Sim, ele chama a atenção. Não sei se é sua altura, seu olhar determinando, seu porte altivo, ou aquele jeito polido de ser.
Só sei que ele é muito masculino para mim e eu perto dele me sinto muito feminina.
Arrepios correm minha espinha quando percebo os olhos de Ozan me seguindo conforme caminho até minha mesa. Forço-me a andar com segurança. Distraio minha mente focando minha atenção no meu local de trabalho tentando não me abalar com sua presença.
A sala foi bem projetada. Meu espaço tem arquivos modernos, muito bem etiquetados.
A mesa no formato de um grande L é impecável.
Todos os papéis estão organizados.
No centro um notebook, ao lado um telefone.
Na mesa encostada a parede uma impressora de última geração.
Mais ao longe vejo uma grande máquina de tirar xerox.
Tudo estrategicamente colocado, bem funcional e a mão, com certeza para não haver perda de tempo.
Meu pai sempre dizia:
"Tempo é dinheiro e que isso é uma verdade que poucos conhecem."
Eu ocupo a cadeira confortável de encosto alto e reparo na sala decorada em cinza, dourado e preto. Ao longe uma grande mesa redonda de reuniões, ao redor dela quatorze cadeiras cromadas, estofadas com couro preto.
As paredes são cheias de quadros abstratos, vejo também um painel com a imagem de várias construções de grande beleza arquitetônica.
Do lado oposto, um bar e uma porta que deve ser a sala de café e perto da minha mesa outra porta, que deve ser de um banheiro.
Café.
Estremeço me lembrando de repente daquele fatídico dia. Meu olhos então vão para a mesa de Ozan que está sentado me avaliando com um sorrisinho no rosto.
—Gostou? —sua voz arrogantemente linda quebra o silêncio.
Sim, ele é lindo.
E hoje está de tirar o folego.
Deus! Ele me perguntou do escritório!
Eu forço um sorriso.
—Sim, na entrevista não tinha reparado nele direito.
Ele me avalia com seus lindos olhos negros.
Deus trabalhar aqui, ao lado dele será um martírio.
Ele corta meus pensamentos quando ele se levanta do seu lugar:
—Isso seria outro ponto negativo para a sua contratação e, não me leve a mal, mas sua queda também. Ainda mais por você ter um histórico ruim —ele lembra e ri.
Eu respiro fundo.
Ai... como ele é odioso.
Será que ele vai usar sempre isso contra mim?
Eu puxo o ar e ergo meu queixo.
—Sim, eu sei. Mas como eu disse, o senhor não irá se arrepender. Estou disposta a dar tudo de mim.
Seus olhos brilham estranho e ele dá um sorrisinho jocoso.
—Ótimo. Não vou me esquecer de cobrar isso de você.
Ele levou no duplo sentindo ou foi impressão?
Ele está fazendo isso para me deixar nervosa. Já percebi, ele adora me deixar com os nervos à flor da pele.
Ozan pega uma pasta que está sobre sua mesa. Uma mecha de seu cabelo negro caí sobre a sua testa com esse seu movimento. O rosto de traços atraentes me encara enquanto ele se aproxima. Seus olhos lembram um falcão pronto a pegar a presa, transmite segurança e obstinação.
Conforme ele caminha reparo no seu lindo terno sob medida de um verde bem escuro. Ele não disfarça os ombros largos e os músculos do seu braço.
Ele estende a pasta para mim, eu a pego das mãos dele e o encaro. Posso sentir cada parte de mim tensa com a beleza gritante desse homem.
Deus! Não consigo relaxar com ele. Espero que essa sensação melhore com o tempo.
—Não me olhe como um coelho que está sendo caçado e abra a pasta —ele diz sério e pausadamente.
Eu desvio meus olhos dos dele e imediatamente faço como ele ordenou. Ela contém cinco folhas com o descritivo do meu cargo.
—Leia com atenção para o bom andamento da sua função. Aí está tudo que espero de você.
Eu o encaro.
—Vou ler agora isso.
—Geralmente os arquitetos têm aversão a qualquer ferramenta de organização, mas eu fujo às regras, sou bem organizado e acredito que o escritório é um cartão de visita do nosso trabalho. Espero que seja organizada também. E outra coisa, é fundamental que você tenha jogo de cintura ao telefone. Você será uma espécie de "muro de contenção". Se algum cliente ligar nervoso, seu repertório de desculpas para o projeto que atrasou deve ser claro e embasado nas informações que eu te passarei. E é sua obrigação contornar toda a situação.
Eu aceno um sim com confiança. Lidei muito tempo com meu pai e sei muito bem o que é isso.
— Está certo.
—Abra a primeira gaveta à sua esquerda.
Eu faço isso.
—Pronto!
—Aí está marcado todos os meus compromissos.
Bem humorada eu pego a agenda preta com o logotipo da empresa e com um sorriso a agito no ar para ele.
Ele me encara sério e espalma as suas mãos na minha mesa e seus olhos voam para mim acabando com a minha brincadeira.
Eu engulo em seco.
—Se eu me esquecer de alguma obrigação, a culpa é totalmente sua. Então, a primeira coisa que deve fazer e verificar meus compromissos. Você a olhará de manhã e me lembrará de tudo ao longo do dia. E se eu tiver algum marcado para o dia seguinte cedo, você me mandará uma mensagem para o meu celular, via W******p. O meu número está aí na primeira página.
Eu aceno um sim e ele me olha à espera de algo. Então entendo que preciso verificar sua agenda e a coloco na mesa e a abro na data de hoje:
— Reunião com os arquitetos daqui há vinte minutos na sala de projeção— digo e olho para ele.
Ozan me avalia com os olhos, calado. Então dá um sorrisinho de canto de lábios meneando a cabeça como se não levasse muita fé no meu trabalho e então segue até sua mesa.
Deus! Preciso me dar bem nesse emprego. Eu não posso me dar ao luxo de perdê-lo. Tenho minhas contas que me esperam todo final do mês.
Sempre sonhei em ser mais do que uma patricinha e uma profissional como agora. Neste momento, meu destino está nas mãos desse homem.
Com respeito e certo temor assisto ele pegar outra pasta, agora uma vermelha e se aproximar da minha mesa.
—Eu fiz um rascunho do memorando com a pauta de hoje. Digite e imprima e depois tire quarenta cópias.
—Quarenta?
Ele sorri.
—Tenho quarenta arquitetos que trabalham para mim. Sem contar os geólogos e engenheiros.
—Sim senhor.
Seus olhos passam pelas minhas roupas.
—Você segue algum tipo de religião?
Eu preciso rir.
—O senhor está dizendo isso por causa das minhas roupas?
—Sim.
Realmente, Ozan Adin Ahmad, como meu pai, foi criado cercado de luxo. Cercado por mulheres lindas, exuberantes e que se vestem bem. Uma roupa de corte simples como a minha é sinônimo de pobreza e como não me visto com roupas justas, passo, portanto, a imagem de religiosa.
—Não.
Ele me olha como se eu fosse um ser de outro planeta. Coça a cabeça.
—Está certo. Mas quero que mude seu guarda-roupa. Se precisar de ajuda peça a Helena, a secretária da antessala. Ela te ajudará na compra.
Eu puxo o ar:
—Eu não tenho recursos. Só poderei mudar meu visual no final do mês.
Enquanto eu falo, ele me observa enigmático. Depois de um tempo calado me olhando, seu olhar muda e ele me olha como se tivesse tomado uma decisão:
— Farei um vale com o adiantamento do seu salário. Passe no departamento pessoal e pegue o valor com Lurdes. E providencie as roupas. Se quiser saia mais cedo hoje para isso.
Ele caminha até sua mesa e puxa uma gaveta, pega um bloco e depois de preencher a pequena folha a destaca e me entrega:
A quantia é generosa. Sua assinatura é linda, forte, marcante. Ele simplesmente assinou a metade do meu salário.
Um arrepio de prazer percorre meu corpo. Sua atitude demonstra claramente que ele está apostando em mim.
Vai dar tudo certo. Vou provar ao meu pai que posso ser uma boa profissional. O grande Filipe Masalis Katsaros não levou fé quando eu disse que queria uma carreira. Autoritário, dominador só enxergava o que estava no seu nariz.
Um dia minha falecida babá me disse:
— Se seu pai fosse do exército seria um general, se fosse da máfia seria um Dom, se fosse de alguma religião seria o próprio papa.
Hoje entendo perfeitamente o que ela quis dizer com isso.
Duas semanas depois...Ele é brilhante. Ozan pertence a isso tudo, está no seu ambiente, tudo que faz é com grande competência.A maneira como ele administra tudo é espantoso. Ele é dinâmico, sensato, versátil e objetivo; sempre vai direto no coração de cada problema, sem enrolação ou complicações.A cada dia a minha admiração cresce por esse homem.É excitante trabalhar para ele. Tanto no sentido bom da palavra como no sentido literal.Sim, ele é um pedaço de mal caminho.Mas quem disse que a vida é fácil?Não, não é e teremos que lidar com vários nãos pelo caminho.Quando conheci Ozan eu não tinha ideia do que ia acontecer ao meu pobre coração. É espantoso como tenho que me esforçar o tempo todo para não babar por ele.Ozan faz parte dos meus sonhos mais selvagens e eu nunca imaginei que um dia eu pudesse sentir essa tão grande atração por alguém.Pensei que o tempo amenizaria o que sinto, mas isso não ocorreu.Ergo meus olhos e o observo. Ele está com uma planta nas mãos e pelo seu
Agora eu entendo o não. O vento que entra espalha todos os papéis da minha mesa e da mesa de Ozan. Eu a fecho novamente e me viro para ele.Firme, Sofia! Firme! digo para mim mesma. Se entenda com ele. Não jogue essa oportunidade de trabalhar com um dos homens mais dinâmicos no meio empresarial.—Pode deixar que vou arrumar tudo.—O quê? Você estava achando que eu arrumaria essa bagunça?—Não! Claro que não!—Sente-se.Vou até meu lugar e puxo a minha cadeira e jogo meu corpo nela e o encaro com o queixo erguido.—Olha, eu sinto muito. Eu quebrei as regras por não entender o motivo de não poder comer aqui.Enquanto eu falo sua respiração aumenta, seus lindos olhos bem atentos ao meu rosto me fuzilam.—Assim como não entendeu porque deixo a janela fechada e uso o ar-condicionado.Eu aceno com a cabeça com a imagem dos papéis, tudo voando e rio. Não tem jeito, reajo assim quando estou nervosa.—Sim. Está claro isso agora.Ele endurece mais o olhar. Ruborizada, desvio meus olhos dos furi
Homens! São todos iguais!Tento me vestir o mais profissional possível. Não há nenhuma sugestão de convite nas minhas roupas. Não me visto para seduzir e assim mesmo eles me olham com essa baba na boca. Acho que os clientes têm fetiches por secretárias, só pode ser.Eu sorrio com simpatia para ele executando meu papel de boa assistente e me ergo; dou então com o olhar duro de Ozan sobre mim, tão fixo, hipnotizante que perco o fôlego.Tentando respirar longe dos seu lindos olhos negros, eu me afasto carregando a bandeja e a deixo na sala de café.Que olhar foi esse?Estou fazendo tudo certo, não estou?OzanQuando ela serve o café, percorro seu corpo devagar, observando atentamente sua saia preta aderida a seus quadris, a blusa de seda branca marca levemente seus seios.Pedi para ela comprar roupas novas, mas não sexy como o inferno.Ela sorri para o cliente e eu me sinto desconfortável com isso. Seus olhos então encontram os meus e eu a encaro fixamente, até ela se sentir embaraçada e
A garota é realmente linda. Seu corpo esbelto, os seios fartos, tudo nela parece ter sido esculpido para atrair olhares. Mas não é isso que me prende. Não é o que me faz sentir esse nó estranho no peito. É algo maior, algo mais profundo, algo que mexe comigo de um jeito que não deveria. A admiração que sinto por ela vem acompanhada de um sentimento que odeio, um sentimento que revira meu estômago e traz memórias que eu preferiria manter enterradas.Não tem nada a ver com ainda amar minha esposa. Isso acabou faz tempo, junto com a vida que tínhamos. Mas Sofia me lembra de todas as razões pelas quais deixei de acreditar no amor, de por que fechei as portas do meu coração. Duas mulheres, duas experiências, e as duas me ensinaram que, no final, relacionamentos são como um navio à deriva — inevitavelmente afundam. E Sofia... Sofia é exatamente o tipo de tempestade que eu não quero enfrentar. Ela é caos, é risco, é tudo o que eu devo evitar. Uma grande dor de cabeça embrulhada em um sorriso
Passei momentos agradáveis com meu filho até a chegada de Ricardo Teixeira. Agora, estou na biblioteca da casa que um dia pertenceu ao meu pai, sentado diante da grande mesa antiga de madeira maciça. A sala está impregnada com o cheiro familiar de couro e madeira envelhecida, um cheiro que me remete à presença austera dele. Encaro Ricardo, ainda tentando entender o que ele acaba de dizer.— Como assim, meu pai deixou um testamento? — minha voz sai entrecortada, carregada de incredulidade. — A herança é minha e de meu filho por direito. Não havia necessidade disso.Ricardo mantém a postura séria, sua expressão é calma, mas sua firmeza deixa claro que não há espaço para argumentação.— Seu pai impôs condições para que você receba sua herança — responde ele, organizando metodicamente a pilha de documentos à sua frente.Meu coração acelera. — Condições? Que condições? — Uma ponta de irritação começa a surgir, mas há mais confusão do que raiva.Ricardo, sem pressa, pega um pen drive de um
SofiaHelena entra para dentro do escritório atrás de Ozan. Deus! Faz semanas que esse homem anda muito irritado. Ele parece um leão enjaulado e com fome. Tem explodido com muita facilidade e eu estou achando que deve ter acontecido alguma coisa na sua vida pessoal.Só pode ser!—Sinto muito senhor Ahmad. Mas o que posso fazer se o cliente não foi ao seu encontro?—Por acaso você ligou para ele confirmando?—Não! Quando eu marquei com o senhor Norton, ele deu certeza que iria, então achei que estava tudo certo.Eu sinto arrepios percorrendo ao longo de toda a minha espinha quando ele solta um gemido e a olha como se fosse avançar no pescoço dela.Ozan fala algo em turco. Com certeza foi um palavrão.—Fiz uma viagem de quase uma hora até o empreendimento para nada! Sabe como me senti senhorita Silva? Um perfeito otário!Os lábios de Helena tremem.Deus! Ela está em apuros.Eu me levanto da cadeira e pego-a pelo braço e a empurro para fora antes que Ozan perca a cabeça e a mande embora.
Ela pisca.—Como?Eu a encaro determinado.—Sex@ mas@quista, com sadism@, domin@ção e submissão. Claro que você teria que ser minha submissa. Teria que aceitar as batidas de meu chicote na sua pele fina e clarinha, tapas fortes na bunda, quem sabe um pouco de sangue. Curte ou não?Seus olhos de anjo, cálidos e ternos se tornam conflituosos.—Que horror.—Viu? Somos incompatíveis.Ela então me olha como seu eu tivesse duas cabeças e se afasta. Só então reparo em um amigo meu, Antônio rindo de mim. Ele está sentado no banco ao lado que estava a garota.—BDSM?Eu sorrio e dou um trago na minha bebida.—Foi o jeito que encontrei de afastar a garota sem que ela se sentisse ofendida.Ele olha para trás e observa a loira se afastando então me olha chocado, como se eu tivesse enlouquecido, suas sobrancelhas grossas arqueadas.—A garota é uma gata. E que corpo! E você a espanta desse jeito? O que está acontecendo com você? Cadê o cara que eu conheço?Eu viro meu corpo na direção da garota e a
OzanNão é à toa que ainda não encontrei uma noiva. Sei bem o motivo. O problema é que estou completamente fissurado por alguém que jamais deveria ser uma opção: minha assistente, a senhorita Rodrigues.Como posso sequer considerar um casamento enquanto estou preso a esse desejo por ela?A observo à distância, tentando manter meus sentimentos sob controle. Mas, Allah, está cada vez mais difícil. Às vezes, sinto que luto uma batalha digna de super-herói, mas a linha entre força e autossabotagem é tênue.Ontem foi um teste de paciência. Recebi alguns clientes no escritório e mal conseguia disfarçar meu incômodo vendo os idiotas babarem por ela.Hoje, um cliente importante está prestes a chegar. Jonas Marinho, um solteirão milionário. Ele, solteiro por escolha; eu, por resignação.Fecho meu notebook com força desnecessária, o barulho chama sua atenção. Sofia me olha com aqueles olhos de gata que me desarmam, mas desvio os meus, irritado comigo mesmo. Passo a mão pelos cabelos, como se is