Pode assinar aqui, por favor?

Isabela pegou a prancheta, assinou rapidamente e a devolveu ao rapaz. Em troca, ele lhe passou um envelope grosso, de papel pardo, que ela recebeu com uma expressão enigmática. Assim que fechou a porta, respirou fundo e rasgou o lacre com um pouco de pressa. Ao abrir, seus olhos pousaram sobre o documento que não imaginava receber tão cedo: o acordo de divórcio assinado por Sandro.

Seus olhos brilharam com uma expressão de leve surpresa e satisfação ao ver a assinatura dele ali, estampada de maneira firme. Colocou o envelope ao lado e abriu o notebook na mesa. Ao observar tudo aquilo, ela constatou que o acordo de divisão de bens havia sido aceito. Isso significava que Sandro não tinha objeções em relação aos termos que ela havia estabelecido.

Com a decisão dele em mãos, Isabela começou a organizar o que precisava para oficializar o processo. Separou cópias de seu documento de identidade, dados bancários, e abriu uma conta para o fundo que receberia parte de seus bens. Além disso, redigiu uma procuração que autorizava Sandro a agir como seu advogado, a representando durante o trâmite do divórcio. O texto dizia que, por questões pessoais, ela não poderia estar presente, por isso confiava a ele a condução do processo.

Com tudo devidamente organizado, ela guardou os papéis no envelope e chamou outro serviço de entrega para levar os documentos ao escritório de advocacia de Sandro.

No escritório, Sandro havia acabado de se sentar à mesa quando Dr. Pedro, seu colega advogado, apareceu na porta, acompanhado de outro entregador.

— Uma encomenda para o senhor, enviada pela Srta. Isabela. Preciso de uma assinatura aqui. — Informou o entregador, estendendo a prancheta.

Sandro assinou e recebeu o envelope. Assim que o abriu e conferiu os documentos, sua expressão oscilou entre o incômodo e a ironia.

"Ela ainda não cansou disso?", pensou ele, desconfiado. Mas logo, ao se deparar com a procuração assinada, ele sentiu seu humor azedar de vez.

"Ela me nomeou um advogado para o divórcio?", Sandro pensou, incrédulo. E por quê? "Por que não poderia estar presente?"

— Está bem. — Murmurou ele, convencido de que ela ainda estava apenas tentando chamar sua atenção, como sempre.

Ele acreditava que tudo aquilo era só mais uma tentativa de Isabela de atrair sua atenção, como tantas vezes antes. Ela havia sido tão dedicada, tão devota ao longo dos anos que ele já tomava seu amor como algo certo, acreditando que seria assim para sempre.

Ainda assim, ele se pôs a cuidar do divórcio como um verdadeiro advogado. Sendo um dos melhores do círculo, seu escritório conseguiu cuidar de cada detalhe com uma eficiência impressionante. Ele se certificou de que todos os bens fossem divididos conforme o que ela havia estipulado, os fundos bancários, o carro de cada um e a transferência da casa.

Quando tudo estava resolvido, ele solicitou ao serviço de entregas que fizesse a devolução dos documentos, incluindo a certidão de divórcio, diretamente para ela.

Enquanto isso, Isabela aguardava na entrada do hotel. Estava prestes a sair para recuperar seu carro, que finalmente havia sido liberado pela delegacia. Foi naquele momento que o entregador chegou com os documentos em mãos.

— Isa, quem era aquele? — Perguntou Viviane, assim que Isabela entrou no carro.

— Ah, era um entregador. — Respondeu Isabela, dando uma olhada rápida nos documentos.

Viviane deu uma espiada por cima do ombro e quase não conteve uma risada surpresa ao ver a certidão de divórcio.

— Nossa, que rapidez! — Viviane exclamou e soltou um palavrão. — Caramba, mal posso acreditar!

Isabela deu um sorriso discreto, quase melancólico.

— Pois é. Funcionou bem melhor do que eu esperava. — Respondeu ela, surpresa com a eficiência de Sandro.

Ela havia subestimado a agilidade com que ele resolveria tudo. Ou será que ele também já queria encerrar o casamento há tempos? Aquele pensamento passou brevemente por sua mente, mas ela o afastou.

— E você? Está bem mesmo? — Perguntou Viviane, lançando um olhar preocupado para a amiga.

Isabela, tentando acalmar a amiga, assentiu e devolveu o olhar com um leve sorriso.

— Estou bem, Vivi. De verdade.

De repente, o som de uma música alta interrompeu a conversa e Viviane atendeu o telefone pelo sistema de viva-voz do carro.

— Amanhã pode comprar a mudinha de pinheiro preto para mim. — Disse o outro lado da linha.

— Entendido. — Respondeu Viviane, se virando para Isabela com um sorriso brincalhão. — A Isa tá aqui do meu lado sem parar de...

Ela não conseguiu terminar a frase antes que a ligação fosse encerrada abruptamente.

— Meu avô ainda está bravo com você, sabia? — Comentou Viviane, enquanto desligava o viva-voz do carro.

Isabela apertou as mãos discretamente.

Viviane manteve os olhos na estrada, continuando:

— Vou te contar, viu? O Sandro nunca prestou. Só o fato de você ter se casado com ele já foi um baque enorme para o meu avô. Ele chegou até a antecipar a aposentadoria, você acredita? Desde que vocês casaram, ele evita ouvir seu nome. Só de mencionar, já começa a sacudir a cabeça em desgosto. E o Sandro, claro, nunca valorizou o que tinha.

O nariz de Isabela começou a arder e ela abaixou o olhar, tentando conter a tristeza e o arrependimento que brotavam em seu peito. A memória do passado parecia pesar cada vez mais.

— Você lembra, né? Quando meu avô estava competindo pelo cargo de titular com o professor André? Na época, ambos ainda eram professores associados e o próximo nível era o cargo pleno. — Viviane suspirou, recordando aqueles tempos. — Você era o trunfo do meu avô, Isa, a aluna prodígio, enquanto a "estrela" do André era o Sandro.

A voz de Viviane estava repleta de nostalgia, e Isabela revivia o dilema daquela época. Ela sabia o quanto era valorizada pelo professor Davi, que a considerava ela sua aposta para o futuro. A competição para uma vaga no exterior entre os dois professores foi um teste não apenas de habilidades, mas também de quem conseguia formar os alunos mais brilhantes.

— No fim, você desistiu, Isa. Deixou meu avô na mão e, sinceramente, ele nunca se recuperou disso.

Mas o pior não foi a desistência. O que realmente destroçou o professor Davi foi ver que sua pupila dedicada não só tinha abandonado o direito, como ainda havia se tornado uma espécie de "dona de casa" para o aluno do professor André.

— Era como se meu avô tivesse lavado o chão pro André andar em cima, entende? Foi humilhante. E, depois disso, meu avô... Bem, nunca mais foi o mesmo. — Viviane fez uma pausa, tomando fôlego antes de continuar. — Ele se aposentou, claro, mas foi mais do que isso. Você sabe que ele meio que se apagou depois disso, né?

Isabela abaixou a cabeça, uma expressão de arrependimento nos olhos. Ela sabia que havia sido parte de uma história difícil de digerir.

— Para completar, o professor André voltou a dar aulas, com o Sandro ao lado dele, como um troféu.
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