— Calma, Vitória! Tudo isso que você acabou de citar são fatos que não há como mudar. Impossível prever sentimentos e reações. Pior ainda é tentar lutar contra eles e punir-se por senti-los. — Ela estava com toda razão. — Sei disso! No entanto, como conformar-me com minha falta de sorte em descobrir meu verdadeiro amor em outro homem que não o meu esposo, e o pior, em meu primo. Lamento tanto ele não ter voltado antes. Se estivesse aqui, com certeza não seria prometida a Gerald, talvez nem o conhecesse, pois todo esse amor entre Aron e eu teria surgido com sua presença, sendo assim, tenho certeza que nossas famílias não seriam contrárias à nossa união e ficaríamos juntos. — Talvez seus pais não concordassem, por serem primos. — Voltei a tomar meu chá, pensando nisso, mas logo rebati. — Pode ser, contudo, seria fácil convencer a todos sobre os nossos sinceros sentimentos. Tenho certeza de que no final eles entenderiam e nos apoiariam. — Talvez fosse um pouco mais difícil do que
— Como conseguiu chegar até aqui? Entre, antes que alguém a veja. Que loucura foi essa? — tentava responder às suas perguntas, mas não fui capaz, agi por impulso e quando dei conta já estava batendo à sua porta. Aron, parecia assustado. Momentos antes, sozinha em meus aposentos, não conseguia pensar em mais nada que não fosse aquele amor, aquela vontade de estar junto, aquele sentimento mais forte do que qualquer coisa que fosse contra nós dois ficarmos juntos. Num impulso, peguei um casaco com touca e o vesti por cima da minha combinação para dormir. Saí disparada pelos corredores e não avistei nenhum guarda, aquilo era um aviso de que a sorte estava ao meu lado. Continuei apressada cruzando os corredores, nenhum guarda por perto, com certeza estavam trocando de posto e logo retornariam, precisava ser rápida, tinha que chegar à ala oposta de meus aposentos. Desejei que o castelo fosse menor e que aqueles corredores imensos e sem fim acabassem logo. Após um longo caminho, chega
— Você não pode ter esquecido da visita de Dom Charles, minha filha! — Desculpe, não estava me lembrando que ele viria agora! — Minha falta de interesse não agradava meu pai. — Ele está chegando nos próximos dias e sua temporada será longa, pelo que seu secretário Nathan, adiantou. Há muitos problemas a serem resolvidos por aqui, segundo ele. — Problemas? Sobre o que ele se refere? — fiquei apreensiva com aquela afirmação e temi a visita do Bispo ao castelo, assim como já temia o retorno de Gerald. — Ele não me atualizou sobre esses problemas, contudo, devemos estar preparados para a sua estadia, que não me parece ser muito amistosa. Talvez tenhamos que lidar com assuntos delicados, tenho pensado muito sobre o assunto e buscado entender, o que pode ser tão urgente assim para que ele venha até o reino? Meu pai também estava preocupado, decerto porque sabia da negação do Clero quanto ao meu reinado. Quando o pai de Aron, Rei Serafim, assumiu o trono de Minsk, após a Rainha Mal
Após a ceia, me reuni com minhas avós Bethany e Olívia, que conversavam na sala de chás, como costumavam fazer todas as noites em que a Condessa não estava em Neveri e resolvia passar uma temporada conosco em Minsk. Houve uma época em que a avó de Aron, Agnes, se reunia com elas e a Rainha Malena, quando passava uns dias por aqui. Agnes faleceu um pouco antes de nossa Rainha, e se elas estivessem morando juntas, acredito que iriam embora na mesma noite, pois suas passagens foram muito parecidas. Ambas deitaram para repousar e tiveram o descanso eterno. Viveram muitos anos e tiveram muitas alegrias, porém, a maior tristeza de suas vidas foi algo em comum: o amor pelo mesmo homem, a perda, a guerra. Foram cúmplices em muitos momentos, uma amizade invejável. Eram duas mulheres que tinham tudo para serem inimigas, no entanto escolheram ser amigas, e muito mais que isso, irmãs de coração. Meu avô Theodore, infelizmente, não teve a mesma sorte. Faleceu de uma grave doença que nunca f
SerenaCada vez mais era evidente o quanto ele estava transformando a minha vida e aos poucos me conquistando. Arthur era camponês e nos conhecemos através de sua mãe e irmã Lilian que também eram curandeiras, eles moravam na aldeia e sua família vivia em boas condições, porém não eram ricos. Seu pai Victor era ferreiro e não lhe faltava trabalho, sua mãe, Ellen, era uma das cozinheiras do castelo.Com as revoltas que estavam ocorrendo entre os clãs, surgiam algumas dificuldades entre os povos dos vilarejos, que passaram a não se misturar mais, e um não aceitava o trabalho do outro. Eles não podiam sair de seu vilarejo e procurar por serviços ou alimentos em outro, pois as desavenças entre eles aumentavam de forma gradativa, e se alguém fosse pego desobedecendo essas novas regras, seria severamente castigado.O medo voltava a atormentar a população, e vendo de perto como essa situação se agravava, me senti na obrigação de alertar minha amiga e Rainha, que ficou muito preocupada com o
— Serena, tudo o que você já me contou antes, alertando-me para esse conflito entre os clãs e o que está me trazendo agora é muito grave! — Vitória me ouvia atenta e foi inevitável soltar um comentário preocupado. — Devido à gravidade da situação, não poderia deixar de lhe trazer mais essas tristes notícias. Além dos clãs terem travado um grande confronto, o povo está de mãos atadas e não podem mais se comportar como antes, quando uns usavam os serviços dos outros, comprando alimentos e abastecendo suas casas com tudo o que precisavam. Muitos já estão passando por necessidades e temo que logo faltem coisas básicas para a sobrevivência. — Isso é um grande absurdo! Como os líderes dos clãs não enxergam o mal que estão fazendo a eles mesmos e a toda a população do reino? — E o pior você ainda nem sabe, minha amiga. — O que pode ser pior? — Vitória aguardava que eu continuasse, apavorada com a situação. — Arthur ouviu uma conversa do líder de seu clã, afirmando que tanto ele
— Minha amada Rainha, não imaginas quanta saudade senti. Estava ansioso por esse retorno! — Gerald estava de volta. — Fez uma boa viagem? Não sabia ao certo quando voltaria, imaginei que demorasse mais alguns dias! — estava nitidamente apreensiva com o retorno de meu esposo. — Consegui voltar dois dias antes do que havia previsto na última correspondência que lhe enviei, temia que tivesse algum problema na estrada, mas tudo correu bem! No entanto, estava certo de que teria uma recepção mais calorosa. Não está feliz em me ver? Esperava vê-la saltitando de felicidade por estar aqui contigo novamente! — Claro que estou, Gerald. Fiquei apenas surpresa com a sua chegada! — tentava disfarçar, sem sucesso, e ele me olhava com dúvida. — Tudo bem, entendo! Estou feliz por estar de volta e já fiquei sabendo que me aguardavam para receber o Bispo em sua visita e estadia no castelo. — Pude perceber o orgulho em sua voz, por ser útil em seu retorno. — Sim, ele chegará nos próximos
— Rainha Vitória, estamos incomodados com alguns acontecimentos ocorridos em vosso reino. Notícias que chegaram até nós e nos deixaram com um profundo descontentamento por Vossa Majestade ainda não ter informado ao Clero o que acontece sob vossa governança, imagino que tenha ocorrido apenas um desencontro de informações e que a Rainha não teve a intenção de não informar o que vem acontecendo, contudo, nos adiantamos e viemos ajudá-la! — percebi a decepção em seu discurso, que se misturava com uma certa prepotência, o que me deixou apreensiva com o rumo daquela conversa. — Estou curiosa para saber do que se trata, Dom Charles, e estou certa de que poderemos resolver o que os incomoda! — tinha que ser firme com ele, no entanto, manter a paciência e respeito, ensinamentos de meu pai, que estava presente na reunião e nos observava atentamente. — Vamos começar pela primeira parte — não imaginava que eles teriam dividido os problemas em partes, o que deixava claro o fato de que havia mai