O olhar de Clara vagou pelo chão, enquanto um rubor lhe tingia os rostos. — Não... Ainda não tenho certeza... É muito cedo para afirmar qualquer coisa... — Balbuciou ela, visivelmente constrangida.— Você tem que ter certeza absoluta antes de dizer essas coisas. — Concluiu Sandro, secamente.Num movimento brusco, ele puxou o braço e deu as costas, se afastando com passadas determinadas.Com o coração aos saltos, Clara mordeu o lábio inferior e disparou atrás dele. — Sandro, por favor, espera! Ele parou de repente. Sem conseguir conter o próprio impulso, Clara colidiu contra suas costas.— Sandro... — Ela gaguejou, erguendo o olhar assustado para ele.— Se está mesmo grávida, por que está correndo desse jeito? — Indagou ele com voz gélida e distante. — Não tem medo de prejudicar o bebê?O coração de Clara disparou ainda mais. Dilacerada entre culpa e nervosismo, pressionou os lábios um contra o outro, se sentindo injustiçada.— A culpa é sua! — Protestou ela, elevando ligeiramente o
Foi por essa razão que Fabiano fez de tudo para não cruzar o caminho de Isabela.Enquanto isso, o celular de Viviane permanecia esquecido no vestiário, a impedindo de perceber as inúmeras chamadas que recebia.— Ela não atendeu. — Disse Danilo, dando de ombros — Então seremos apenas nós dois. O peixe deste lugar é uma delícia, sabia? Eles criam no lago da propriedade mesmo. Experimentei uma vez e, puxa vida, a carne é tão macia e suculenta que você nem acredita... Dá para pedir cozido ou numa sopa azeda bem típica. O que você prefere?— Tanto faz para mim. — Respondeu Isabela sem muito entusiasmo, nunca tendo sido exigente com comida.— Sopa azeda, então. — Concluiu Danilo, pousando delicadamente a mão na cintura dela.Com o inverno castigando lá fora, Isabela estava protegida por um casaco grosso e ainda enrolada no casaco que ele havia emprestado. O gesto não parecia invasivo, mas sim educado, quase um ato de cavalheirismo.Isabela nem sequer notou o toque da mão dele.Mas Clara não
O cenário do acidente se apresentava como um verdadeiro pandemônio. Os destroços dos veículos jaziam espalhados pelo asfalto enquanto manchas de sangue tingiam o ambiente de vermelho sombrio.No interior do carro acidentado, os airbags inflados mantinham Sandro e Clara imobilizados em seus assentos. Com o rosto ensanguentado, Sandro permanecia desacordado, sua condição era visivelmente crítica....Resort Serra Verde.Após desfrutarem de um jantar agradável, Isabela e Danilo deixavam o restaurante quando, inesperadamente, se depararam com Davi, que caminhava despreocupado pelos jardins do resort.— Professor Davi! — Chamou Isabela, pega completamente de surpresa.Em seus planos, ela imaginava encontrá-lo apenas depois de se preparar com cuidado, de modo a se apresentar impecável diante dele. Afinal, mesmo divorciada, desejava se mostrar em sua melhor versão. O destino, porém, conspirou para que ele a visse justamente em seu momento menos elegante.Davi a encarou atentamente por alguns
— Vem cá. — Ordenou Davi, examinando Fabiano dos pés à cabeça com olhar crítico. Algo naquele homem lhe desagradava muito, mesmo sem qualquer motivo aparente. Nunca o tinha encontrado antes, desconhecia por completo sua história ou temperamento. Simplesmente sentiu aquela antipatia instantânea, visceral.Enquanto isso, Viviane se aproximou de Isabela com passos hesitantes e sussurrou:— Acabei de receber uma notícia terrível. O Sandro sofreu um acidente de carro. Ainda não sabemos se conseguiu sobreviver.Ao ouvir, o peito de Isabela se contraiu num aperto doloroso. Quatro anos juntos não se apagavam assim. Até por um animal de estimação se criava laços com o tempo. Podia ter superado o amor, mas não era uma pessoa insensível. No fundo, era isso que a tornava humana.Fabiano, que até aquele instante parecia mais interessado em flertar, mudou completamente sua expressão.— Isabela, precisamos ir ver como ele está. — Ele afirmou, com urgência na voz.Ela permaneceu imóvel. Quando finalme
Ao se aproximar, Isabela viu Sandro sendo retirado do automóvel, carregado com urgência pelos socorristas.— Depressa, tragam a maca! — Exclamou alguém, com a voz embargada pela tensão.Colocaram Sandro sobre a maca e o conduziram à ambulância com movimentos rápidos e precisos.— Isabela, vá com ele. — Sugeriu Fabiano, de forma pragmática. — Eu sigo para o hospital no carro. O médico voltou seu olhar inquisidor para ela.— A senhora tem parentesco com o paciente? — Não. — Ela balançou a cabeça negativamente.Fabiano revirou os olhos, visivelmente contrariado com aquela resposta tão inconveniente naquele momento crítico.— Ex-esposa ainda é família, pelo amor de Deus! — Protestou ele, impaciente. — O Sandro está inconsciente e precisa de alguém ao seu lado. Sem dar margem para contestações, a empurrou para dentro da ambulância com determinação.No interior do veículo, a equipe médica iniciou os procedimentos emergenciais. Assim que chegaram ao hospital, Sandro foi prontamente encamin
— Beba, se quiser. — Sussurrou Isabela, depositando o copo de água na mesa ao lado.Mergulhado em seu próprio silêncio, Sandro permaneceu imóvel. No fundo da alma, já sentia falta de contemplá-la adormecida, com aquela serenidade que sempre o encantava.— Aceito sim. — Respondeu ele com voz rouca, sentindo a garganta em brasas.Com gestos delicados, Isabela tomou o copo nas mãos e aproximou o canudo dos lábios dele. Gole após gole, Sandro bebeu vagarosamente, como quem degustava um conforto há muito esquecido. O alívio veio, ainda que modesto.— Meu rosto... Está estranho, não está? — Indagou ele, com olhos que imploravam ajuda. — Você poderia limpá-lo para mim?Embora já tivessem tratado os cortes na testa, restavam ainda marcas de sangue e do medicamento. Ver-se naquele estado lamentável era uma raridade para ele. Movida por compaixão diante do paciente fragilizado, ela não resistiu.— Não tem toalha nem bacia aqui no quarto para fazer isso direito. — Explicou ela, já se encaminhando
A água caiu impiedosamente sobre o corpo de Sandro. Num instante, seus cabelos, o macacão hospitalar e os lençóis ficaram completamente encharcados.Com os olhos ardendo de raiva, Isabela ainda arremessou a bacia vazia contra ele, como último ato de sua fúria incontrolável.— Será que uma vez na vida você poderia agir como um homem de verdade, Sandro? — Disparou ela, a voz trêmula de indignação.Como conseguia ser tão desprezível? No passado, a havia ferido profundamente, jamais demonstrou lealdade a Milena e agora traía até mesmo Clara. O que passava pela cabeça dele? Que as mulheres não passavam de meros brinquedos em suas mãos, para manipular e jogar fora à sua vontade?Um gosto amargo invadiu a boca de Isabela. Ter amado Sandro um dia representava sua maior humilhação.Lentamente, Sandro ergueu o olhar. Gotas escorriam por seus cabelos e pingavam sobre o rosto pálido. Entre os fios molhados e desgrenhados, seus olhos buscaram os dela.Os olhares se encontraram, cheios de história.
Atordoado pelos próprios pensamentos, Sandro desviou o olhar e cortou a conversa: — É melhor chamar o médico logo.Naquele momento, Clara percebeu a gravidade da situação. O ferimento dele necessitava de novos curativos, e tanto as vestes quanto os lençóis estavam completamente encharcados.— Vou chamar agora mesmo! — Exclamou ela, se levantando num impulso. No entanto, ao pisar no chão, uma dor lancinante atravessou seu tornozelo como uma flecha. Desequilibrada, tombou sobre o colchão enquanto lágrimas brotavam involuntariamente, misturando dor física e profunda frustração.Ao contemplar o choro dela, Sandro apenas soltou um suspiro cansado. Em silêncio, esticou o braço e apertou o botão de chamada da enfermagem.Não demorou muito para que uma enfermeira aparecesse à porta. Com palavras breves, Sandro explicou a situação, e ela se retirou rapidamente para buscar assistência médica.Quando o doutor finalmente chegou, Sandro foi categórico: — Por favor, levem primeiro a Clara de volta