Tristan
Algumas horas depois...
— Tristan? — Atlas, um dos ômegas mais próximos a mim fala assim que adentra a sala, onde uma mesa farta de café da manhã está exposta. — A quanto tempo, meu amigo? — Ele cantarola com ínfimo prazer, porém, apenas aponto uma cadeira para ele do outro lado da mesa.
— O que o traz aqui tão cedo, Atlas? — inquiro, servindo-me uma xícara de café e ele faz o mesmo em seguida.
— Eu preciso de um favor, Alfa. — Arqueio as sobrancelhas e aguardo que ele continue. — É sobre o ataque em Maldócia… — fala, referindo-se ao massacre na vila dos feiticeiros.
— O que tem Maldócia?
— É que, temos uma sobrevivente. — Confesso que essa informação me pegou de surpresa.
— E?
— Se você pudesse levá-la para a cidade consigo…
— Fora de cogitação. — O corto determinado.
— Alfa, se o Senhor pudesse protegê-la. — Ele insiste.
— E por que eu faria isso? — ralho com desdém.
— Hazel não tem mais ninguém, Alfa. Todos que ela amava e confiava morreram. E se ela ficar aqui, com certeza não sobreviverá. — Franzo a testa.
— Você disse… ela?
— É uma jovem que precisa da sua proteção, Alfa. Algo que só um Alfa supremo poderá lhe dar.
Droga, eu devia dizer-lhe que não. Mas me pego perguntando:
— E onde ela está agora?
— Está lá fora. Se o Senhor me permitir, pedirei para ela entrar.
Trinco o maxilar enquanto penso se isso é o certo a se fazer. Uma garota da Maldócia jamais seria aceita por essa alcateia, ou qualquer outra alcateia. Ainda mais depois do que os seus líderes fizeram a uma criança inocente e indefesa. Sim, ela com certeza morreria pelas mãos dos lobos nesse lugar. Portanto, me pego acenando um sim para Atlas, dando-lhe um fio de esperança. Então ele imediatamente se levanta da sua cadeira e sai da sala com passos largos, voltando minutos depois com uma garota suja e assanhada.
Um par de olhos azuis indomáveis me fitam, porém, a sua cabeça está levemente abaixada. Sim, ela sabe quem eu sou e provavelmente Atlas deve ter lhe dado instruções de como se comportar diante de mim. No entanto, me levanto e dou alguns passos na sua direção, avaliando-a por alguns míseros segundos.
— Qual é o seu nome? — pergunto firme, porém, ela não me responde. Apenas continua olhando para baixo, à medida que me aproximo desse ser de estatura mediana e corpo franzino.
— Ela se chama Hazel, Alfa.
Sem dizer qualquer palavra, levo dois dedos para debaixo do seu queixo e a faço erguer os seus olhos para mim. Uma pressão se aloja no meu peito, quando vejo a dor estampada em suas retinas.
— Está com fome? — Em resposta, os seus olhos correm imediatamente para a mesa farta e depois retornam para mim. Portanto, faço um gesto sutil para um dos meus homens em pé dentro do cômodo e ele imediatamente se aproxima. — Sirva mais um prato e a faça sentar-se à mesa — ordeno e encaro o Atlas em seguida, que parece satisfeito com a minha atitude. Contudo, ele engole o projeto de um sorriso que insinuou se abrir em sua boca. — E você, venha comigo!
— Obrigado por isso, Alfa! — Atlas sibila assim que entramos no meu pequeno escritório, segurando uma euforia com um suspiro alto e aliviado.
— Eu disse que ficaria com ela…
— Mas, Alfa… — Faço um gesto de mãos para ele se calar.
— Ela é uma feiticeira, Atlas.
— Ela é apenas uma garota inocente e assustada.
— Entendo você, mas…
— Se alguém aqui que pode protegê-la. Esse alguém é o Senhor, Alfa! — Ele insiste, porém, faz uma reverência, deixando bem claro que a decisão é minha.
Merda!
Proteger uma feiticeira é ir contra a regra das alcateias. Hazel nuca será aceita por ele e isso não tem nada a ver com o assassinato e sim, com a sua origem.
Respiro fundo.
— Não peço que faça muito, Alfa. Apenas a leve para a cidade. Dê-lhe algo para fazer e deixe o resto com ela.
Pressiono os lábios.
A pior parte é que ele tem razão. Se ficar Hazel será morta como todos de sua vila. Mas se a levar comigo…
— Tudo bem! Peça que se prepare para seguir viagem comigo. Mas não vou aturar uma garota bisbilhoteira e intrometida. Hazel poderá ficar em minha casa até que se estabeleça e depois, ela segue o seu caminho sozinha.
— Obrigado, Alfa!
Hazel— Logo dias negros estarão por vir, criança. — A voz envelhecida de minha avó preenche repentinamente a sala de estar, onde as minhas irmãs discutem animadas sobre o que vestir para as festividades da colheita.Uma noite muito divertida nos aguarda, mas Magdalena Mor está falando sobre escuridão, enquanto fita a noite que começa a cair, através de uma janela retangular de vidros transparentes. Devo dizer que é um contraste muito grande diante da alegria dos moradores de Maldócia, ma pequena cidade que fica ao sul da floresta mais tenebrosa da Inglaterra. Contudo, nunca tivemos problemas com os moradores de lá e esse é mais um motivo para não compreender a visão de uma senhora de cabelos grisalhos no canto da sala.— Uma nuvem negra ameaça a existência dos moradores de Maldócia. — Ela continua.— Vovó, por que não se senta um pouco? — peço, tocando com carinho nos seus ombros, para guiá-la até uma cadeira confortável. Entretanto, ao me afastar dela, sinto o leve aperto dos seus d
HazelOfegante, fito a porta do quarto e corro para fechá-la com chave. Respiro fundo algumas vezes e olho para as paredes de vidro, me perguntando se realmente estou segura nessa casa. Outro grito ecoa e esse parecia refletir uma grande dor. E curiosa, giro a chave lentamente na fechadura, abrindo apenas uma brecha da porta, para bisbilhotar o corredor vazio.— NÃO! — Outro grito surge na porta em frente a minha e me pergunto se devia ir até lá ajudá-lo.Céus, você está na casa dele, Hazel. Ajudá-lo é o mínimo que deveria fazer agora. Minha consciência aconselha-me e trêmula, respiro fundo, saindo do quarto com cautela para ir até a porta do quarto da frente.— Se… Senhor… Tristan? — gaguejo ao chamá-lo.Sim, estou muito nervosa. A verdade, é que Atlas, o lobo que me resgatou falou-me um pouco sobre esse homem. Ele é um Alfa poderoso. É temido por todos, é rígido e intolerante em suas decisões.“Não o olhe nos olhos”. Ele disse. “E não diga nada, deixe que eu mesmo falo com ele”.E a
TristanEnquanto ofego violentamente, observo a maldita feiticeira sair do meu quarto. E só após ela fechar a porta do cômodo, aproximo-me mais da janela para respirar o ar frio da noite, em uma tentativa frustrante de me acalmar. As lembranças dolorosas do maldito sonho voltam a preencher a minha cabeça, e elas me atormentam como faz todas as noites desde que tudo aconteceu.Ainda consigo ouvir os sons dos seus gritos de desespero chamando o meu nome, como a porra de um filme de terror. A minha respiração pesa dentro do meu peito igualmente aquela noite, comprimindo os meus pulmões tão rudemente, que chega a me impedir respirar. Portanto, luto em busca de ar, mas ele se recusa a encher os meus pulmões.Lembro-me que à medida que eu corria em seu socorro, sentia o desespero preencher a minha alma e rasgá-la como se fosse um simples pedaço de papel. Eu jurei protegê-la de tudo e todos, mas cheguei tarde demais. E ao entrar dentro da sala de nossa casa, vi o meu mundo tão mágico e cheio
Tristan— Bom dia, Alfa! — Latifa diz assim que adentro a sala, porém, encontro uma mesa farta como pedi, mas todas as cadeiras estão vazias.— Onde ela está? — pergunto tão friamente, acomodando-me em uma cadeira. Entretanto, a jovem sequer chega a me responder, pois logo Hazel adentra o cômodo, trazendo uma bandeja pesada nas suas mãos.Franzo o cenho, encarando-a com dureza.— O que pensa está fazendo? — Praticamente rujo para a garota, que estanca diante da mesa.— Não é óbvio, Alfa? — Ela responde atrevida, fazendo o meu sangue ferver. — Eu estou servindo a mesa.Seguro mais um rugido.— Quero que largue isso agora, Hazel! — rosno. Entretanto, a feiticeira me lança um olhar petulante, soltando uma respiração consternada.— Escute, eu lhe sou muito grata por me aceitar aqui na sua casa e por me proteger também. Agradeço por me dar um lugar confortável e quente para dormir, mas não estou acostumada a receber algo sem dar algo nada em troca.— Nesse caso, não seria lhe dado, Hazel e
HazelNão importa o quanto eu corra, a sua presença maligna não para de me acompanhar e os meus esforços jamais me salvarão da sua ira ferina. A mata escura e densa não me ajuda muito. Socorro! Tenho vontade de gritar, mas eu sei que o meu grito atrairá aquele a quem estou lutando com todas as minhas forças para escapar. Ele consegue sentir o meu cheiro e pior, consegue ouvir os meus sons, principalmente os sons da minha respiração. Não importa quão escondida eu esteja. Eu sei que ele me encontrará e que logo encontrarei o meu fim.Extremamente ofegante, paro a beira de um precipício e o desespero que me preenche parece partir a minha alma ao meio.Cautelosa, me viro para o encarar o meu fim. Ele tem um par de olhos vermelhos em cólera e as suas presas que me avisam claramente que eu não escaparei do seu ataque. A fera sabe que não tenho uma saída. Portanto, os seus paços de caçador são lentos e intimidantes, enquanto avalia a sua vítima. E com um salto o lobo parece se agigantar sob
HazelNa manhã seguinte…— Não importa, Atlas! Eu quero que investigue mais a fundo! — Escuto Tristan gritar ao telefone, enquanto os seus passos pesados ecoam pelo piso do corredor, me avisando que logo ele entrará no meu campo de visão. — Eu preciso ter certeza da verdade. Só então tomarei uma decisão.Ele adentra o cômodo e os nossos olhos se encontram. Contudo, abaixo imediatamente o meu olhar e fito o meu prato, onde tem uma fatia de bolo que ainda não toquei.— Tudo bem! Assim que tiver algo quero que me avise, não importa a hora. — Ele encerra a ligação e se acomoda a mesa. No entanto, ao segurar o talher, percebo um arranhão na sua pele e me pergunto como o conseguiu? — Preciso que fique dentro de casa hoje, Hazel. — Tristan avisa de repente, me fazendo erguer os meus olhos.— Por quê?— Porque eu estou dizendo que você não pode sair! — ruge e eu sei que ele quer me causar medo. Mas a verdade, é que essa sua atitude grosseira e feroz está me deixando com raiva.— Então agora e
TristanA cerca de um ano e meio quando perdi a minha companheira e consequentemente assumi a posição de líder da alcateia, perdi também a minha paz e a minha vontade de viver só preexistiu após assumir os cuidados com o meu povo. Mas foi aqui no meio dos humanos que encontrei um sentido para viver. Foi exatamente aqui que construí o meu império. Mas tudo isso tinha uma finalidade, encontrar alguém que eu nunca vi na minha frente, que se quer sei os detalhes da sua fisionomia, a fim de fazer-se cumprir uma profecia de décadas.Uma Santa. A quanto tempo não ouço falar sobre uma? A verdade, é que eu sinto que os deuses nos abandonaram nesse mundo e desde então, estamos matando nos aos outros. Desperto dos meus pensamentos quando o telefone começa a tocar em cima da minha mesa.— Senhor Tybalt? — Anabela, minha assistente humana diz assim que a atendo. — O Senhor Weylin deseja vê-lo.— Tudo bem, Bella. Deixe-o entrar.— Sim, Senhor!— E Bella, não quero ser importunado por ninguém.— É
Tristan— Você disse que colocou uma espiã dentro da minha casa? — O tom gélido o faz engolir em seco.— Foi necessário, Alfa.— Onde está a necessidade disso, Atlas? Por que está me espionando? — rujo ferozmente.— Não o estou espionando, Alfa. — Atlas ousa erguer os seus olhos para encontrar os meus. — Com o Senhor fora de casa, a Hazel fica completamente desprotegida…— Os meus homens estão cuidando da feiticeira. E você sabe que eu jamais falho com os meus compromissos. — Ele respira fundo e ousa me encarar outra vez, porém, ele não me desafia, consigo ver a submissão em suas retinas e isso me tranquiliza.— Asterin disse que a sentiu dentro da sua mansão. — Uno as sobrancelhas.— Do que você está falando, homem?— Alfa, eu preciso que me escute. E se depois quiser me castigar, receberei a minha punição sem reclamar. — Paro para pensar por alguns instantes. Contudo, aponto-lhe uma cadeira e me sento de frente para ele. — Sabemos sobre a profecia…— Isso já tem décadas e nada nunca