Capítulo 4

— Que indelicadeza a minha, nem lhe perguntei se estás melhor. Espero que estejas bem. Como se sente após o acidente com o cavalo?

— Obrigada! Estou somente um pouco dolorida. Serena examinou-me, fez os curativos necessários e me medicou, preciso apenas repousar um pouco. — Não queria que meu esposo percebesse em meu semblante que algo havia mudado e o quanto estava transtornada com aquela mudança.

— Fico mais tranquilo, minha querida. Deixarei então que repouse para que se sinta melhor ao amanhecer, afinal, teremos um grande baile amanhã em comemoração à chegada de vosso primo. — Ele parecia não perceber o que eu tentava esconder, se percebia disfarçava muito bem.

— Grata, meu querido. Amanhã estarei melhor e renovada para a festa! — Ficarei em meus aposentos essa noite, sozinha será mais fácil você descansar. Bom repouso, minha Rainha — beijando-me a testa Gerald saiu de meus aposentos, me deixando com meus mais novos e confusos sentimentos.

Tínhamos dois aposentos para que houvesse privacidade para ambos. Mesmo estando casados, necessitávamos disso para o nosso bem-estar, e naquela noite, sem perceber, ele me fez um grande favor, não conseguiria dormir ao seu lado pensando em outro homem. A culpa veio acompanhada de meus pensamentos libertinos, não consegui pregar os olhos, apesar do cansaço daquele intenso dia. Não conseguia parar de pensar em meu primo e em como nos reencontramos.

Doces lembranças surgiram de uma época de inocência, quando éramos crianças e corríamos juntos pelo bosque. Serena também brincava conosco todas as tardes. O labirinto verde servia de esconderijo para as nossas aventuras, que foram inúmeras.

Era contraditório lembrar de como me sentia no passado diante de Aron menino e de como me senti agora, no presente, diante dele homem. Tentei voltar a sentir o mesmo que antes e vê-lo novamente como meu primo querido, meu amigo de infância que embarcava comigo no mundo da imaginação e em loucas aventuras de criança.

Coloquei todas as minhas forças em voltar àquele sentimento, no entanto, todas as vezes que lembrava dele, agora, vinham as imagens do acidente, seu olhar, seu sorriso e todo o resto. Permaneci em claro durante toda a noite, sonhando acordada e culpando-me por aquele sentimento. “Oh, Deus, o que seria de minha pobre e confusa alma?!”

***

O salão de baile principal do castelo estava cheio, a decoração era leve, porém, os tons em dourado nos detalhes que se misturavam com as flores brancas e as luzes dos candelabros deixavam o ambiente quente e acolhedor. Os músicos tocavam leves minuetos, guardando os mais intensos para o momento do baile, onde todos dançariam em comemoração.

Permanecia sentada à mesa acompanhada de meu esposo, meus pais, tios e Aron, como principal convidado e homenageado, sentava-se ao meu lado. Desde o momento que nos reencontramos no bosque, não havíamos conversado mais, e senti algo diferente e perturbador quando o vi. Apenas reverências foram trocadas, mas ao sentarmos, nossas mãos se tocaram quando Aron quis saber como eu estava, e novamente aquilo mexeu comigo.

— Querida prima, espero que esteja melhor após o incidente de ontem, e mais uma vez peço-lhe desculpa por ter sido um tanto desastrado.

— Não se preocupe, Aron, estou bem! E a culpa também foi minha por correr demais pelo bosque, acabei não percebendo o perigo. — Um sorriso de encanto ao virar-me e vê-lo foi contido ao sentir minha mão direita ser tocada por Gerald, não era certa aquela minha confusão, não mesmo.

— Minha Rainha, que bela festa temos aqui hoje! Vamos dançar muito após o banquete. — A voz dele soou irônica, ou teria sido apenas impressão minha, devido ao constrangimento pelos meus pensamentos impróprios?

— Com certeza, meu esposo! Será bem divertido! — a falta de empolgação foi percebida por Gerald, que não satisfeito, resolveu conversar com Aron, aumentando ainda mais a minha perturbação.

— Esperamos que esteja tudo ao seu agrado, meu caro Aron. Imagino que posso lhe chamar de primo também, afinal, assim somos, não é mesmo?

— Decerto! Será uma grande honra, caro Marquês. — Aron parecia não estar à vontade com aquele diálogo.

— Oh! Sem cerimônias, por favor. Já que somos primos, daqui em diante poderá chamar-me apenas por Gerald. 

— Fico lisonjeado em ter parentes nobres como vocês. Minha querida prima Rainha e seu esposo Marquês, agradeço profundamente a comemoração que planejaram para receber-me de volta ao reino.

Senti-me acuada no meio da conversa dos dois. Aquele diálogo era formal demais e não me parecia nem um pouco sincero. Até começava a acreditar que Gerald e Aron haviam sentido toda a tensão que vinha de minha parte quanto a sentimentos inoportunos que teimavam querer fixar-se em meu coração e em meus pensamentos.

— Não se preocupe com isso, primo. É um grande prazer recebê-lo e seu retorno ao lar foi muito esperado por seus pais e toda a família. Seja bem-vindo de volta ao seu lar! — Gerald insistia em ser cortês demais e aquilo me incomodava profundamente, não entendia o porquê de minha desconfiança em suas atitudes, talvez fosse por culpa.

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