Capítulo 2

O homem que o montava conseguiu controlá-lo a ponto de não cair, já eu não tive a mesma sorte, e em minha queda rolei entre as pedras que ficavam no caminho. Imediatamente, ele desmontou e veio socorrer-me, e logo atrás meu guarda vinha apressado para ajudar-me também.

— Sinto muito, senhorita! Não imaginei que haveria mais alguém cavalgando por aqui. Machucou-se muito? — O homem ajudou-me, e ao levantar percebi que meu pulso doía e minha face parecia sangrar. O guarda veio em minha direção também para me proteger do desconhecido, mas fiz um sinal para que ficasse onde estava.

— Oh! Ainda não sei. Não há problema, eu estava correndo demais e meu cavalo assustou-se com o seu. Também peço que me desculpe pelo ocorrido.

Quando consegui levantar o meu olhar, parei ao constatar a beleza daquele misterioso homem. Seus traços fortes e perfeitos, aquele negro olhar que parecia familiar e de súbito me perdi naquele momento, encantada por um belo sorriso que fez com que minhas pernas perdessem as forças, a ponto de quase cair novamente, sendo amparada por braços fortes e acolhedores.

— Cuidado! Não vai querer cair de novo e machucar-se ainda mais! — sua voz firme era ainda mais perturbadora.

— Agradeço pela ajuda! Tenho que voltar, porém, acredito que não vou conseguir mais montar, se puder acompanhar-me até o castelo, serei muito grata e lhe recompensarei quando chegarmos lá.

— Não há necessidade de me recompensar, de forma alguma. Ficarei feliz em ajudar-lhe. Vive, então, no castelo?

— Sim! Percebo que não me reconheces, não deve ser dessa região. De onde está vindo?

— Venho de longe, muito longe.

— Entendo! Quando chegarmos ao castelo descobrirá quem sou.

— Muito bem, então! Será da mesma forma comigo. — Ele sorriu e percebi que não sabia como reagir àquele sorriso.

Como aquilo era possível? Quem era aquele misterioso homem? Senti, uma vez mais, que o conhecia, no entanto não conseguia lembrar de onde!?

Era a primeira vez que meus sentimentos me deixavam confusa. Nunca havia sentido algo tão forte e, ao mesmo tempo, tão perturbador. Não sabia como reagir, apenas aceitei a ajuda para montar novamente e dessa vez estava no cavalo de um estranho, sendo escoltada por um guarda real que não parecia gostar nem um pouco daquela situação. Apreensivo, levava o meu cavalo e, ao chegar mais perto dos outros guardas, o ouvi pedindo atenção para que todos ficassem alertas a qualquer movimento estranho do homem que me ajudava.

Sentada à frente dele, no cavalo, sentia a sua respiração e também o calor de seus braços que me envolviam para que eu não caísse, enquanto ele segurava as rédeas. Cavalgamos devagar, e como havia corrido para longe da clareira, demoramos um pouco para chegar ao castelo, e além disso, o tempo pareceu andar lento, devido a toda aquela energia que sentia. Pela primeira vez em minha vida, não sabia como me comportar, não sabia como agir diante daquele homem que conheci abruptamente em uma curva do bosque. Em um acidente inesperado minha vida havia mudado, em um átimo, tudo parecia estar diferente e meus sentimentos bagunçados em uma mistura de calor, encantamento, formigamento e uma sensação de acolhimento que nunca havia sentido antes.

Quando chegamos ao castelo, o homem ajudou-me a desmontar e um guarda correu para avisar que eu precisava de ajuda e havia me machucado.

— Muito obrigada pela ajuda e por me trazer até aqui em segurança. Não sei como posso lhe compensar, contudo, se precisar de estadia antes de seguir viagem, as portas do castelo estão abertas a você.

— Eu que agradeço, mas já cheguei ao meu destino e percebo agora que estava esse tempo todo com a Rainha.

— Sim, sou a Rainha Vitória Malena, e você quem é? E o que veio fazer por aqui? — ele sorriu, como se achasse graça de minhas dúvidas.

— Já nos conhecemos há um bom tempo, não nos lembramos devido às mudanças de nossa idade. Vossa Majestade ainda não me reconhece, contudo, agora que sei quem é, consigo notar muito bem a semelhança com aquela pequena menina que deixei por aqui.

Percebi que além dos guardas, outras pessoas vinham para ajudar, entre elas estavam minha tia Amélie, que ao ver o homem misterioso correu em nossa direção e parecia emocionada.

— Meu filho, você voltou? — ela gritou com lágrimas nos olhos.

— Minha querida mãe. Estou de volta! Quantas saudades! — ele também parecia muito emocionado e agora entendia tudo.

Os dois se abraçaram e, enfim, percebi quem era aquele homem que havia causado o meu acidente e, ao mesmo tempo me ajudado, era meu primo Aron. Ele estava de volta, após anos vivendo longe havia retornado para junto de sua família.

— Você é o meu primo? Meu primo Aron? — ainda estava surpresa com aquela constatação.

— Sim, minha querida! Meu filho está de volta. Não é uma grande alegria? — Tia Amélie estava exultante.

— Sim, minha tia. Que grande alegria! — e que bela surpresa.

— E vocês se encontraram sem saber quem eram, pelo que estou percebendo.

— Nossa Rainha machucou-se em um acidente no bosque e a ajudei a retornar, ela precisa de ajuda para recompor-se. Foi um grande infortúnio esse acidente ter sido causado por mim! — ele não parava de sorrir e eu não conseguia tirar os meus olhos dele.

— Claro! Estou percebendo agora que está machucada querida. Vamos entrar, suas damas e Serena a ajudarão. Sente-se bem? Algo está doendo? — minha tia mudou sua alegria para a preocupação ao reparar em meus ferimentos.

— Apenas o meu pulso e os cortes no rosto, mas não é nada demais. — Sinceramente, nem conseguia sentir dor, estava feliz pelo retorno inusitado de Aron.

Minhas damas de companhia apareceram e me levaram em direção aos aposentos. Ao ser levada por elas, despedi-me rapidamente e pude ouvir mãe e filho conversando animados enquanto me afastava. Quando entrei na sala de banho, minha dama de companhia Gisela ajudou a me limpar, trocar as roupas sujas, e meus ferimentos foram cuidados por Serena. Estava inteira de novo, no entanto, sentia como se um pedaço de mim tivesse sido arrancado, era algo novo para mim, algo além de tudo o que pensava já ter sentido.

Após me ajudar, Serena parecia curiosa em perguntar-me o que havia acontecido:

— Você está diferente, Vitória. Como se esse acidente tivesse mudado algo em você. Só não consegui entender ainda o que pode ser, entenderei em breve, estou certa disso? — Serena era sensitiva, não somente por ser curandeira, ela era muito especial.

— Posso começar lhe contando o que aconteceu e sobre o que estou sentindo. Sei que entenderás melhor do que eu e poderá ajudar-me.

— Pois então, conte-me logo e lhe ajudarei no que for possível! — sorrimos de mãos dadas e foi assim que comecei a relatar todos os acontecimentos do dia.

Estava ali, com minha melhor amiga, que era como uma irmã para mim. Sabia que naquele momento ela seria a única que poderia me entender de verdade, até mais do que eu mesma.

Aron foi recebido por todos com muita alegria, seus pais, Serafim e Amélie, estavam ansiosos com a sua chegada, contudo, não sabiam ao certo quando isso aconteceria. 

Fiquei sabendo depois que planejaram uma grande festa em comemoração ao seu retorno para a noite seguinte, devido a longa viagem e ao acidente, seria melhor todos descansarem naquela noite. 

O dia tinha sido uma surpresa com o prenúncio de que muitas novidades ainda estavam por vir. 

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