Lembranças

Ozan

Passo a mão nos olhos só de me lembrar do ocorrido. Solto o ar com grande angústia.

Sabe o que é pior de tudo isso?

É que eu cheguei a gostar daquela m*****a. Quando ela não estava fora de si, ela era apaixonante e, como uma ilusionista, ela me enfeitiçava.

Hoje vejo que era um amor doente e eu era o doente.

Quem em sã consciência se manteria apaixonado por tanto tempo por uma mulher como Ayla?

Éramos opostos.

Pode não parecer, mas sou muito caseiro. Gosto das coisas simples da vida. Gosto de ficar com meu filho. Gosto de andar descalço pela casa, dormir até tarde nos finais de semana e feriados.

Hoje sou muito cético com relação às mulheres. Infelizmente a minha riqueza atraí sempre o tipo errado. Mulheres que não são feitas para o casamento, apenas aspirantes para me fazerem de trampolim e poderem fazer parte da alta sociedade.

Perfeitas em sedução. Boas amantes, mas é só.

São daquelas que deixam o homem de bolso vazio e coração partido.

Não quero me arriscar a ser um mero objeto para alguém me usar em seu benefício próprio.

Por isso estou fora!

Já tenho um filho para deixar minha herança e estou muito bem assim.

Meu pai achava minha atitude extremada. Que não tive sorte e que posso acertar com outra mulher dessa vez.

Hah! Não vou me arriscar!

Ayla não foi escolhida a dedo pelo meu pai, que promoveu todo o nosso encontro e não deu no que deu?

Respiro fundo.

Bem. Que eu abra meu coração e aceite que ele encontre a garota certa para mim, uma que seja de minha cultura.

Sabe o que me espera?

Com certeza uma submissa, do tipo que foi criada apenas para me servir, sem ideias próprias.

Allah! Estou fora!

Esse tipo de mulher também não me atrai. Prefiro ficar sozinho. Somando-se a isso tudo, a maioria dos meus amigos casados reclamam de suas mulheres. Vivo ouvindo histórias e isso só contribui para o meu ceticismo.

Estou bem e feliz como estou.

Sofia

— Ah, que inferno! —gemo enquanto entro em casa. — Droga, droga, droga! Não me admiro se amanhã ele me dispensar. Conseguir o emprego estava muito bom para ser verdade!

Desde que saí de lá estou me martirizando. Atravessei a cidade pensando nisso.

Deus! Que vergonha! Cair daquele jeito na frente dele. Eu tinha que deixar minha marca de desastres. Isso porque sempre andei em salto agulha.

Respiro fundo tentando me acalmar.

“Tudo dará dar certo. Você não voltará para casa com o rabinho entre as pernas!”

Solto o ar e digo para mim mesma:

—Tenha fé. Ele pode fechar os olhos para o ocorrido e tudo dar certo.

Propriedade dos Ahmad

Já se passaram três meses que meu pai se foi.

Não está sendo fácil encarar essa enorme propriedade sem a presença dele. As recordações estão em todos os lugares. Ainda que nos seus últimos meses de vida ele me torrasse o meu saco para eu me casar novamente, sinto falta do velho.

Incrível, nunca pensei que sentiria tanto. Hoje sinto falta até das brigas.

Suspiro. Meu pai se foi e não está sendo fácil lidar com sua perda.

Acabei de sair do quarto de meu filho. Ele me pareceu normal, mas Elma me disse que ele anda irritado e que pergunta muito do avô.

Deus! Até meu filho está sofrendo com a morte do avô.

Enxugo as lágrimas ao mesmo tempo que me lembro de uma cena dos dois aqui mesmo nessa sala. Fecho os olhos com as lembranças:

Osman quando me avista abre um sorriso. O prazer corre pelo meu corpo ao ver a alegria que ele fica ao me ver.

Meu filho é a melhor coisa que já fiz na vida. Ele que me dá a carga de energia para enfrentar meu dia a dia.

Elma, que foi minha babá e cuida dele é como uma mãe para mim.

Elma sorri quando me avista.

—Olha quem chegou, o baba —Elma diz para meu filho.

Vou até meu filho e com um sorriso estico os braços em direção a Osman. Ele imediatamente se j**a no meu colo e me envolve com seus braços. Eu o abraço apertado aspirando seu cheirinho limpo, gostoso, então o encaro.

—E você rapazinho? Estava com saudades do baba?

—Baba, cainho —ele diz e b**e as pernas.

Eu encaro meu pai sem entender.

—Cainho?

—Eu dei um carrinho para ele, que foi seu e ele quer te mostrar.

Eu sorrio e o coloco no chão. Vejo Osman correr até o sofá e voltar com uma Ferrari vermelha. Eu o pego novamente no colo. Eu sorrio para ele quando ele a ergue para mim.

—Uma Ferrari oğlum (meu filho).

—Dede(vovô) me deu cainho.

Eu sorrio e encaro meu pai.

—Eu me lembro desse brinquedo. O senhor então o guardou.

—Sim, entre outras coisas. Justamente pensando em dar para o filho que um dia você viria a ter.

Eu assinto para ele.

—Muito bom pai. Eu me lembro quando o senhor me deu até hoje. Foi no final do ano, Mamãe ainda era viva.

Meu pai solta o ar e aperta os lábios. Osman b**e as pernas para sair do meu colo e eu o coloco no chão. Meu pai aproveita para se aproximar e esticando o braço, segura o meu ombro direito.

—Filho! Você precisa conhecer alguém. Não digo sair com essas mundanas, mas uma mulher que te fará feliz. Sei o quanto quer bem seu filho. Você acha justo lhe negar uma mãe?

Allah! Ele sabe que não quero falar sobre isso. Por que ele insiste? Esse assunto sempre acaba em discussão.

Eu o encaro em silêncio, a respiração agitada.

Elma percebendo o clima tenso que se formou entre nós pega Osman no colo.

—Vem, meu anjo. Agora é hora de tomar banho. Elma vai encher a banheira de espuma para você.

Quando ela se afasta com meu filho eu encaro meu pai:

—Baba, por que o senhor insiste nessa conversa? Eu já fiz a sua vontade e me casei uma vez, e com a mulher que o senhor quis. Já lhe dei uma posteridade. Agora quero viver minha vida.

—Filho, eu errei no meu julgamento com Ayla. Você nunca me perdoará por isso? Vai me punir para sempre?

—Não é uma acusação pai, não é punição. Não estou me lamentando, não estou te cobrando nada. Quero apenas paz. Osman tem Elma.

—Elma está com sessenta e cinco anos.

—Ela tem dado conta do recado.

—Engano seu. Quem tem cuidado de Osman a maioria do tempo é Tereza. Elma não o aguenta mais. Ele está muito pesado.

—Quem?

—Contratei mais uma garota para ajudar Elma.

—Eu não sabia.

—Claro que não sabia. Você só pega as partes boa do seu filho. Quando ele está arrumado, alimentado. Mas para que tudo isso seja realizado precisa de pessoas dispostas e competentes fazendo todo esse trabalho.

— Certo pai e onde está a babá de meu filho para eu conhecê-la?

—Ela teve alguns problemas familiares e não permaneceu.

—Verei uma pessoa para ficar com Osman.

—Seu filho precisa de uma mãe, de amor filial.

—Pai, eu amo meu filho e tenho feito das tripas coração para ficar com ele.

—Tripas coração? Você só o vê à noite e nos finais de semana. Osman precisa de uma mãe. E não ficar passando de braço em braço, sendo cuidado.

Meu coração se aperta com as falas dele, mas eu resisto:

—Pai! Não vê o quanto o senhor nos desgasta com essa conversa? Chega! Eu estou cansado. Agora vou tomar um banho e depois ficar com meu filho até dar a hora dele dormir.

Meu pai me olha atravessado.

—E depois? Vai sair?

—Não, hoje vou ficar em casa.

—Isso não é vida Ozan. Não sei como consegue ter prazer com essas putas que encontra na rua.

—Como não? E elas são mestres no prazer? —digo e dou uma risada.

Meu pai se enfurece:

—Allah! Isso é....contra tudo que te ensinei. Família é melhor que isso que está vivendo.

—Eu perdi minha mãe e o senhor não se casou mais.

—E eu me arrependo amargamente por isso. Não deveria ter ficado preso ao passado. Não quero isso para você.

—Baba(Pai). Iyi geceler. (Boa noite).

Afasto as lembranças e enxugo as lágrimas. Dou um último gole na bebida.

 

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