— Vossa Majestade Rainha Vitória Malena Forense Trineth, aceita o Senhor Gerald Lowell, Marquês de Burlet, como seu legítimo esposo?
— Aceito! — estava segura de minha decisão.
— Senhor Gerald Lowell, Marquês de Burlet, aceita Vossa Majestade Rainha Vitória Malena Forense Trineth, como sua legítima esposa?
— Sim, aceito! — Gerald sorriu para mim em cumplicidade.
O atual Bispo do reino Dom Charles, nos abençoava em uma bela cerimônia e comemoração que foi festejada durante dois dias.
Gerald, agora meu esposo, havia me conquistado com sua gentileza e cuidado. Sempre muito carinhoso e atencioso, demonstrava desde que nos conhecemos o interesse por cortejar-me, e numa certa manhã, após um passeio em sua companhia, confidenciei aos meus pais que apreciava estar com ele e que o achava muito charmoso. Isso foi o suficiente para que meus pais, Anthony e Felícia, passassem a planejar uma futura união, que foi de absoluto interesse de Gerald e de sua família também.
Após vários encontros entre as famílias, passamos a nos ver, de forma que já não éramos mais somente amigos, e sim o futuro casal mais importante do reino.
Para minha mãe Felícia aquela situação era perfeita, mais uma vez aconteceria um casamento com amor e não somente por negócios. Se eu o queria bem e o admirava, tudo estava em um bom caminho. Ele também demonstrava gostar muito de mim, ambos nos interessamos um pelo outro e a troca de olhares era evidente, o carinho com que ele pegava em minha mão era notório. Seria uma união abençoada com amor e cumplicidade, assim como foi para meus pais.
Então, com tudo planejado, nos casamos um mês após a minha coroação. Selamos nossa união, devido a interesses em comum, na certeza de que não havia esposo melhor para acompanhar e ser o parceiro da governante da unificação dinástica dos reinos de Minsk e Neveri.
O Marquês de Burlet, meu esposo, era herdeiro de muitas terras em um condado distante, e seu pai, Lorde Timothy, afirmava que ele se encantou por mim logo no primeiro encontro, e como eu também demonstrei interesse por ele, logo tratou de conversar com meu pai, Anthony, e oficializar aquela propícia união, que seria de muita valia para ambas as partes.
Meus dias eram ocupados por muitas atividades, porém, em meus momentos de lazer apreciava uma boa leitura e sempre era acompanhada por Gerald. Lamentava muito não ter conseguido viajar para estudar, pois tive que assumir minha herança desde menina, ao contrário de meu primo Aron, que estudava longe há muito tempo, tanto tempo que nem nos reconhecemos ao nos encontrarmos no bosque. Agora ele estava de volta, e aquele encontro fez meu coração disparar e bater mais forte do que o compasso ritmado da mais trágica encenação de um minueto.
Não sabia como agir, não entendia muito bem o que aquele torpor significava. Vi-me, em questão de segundos, entregue àquele profundo sentimento. Passei a dormir pensando nele, sonhar e acordar com a recordação de seu sorriso e de sua voz. Percebi em Aron olhares diferentes e a busca por um contato sempre que se aproximava de mim. Uma dama consegue perceber quando é desejada por um cavalheiro e, apesar de saber que aquele desejo era impróprio, não conseguia controlar meus pensamentos e aquele sentimento inesperado que surgiu como uma tempestade.
Vi-me enganada pelo meu coração, pois ao pensar que amava um homem, casei-me e acreditava estar feliz, porém, o destino me colocou diante de Aron, de quem eu só tinha lembranças de quando era apenas um menino. O que havia acontecido para que ele deixasse, de uma hora para outra, de ser apenas o meu primo desconhecido que morava longe e passar a ser o homem mais interessante e atraente do mundo aos meus olhos? Qualidades que, até então, eu só via em meu esposo, agora se intensificaram em Aron. Parecia que, novamente, a história que me foi contada estava acontecendo. O romance impossível entre a então Rainha Malena e o nobre Cavaleiro Aron. Aquela história de amor platônico se repetia, com seus descendentes.
O sofrimento apertou meu peito naquele instante, fazendo-me desejar poder voltar no tempo, para não casar e esperar por Aron. Mais uma vez, o destino confabulava contra um coração apaixonado.
— Daria tudo nesse momento para ler seus pensamentos, minha amada! — Gerald aproximou-se sem que eu percebesse, me surpreendendo.
— O que está dizendo, Gerald? Você assustou-me! — Peço desculpas. Estás deveras distraída, com o olhar e pensamentos tão distantes que nem percebeu a minha entrada em nossos aposentos.— Sinto muito, meu querido! Estava mesmo com os pensamentos distantes.— Devo ousar perguntar-lhe do que se tratam esses pensamentos, ou seria muita indelicadeza de minha parte? — por um instante não soube o que responder e isso era algo novo para mim, que sempre tinha respostas para tudo — Creio ser indelicado com esse comentário, perdoe-me minha esposa, não quis aborrecê-la, muito menos deixá-la constrangida.— Não deixou, Gerald, estava apenas pensando em alguns assuntos importantes do reino, decisões que devo tomar e além de tudo isso haverá a festa para o meu primo. Temos muita coisa a fazer para que tudo dê certo. — Menti.— Fique tranquila que seus tios estão providenciando tudo, não precisa se preocupar com esses detalhes.— Muito bem então, um problema a menos para mim — tentei disfarçar, porém acredito que não fui muito convincente.— E esse seu primo? Sabia que ele voltaria para esses tempos? — ele parecia um tanto curioso por saber mais sobre Aron.— Na verdade, não! Foi inesperado para todos. Meus tios sabiam que ele voltaria, no entanto, não tinham ideia de quando isso aconteceria, foi realmente uma grande surpresa para eles também.— Então, foi uma agradável surpresa para todos!— Certamente, meu querido. Todos ficaram felizes!— Que indelicadeza a minha, nem lhe perguntei se estás melhor. Espero que estejas bem. Como se sente após o acidente com o cavalo? — Obrigada! Estou somente um pouco dolorida. Serena examinou-me, fez os curativos necessários e me medicou, preciso apenas repousar um pouco. — Não queria que meu esposo percebesse em meu semblante que algo havia mudado e o quanto estava transtornada com aquela mudança.— Fico mais tranquilo, minha querida. Deixarei então que repouse para que se sinta melhor ao amanhecer, afinal, teremos um grande baile amanhã em comemoração à chegada de vosso primo. — Ele parecia não perceber o que eu tentava esconder, se percebia disfarçava muito bem.— Grata, meu querido. Amanhã estarei melhor e renovada para a festa! — Ficarei em meus aposentos essa noite, sozinha será mais fácil você descansar. Bom repouso, minha Rainha — beijando-me a testa Gerald saiu de meus aposentos, me deixando com meus mais novos e confusos sentimentos. Tínhamos dois aposentos para que houves
— Agradeço, Gerald. Desejo que meu retorno seja mesmo apreciado por todos, e no que puder contribuir ao reino e ao vosso reinado, cara prima, será uma grande honra. — Tentava me manter firme, no entanto, por dentro, queimava de angústia sempre que aqueles profundos olhos negros me fitavam. Toda aquela cortesia entre os dois me incomodava. Não eram certos aqueles pensamentos, e se não fossem por eles, com certeza não estaria me sentindo daquela forma, era mesmo a culpa que me consumia. Meu marido Gerald sempre foi gentil e educado com todos, inclusive comigo. Isso sempre me agradou muito, desde que nos conhecemos, apreciava sua beleza e elegância, além de seus galanteios encantadores. Tudo estava perfeito até o retorno de meu primo. Até surgirem aqueles pensamentos impróprios, aquele calor, aquele formigamento que sentia por todo o meu corpo. Acreditei a princípio que fossem apenas coisas da minha imaginação, mas ali, naquele momento sentada ao seu lado, estava claro que era real, e
Era só ele se aproximar que todo aquele fogo retornava. Aron, que parecia perceber o quanto ficava diferente toda vez que nos aproximávamos, enlaçou minha cintura com muita delicadeza e passou a conduzir-me pelo salão, tentando fazer com que me acalmasse, porém, todo o seu esforço era em vão, qualquer atitude dele só fazia aumentar as minhas perturbações.— Sou muito grato por receber-me tão bem e com uma festa. Não sabia como seria meu retorno e como me receberiam. Pelas cartas de meus pais imaginava que seria bem recebido, mas foram muitos anos longe e temia de certa forma esse retorno. Era muito menino quando fui embora acompanhado de meu tutor para estudar, então sabia que muita coisa havia mudado por aqui, inclusive sobre a vossa coroação e casamento.— Fiquei ciente de tudo o que acontecia com vossa pessoa, seus pais sempre me contavam, e é claro que também aguardava o seu retorno, porém, ele me surpreendeu. Não imaginava que seria agora e não dessa forma.— De qual forma minha
As semanas após o retorno de Aron transcorreram rapidamente, com todos os compromissos e assuntos importantes para lidar, contudo, agora havia uma nova direção para a qual meus olhos teimavam em olhar, meus pensamentos tinham novos horizontes e meu coração um novo dono. Sabia que devia preocupar-me com a forma como as coisas haviam mudado em minha vida nos últimos dias, só não sabia como reagir a tudo e manter-me firme, com os pés no chão e não nas nuvens, como parecia estar desde o momento em que acordava até quando me deitava para repousar. Até meus sonhos eram diferentes, com pitadas de um desejo ardente, que na maioria das vezes se transformava em pesadelo com a presença de meu esposo. Nem mesmo em meus sonhos aquele sentimento parecia certo, e realmente não era. Gerald não notava a minha indiferença, e quando me procurava no calor da noite, fingia estar indisposta. Não conseguia mais entregar-me ao meu próprio esposo e sabia que aquela situação não poderia durar muito tempo, l
Amar alguém sempre nos fará bem! Pensava nisso durante meu desjejum naquela manhã em que despertei muito cedo e não consegui dormir mais. Não fui capaz de aquietar meus pensamentos e desejos. Acordei sobressaltada após um belo sonho, algo me incomodava e sabia muito bem o que era. Todos chegavam devagar para se alimentar junto de sua Rainha. Aron, veio de braços dados com sua mãe Amélie, que não se cansava de conversar com ele, para colocar em dia todo o tempo que perderam enquanto ficaram separados. Sentaram-se à minha frente e, como em todos os dias após a sua chegada, o meu coração descompassado parecia que saltaria pela boca e me denunciaria sobre todos os meus sentimentos. — Um ótimo dia, minha cara prima. Passou bem a sua noite? — Aron parecia saber o quanto os meus sonhos haviam me perturbado, na verdade somente eu sabia, no entanto, a sensação que tinha era de que todos conheciam meus sonhos, ou melhor dizendo, pesadelos. — Sim! Muito bem, e vocês? — as palavras saíram sem
A mesa estava repleta de pães, doces, chás e muitas frutas. Ele ajudou-me a sentar e postou-se à minha frente, na decoração da mesa havia um exemplar belíssimo da flor de lótus, sorri ao vê-la, sempre me encantava com sua beleza. As criadas nos serviram e agradecendo, pedi para que saíssem. — Melhor assim, podemos nos servir sozinhos. Às vezes, fico sufocada com tanto cuidado. Obrigada pela flor, é a minha favorita, lembra que gostava dela desde menina? — Foi um prazer lhe fazer esse agrado e retribuir toda a acolhida. Me lembro sim, quando brincávamos pelo bosque, junto de Serena. — Ele sorriu, me deixando sem reação. — Quanto aos serviçais, imaginei que já estaria acostumada com tantos cuidados, afinal viveu assim a vida toda. — Sim, Aron, porém agora é diferente! Após minha coroação e meu casamento, esses cuidados se intensificaram, e os momentos sozinha são muito raros. — Não consegui conter o desabafo. — Deves ter vontade de fazer algo diferente em alguns momentos do dia. Se
— Oh! Muito obrigada, primo! Surpreendi-me ao lhe encontrar também, confesso que a princípio achei algo familiar em você, no entanto, só compreendi quem era quando chegamos no castelo. — Percebi naquele momento a sua confusão e me diverti um pouco com isso. — Ele sorriu divertido e à vontade com o nosso encontro e nossa conversa, que estava se tornando cada vez mais agradável. — É mesmo? Divertiu-se a minha custa? Que audácia! — tentava levar a conversa para um tom de divertimento, com o propósito de quebrar qualquer situação constrangedora entre nós dois. Deveria resistir com todas as minhas forças àquele encanto que me prendia, em respeito ao meu casamento. — Não me entenda mal, Malena, diverti-me apenas com a situação! — meu Deus, ele chamou-me de Malena… só ele me chamava assim quando éramos crianças, dizia que era o nome mais belo do mundo. — Só você me chamava apenas de Malena, lembra? — não resisti em comentar e demonstrar a ele o quanto me alegrava com aquilo. — Se não f
— Malena, ele está chamando você de Malena, filha? — minha mãe andava pelos meus aposentos, de um lado para o outro e falava sem parar para respirar, e essa foi a pergunta que desencadeou a sua revolta. — Minha mãe, ele me chamava assim quando éramos crianças! Lembra como isso era natural entre nós, não sei porque ficou tão surpresa! — na verdade sabia, no entanto não tinha certeza se era possível confessar isso a ela, que parecia já estar enlouquecendo com a possibilidade. — Vocês não são mais crianças, são adultos agora e você é uma Rainha comprometida com seu reino e com a honra de sua família, principalmente de seu esposo, jamais se esqueça disso! Imagina se Gerald o vê chamando-a assim, com tanta intimidade, o que pensará? — era a primeira vez que via minha mãe descontrolada daquela maneira. — Acalme-se, minha mãe. Estás preocupada sem razão. Nós somos primos e convivemos na infância, não há nada demais em convivermos agora. — Tentava enganar a ela e a mim mesma, sem muito suc