A mesa estava repleta de pães, doces, chás e muitas frutas. Ele ajudou-me a sentar e postou-se à minha frente, na decoração da mesa havia um exemplar belíssimo da flor de lótus, sorri ao vê-la, sempre me encantava com sua beleza. As criadas nos serviram e agradecendo, pedi para que saíssem. — Melhor assim, podemos nos servir sozinhos. Às vezes, fico sufocada com tanto cuidado. Obrigada pela flor, é a minha favorita, lembra que gostava dela desde menina? — Foi um prazer lhe fazer esse agrado e retribuir toda a acolhida. Me lembro sim, quando brincávamos pelo bosque, junto de Serena. — Ele sorriu, me deixando sem reação. — Quanto aos serviçais, imaginei que já estaria acostumada com tantos cuidados, afinal viveu assim a vida toda. — Sim, Aron, porém agora é diferente! Após minha coroação e meu casamento, esses cuidados se intensificaram, e os momentos sozinha são muito raros. — Não consegui conter o desabafo. — Deves ter vontade de fazer algo diferente em alguns momentos do dia. Se
— Oh! Muito obrigada, primo! Surpreendi-me ao lhe encontrar também, confesso que a princípio achei algo familiar em você, no entanto, só compreendi quem era quando chegamos no castelo. — Percebi naquele momento a sua confusão e me diverti um pouco com isso. — Ele sorriu divertido e à vontade com o nosso encontro e nossa conversa, que estava se tornando cada vez mais agradável. — É mesmo? Divertiu-se a minha custa? Que audácia! — tentava levar a conversa para um tom de divertimento, com o propósito de quebrar qualquer situação constrangedora entre nós dois. Deveria resistir com todas as minhas forças àquele encanto que me prendia, em respeito ao meu casamento. — Não me entenda mal, Malena, diverti-me apenas com a situação! — meu Deus, ele chamou-me de Malena… só ele me chamava assim quando éramos crianças, dizia que era o nome mais belo do mundo. — Só você me chamava apenas de Malena, lembra? — não resisti em comentar e demonstrar a ele o quanto me alegrava com aquilo. — Se não f
— Malena, ele está chamando você de Malena, filha? — minha mãe andava pelos meus aposentos, de um lado para o outro e falava sem parar para respirar, e essa foi a pergunta que desencadeou a sua revolta. — Minha mãe, ele me chamava assim quando éramos crianças! Lembra como isso era natural entre nós, não sei porque ficou tão surpresa! — na verdade sabia, no entanto não tinha certeza se era possível confessar isso a ela, que parecia já estar enlouquecendo com a possibilidade. — Vocês não são mais crianças, são adultos agora e você é uma Rainha comprometida com seu reino e com a honra de sua família, principalmente de seu esposo, jamais se esqueça disso! Imagina se Gerald o vê chamando-a assim, com tanta intimidade, o que pensará? — era a primeira vez que via minha mãe descontrolada daquela maneira. — Acalme-se, minha mãe. Estás preocupada sem razão. Nós somos primos e convivemos na infância, não há nada demais em convivermos agora. — Tentava enganar a ela e a mim mesma, sem muito suc
— Você terá que ser muito firme, Vitória. Deverá vencer, um dia de cada vez, todas as tentações que estão por vir. Eu vi o brilho nos olhos dele e tenho certeza que o seu sentimento é recíproco, o que piora muito a situação. Se ele não sentisse o mesmo, seria bem mais fácil. — A senhora acha que ele também se apaixonou por mim? — apesar de desconfiar disso, ouvir outra pessoa afirmando que percebeu o mesmo que eu, me dava uma certeza que poderia ser maravilhosa, porém devido às circunstâncias era cruel e me derrubava ainda mais. — Estou certa disso! Você também já percebeu, e sendo assim, a melhor solução é manter-se afastada. Vê-lo somente durante o trabalho e evitar outros encontros, principalmente a sós, como aconteceu hoje no jardim. — O olhar de minha mãe era de reprovação. — Não tive escolha, quando percebi, a Tia Amélie já tinha arrumado tudo. Ao contrário da senhora, ela não percebeu o que está acontecendo e quer nos ver juntos, retomando a amizade do passado. — Se ela ti
Quando convivemos com pessoas desde a infância, mantemos uma relação natural de amizade, e assim aconteceu comigo e Serena. Éramos pequenas, com mais ou menos quatro anos, quando nos conhecemos. Ela foi trazida ao reino por sua mãe Constance, que teve um relacionamento com Abdus, curandeiro do castelo que sumiu em uma noite e nunca mais retornou. Até hoje sua história de vida e a forma como desapareceu é um grande mistério. A Rainha Malena, na época, pediu a meu pai que o procurasse e assim ele o fez, porém, a procura foi inútil e nunca encontraram nenhum rastro do que poderia ter lhe acontecido. Quando elas chegaram ao castelo, Abdus as recebeu de braços abertos, era evidente a sua paixão por Constance, que até então fugia de seus sentimentos por ele, devido à negação de sua família em admitir que ela se envolvesse com um “bruxo”. Malena conheceu Constance e Serena, demonstrando muito carinho pelas duas, e todos as acolheram em respeito ao grande homem e amigo que Abdus sempre f
— Vitória, entendo perfeitamente o que a perturba… a infidelidade! Você já se sente infiel, somente com seus pensamentos, minha amiga. — É assim que me sinto e não sei mais o que fazer para anular esse sentimento de meu coração e fazer tudo voltar ao normal. — Sinto muito em lhe alertar para o fato de que você não conseguirá mais voltar ao normal, nada mais será como antes. Sua vida mudou e você deve se preparar para o que está por vir — fiquei surpresa com aquela afirmação, que na verdade já esperava, contudo ouvi-la tão claramente de minha amiga e ter aquela certeza, fez-me temer o futuro de uma forma que nunca havia acontecido antes. — Imagino que você já deve ter tido alguma visão, algum presságio do que irá me acontecer? — ela virou-se de costas para mim, e quando retornou segurava um ramo de flores amarelas. — Sinto muito, mas as previsões não são boas. Se quiseres ouvir, posso contar-lhe, porém acredito ser melhor preparar o seu ânimo. O aroma dessas flores irá lhe trazer u
A tristeza vinha por imaginar quantas pessoas tinha ao meu redor que poderiam não ser sinceras quanto ao que sentiam por mim. Recebia muitas manifestações de amor e carinho de todo o reino, no entanto, havia acabado de descobrir que seria traída no futuro. Como acreditar em todos dali em diante? Como não desconfiar de tudo após essa revelação? Deveria tentar ser imparcial e de alguma forma esquecer um pouco o que havia descoberto para não sofrer antecipadamente. Isso parecia, na verdade, uma solução impossível! O melhor de estar ciente de algumas coisas de seu futuro, sem dúvida alguma, é estar preparada quando acontecer o pior, e a única certeza que tinha era de que esses acontecimentos ainda estavam distantes, não sabia quando aconteceriam e não tinha ideia de quem seria esse traidor. Deveria apenas preparar-me para viver aquele momento presente nas visões de Serena e tentar ao menos me prevenir de alguma forma. Terminamos nosso chá e conversamos sobre outros assuntos também. Minh
— Não pensava em ninguém, apenas em algumas situações cotidianas da administração do reino. — Disfarcei e Aron sorriu, parecia que sabia dos meus pensamentos e que estava mentindo, ou melhor, omitindo fatos. — Já lhe falei para ficar mais tranquila e deixar essas preocupações fora de nossa mesa, de nossos aposentos. Se continuar preocupada com essa intensidade, pode adoecer, e isso sim será uma grande preocupação. Temo pela sua saúde, minha esposa. — Pois fique tranquilo, minha saúde vai muito bem, não há problema algum com ela. — Você não acha, primo, que Vitória deve se manter mais calma? — para minha surpresa ele pedia a opinião de Aron, que mesmo sem jeito, falou diretamente a mim. — Não posso deixar de concordar com seu esposo, minha prima. Necessita mesmo acalmar-se e tentar deixar os problemas do reino na sala de reuniões do Conselho, para resolvermos quando estivermos lá. Estou à sua disposição se necessitar de ajuda. — Ele nem imaginava que o meu maior problema era a sua