Ela se vira e a vejo tropeçar em seus próprios pés.
Eu chego a me erguer da cadeira para ver se ela precisa de ajuda, mas como uma criança que se levanta sem chorar, ela se ergue sozinha e sai apressadamente do meu escritório.
Eu seguro o riso por um momento, mas não aguento por muito tempo e começo a rir alto.
"Allah! Espero que eu tenha feito a coisa certa contratando essa garota."
Imagino então a cena do café e rio mais. Passo a mão nos olhos enxugando as lágrimas de tanto rir, por fim me controlo.
E começo a pensar nos reais motivos que me levaram a contratá-la: Sofia parece inofensiva. Do tipo que irá trabalhar ao meu lado sem ficar lançando seu charme sobre mim.
Eu seria um hipócrita se dissesse que a atitude das mulheres em querer me conquistar não afaga o meu ego, mas o problema é quando elas extrapolam com decotes, roupas apertadas e insinuações, e eu não tenho paciência para lidar com isso. E mesmo porque, não gosto de misturar trabalho com lazer.
Até pensei em contratar um homem. Mas não sei, parece meio gay, um cara aqui, o tempo todo comigo, me servindo....
Olho novamente o currículo de Sofia e leio seu sobrenome: Rodrigues Katsaros.
—Katsaros —repito. Esse sobrenome me parece familiar. Ele não me é estranho...
Solto o ar e lanço um olhar para o meu relógio de ouro. Seis da tarde.
Quando penso em ir para casa logo me vem a imagem do meu velho no meu pé para eu me casar.
Sinto falta dele. Sua morte não foi algo repentino. Já esperávamos por isso. Ele estava lutando muito tempo com um câncer, e já estava em fase terminal.
Penso em nossas conversas e em suas cobranças em que ele queria que eu me casasse.
Eu me casar?
Em seus últimos dias o assunto mais falado era esse. Ele me cobrava muito essa atitude de conhecer alguém e me firmar em um relacionamento.
Allah! Mas só de pensar nisso me dá urticária.
Depois do que eu passei com Ayla?
Casamento é uma loteria e eu não estou disposto a me arriscar novamente.
Ayla me deixou um sentimento de frustração muito grande. Ela impregnou minha alma de negro, de um jeito que até hoje eu não me recuperei. Só de me lembrar em tudo que passei, eu me sinto mal. Fui muito massacrado, desgastado pelas lutas que enfrentamos no nosso casamento.
Não! Estou bem. Por que me casar? Já tenho um filho e posso ter a mulher que quero.
Solto o ar com angústia quando me vem a imagem da doce Ayla, mas que não era tão doce assim....
Sensata, carinhosa, inteligente, linda e vibrante. Era os predicados que ela carregava e eu me apaixonei por ela.
Aqueles olhos grandes acinzentados, aquela boca carnuda na minha, me deixava fora de mim.
Três meses de namoro, um mês de noivado e eu vivi os dias mais felizes da minha vida.
Então nos casamos. Lembro-me bem desse dia e como fiquei feliz em pegar sua mão esquerda e deslizar a grossa aliança de ouro no seu dedo anelar, fiz questão de comprar a melhor. Ela era toda cravada de diamantes.
Escolhi essa pedra porque o diamante é um símbolo universal do amor: resistente, belo, iluminado.
Solto o ar com angústia.
Nossa lua-de-mel foi escolhida por ela. Passamos quinze dias maravilhosos na Baía Maya, na ilha Phi Phi Leh, no sul da Tailândia. Seus atributos naturais são tão magníficos que nos sentimos como se estivéssemos no paraíso.
Mas então chegou o dia que tivemos de voltar para casa e a rotina se fez presente, foi aí que eu comecei a conhecer com quem me casei. Não demorou muito para sua máscara tranquila cair e eu descobri um predicado em Ayla até então desconhecido por mim: ela tinha uma ânsia de viver tão grande que chegava a ser exaustiva.
Logo começaram as cobranças. Por ela sairíamos todos os dias: jantares, festas, teatros, óperas, recitais...
Ela não se sentia nada tocada em me ver exausto pelo meu dia puxado de trabalho.
Se levantava contra meu desejo de apenas tomar um banho relaxante na minha enorme banheira, beber meu scotch puro e ficar em casa de pijama com a minha, "não tão", adorável esposa.
Com minhas negativas Ayla começou a se sentir infeliz ao meu lado. Mesmo cercada de luxo e empregados ela se sentia numa gaiola dourada.
Os meses se passaram e eu administrando tudo isso sem saber muito bem o que fazer. Para não viver sempre em pé de guerra, eu acabava fazendo algumas de suas vontades. Mas isso não foi o suficiente. Ela então começou a inventar viagens nos finais de semana. Os temas eram sempre mirabolantes como descer o rio Juquiá em botes infláveis liderados por um condutor que ela dizia ser muito experiente. Nos enfiar no mato e fazermos trilhas na selva.
Um dia ela inventou de descermos de Tirolesa Superman em Brotas. Eu ri muito nesse dia e dei-lhe minha resposta sarcástica:
—Tirolesa" Superman? Sinto sevgili(querida), mas não tenho nervos de aço.
Allah! Aquela mulher adorava sempre viver no fio da navalha. Ayla não tolerava monotonia, vivia tendo reações estouradas com as minhas frequentes negativas e isso só piorava nosso casamento.
Vivíamos brigando!
E o pior que a m*****a era articulada nas palavras. Ela fazia um teatro tão grande que conseguia fazer com que eu me sentisse culpado, uma alma velha por não acompanhar seu ritmo: eu o carrasco e ela a donzela injustiçada e amargurada.
Uma coisa era boa. Depois das brigas acabávamos resolvendo tudo na cama, mas isso até ela inventar outra coisa.
As coisas só melhoraram quando ela ficou grávida e descobriu através de um exame de ultrassom que sua gravidez era de risco. Então minha linda esposa teve que se aquietar.
Seu conformismo pela situação melhorou muito o nosso casamento e eu voltei a ter paz e me senti mais pleno. Pensei até que as coisas melhorariam entre nós, mas então minha alegria durou pouco quando Ayla sofreu um acidente com um dos nossos carros esportes por estar dirigindo em alta velocidade. Nosso filho de um ano, por pouco, não morreu. Ficou internado com seu braço direito quebrado.
Ayla, não teve a mesma sorte, sofreu traumatismo craniano e perdeu sua vida.
OzanPasso a mão nos olhos só de me lembrar do ocorrido. Solto o ar com grande angústia.Sabe o que é pior de tudo isso?É que eu cheguei a gostar daquela maldita. Quando ela não estava fora de si, ela era apaixonante e, como uma ilusionista, ela me enfeitiçava.Hoje vejo que era um amor doente e eu era o doente.Quem em sã consciência se manteria apaixonado por tanto tempo por uma mulher como Ayla?Éramos opostos.Pode não parecer, mas sou muito caseiro. Gosto das coisas simples da vida. Gosto de ficar com meu filho. Gosto de andar descalço pela casa, dormir até tarde nos finais de semana e feriados.Hoje sou muito cético com relação às mulheres. Infelizmente a minha riqueza atraí sempre o tipo errado. Mulheres que não são feitas para o casamento, apenas aspirantes para me fazerem de trampolim e poderem fazer parte da alta sociedade.Perfeitas em sedução. Boas amantes, mas é só.São daquelas que deixam o homem de bolso vazio e coração partido.Não quero me arriscar a ser um mero obje
Não pai, não irei me casar. Hoje estou emocionalmente seguro disso e emocionalmente impenetrável. Eu me tornei uma fortaleza. Hoje me sinto autossuficiente. Não quero mais que um relacionamento abale esse mundo que construí. Hoje em dia está muito difícil encontrar a pessoa ideal. Hoje enxergo o casamento como uma instituição falida. Cara, inútil e que só dá dor de cabeça.SofiaPreciso melhorar meu guarda-roupa, penso quando pego um conjunto cinza nas mãos. As coisas poderiam ter sido mais fáceis para mim se eu não tivesse saído de casa com minha última mesada e minha roupa do corpo.Sou filha de Filipe Masalis Katsaros, banqueiro, consultor de investimentos, milionário.Sim, "saí de casa". Delicio-me com essa frase, ao mesmo tempo que sinto um certo peso no coração por ter sido tão radical. Mas eu não aguentava ser a filhinha de papai e o pior, como um hitlerzinho ele começou a ditar toda a minha vida.Se eu fechar os olhos vejo até aquele bigodinho.Hurg!Desde que minha mãe morre
Bem, só sei que ele se tornou o homem muito cobiçado pelas mulheres. Todas sonham em ser a senhora Ahmad e consolar o lindíssimo viúvo e milionário.Ah! Mas Ozan não entregará seu coração para qualquer uma. Acredito que ele queira uma mulher do mesmo nível social e intelectual dele. Uma mulher de sua cultura, do tipo submissa, nascida para ocupar os altos postos da sociedade.Com certeza posso dizer que Ozan é o tipo de homem que meu pai aprovaria. Mas esse lindo turco não é para o meu bico. Ele jamais olharia para mim.Visto minhas roupas e prendo meus cabelos longos. Faço um coque alto e então me examino no espelho. Mesmo nessa luz fraca dá para perceber meu abatimento.Essa noite eu me revirei na cama tentando dormir. Toda hora me martirizando pela queda no escritório de Ozan.Bem, seja o que Deus quiser!Passo uma pequena porção de base no rosto e então o lápis nos olhos e o batom.Espero que eu esteja bem, como eu disse, esse banheiro é escuro.Horrível!Bem diferente da minha an
Sim, ele chama a atenção. Não sei se é sua altura, seu olhar determinando, seu porte altivo, ou aquele jeito polido de ser.Só sei que ele é muito masculino para mim e eu perto dele me sinto muito feminina.Arrepios correm minha espinha quando percebo os olhos de Ozan me seguindo conforme caminho até minha mesa. Forço-me a andar com segurança. Distraio minha mente focando minha atenção no meu local de trabalho tentando não me abalar com sua presença.A sala foi bem projetada. Meu espaço tem arquivos modernos, muito bem etiquetados.A mesa no formato de um grande L é impecável.Todos os papéis estão organizados.No centro um notebook, ao lado um telefone.Na mesa encostada a parede uma impressora de última geração.Mais ao longe vejo uma grande máquina de tirar xerox.Tudo estrategicamente colocado, bem funcional e a mão, com certeza para não haver perda de tempo.Meu pai sempre dizia:"Tempo é dinheiro e que isso é uma verdade que poucos conhecem."Eu ocupo a cadeira confortável de en
Duas semanas depois...Ele é brilhante. Ozan pertence a isso tudo, está no seu ambiente, tudo que faz é com grande competência.A maneira como ele administra tudo é espantoso. Ele é dinâmico, sensato, versátil e objetivo; sempre vai direto no coração de cada problema, sem enrolação ou complicações.A cada dia a minha admiração cresce por esse homem.É excitante trabalhar para ele. Tanto no sentido bom da palavra como no sentido literal.Sim, ele é um pedaço de mal caminho.Mas quem disse que a vida é fácil?Não, não é e teremos que lidar com vários nãos pelo caminho.Quando conheci Ozan eu não tinha ideia do que ia acontecer ao meu pobre coração. É espantoso como tenho que me esforçar o tempo todo para não babar por ele.Ozan faz parte dos meus sonhos mais selvagens e eu nunca imaginei que um dia eu pudesse sentir essa tão grande atração por alguém.Pensei que o tempo amenizaria o que sinto, mas isso não ocorreu.Ergo meus olhos e o observo. Ele está com uma planta nas mãos e pelo seu
Agora eu entendo o não. O vento que entra espalha todos os papéis da minha mesa e da mesa de Ozan. Eu a fecho novamente e me viro para ele.Firme, Sofia! Firme! digo para mim mesma. Se entenda com ele. Não jogue essa oportunidade de trabalhar com um dos homens mais dinâmicos no meio empresarial.—Pode deixar que vou arrumar tudo.—O quê? Você estava achando que eu arrumaria essa bagunça?—Não! Claro que não!—Sente-se.Vou até meu lugar e puxo a minha cadeira e jogo meu corpo nela e o encaro com o queixo erguido.—Olha, eu sinto muito. Eu quebrei as regras por não entender o motivo de não poder comer aqui.Enquanto eu falo sua respiração aumenta, seus lindos olhos bem atentos ao meu rosto me fuzilam.—Assim como não entendeu porque deixo a janela fechada e uso o ar-condicionado.Eu aceno com a cabeça com a imagem dos papéis, tudo voando e rio. Não tem jeito, reajo assim quando estou nervosa.—Sim. Está claro isso agora.Ele endurece mais o olhar. Ruborizada, desvio meus olhos dos furi
Homens! São todos iguais!Tento me vestir o mais profissional possível. Não há nenhuma sugestão de convite nas minhas roupas. Não me visto para seduzir e assim mesmo eles me olham com essa baba na boca. Acho que os clientes têm fetiches por secretárias, só pode ser.Eu sorrio com simpatia para ele executando meu papel de boa assistente e me ergo; dou então com o olhar duro de Ozan sobre mim, tão fixo, hipnotizante que perco o fôlego.Tentando respirar longe dos seu lindos olhos negros, eu me afasto carregando a bandeja e a deixo na sala de café.Que olhar foi esse?Estou fazendo tudo certo, não estou?OzanQuando ela serve o café, percorro seu corpo devagar, observando atentamente sua saia preta aderida a seus quadris, a blusa de seda branca marca levemente seus seios.Pedi para ela comprar roupas novas, mas não sexy como o inferno.Ela sorri para o cliente e eu me sinto desconfortável com isso. Seus olhos então encontram os meus e eu a encaro fixamente, até ela se sentir embaraçada e
A garota é realmente linda. Seu corpo esbelto, os seios fartos, tudo nela parece ter sido esculpido para atrair olhares. Mas não é isso que me prende. Não é o que me faz sentir esse nó estranho no peito. É algo maior, algo mais profundo, algo que mexe comigo de um jeito que não deveria. A admiração que sinto por ela vem acompanhada de um sentimento que odeio, um sentimento que revira meu estômago e traz memórias que eu preferiria manter enterradas.Não tem nada a ver com ainda amar minha esposa. Isso acabou faz tempo, junto com a vida que tínhamos. Mas Sofia me lembra de todas as razões pelas quais deixei de acreditar no amor, de por que fechei as portas do meu coração. Duas mulheres, duas experiências, e as duas me ensinaram que, no final, relacionamentos são como um navio à deriva — inevitavelmente afundam. E Sofia... Sofia é exatamente o tipo de tempestade que eu não quero enfrentar. Ela é caos, é risco, é tudo o que eu devo evitar. Uma grande dor de cabeça embrulhada em um sorriso