PARTE I
Me perdi no seu olhar, no seu sorriso, nos seus lábios;
Me ganhei no seu toque, nos seus beijos, nas suas carícias;Mergulhei nas profundezas negras, no brilho escuro, fundo e ensurdecedor que o silêncio da falta de suas palavras causou em mim.Estar ao seu lado, lhe ver todos os dias e não poder ser suatrouxe-me a mais pura tristeza, e ao descobrir o seu amor
revivo todas as vezes que posso estar junto a ti, sem amarras, sem pudores,
sem nenhum outro pensamento que não seja você.
Nada faz sentido sem a sua presença, sem o seu olhar que me perde e me ganha toda vez que estamos juntos.Não quero nada mais, a não ser estar entre suas palavras e seus pensamentos todos os dias... até o fim, até que não seja mais possível respirar.“...I can't describe your eyes
Eu não posso descrever os seus olhos
But they're as blue as the sea
Mas eles são tão azuis quanto o mar
Your heart, it beats
Seu coração, ele b**e
In perfect time with me
Em sincronia perfeita comigo
Baby you know that I won't mind
Amor, você sabe que eu não me importaria
If we get no rest, til' the sunrise
Se não tivéssemos descanso até o nascer do sol
Until you make me fall in love again
Até você fazer eu me apaixonar novamente
As light shows your face
Enquanto a luz mostra o seu rosto
I could never be the same
Eu não poderia ser o mesmo
I plan to love you all my life
Eu pretendo te amar por toda a minha vida
Until you meet your chariot
Até você encontrar a sua carruagem.”
(Chariot, Jacob Lee)
PRÓLOGOAquele bosque era o meu lugar de paz, admirava sua beleza e sentava sob as árvores, apreciando uma boa leitura, respirando ar puro, sentindo a brisa, os cheiros, o tato nos troncos ásperos, na suavidade das pétalas das flores. Meus pés, muitas vezes descalços, pisavam nas folhas secas saboreando o som que elas faziam, o que me trazia relaxamento e bem-estar.
Ali havia o riacho com suas águas límpidas, correndo sempre na mesma direção, e aquela flor... Ah! Aquela bela flor, que na parte calma e rasa do rio, onde as águas se misturavam com a terra e a transformavam em lodo, florescia. Quem poderia imaginar que uma flor tão bela e tão delicada nasceria ali, daquela maneira no lugar mais improvável, nas condições mais absurdas, pois lá estava ela!?
A chamavam de Lótus, a flor de Lótus. Descobriram alguns mestres do reino que estudiosos consideravam aquela flor símbolo da elegância, beleza, perfeição, pureza, graça, e teria sido associada aos atributos femininos ideais, além de simbolizar também a força e determinação, por ser uma planta aquática que floresce sobre a água lodosa.
O fato de ser minha flor favorita, e por eu já ter sido coroada Rainha, fazia com que surgissem as comparações. Assim como a flor, eu nasci do improvável, da união de dois reinos praticamente impossíveis de viverem em paz após muitos conflitos. Assim como eu, a flor de lótus se tornou sagrada no reino, representava a renovação da fé, a purificação, a força e determinação que todos precisavam.
Sempre que encontrava alguma, a colhia para enfeitar meus aposentos. Era realmente uma pena que elas vivessem tão pouco e logo murchassem, seria maravilhoso poder conservar uma de alguma forma, minha amiga Serena pensava nisso com carinho e tentava fazer com que esse milagre acontecesse.
Estava sempre cercada de súditos, damas de companhia e guardas, fato que não apreciava muito, contudo já havia me acostumado. Apesar da paz e tranquilidade que nos acompanhava desde o meu nascimento, essa proteção era adequada, pois havia muitas famílias no reino e todos me veneravam e queriam de alguma forma chegar perto e conhecer-me pessoalmente. Os moradores do reino me amavam, no entanto, a segurança era necessária como prevenção e isso, às vezes, me irritava. Havia também alguns conselheiros do reino que pensavam de forma contrária e apoiavam o Clero na ideia de que o governo de um Rei seria muito melhor do que o de uma Rainha. Pensamentos retrógrados e machistas que enfrentávamos há muito tempo e que não desapareciam apesar de tantas mudanças já constatadas.
Estava sentada à sombra de uma de minhas árvores favoritas no bosque, observando a tarde, no trecho do rio onde exemplares da minha flor de lótus nasciam belas e pomposas. Apreciava muito estar ali. Assim como minha mãe, Felícia, eu gostava de colher flores e passear entre elas, e aquela havia se tornado especial em minha vida. Havia recebido essa herança dela, o amor pela natureza, assim como os grandes olhos azuis e a pele clara demais, por isso o sol me encantava e trazia um pouco mais de cor. Meus cabelos eram parecidos com os de meu pai, Anthony, castanhos, longos e lisos.
Somente ficar ali observando a natureza, mesmo com aquela bela visão, não estava mais contentando-me e decidi cavalgar. Estava um tanto inquieta naquele dia, sem saber ao certo o porquê. Um cavaleiro do reino acompanhou-me, ficando um pouco distante, conforme havia lhe pedido, e assim foi possível vislumbrar a paisagem, correndo pela clareira após o bosque, sentindo um pouco da liberdade que me era tirada a todo instante, não que eu reclamasse, como disse, já estava acostumada, porém, necessitava daquela liberdade em alguns momentos.
Sabia que se corresse muito pela clareira, logo ultrapassaria a fronteira entre Minsk e Neveri, no entanto, aquela divisão não existia mais, éramos agora um único reino. Mesmo assim, já estava bem distante do castelo, mesmo antes de cavalgar, e agora então, me afastava muito mais. Demoraria um bom tempo para retornar, então decidi avançar somente um pouco mais, dessa vez adentrando no bosque.
Apesar de meu cavalo ser um puro-sangue muito bem treinado, assustou-se após uma curva em uma pequena estrada que virei, quando cheguei a outra parte do bosque e outro cavalo vinha na direção contrária.
O homem que o montava conseguiu controlá-lo a ponto de não cair, já eu não tive a mesma sorte, e em minha queda rolei entre as pedras que ficavam no caminho. Imediatamente, ele desmontou e veio socorrer-me, e logo atrás meu guarda vinha apressado para ajudar-me também. — Sinto muito, senhorita! Não imaginei que haveria mais alguém cavalgando por aqui. Machucou-se muito? — O homem ajudou-me, e ao levantar percebi que meu pulso doía e minha face parecia sangrar. O guarda veio em minha direção também para me proteger do desconhecido, mas fiz um sinal para que ficasse onde estava. — Oh! Ainda não sei. Não há problema, eu estava correndo demais e meu cavalo assustou-se com o seu. Também peço que me desculpe pelo ocorrido. Quando consegui levantar o meu olhar, parei ao constatar a beleza daquele misterioso homem. Seus traços fortes e perfeitos, aquele negro olhar que parecia familiar e de súbito me perdi naquele momento, encantada por um belo sorriso que fez com que minhas pernas perdess
— Vossa Majestade Rainha Vitória Malena Forense Trineth, aceita o Senhor Gerald Lowell, Marquês de Burlet, como seu legítimo esposo? — Aceito! — estava segura de minha decisão. — Senhor Gerald Lowell, Marquês de Burlet, aceita Vossa Majestade Rainha Vitória Malena Forense Trineth, como sua legítima esposa? — Sim, aceito! — Gerald sorriu para mim em cumplicidade. O atual Bispo do reino Dom Charles, nos abençoava em uma bela cerimônia e comemoração que foi festejada durante dois dias. Gerald, agora meu esposo, havia me conquistado com sua gentileza e cuidado. Sempre muito carinhoso e atencioso, demonstrava desde que nos conhecemos o interesse por cortejar-me, e numa certa manhã, após um passeio em sua companhia, confidenciei aos meus pais que apreciava estar com ele e que o achava muito charmoso. Isso foi o suficiente para que meus pais, Anthony e Felícia, passassem a planejar uma futura união, que foi de absoluto interesse de Gerald e de sua família também. Após vários encontros
— Que indelicadeza a minha, nem lhe perguntei se estás melhor. Espero que estejas bem. Como se sente após o acidente com o cavalo? — Obrigada! Estou somente um pouco dolorida. Serena examinou-me, fez os curativos necessários e me medicou, preciso apenas repousar um pouco. — Não queria que meu esposo percebesse em meu semblante que algo havia mudado e o quanto estava transtornada com aquela mudança.— Fico mais tranquilo, minha querida. Deixarei então que repouse para que se sinta melhor ao amanhecer, afinal, teremos um grande baile amanhã em comemoração à chegada de vosso primo. — Ele parecia não perceber o que eu tentava esconder, se percebia disfarçava muito bem.— Grata, meu querido. Amanhã estarei melhor e renovada para a festa! — Ficarei em meus aposentos essa noite, sozinha será mais fácil você descansar. Bom repouso, minha Rainha — beijando-me a testa Gerald saiu de meus aposentos, me deixando com meus mais novos e confusos sentimentos. Tínhamos dois aposentos para que houves
— Agradeço, Gerald. Desejo que meu retorno seja mesmo apreciado por todos, e no que puder contribuir ao reino e ao vosso reinado, cara prima, será uma grande honra. — Tentava me manter firme, no entanto, por dentro, queimava de angústia sempre que aqueles profundos olhos negros me fitavam. Toda aquela cortesia entre os dois me incomodava. Não eram certos aqueles pensamentos, e se não fossem por eles, com certeza não estaria me sentindo daquela forma, era mesmo a culpa que me consumia. Meu marido Gerald sempre foi gentil e educado com todos, inclusive comigo. Isso sempre me agradou muito, desde que nos conhecemos, apreciava sua beleza e elegância, além de seus galanteios encantadores. Tudo estava perfeito até o retorno de meu primo. Até surgirem aqueles pensamentos impróprios, aquele calor, aquele formigamento que sentia por todo o meu corpo. Acreditei a princípio que fossem apenas coisas da minha imaginação, mas ali, naquele momento sentada ao seu lado, estava claro que era real, e
Era só ele se aproximar que todo aquele fogo retornava. Aron, que parecia perceber o quanto ficava diferente toda vez que nos aproximávamos, enlaçou minha cintura com muita delicadeza e passou a conduzir-me pelo salão, tentando fazer com que me acalmasse, porém, todo o seu esforço era em vão, qualquer atitude dele só fazia aumentar as minhas perturbações.— Sou muito grato por receber-me tão bem e com uma festa. Não sabia como seria meu retorno e como me receberiam. Pelas cartas de meus pais imaginava que seria bem recebido, mas foram muitos anos longe e temia de certa forma esse retorno. Era muito menino quando fui embora acompanhado de meu tutor para estudar, então sabia que muita coisa havia mudado por aqui, inclusive sobre a vossa coroação e casamento.— Fiquei ciente de tudo o que acontecia com vossa pessoa, seus pais sempre me contavam, e é claro que também aguardava o seu retorno, porém, ele me surpreendeu. Não imaginava que seria agora e não dessa forma.— De qual forma minha
As semanas após o retorno de Aron transcorreram rapidamente, com todos os compromissos e assuntos importantes para lidar, contudo, agora havia uma nova direção para a qual meus olhos teimavam em olhar, meus pensamentos tinham novos horizontes e meu coração um novo dono. Sabia que devia preocupar-me com a forma como as coisas haviam mudado em minha vida nos últimos dias, só não sabia como reagir a tudo e manter-me firme, com os pés no chão e não nas nuvens, como parecia estar desde o momento em que acordava até quando me deitava para repousar. Até meus sonhos eram diferentes, com pitadas de um desejo ardente, que na maioria das vezes se transformava em pesadelo com a presença de meu esposo. Nem mesmo em meus sonhos aquele sentimento parecia certo, e realmente não era. Gerald não notava a minha indiferença, e quando me procurava no calor da noite, fingia estar indisposta. Não conseguia mais entregar-me ao meu próprio esposo e sabia que aquela situação não poderia durar muito tempo, l
Amar alguém sempre nos fará bem! Pensava nisso durante meu desjejum naquela manhã em que despertei muito cedo e não consegui dormir mais. Não fui capaz de aquietar meus pensamentos e desejos. Acordei sobressaltada após um belo sonho, algo me incomodava e sabia muito bem o que era. Todos chegavam devagar para se alimentar junto de sua Rainha. Aron, veio de braços dados com sua mãe Amélie, que não se cansava de conversar com ele, para colocar em dia todo o tempo que perderam enquanto ficaram separados. Sentaram-se à minha frente e, como em todos os dias após a sua chegada, o meu coração descompassado parecia que saltaria pela boca e me denunciaria sobre todos os meus sentimentos. — Um ótimo dia, minha cara prima. Passou bem a sua noite? — Aron parecia saber o quanto os meus sonhos haviam me perturbado, na verdade somente eu sabia, no entanto, a sensação que tinha era de que todos conheciam meus sonhos, ou melhor dizendo, pesadelos. — Sim! Muito bem, e vocês? — as palavras saíram sem
A mesa estava repleta de pães, doces, chás e muitas frutas. Ele ajudou-me a sentar e postou-se à minha frente, na decoração da mesa havia um exemplar belíssimo da flor de lótus, sorri ao vê-la, sempre me encantava com sua beleza. As criadas nos serviram e agradecendo, pedi para que saíssem. — Melhor assim, podemos nos servir sozinhos. Às vezes, fico sufocada com tanto cuidado. Obrigada pela flor, é a minha favorita, lembra que gostava dela desde menina? — Foi um prazer lhe fazer esse agrado e retribuir toda a acolhida. Me lembro sim, quando brincávamos pelo bosque, junto de Serena. — Ele sorriu, me deixando sem reação. — Quanto aos serviçais, imaginei que já estaria acostumada com tantos cuidados, afinal viveu assim a vida toda. — Sim, Aron, porém agora é diferente! Após minha coroação e meu casamento, esses cuidados se intensificaram, e os momentos sozinha são muito raros. — Não consegui conter o desabafo. — Deves ter vontade de fazer algo diferente em alguns momentos do dia. Se