Quando convivemos com pessoas desde a infância, mantemos uma relação natural de amizade, e assim aconteceu comigo e Serena. Éramos pequenas, com mais ou menos quatro anos, quando nos conhecemos. Ela foi trazida ao reino por sua mãe Constance, que teve um relacionamento com Abdus, curandeiro do castelo que sumiu em uma noite e nunca mais retornou. Até hoje sua história de vida e a forma como desapareceu é um grande mistério. A Rainha Malena, na época, pediu a meu pai que o procurasse e assim ele o fez, porém, a procura foi inútil e nunca encontraram nenhum rastro do que poderia ter lhe acontecido. Quando elas chegaram ao castelo, Abdus as recebeu de braços abertos, era evidente a sua paixão por Constance, que até então fugia de seus sentimentos por ele, devido à negação de sua família em admitir que ela se envolvesse com um “bruxo”. Malena conheceu Constance e Serena, demonstrando muito carinho pelas duas, e todos as acolheram em respeito ao grande homem e amigo que Abdus sempre f
— Vitória, entendo perfeitamente o que a perturba… a infidelidade! Você já se sente infiel, somente com seus pensamentos, minha amiga. — É assim que me sinto e não sei mais o que fazer para anular esse sentimento de meu coração e fazer tudo voltar ao normal. — Sinto muito em lhe alertar para o fato de que você não conseguirá mais voltar ao normal, nada mais será como antes. Sua vida mudou e você deve se preparar para o que está por vir — fiquei surpresa com aquela afirmação, que na verdade já esperava, contudo ouvi-la tão claramente de minha amiga e ter aquela certeza, fez-me temer o futuro de uma forma que nunca havia acontecido antes. — Imagino que você já deve ter tido alguma visão, algum presságio do que irá me acontecer? — ela virou-se de costas para mim, e quando retornou segurava um ramo de flores amarelas. — Sinto muito, mas as previsões não são boas. Se quiseres ouvir, posso contar-lhe, porém acredito ser melhor preparar o seu ânimo. O aroma dessas flores irá lhe trazer u
A tristeza vinha por imaginar quantas pessoas tinha ao meu redor que poderiam não ser sinceras quanto ao que sentiam por mim. Recebia muitas manifestações de amor e carinho de todo o reino, no entanto, havia acabado de descobrir que seria traída no futuro. Como acreditar em todos dali em diante? Como não desconfiar de tudo após essa revelação? Deveria tentar ser imparcial e de alguma forma esquecer um pouco o que havia descoberto para não sofrer antecipadamente. Isso parecia, na verdade, uma solução impossível! O melhor de estar ciente de algumas coisas de seu futuro, sem dúvida alguma, é estar preparada quando acontecer o pior, e a única certeza que tinha era de que esses acontecimentos ainda estavam distantes, não sabia quando aconteceriam e não tinha ideia de quem seria esse traidor. Deveria apenas preparar-me para viver aquele momento presente nas visões de Serena e tentar ao menos me prevenir de alguma forma. Terminamos nosso chá e conversamos sobre outros assuntos também. Minh
— Não pensava em ninguém, apenas em algumas situações cotidianas da administração do reino. — Disfarcei e Aron sorriu, parecia que sabia dos meus pensamentos e que estava mentindo, ou melhor, omitindo fatos. — Já lhe falei para ficar mais tranquila e deixar essas preocupações fora de nossa mesa, de nossos aposentos. Se continuar preocupada com essa intensidade, pode adoecer, e isso sim será uma grande preocupação. Temo pela sua saúde, minha esposa. — Pois fique tranquilo, minha saúde vai muito bem, não há problema algum com ela. — Você não acha, primo, que Vitória deve se manter mais calma? — para minha surpresa ele pedia a opinião de Aron, que mesmo sem jeito, falou diretamente a mim. — Não posso deixar de concordar com seu esposo, minha prima. Necessita mesmo acalmar-se e tentar deixar os problemas do reino na sala de reuniões do Conselho, para resolvermos quando estivermos lá. Estou à sua disposição se necessitar de ajuda. — Ele nem imaginava que o meu maior problema era a sua
Jamais imaginei que seria capaz de fazer aquilo! Temia ser rejeitada, temia que ele repudiasse a minha atitude, o que seria mais fácil, devido às atuais circunstâncias. No entanto, o que aconteceu foi exatamente o contrário. Ele abraçou-me, e aquele beijo que comecei de forma tão desajeitada, intensificou-se, causando sensações jamais sentidas por todo o meu corpo, e ele correspondia de uma forma sôfrega e incontida. A impressão que me causava era de que ele também pensava e desejava aquilo da mesma forma que eu, e aos poucos fui entendendo que não estava sozinha com meus sentimentos. Não sei mensurar quanto tempo aquele beijo durou, somente que esquecemos de tudo, de todos e não nos preocupamos se alguém nos observava, nada mais existia naquele momento e todos os nossos problemas foram esquecidos, só conseguia vibrar por dentro pela alegria de ser correspondida por meu verdadeiro amor. Minhas mãos corriam por seus cabelos e as dele pelos meus, pela minha face. Abracei aquele corpo
Aquele olhar que buscava todas as manhãs evitava encontrar o meu. Se tornava cada vez mais evidente que Aron fugia de mim. Havia se passado dois dias inteiros e ele sequer procurou-me para conversarmos. Nos encontramos na sala do Conselho, resolvemos o que era preciso com todos os conselheiros e somente isso. Até nos momentos das ceias ele sentou-se mais perto de seu pai, para ficar distante de mim. Nem mesmo compareceu ao jardim para o habitual chá da tarde e descanso. Fiquei imaginando o que se passava em sua mente e o que ele havia sentido com o meu beijo. Sua distância me fazia pensar que poderia estar enganada e que ele não correspondia ao mesmo sentimento. Será que havia sonhado a felicidade em vão? Minhas dúvidas acabaram quando, enfim, ficamos sozinhos no terceiro dia após o beijo. Aquele beijo que roubei e não me fazia sentir nem um pouco arrependida, por ter sido o melhor de minha vida, o mais intenso e o único com tanto sentimento que me fazia sonhar todas aquelas noite
— Isso responde às suas perguntas? — o olhar dele era de puro desejo e ternura. — O que há com você, Aron? Por que tem me evitado, e por que me beijou dessa maneira agora? Estás querendo me enlouquecer? — não faltava muito para que isso acontecesse. — Somente se for para lhe enlouquecer de amor, Malena. Minha Malena! Jamais pensei que teria a oportunidade de mostrar a você o quanto lhe quero, o quanto desejo cada parte de seu corpo e o quanto gostaria de estar a sós com você em algum lugar onde ninguém pudesse nos interromper. Ele falava com o rosto colado ao meu, sussurrando e ao mesmo tempo mordiscando a minha orelha. — Porque se manteve distante, se o seu desejo era esse? — ele encarou-me e seu negro olhar por um instante perdeu o brilho. — Pela triste certeza de que não posso ter você. Somos pecadores em nos desejarmos dessa maneira. Você é comprometida e seu esposo tem demonstrado amizade comigo desde que cheguei aqui. Me sinto um grande traidor e não quero transformá-la em
Como pode ser difícil para uma Rainha conseguir tempo para algo que não estava no planejamento de sua vida. Ansiava pelo desejado próximo encontro, que parecia cada vez mais complicado de acontecer. Gerald não dava trégua em seus cuidados e atenção comigo, o que há um tempo atrás me faria muito feliz, porém agora me incomodava por vários motivos, me deixava aflita e cada vez mais agitada com a situação. Não conseguia ficar sozinha, como desejava, para encontrar Aron, e pesava em minha consciência a vontade de estar com outro homem que não era o meu esposo, contudo, estava farta de lamentar a má sorte que tive em minha vida por só reencontrar meu primo após meu casamento e estar comprometida pela sociedade e pela igreja para sempre, sem nada poder fazer para mudar o que estava traçado para a minha trajetória como governante de um reino. Todos os dias, nas reuniões do Conselho, ele estava lá. No entanto, meu esposo também comparecia em algumas e até me substituía quando, por algum mo