Capítulo 5
André também já tinha chegado na idade de aposentadoria, mas ele andava ganhando bastante visibilidade graças ao destaque que Sandro conquistou na área.

— Eu fui injusta com o professor Davi... — Disse Isabela, desviando o olhar para a janela, a voz baixa e cheia de remorso.

Ela pensou em como o professor Davi sempre estimou a ela e investiu nela. Ele preparou ela com todo o cuidado, talvez até mais do que a própria neta, Viviane. E, no final das contas, como foi que ela retribuiu? Deixou ele terminar a carreira de forma humilhante e injusta. E tudo por causa do seu "amor cego". Esse erro foi o que acabou manchando a honra do professor Davi.

Lágrimas começaram a surgir, silenciosas e inevitáveis, preenchendo seus olhos.

— Ah, Isa, não fique assim! — Disse Viviane ao perceber as lágrimas da amiga, claramente preocupada. — Meu avô e o professor André se enfrentaram a vida toda! Os dois nasceram para serem rivais. Já faz tanto tempo, não se cobre assim, tá?

Para aliviar a tensão, Viviane tentou mudar de assunto e até deu um sorriso leve.

— Quer saber? Não foi nada perto do que eu fiz para deixar ele bravo. O sonho do meu avô era me transformar na sucessora dele. O que eu fiz? Fui para área financeira! Ele ficou tão decepcionado que passou três dias sem comer.

Viviane, desde criança, foi moldada por Davi para seguir uma carreira brilhante no Direito, mas simplesmente não tinha aptidão para coisa. Mesmo sendo pressionada até passar na faculdade de Direito, no fundo ela sabia que seu coração não estava ali. No fim, acabou cursando finanças e mergulhou de cabeça no mundo das finanças, deixando o avô com desgosto. Quando se tratava de seguir uma vocação, talento e afinidade falavam mais alto.

— O professor Davi... Ele está bem? — Perguntou Isabela, a voz embargada e cheia de preocupação.

— Ele está ótimo, curtindo a aposentadoria! Vive plantando flores, criando passarinhos... Tá numa paz só. Lá no condomínio tem um grupo de idosos que dança no fim da tarde, eu vivo chamando a ele para aprender, mas ele só me olha como se eu fosse maluca. Ele é todo antiquado, sabe como é, bem teimoso. — Depois de uma pausa, Viviane olhou para Isabela e ofereceu. — Amanhã vou visitar ele. Quer vir comigo?

Isabela abaixou o olhar, sentindo o peso do passado. Sabia que a desistência dela prejudicou as chances do professor Davi de conseguir a promoção. Ele nunca disse nada diretamente, mas ela sabia.

— Vou esperar arrumar um emprego antes. — Respondeu ela, olhando para as mãos. — Quero mostrar que valeu a pena ele ter me ajudado tanto.

Viviane entendeu e não insistiu. Ela sabia que a amiga precisava de tempo para se reconciliar com o passado. Observando as mãos de Isabela, comentou:

— Lembra como suas mãos eram lindas?

Viviane sempre admirou as mãos da amiga. Delicadas, os dedos finos e a pele clara e macia. Isabela era de uma beleza rara e suas mãos eram uma parte disso.

Isabela sorriu, mas o sorriso era amargo. Por causa das manias de Sandro com limpeza, ela sempre mantinha a casa impecável, cuidando de tudo sozinha. Quando ele chegava cansado do trabalho, ela ainda fazia massagem para aliviar a tensão dele. Toda essa dedicação deixou suas mãos mais ásperas e as fez perder um pouco da elegância de antes.

— Canalha, aquele infeliz não sabia o que tinha! Você, com mestrado e doutorado em Direito, se desdobrou para agradar um traíra?! E o cara ainda trai você? Esse sujeito merecia ser atropelado! — Xingou Viviane, furiosa.

Isabela deu um sorriso suave, mas não disse nada.

— Ah, lembrei! — Disse Viviane, enquanto parava no semáforo e revirava a bolsa, de onde tirou um cartão e o estendeu para Isabela.

— O que é isso? — Perguntou Isabela, curiosa.

— Você não está procurando emprego? — Viviane sorriu. — Esse cartão é de um escritório que eu quero te apresentar.

Isabela pegou o cartão e, o virando para a luz, leu o nome "Jorge Neves".

— Jorge Neves? — Repetiu Isabela, incrédula.

— Isso mesmo. — Viviane apenas sorriu, satisfeita com a reação da amiga.

Embora Isabela tivesse ficado fora da área, Jorge era uma lenda no mundo do Direito, praticamente uma figura mítica. Ele era conhecido como o "Demônio do Tribunal". Seu histórico de reviravoltas em tribunais era famoso. Não havia causa que ele não pudesse vencer, e sua habilidade em manipular os argumentos era tão afiada que muitos juízes evitavam suas audiências.

Ninguém entendia exatamente de onde Jorge vinha. Ele parecia uma figura sem passado, alguém que aparecia apenas para vencer causas impossíveis.

Isabela lançou um olhar surpreso para Viviane.

Era quase impossível que Viviane, fora da área do Direito, tivesse conseguido o contato desse advogado.

Viviane percebeu a expressão de Isabela e, prevendo a dúvida, deu uma risada sarcástica.

— Olha, pode não parecer, mas, mesmo que eu não tenha seguido a carreira, eu venho de uma família tradicional no Direito. Meu avô é professor em uma das melhores universidades, meu pai é juiz... Eu que sou a única "ovelha negra" aqui! Mas isso não quer dizer que eu não tenha contatos, viu? Não me subestime! — Disse ela, com um toque de ironia.

Isabela pareceu notar algo nas entrelinhas e os dedos apertaram mais firmemente o cartão.

— Tá, tá... Vou ser honesta com você. — Viviane suspirou, resignada, soltando a verdade em um fôlego só. — Falei sobre o seu divórcio com meu avô, aquele teimoso... Foi ele quem encontrou esse contato para você. Ele disse que, enquanto você não se destacar, é melhor nem aparecer por lá.

Mentir não era exatamente o forte de Viviane.

Isabela havia suspeitado disso o tempo todo. Com certeza, era o professor Davi quem havia mexido os pauzinhos para lhe arranjar uma oportunidade como essa. Afinal, uma advogada recém-formada, após quatro anos como dona de casa, nunca teria acesso tão fácil a uma figura como Jorge.

— Então, obrigada. — Isabela disse, em tom genuíno.

— Só a mim? — Viviane ergueu as sobrancelhas com um sorriso de malícia.

— Quando eu conseguir dar orgulho ao professor Davi, vou agradecer ele pessoalmente. — Respondeu Isabela, encarando a estrada com um olhar decidido.

— Certo, vou esperar por esse dia. — Riu Viviane.

Pouco tempo depois, elas chegaram à delegacia.

— Quer que eu vá com você? — Perguntou Viviane.

— Não precisa, é só assinar uns papéis e já posso liberar o carro. Vai lá resolver suas coisas. — Disse Isabela, saindo do carro.

— Beleza, então. — Respondeu Viviane, antes de sair.

— Pode ir embora. — Isabela acenou a mão.

Viviane deu meia-volta e foi embora, enquanto Isabela entrou na delegacia, onde assinou os documentos e logo recuperou o veículo. De lá, dirigiu até uma empresa de reformas. Tinha decidido ficar com o apartamento menor, mas o lugar ainda estava com o mesmo visual e a mobília do período em que vivia com Sandro. Ela não queria nenhum traço que lembrasse o ex-marido, então planejou uma reforma completa.

Para evitar qualquer rastro de Sandro, encomendou que a empresa vendesse os móveis antigos no mercado de segunda mão. Até mesmo alguns itens dela própria foram jogados fora. Definiu com o designer o novo layout do apartamento, escolhendo os materiais e fechando o contrato, já pagando o adiantamento. Quando saiu, deixou as chaves, garantindo que o trabalho pudesse começar de imediato.

Ao sair da empresa de reformas, Isabela deu uma passada no banco. Ao todo, tinha resgatado cerca de 40 milhões em dinheiro e mais 20 milhões em fundos de investimento. Manteve os fundos como estavam e aplicou 20 mil em uma poupança de longo prazo, atraída pela taxa de juros mais alta para grandes valores. Reservou outros 20 milhões.

Como Viviane trabalhava com finanças, Isabela planejava investir a quantia com ela, ajudando tanto nas finanças quanto nas metas de Viviane.

Após resolver todas essas pendências, já era tarde. Ela voltou ao hotel, onde passou a noite. Na manhã seguinte, acordou cedo. Sentada na cama, ficou alguns minutos encarando o cartão e o número de telefone de Jorge, indecisa. Depois de pensar um pouco, finalmente decidiu ligar.

Após alguns toques, uma voz grave atendeu.

— Alô?
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