Estou realmente cansado. É como se não tivesse dormido nada, como se o peso de noites mal dormidas se acumulasse sem trégua. O cansaço parece ter se alojado em meus ossos, uma exaustão que me acompanha a cada passo.Quando chego ao escritório, Hilal já está lá, aguardando-me. Ele é mais jovem, e a energia que transborda dele é quase irritante. Uma pontada de inveja me atravessa ao observá-lo, como se a vitalidade dele destacasse ainda mais minha fadiga. Sinto-me desgastado, quase envelhecido.— Günaydın. (Bom dia)— Günaydın. — Ele responde, levantando-se da mesa que agora é dele, a antiga mesa de Sofia.— Preparado para mais um dia árduo?— Com certeza. Não vou deixar passar essa oportunidade que está me dando.— Então seja como uma esponja, absorva tudo. Você tem muito a aprender.— Com certeza, quero me esforçar ao máximo. Eu nem sei como agradecer a oportunidade que me deu.Eu dou uma risada debochada.— Sabe sim! Dê o melhor de si.Treinar meu primo para ser meu braço direito tem
Ela dá uma risada amarga.— Veio cedo. É isso que está procurando? — diz, erguendo o pen drive.Entro e fecho a porta, encarando-a.— Não era para você ter visto isso.— Deus! Ou Allah, como você diz! Agora eu entendi tudo...Semicerro os olhos, e meu sangue corre denso em minhas veias.— Sim, você entendeu. Mas eu posso explicar.Sofia se levanta irada.— E eu pensando que você se casou por pensar realmente no seu filho, mas isso aqui é muito pior... Você foi forçado a isso. Eu me sinto enganada, traída.Meu olhar deve estar angustiado. A raiva nos olhos de Sofia é clara, intensa.— Não é bem assim, Sofia.— Não?Ela solta uma gargalhada sarcástica. Sua expressão se torna muito arisca. Quando me aproximo mais, ela se levanta do sofá e se afasta. Meu peito fica pesado pela angústia de vê-la tão quebrada.— Sofia, sente-se e vamos conversar como adultos. — Suas lágrimas surgem novamente. — Por favor, sente-se.— Eu entendo que esteja preocupado com a nossa separação. Um ano, não? Um an
O tempo passa e nada de Sofia. Estou sentado na nossa cama, na penumbra do quarto, esperando por ela. O abajur ao lado emite uma luz fraca e vacilante, quase sufocado pelo peso do silêncio que ecoa no ambiente.A noite avança, mas Sofia continua ausente. Meu peito está em um nó tão apertado que a respiração parece rápida e insuficiente. Allah! Já mandei inúmeras mensagens, e todas chegam, mas ela não visualiza. A angústia me consome, devorando qualquer resquício de calma que eu tentava manter.Olho ao redor do quarto. Tudo parece impregnado de memórias dela: o travesseiro que conserva o cheiro do shampoo, o lençol amarrotado que ainda guarda os rastros das noites que dividimos.As horas escorrem, implacáveis. Na solidão, revisito nossa história. Cada cena, cada gesto, cada palavra que poderia ter dito e não disse. Me pergunto, aflito, se deixei lacunas tão grandes a ponto de fazer Sofia duvidar do meu amor. Sei que, no início, o casamento surgiu como uma obrigatoriedade imposta. A pre
Ozan tem me mandado flores todos os dias. Os bilhetes que acompanham os buquês vêm com frases apaixonadas, cada palavra tentando me convencer de que o amor dele por mim é real. Confesso que leio os bilhetes, mas depois os jogo fora junto com as flores.Cada uma dessas mensagens me atravessa como uma faca. Ainda assim, não consigo evitar entortar os lábios num gesto amargo ao lembrar os dizeres:“Sofia, eu te amo. Quando me casei com você, não me senti forçado a nada.”“Sofia, você é a mulher da minha vida. Eu te amo.”“Sofia, não tenho visto as flores. Você continua me evitando. O que mais posso fazer para provar o meu amor?”Ele não entende que me senti enganada? Traída. Quebrou minha confiança de uma forma que não sei se pode ser reparada. Onde estavam essas declarações de amor no dia a dia? Durante tanto tempo, ele foi ausente, sempre trabalhando demais, sempre com explicações vagas que não faziam sentido.Eu trabalhei ao lado dele, conhecia sua rotina, e, de repente, tudo mudou. Como
—Sofia. Allah! Não! E não pretendo prendê-la a mim contra a sua vontade. Juro que o que menos estou pensando é na minha herança. Quero que me ouça e entenda os sentimentos que habitam dentro de mim. Por favor, eu te imploro.Quieta, ela me encara altiva, tentando a todo custo omitir suas emoções, não perco a maneira como seus lábios tremem com as minhas falas.—Por que você não me contou do testamento?Rio amargo.—Por mim, você jamais saberia.Eu avanço rápido, pego seus braços e a puxo para mim. A abraço forte, beijo seu pescoço e sinto-a estremecer. Ela então me empurra. Eu me afasto um pouco, mas não permito que ela saia dos meus braços.—Por quê? Responda-me!—Sofia, você não entendeu ainda que a realidade se tornou mais forte do que tudo isso? Por que falar do testamento se a vontade de me casar se tornou verdade? E você é a grande responsável por essa mudança. Você me mudou Sofia...Eu a puxei para mim, minhas mãos sôfregas passaram por suas costas e ouvi seu soluço, isso corto
Santorini é uma das joias do Mar Egeu, uma ilha onde o passado e o presente se entrelaçam em um cenário de tirar o fôlego. Devastada por uma erupção vulcânica no século 16 a.C., sua paisagem única é um testemunho da força da natureza. As casas brancas com tetos azuis se empilham em encostas íngremes acima da Caldeira, um vulcão extinto cujas fontes termais ainda emanam calor.Esse lugar, que parece saído de um sonho, é conhecido como um dos destinos mais românticos do mundo, e também um paraíso para os amantes da boa mesa. E eu posso dizer com toda a certeza: nada supera a experiência de explorar Santorini ao lado do amor da minha vida.A primeira vez que estive aqui foi com meu pai, Felipe. Ele sempre teve um olhar visionário, capaz de enxergar o que meu coração ainda não conseguia perceber. Agora, ao lado de Ozan, meu grande amor, e do nosso filho Osman, cada paisagem, cada momento, ganha um novo significado.Visitamos juntos Akrotíri, o incrível sítio arqueológico da Idade do Bronz
A chegada de Ömer transformou nossa casa em um refúgio de amor, mas também trouxe uma reflexão profunda sobre o caminho que trilhei até aqui. Aquele pequeno ser, tão frágil e tão poderoso, trouxe uma luz que parecia despertar algo adormecido em mim. Desde o momento em que ouvi seu primeiro choro, algo dentro de mim mudou para sempre. Eu o segurava em meus braços e sentia seu corpinho quente, como se fosse uma promessa de um futuro brilhante. Eu, que tantas vezes achei que o destino fosse cruel, agora agradecia a cada segundo por estar vivendo aquele momento.Com Osman, meu primogênito, as coisas foram diferentes. Não por falta de amor, mas porque, na época, eu era um homem perdido em ambições e cobranças. Eu não soube enxergar a magnitude do privilégio que era tê-lo em meus braços. Trabalhando longas horas e lidando com as incertezas de um futuro que eu ainda não compreendia, muitas vezes deixei escapar momentos preciosos que jamais voltariam. E isso me machuca. Agora, com Ömer, eu te
SofiaA voz que chama mais uma das candidata tem um lindo sotaque e é arrogantemente máscula. A garota de cabelos com um corte moderno se levanta. Seus olhos verdes me encaram como se eu fosse um nada. Deixando claro sua confiança que terá o cargo.Eu aliso minha saia nervosamente e solto um suspiro. Três garotas já entraram e todas saem, com a mesma expressão, confiantes. Mas acredito que sem nenhuma resposta. Se o CEO já tivesse a candidata certa, nos dispensaria e não se daria ao trabalho de continuar com as entrevistas.Acredito que ele entrevistará todas e só então tomará uma decisão.Solto o ar quando a imagem de cada uma delas invade minha mente: maquiagens muito bem aplicadas, vestidas com roupas de grife aflorando refinamento.Passo os olhos pela minha saia preta e camisa de corte simples. Meus cabelos castanhos escuros estão presos no alto da cabeça.Maquiagem? Só um risco de lápis abaixo dos olhos e um batom telha, só para dar uma cor aos lábios. Respiro fundo. "Espero q