Foi por essa razão que Fabiano fez de tudo para não cruzar o caminho de Isabela.Enquanto isso, o celular de Viviane permanecia esquecido no vestiário, a impedindo de perceber as inúmeras chamadas que recebia.— Ela não atendeu. — Disse Danilo, dando de ombros — Então seremos apenas nós dois. O peixe deste lugar é uma delícia, sabia? Eles criam no lago da propriedade mesmo. Experimentei uma vez e, puxa vida, a carne é tão macia e suculenta que você nem acredita... Dá para pedir cozido ou numa sopa azeda bem típica. O que você prefere?— Tanto faz para mim. — Respondeu Isabela sem muito entusiasmo, nunca tendo sido exigente com comida.— Sopa azeda, então. — Concluiu Danilo, pousando delicadamente a mão na cintura dela.Com o inverno castigando lá fora, Isabela estava protegida por um casaco grosso e ainda enrolada no casaco que ele havia emprestado. O gesto não parecia invasivo, mas sim educado, quase um ato de cavalheirismo.Isabela nem sequer notou o toque da mão dele.Mas Clara não
O cenário do acidente se apresentava como um verdadeiro pandemônio. Os destroços dos veículos jaziam espalhados pelo asfalto enquanto manchas de sangue tingiam o ambiente de vermelho sombrio.No interior do carro acidentado, os airbags inflados mantinham Sandro e Clara imobilizados em seus assentos. Com o rosto ensanguentado, Sandro permanecia desacordado, sua condição era visivelmente crítica....Resort Serra Verde.Após desfrutarem de um jantar agradável, Isabela e Danilo deixavam o restaurante quando, inesperadamente, se depararam com Davi, que caminhava despreocupado pelos jardins do resort.— Professor Davi! — Chamou Isabela, pega completamente de surpresa.Em seus planos, ela imaginava encontrá-lo apenas depois de se preparar com cuidado, de modo a se apresentar impecável diante dele. Afinal, mesmo divorciada, desejava se mostrar em sua melhor versão. O destino, porém, conspirou para que ele a visse justamente em seu momento menos elegante.Davi a encarou atentamente por alguns
— Vem cá. — Ordenou Davi, examinando Fabiano dos pés à cabeça com olhar crítico. Algo naquele homem lhe desagradava muito, mesmo sem qualquer motivo aparente. Nunca o tinha encontrado antes, desconhecia por completo sua história ou temperamento. Simplesmente sentiu aquela antipatia instantânea, visceral.Enquanto isso, Viviane se aproximou de Isabela com passos hesitantes e sussurrou:— Acabei de receber uma notícia terrível. O Sandro sofreu um acidente de carro. Ainda não sabemos se conseguiu sobreviver.Ao ouvir, o peito de Isabela se contraiu num aperto doloroso. Quatro anos juntos não se apagavam assim. Até por um animal de estimação se criava laços com o tempo. Podia ter superado o amor, mas não era uma pessoa insensível. No fundo, era isso que a tornava humana.Fabiano, que até aquele instante parecia mais interessado em flertar, mudou completamente sua expressão.— Isabela, precisamos ir ver como ele está. — Ele afirmou, com urgência na voz.Ela permaneceu imóvel. Quando finalme
Ao se aproximar, Isabela viu Sandro sendo retirado do automóvel, carregado com urgência pelos socorristas.— Depressa, tragam a maca! — Exclamou alguém, com a voz embargada pela tensão.Colocaram Sandro sobre a maca e o conduziram à ambulância com movimentos rápidos e precisos.— Isabela, vá com ele. — Sugeriu Fabiano, de forma pragmática. — Eu sigo para o hospital no carro. O médico voltou seu olhar inquisidor para ela.— A senhora tem parentesco com o paciente? — Não. — Ela balançou a cabeça negativamente.Fabiano revirou os olhos, visivelmente contrariado com aquela resposta tão inconveniente naquele momento crítico.— Ex-esposa ainda é família, pelo amor de Deus! — Protestou ele, impaciente. — O Sandro está inconsciente e precisa de alguém ao seu lado. Sem dar margem para contestações, a empurrou para dentro da ambulância com determinação.No interior do veículo, a equipe médica iniciou os procedimentos emergenciais. Assim que chegaram ao hospital, Sandro foi prontamente encamin
— Beba, se quiser. — Sussurrou Isabela, depositando o copo de água na mesa ao lado.Mergulhado em seu próprio silêncio, Sandro permaneceu imóvel. No fundo da alma, já sentia falta de contemplá-la adormecida, com aquela serenidade que sempre o encantava.— Aceito sim. — Respondeu ele com voz rouca, sentindo a garganta em brasas.Com gestos delicados, Isabela tomou o copo nas mãos e aproximou o canudo dos lábios dele. Gole após gole, Sandro bebeu vagarosamente, como quem degustava um conforto há muito esquecido. O alívio veio, ainda que modesto.— Meu rosto... Está estranho, não está? — Indagou ele, com olhos que imploravam ajuda. — Você poderia limpá-lo para mim?Embora já tivessem tratado os cortes na testa, restavam ainda marcas de sangue e do medicamento. Ver-se naquele estado lamentável era uma raridade para ele. Movida por compaixão diante do paciente fragilizado, ela não resistiu.— Não tem toalha nem bacia aqui no quarto para fazer isso direito. — Explicou ela, já se encaminhando
A água caiu impiedosamente sobre o corpo de Sandro. Num instante, seus cabelos, o macacão hospitalar e os lençóis ficaram completamente encharcados.Com os olhos ardendo de raiva, Isabela ainda arremessou a bacia vazia contra ele, como último ato de sua fúria incontrolável.— Será que uma vez na vida você poderia agir como um homem de verdade, Sandro? — Disparou ela, a voz trêmula de indignação.Como conseguia ser tão desprezível? No passado, a havia ferido profundamente, jamais demonstrou lealdade a Milena e agora traía até mesmo Clara. O que passava pela cabeça dele? Que as mulheres não passavam de meros brinquedos em suas mãos, para manipular e jogar fora à sua vontade?Um gosto amargo invadiu a boca de Isabela. Ter amado Sandro um dia representava sua maior humilhação.Lentamente, Sandro ergueu o olhar. Gotas escorriam por seus cabelos e pingavam sobre o rosto pálido. Entre os fios molhados e desgrenhados, seus olhos buscaram os dela.Os olhares se encontraram, cheios de história.
Atordoado pelos próprios pensamentos, Sandro desviou o olhar e cortou a conversa: — É melhor chamar o médico logo.Naquele momento, Clara percebeu a gravidade da situação. O ferimento dele necessitava de novos curativos, e tanto as vestes quanto os lençóis estavam completamente encharcados.— Vou chamar agora mesmo! — Exclamou ela, se levantando num impulso. No entanto, ao pisar no chão, uma dor lancinante atravessou seu tornozelo como uma flecha. Desequilibrada, tombou sobre o colchão enquanto lágrimas brotavam involuntariamente, misturando dor física e profunda frustração.Ao contemplar o choro dela, Sandro apenas soltou um suspiro cansado. Em silêncio, esticou o braço e apertou o botão de chamada da enfermagem.Não demorou muito para que uma enfermeira aparecesse à porta. Com palavras breves, Sandro explicou a situação, e ela se retirou rapidamente para buscar assistência médica.Quando o doutor finalmente chegou, Sandro foi categórico: — Por favor, levem primeiro a Clara de volta
Com a voz quase sumida, Isabela apenas suspirou: — Deixa para lá, não vale a pena.Lançando um olhar carregado de desprezo na direção de Danilo, Jorge se abaixou sem pronunciar palavra alguma. Tomou Isabela nos braços com delicadeza e girou o corpo em direção à entrada do condomínio.Paralisado como se tivesse recebido uma descarga elétrica, Danilo permaneceu imóvel. Na sua cabeça, com Sandro fora do caminho, era apenas questão de tempo até ter Isabela para si. Agora, porém, surgia esse tal de Jorge de repente. E não era um rival qualquer, era um advogado de renome, com estabilidade financeira e, para seu desgosto, ainda mais atraente que Sandro.Os punhos de Danilo se fecharam enquanto uma onda de ciúme e determinação fervia em seu peito. Já a havia perdido uma vez. Dessa vez não. Não permitiria que isso acontecesse novamente.Observou, com olhos ardentes, Jorge carregando Isabela para dentro do prédio, e em seu íntimo tomou uma decisão inabalável. Isabela seria sua. Não importava o