Fui a primeira a chegar na sala de reuniões do Conselho no dia seguinte. Todos que chegaram depois surpreenderam-se por me ver ali tão cedo e disposta, tive a impressão de que desejavam que eu não comparecesse naquele dia também. O único que parecia sinceramente feliz em me ver era Aron. Aquele sorriso encantador animou o meu dia, o tornando muito mais agradável. Ele irradiava luz e amor. Como poderia não o desejar com toda a minha alma, se bastava ele me olhar e sorrir para derreter o meu coração? Tinha certeza apenas que não queria e nem iria mais lutar contra aquela profusão de sentimentos inabaláveis. Terminamos a reunião, que como sempre, foi tensa, pois todos os assuntos que abordávamos eram discutidos, e na maioria das vezes havia o lado a favor e o contra, fazendo com que os ânimos se alterassem, tornando os dias cansativos e as horas difíceis de passar. Percebi que Aron não queria ir embora e demorei um pouco mais, esperando que todos saíssem. Quando o último conselheiro, enf
Os dias foram passando, e crescia a nossa vontade de estarmos juntos a todo o tempo. Era difícil pensar em passar um dia sem nos vermos, sem conversarmos e, além do trabalho, buscava sempre uma oportunidade para vê-lo e ele não recusava, pelo contrário, muitas vezes inventava algo para passar mais tempo em minha companhia. Me preocupava a calmaria com que meu esposo, Gerald, demonstrava perante a minha falta de tempo e de vontade em estar com ele. Chegava a pensar se não vivia a mesma situação, talvez enamorado por outra dama e tentando evitar-me também. Era sempre muito educado quando eu recusava passar a noite ao seu lado e não insistia, pelo contrário, concordava que eu deveria estar exausta pelo tanto que trabalhava no castelo. Algumas noites antes, ele havia me informado que precisava viajar, a fim de cuidar de negócios com suas terras e que demoraria algumas semanas para retornar. — Minha bela esposa, fico com o coração partido em lhe deixar por esses próximos dias, por
— Calma, Vitória! Tudo isso que você acabou de citar são fatos que não há como mudar. Impossível prever sentimentos e reações. Pior ainda é tentar lutar contra eles e punir-se por senti-los. — Ela estava com toda razão. — Sei disso! No entanto, como conformar-me com minha falta de sorte em descobrir meu verdadeiro amor em outro homem que não o meu esposo, e o pior, em meu primo. Lamento tanto ele não ter voltado antes. Se estivesse aqui, com certeza não seria prometida a Gerald, talvez nem o conhecesse, pois todo esse amor entre Aron e eu teria surgido com sua presença, sendo assim, tenho certeza que nossas famílias não seriam contrárias à nossa união e ficaríamos juntos. — Talvez seus pais não concordassem, por serem primos. — Voltei a tomar meu chá, pensando nisso, mas logo rebati. — Pode ser, contudo, seria fácil convencer a todos sobre os nossos sinceros sentimentos. Tenho certeza de que no final eles entenderiam e nos apoiariam. — Talvez fosse um pouco mais difícil do que
— Como conseguiu chegar até aqui? Entre, antes que alguém a veja. Que loucura foi essa? — tentava responder às suas perguntas, mas não fui capaz, agi por impulso e quando dei conta já estava batendo à sua porta. Aron, parecia assustado. Momentos antes, sozinha em meus aposentos, não conseguia pensar em mais nada que não fosse aquele amor, aquela vontade de estar junto, aquele sentimento mais forte do que qualquer coisa que fosse contra nós dois ficarmos juntos. Num impulso, peguei um casaco com touca e o vesti por cima da minha combinação para dormir. Saí disparada pelos corredores e não avistei nenhum guarda, aquilo era um aviso de que a sorte estava ao meu lado. Continuei apressada cruzando os corredores, nenhum guarda por perto, com certeza estavam trocando de posto e logo retornariam, precisava ser rápida, tinha que chegar à ala oposta de meus aposentos. Desejei que o castelo fosse menor e que aqueles corredores imensos e sem fim acabassem logo. Após um longo caminho, chega
— Você não pode ter esquecido da visita de Dom Charles, minha filha! — Desculpe, não estava me lembrando que ele viria agora! — Minha falta de interesse não agradava meu pai. — Ele está chegando nos próximos dias e sua temporada será longa, pelo que seu secretário Nathan, adiantou. Há muitos problemas a serem resolvidos por aqui, segundo ele. — Problemas? Sobre o que ele se refere? — fiquei apreensiva com aquela afirmação e temi a visita do Bispo ao castelo, assim como já temia o retorno de Gerald. — Ele não me atualizou sobre esses problemas, contudo, devemos estar preparados para a sua estadia, que não me parece ser muito amistosa. Talvez tenhamos que lidar com assuntos delicados, tenho pensado muito sobre o assunto e buscado entender, o que pode ser tão urgente assim para que ele venha até o reino? Meu pai também estava preocupado, decerto porque sabia da negação do Clero quanto ao meu reinado. Quando o pai de Aron, Rei Serafim, assumiu o trono de Minsk, após a Rainha Mal
Após a ceia, me reuni com minhas avós Bethany e Olívia, que conversavam na sala de chás, como costumavam fazer todas as noites em que a Condessa não estava em Neveri e resolvia passar uma temporada conosco em Minsk. Houve uma época em que a avó de Aron, Agnes, se reunia com elas e a Rainha Malena, quando passava uns dias por aqui. Agnes faleceu um pouco antes de nossa Rainha, e se elas estivessem morando juntas, acredito que iriam embora na mesma noite, pois suas passagens foram muito parecidas. Ambas deitaram para repousar e tiveram o descanso eterno. Viveram muitos anos e tiveram muitas alegrias, porém, a maior tristeza de suas vidas foi algo em comum: o amor pelo mesmo homem, a perda, a guerra. Foram cúmplices em muitos momentos, uma amizade invejável. Eram duas mulheres que tinham tudo para serem inimigas, no entanto escolheram ser amigas, e muito mais que isso, irmãs de coração. Meu avô Theodore, infelizmente, não teve a mesma sorte. Faleceu de uma grave doença que nunca f
SerenaCada vez mais era evidente o quanto ele estava transformando a minha vida e aos poucos me conquistando. Arthur era camponês e nos conhecemos através de sua mãe e irmã Lilian que também eram curandeiras, eles moravam na aldeia e sua família vivia em boas condições, porém não eram ricos. Seu pai Victor era ferreiro e não lhe faltava trabalho, sua mãe, Ellen, era uma das cozinheiras do castelo.Com as revoltas que estavam ocorrendo entre os clãs, surgiam algumas dificuldades entre os povos dos vilarejos, que passaram a não se misturar mais, e um não aceitava o trabalho do outro. Eles não podiam sair de seu vilarejo e procurar por serviços ou alimentos em outro, pois as desavenças entre eles aumentavam de forma gradativa, e se alguém fosse pego desobedecendo essas novas regras, seria severamente castigado.O medo voltava a atormentar a população, e vendo de perto como essa situação se agravava, me senti na obrigação de alertar minha amiga e Rainha, que ficou muito preocupada com o
— Serena, tudo o que você já me contou antes, alertando-me para esse conflito entre os clãs e o que está me trazendo agora é muito grave! — Vitória me ouvia atenta e foi inevitável soltar um comentário preocupado. — Devido à gravidade da situação, não poderia deixar de lhe trazer mais essas tristes notícias. Além dos clãs terem travado um grande confronto, o povo está de mãos atadas e não podem mais se comportar como antes, quando uns usavam os serviços dos outros, comprando alimentos e abastecendo suas casas com tudo o que precisavam. Muitos já estão passando por necessidades e temo que logo faltem coisas básicas para a sobrevivência. — Isso é um grande absurdo! Como os líderes dos clãs não enxergam o mal que estão fazendo a eles mesmos e a toda a população do reino? — E o pior você ainda nem sabe, minha amiga. — O que pode ser pior? — Vitória aguardava que eu continuasse, apavorada com a situação. — Arthur ouviu uma conversa do líder de seu clã, afirmando que tanto ele