Ao se aproximar, Isabela viu Sandro sendo retirado do automóvel, carregado com urgência pelos socorristas.— Depressa, tragam a maca! — Exclamou alguém, com a voz embargada pela tensão.Colocaram Sandro sobre a maca e o conduziram à ambulância com movimentos rápidos e precisos.— Isabela, vá com ele. — Sugeriu Fabiano, de forma pragmática. — Eu sigo para o hospital no carro. O médico voltou seu olhar inquisidor para ela.— A senhora tem parentesco com o paciente? — Não. — Ela balançou a cabeça negativamente.Fabiano revirou os olhos, visivelmente contrariado com aquela resposta tão inconveniente naquele momento crítico.— Ex-esposa ainda é família, pelo amor de Deus! — Protestou ele, impaciente. — O Sandro está inconsciente e precisa de alguém ao seu lado. Sem dar margem para contestações, a empurrou para dentro da ambulância com determinação.No interior do veículo, a equipe médica iniciou os procedimentos emergenciais. Assim que chegaram ao hospital, Sandro foi prontamente encamin
— Beba, se quiser. — Sussurrou Isabela, depositando o copo de água na mesa ao lado.Mergulhado em seu próprio silêncio, Sandro permaneceu imóvel. No fundo da alma, já sentia falta de contemplá-la adormecida, com aquela serenidade que sempre o encantava.— Aceito sim. — Respondeu ele com voz rouca, sentindo a garganta em brasas.Com gestos delicados, Isabela tomou o copo nas mãos e aproximou o canudo dos lábios dele. Gole após gole, Sandro bebeu vagarosamente, como quem degustava um conforto há muito esquecido. O alívio veio, ainda que modesto.— Meu rosto... Está estranho, não está? — Indagou ele, com olhos que imploravam ajuda. — Você poderia limpá-lo para mim?Embora já tivessem tratado os cortes na testa, restavam ainda marcas de sangue e do medicamento. Ver-se naquele estado lamentável era uma raridade para ele. Movida por compaixão diante do paciente fragilizado, ela não resistiu.— Não tem toalha nem bacia aqui no quarto para fazer isso direito. — Explicou ela, já se encaminhando
A água caiu impiedosamente sobre o corpo de Sandro. Num instante, seus cabelos, o macacão hospitalar e os lençóis ficaram completamente encharcados.Com os olhos ardendo de raiva, Isabela ainda arremessou a bacia vazia contra ele, como último ato de sua fúria incontrolável.— Será que uma vez na vida você poderia agir como um homem de verdade, Sandro? — Disparou ela, a voz trêmula de indignação.Como conseguia ser tão desprezível? No passado, a havia ferido profundamente, jamais demonstrou lealdade a Milena e agora traía até mesmo Clara. O que passava pela cabeça dele? Que as mulheres não passavam de meros brinquedos em suas mãos, para manipular e jogar fora à sua vontade?Um gosto amargo invadiu a boca de Isabela. Ter amado Sandro um dia representava sua maior humilhação.Lentamente, Sandro ergueu o olhar. Gotas escorriam por seus cabelos e pingavam sobre o rosto pálido. Entre os fios molhados e desgrenhados, seus olhos buscaram os dela.Os olhares se encontraram, cheios de história.
Atordoado pelos próprios pensamentos, Sandro desviou o olhar e cortou a conversa: — É melhor chamar o médico logo.Naquele momento, Clara percebeu a gravidade da situação. O ferimento dele necessitava de novos curativos, e tanto as vestes quanto os lençóis estavam completamente encharcados.— Vou chamar agora mesmo! — Exclamou ela, se levantando num impulso. No entanto, ao pisar no chão, uma dor lancinante atravessou seu tornozelo como uma flecha. Desequilibrada, tombou sobre o colchão enquanto lágrimas brotavam involuntariamente, misturando dor física e profunda frustração.Ao contemplar o choro dela, Sandro apenas soltou um suspiro cansado. Em silêncio, esticou o braço e apertou o botão de chamada da enfermagem.Não demorou muito para que uma enfermeira aparecesse à porta. Com palavras breves, Sandro explicou a situação, e ela se retirou rapidamente para buscar assistência médica.Quando o doutor finalmente chegou, Sandro foi categórico: — Por favor, levem primeiro a Clara de volta
Com a voz quase sumida, Isabela apenas suspirou: — Deixa para lá, não vale a pena.Lançando um olhar carregado de desprezo na direção de Danilo, Jorge se abaixou sem pronunciar palavra alguma. Tomou Isabela nos braços com delicadeza e girou o corpo em direção à entrada do condomínio.Paralisado como se tivesse recebido uma descarga elétrica, Danilo permaneceu imóvel. Na sua cabeça, com Sandro fora do caminho, era apenas questão de tempo até ter Isabela para si. Agora, porém, surgia esse tal de Jorge de repente. E não era um rival qualquer, era um advogado de renome, com estabilidade financeira e, para seu desgosto, ainda mais atraente que Sandro.Os punhos de Danilo se fecharam enquanto uma onda de ciúme e determinação fervia em seu peito. Já a havia perdido uma vez. Dessa vez não. Não permitiria que isso acontecesse novamente.Observou, com olhos ardentes, Jorge carregando Isabela para dentro do prédio, e em seu íntimo tomou uma decisão inabalável. Isabela seria sua. Não importava o
Jorge baixou o olhar, tentando ocultar a tempestade que se agitava por trás de seus olhos. — Tá, que bom que você já está melhor. Preciso ir embora. — Murmurou ele, enquanto alcançava seu casaco e caminhava em direção à porta.— Espere, Dr. Jorge! — Chamou Isabela, sua voz ecoando pelo pequeno apartamento.Ele congelou onde estava, mas não se virou, evitando deliberadamente qualquer encontro visual com ela.— O senhor passou a noite toda cuidando de mim, não é? — Perguntou ela com suavidade. — Deve estar morrendo de fome. Posso preparar um café da manhã rapidinho antes do senhor sair.Era o jeito dela de demonstrar gratidão.No fundo, Jorge queria ficar. No entanto... Do jeito que ela estava agora... Permanecer ali seria um verdadeiro suplício. Temia não conseguir controlar seus impulsos.— Não se preocupe comigo. — Respondeu ele secamente. — Guarde isso.Sem mais palavras, abriu a porta e saiu.Lá fora, o frio cortava muito mais que dentro do apartamento. Mesmo assim, nem a brisa gel
Os olhos estavam fixos nos comprimidos que o rapaz loiro lhe oferecia, Danilo sentiu a hesitação percorrer seu corpo. Mas bastou a imagem de Isabela sendo levada por Jorge invadir seus pensamentos para que sua determinação se solidificasse.— Quero sim. Mas tem certeza de que isso funciona mesmo? O loiro soltou uma risada debochada, balançando a cabeça.— Mano, dá para perceber que você não frequenta muito esse lugar, né não? Te dou minha palavra que é infalível. Se não funcionar do jeito que prometi, devolvo até o último centavo. E se ainda tiver com pé atrás, posso chamar alguém para fazer um teste na sua frente agora mesmo.Percebendo a segurança estampada na expressão do vendedor, Danilo respirou fundo e, após breve momento de indecisão, concordou com um aceno:— Tá bom. Confio em você.Com um tapinha amigável no ombro de Danilo, o loiro abriu um sorriso satisfeito.— Está vendo só? Não sou nenhum pilantra, mano. Faço negócio sério aqui, jamais arriscaria minha reputação por causa
Danilo ligou para Viviane de novo....Sob a luz da manhã, Isabela e Jorge adentraram juntos o escritório.Na recepção, Janete se levantou num pulo ao avistar os dois chegando.— O que te traz aqui tão cedo? — Indagou Isabela, surpresa.Com os olhos brilhando de curiosidade, Janete percorreu o olhar de cima a baixo em ambos, um sorriso malicioso se desenhando em seus lábios.— Chegando juntos logo nas primeiras horas do dia? — Comentou ela, com um tom sugestivo que não deixava dúvidas.Aquele jeito insinuante escondia uma pergunta não formulada: "Será que passaram a noite juntos?"Foi naquele instante que Isabela finalmente percebeu a rápida amizade entre Janete e Viviane. A tendência para fofocas e conclusões apressadas era praticamente idêntica nas duas.Com um sorriso educado voltado para Jorge, ela anunciou: — Dr. Jorge, já estou subindo.Ele apenas respondeu com um aceno discreto antes de rumar para sua sala.Num movimento rápido, Isabela puxou Janete para um canto mais reservado