Aquele olhar que buscava todas as manhãs evitava encontrar o meu. Se tornava cada vez mais evidente que Aron fugia de mim. Havia se passado dois dias inteiros e ele sequer procurou-me para conversarmos. Nos encontramos na sala do Conselho, resolvemos o que era preciso com todos os conselheiros e somente isso. Até nos momentos das ceias ele sentou-se mais perto de seu pai, para ficar distante de mim. Nem mesmo compareceu ao jardim para o habitual chá da tarde e descanso. Fiquei imaginando o que se passava em sua mente e o que ele havia sentido com o meu beijo. Sua distância me fazia pensar que poderia estar enganada e que ele não correspondia ao mesmo sentimento. Será que havia sonhado a felicidade em vão? Minhas dúvidas acabaram quando, enfim, ficamos sozinhos no terceiro dia após o beijo. Aquele beijo que roubei e não me fazia sentir nem um pouco arrependida, por ter sido o melhor de minha vida, o mais intenso e o único com tanto sentimento que me fazia sonhar todas aquelas noite
— Isso responde às suas perguntas? — o olhar dele era de puro desejo e ternura. — O que há com você, Aron? Por que tem me evitado, e por que me beijou dessa maneira agora? Estás querendo me enlouquecer? — não faltava muito para que isso acontecesse. — Somente se for para lhe enlouquecer de amor, Malena. Minha Malena! Jamais pensei que teria a oportunidade de mostrar a você o quanto lhe quero, o quanto desejo cada parte de seu corpo e o quanto gostaria de estar a sós com você em algum lugar onde ninguém pudesse nos interromper. Ele falava com o rosto colado ao meu, sussurrando e ao mesmo tempo mordiscando a minha orelha. — Porque se manteve distante, se o seu desejo era esse? — ele encarou-me e seu negro olhar por um instante perdeu o brilho. — Pela triste certeza de que não posso ter você. Somos pecadores em nos desejarmos dessa maneira. Você é comprometida e seu esposo tem demonstrado amizade comigo desde que cheguei aqui. Me sinto um grande traidor e não quero transformá-la em
Como pode ser difícil para uma Rainha conseguir tempo para algo que não estava no planejamento de sua vida. Ansiava pelo desejado próximo encontro, que parecia cada vez mais complicado de acontecer. Gerald não dava trégua em seus cuidados e atenção comigo, o que há um tempo atrás me faria muito feliz, porém agora me incomodava por vários motivos, me deixava aflita e cada vez mais agitada com a situação. Não conseguia ficar sozinha, como desejava, para encontrar Aron, e pesava em minha consciência a vontade de estar com outro homem que não era o meu esposo, contudo, estava farta de lamentar a má sorte que tive em minha vida por só reencontrar meu primo após meu casamento e estar comprometida pela sociedade e pela igreja para sempre, sem nada poder fazer para mudar o que estava traçado para a minha trajetória como governante de um reino. Todos os dias, nas reuniões do Conselho, ele estava lá. No entanto, meu esposo também comparecia em algumas e até me substituía quando, por algum mo
Fui a primeira a chegar na sala de reuniões do Conselho no dia seguinte. Todos que chegaram depois surpreenderam-se por me ver ali tão cedo e disposta, tive a impressão de que desejavam que eu não comparecesse naquele dia também. O único que parecia sinceramente feliz em me ver era Aron. Aquele sorriso encantador animou o meu dia, o tornando muito mais agradável. Ele irradiava luz e amor. Como poderia não o desejar com toda a minha alma, se bastava ele me olhar e sorrir para derreter o meu coração? Tinha certeza apenas que não queria e nem iria mais lutar contra aquela profusão de sentimentos inabaláveis. Terminamos a reunião, que como sempre, foi tensa, pois todos os assuntos que abordávamos eram discutidos, e na maioria das vezes havia o lado a favor e o contra, fazendo com que os ânimos se alterassem, tornando os dias cansativos e as horas difíceis de passar. Percebi que Aron não queria ir embora e demorei um pouco mais, esperando que todos saíssem. Quando o último conselheiro, enf
Os dias foram passando, e crescia a nossa vontade de estarmos juntos a todo o tempo. Era difícil pensar em passar um dia sem nos vermos, sem conversarmos e, além do trabalho, buscava sempre uma oportunidade para vê-lo e ele não recusava, pelo contrário, muitas vezes inventava algo para passar mais tempo em minha companhia. Me preocupava a calmaria com que meu esposo, Gerald, demonstrava perante a minha falta de tempo e de vontade em estar com ele. Chegava a pensar se não vivia a mesma situação, talvez enamorado por outra dama e tentando evitar-me também. Era sempre muito educado quando eu recusava passar a noite ao seu lado e não insistia, pelo contrário, concordava que eu deveria estar exausta pelo tanto que trabalhava no castelo. Algumas noites antes, ele havia me informado que precisava viajar, a fim de cuidar de negócios com suas terras e que demoraria algumas semanas para retornar. — Minha bela esposa, fico com o coração partido em lhe deixar por esses próximos dias, por
— Calma, Vitória! Tudo isso que você acabou de citar são fatos que não há como mudar. Impossível prever sentimentos e reações. Pior ainda é tentar lutar contra eles e punir-se por senti-los. — Ela estava com toda razão. — Sei disso! No entanto, como conformar-me com minha falta de sorte em descobrir meu verdadeiro amor em outro homem que não o meu esposo, e o pior, em meu primo. Lamento tanto ele não ter voltado antes. Se estivesse aqui, com certeza não seria prometida a Gerald, talvez nem o conhecesse, pois todo esse amor entre Aron e eu teria surgido com sua presença, sendo assim, tenho certeza que nossas famílias não seriam contrárias à nossa união e ficaríamos juntos. — Talvez seus pais não concordassem, por serem primos. — Voltei a tomar meu chá, pensando nisso, mas logo rebati. — Pode ser, contudo, seria fácil convencer a todos sobre os nossos sinceros sentimentos. Tenho certeza de que no final eles entenderiam e nos apoiariam. — Talvez fosse um pouco mais difícil do que
— Como conseguiu chegar até aqui? Entre, antes que alguém a veja. Que loucura foi essa? — tentava responder às suas perguntas, mas não fui capaz, agi por impulso e quando dei conta já estava batendo à sua porta. Aron, parecia assustado. Momentos antes, sozinha em meus aposentos, não conseguia pensar em mais nada que não fosse aquele amor, aquela vontade de estar junto, aquele sentimento mais forte do que qualquer coisa que fosse contra nós dois ficarmos juntos. Num impulso, peguei um casaco com touca e o vesti por cima da minha combinação para dormir. Saí disparada pelos corredores e não avistei nenhum guarda, aquilo era um aviso de que a sorte estava ao meu lado. Continuei apressada cruzando os corredores, nenhum guarda por perto, com certeza estavam trocando de posto e logo retornariam, precisava ser rápida, tinha que chegar à ala oposta de meus aposentos. Desejei que o castelo fosse menor e que aqueles corredores imensos e sem fim acabassem logo. Após um longo caminho, chega
— Você não pode ter esquecido da visita de Dom Charles, minha filha! — Desculpe, não estava me lembrando que ele viria agora! — Minha falta de interesse não agradava meu pai. — Ele está chegando nos próximos dias e sua temporada será longa, pelo que seu secretário Nathan, adiantou. Há muitos problemas a serem resolvidos por aqui, segundo ele. — Problemas? Sobre o que ele se refere? — fiquei apreensiva com aquela afirmação e temi a visita do Bispo ao castelo, assim como já temia o retorno de Gerald. — Ele não me atualizou sobre esses problemas, contudo, devemos estar preparados para a sua estadia, que não me parece ser muito amistosa. Talvez tenhamos que lidar com assuntos delicados, tenho pensado muito sobre o assunto e buscado entender, o que pode ser tão urgente assim para que ele venha até o reino? Meu pai também estava preocupado, decerto porque sabia da negação do Clero quanto ao meu reinado. Quando o pai de Aron, Rei Serafim, assumiu o trono de Minsk, após a Rainha Mal