Hazel
Ofegante, fito a porta do quarto e corro para fechá-la com chave. Respiro fundo algumas vezes e olho para as paredes de vidro, me perguntando se realmente estou segura nessa casa. Outro grito ecoa e esse parecia refletir uma grande dor. E curiosa, giro a chave lentamente na fechadura, abrindo apenas uma brecha da porta, para bisbilhotar o corredor vazio.
— NÃO! — Outro grito surge na porta em frente a minha e me pergunto se devia ir até lá ajudá-lo.
Céus, você está na casa dele, Hazel. Ajudá-lo é o mínimo que deveria fazer agora. Minha consciência aconselha-me e trêmula, respiro fundo, saindo do quarto com cautela para ir até a porta do quarto da frente.
— Se… Senhor… Tristan? — gaguejo ao chamá-lo.
Sim, estou muito nervosa. A verdade, é que Atlas, o lobo que me resgatou falou-me um pouco sobre esse homem. Ele é um Alfa poderoso. É temido por todos, é rígido e intolerante em suas decisões.
“Não o olhe nos olhos”. Ele disse. “E não diga nada, deixe que eu mesmo falo com ele”.
E agora? Devo olhá-lo? Devo falar-lhe?
E se ele decidir me destruir inteira?
— NÃO! — Penso em desistir, mas outro grito me faz estremecer por dentro e me vejo entrando de uma vez no cômodo. Engulo em seco ao vê-lo tão indefeso. Tristan está chorando e ele luta enquanto está preso a esse sonho estarrecedor.
Então percebo que não sei exatamente o que fazer.
Entretanto, como se fosse puxada na sua direção, me aproximo da sua cama e trêmula, estendo a minha mão na direção do seu peito, do lado do seu coração. Inesperadamente ma luz surge das minhas palmas, ofuscando a minha visão e palavras que eu não compreendo começa a sair da minha boca.
— Achaiah Aladial.
Começo a proferir algumas palavras para acalmá-lo e logo o sinto o efeito da magia penetrar o seu sistema.
— Achaiah Aladial Eiael.
Seus gritos param simultaneamente. Contudo, logo sinto um forte aperto nos meus pulsos e assustada abro os meus olhos, encontrando um olhar intenso, tão vermelhos quanto raivosos. Seus lábios estão rígidos e tremer, enquanto ele range seus dentes para mim.
— O que você pensa que está fazendo comigo, feiticeira? — Tristan ruge, enquanto gemo baixinho com a dor do seu aperto rude nos meus pulsos.
— Eu só… eu… só queria ajudá-lo — gemo uma explicação, tentando me livrar do seu agarre.
— Nunca mais ouse me tocar assim! — Seu rugido se torna mais forte e seus olhos parecem ganham um tom de amarelo cintilante. E o seu hálito quente demais aquece sobremaneira a minha pele. A dor se torna insuportável e fraca, me, ajoelho diante dos seus pés.
— Eu não… não farei outra vez. Eu… eu prometo ficar longe, Alfa. Eu… prometo!
Relutante, Tristan afrouxa o seu aperto e me larga sem qualquer delicadeza, porém, não me atrevo a erguer o meu olhar molhado. Apenas, fito os seus pés parados bem diante de mim e sem saber o que fazer realmente, começo a massagear os meus pulsos doloridos, ansiando por sair daqui o mais rápido possível.
— Me desculpe! — Ouso dizer com um sussurro. — Eu só… eu juro que… queria apenas ajudá-lo — explico, sentindo a minha voz embargar.
— Você não pode. — Ele rebate mais calmo, porém, não menos irritado. — Ninguém pode me ajudar. — Sinto um tom amargo na sua voz.
Contudo, apenas suspiro baixo e não ouso perguntar nada. No entanto, quando Tristan se afasta, dando-me as costas, decido erguer a minha cabeça para fitá-lo melhor. O Alfa é realmente muito alto e muito forte também. Penso observando as suas costas largas, com seus músculos rígidos, contraindo-se quando se apoia no espaldar de uma janela. No entanto, percebo que ele carrega algumas marcas em sua pele também. Elas são como garras profundas e me pergunto como ele as conseguiu? E se elas têm algo a ver com esses seus sonhos mais horrendos.
— Saia!
Ele ordena sem ao menos me olhar. E o som que saiu de sua garganta é sólido como um iceberg e tão áspero e aproveito o momento para me retirar, a final, lobos costumam ser irracionais quando estão com muita raiva. Entretanto, não consigo evitar de olhá-lo mais uma vez antes de fechar a porta e voltar para os meus aposentos.
… Você precisa aceitar o seu destino, minha querida.
Novamente a voz da minha avó preenche os meus ouvidos. Contudo, eu não quero esse destino para mim. Não quero ter que me unir ao povo que dizimou toda a minha geração. Antes prefiro fazer vingança… ou a minha própria morte.
TristanEnquanto ofego violentamente, observo a maldita feiticeira sair do meu quarto. E só após ela fechar a porta do cômodo, aproximo-me mais da janela para respirar o ar frio da noite, em uma tentativa frustrante de me acalmar. As lembranças dolorosas do maldito sonho voltam a preencher a minha cabeça, e elas me atormentam como faz todas as noites desde que tudo aconteceu.Ainda consigo ouvir os sons dos seus gritos de desespero chamando o meu nome, como a porra de um filme de terror. A minha respiração pesa dentro do meu peito igualmente aquela noite, comprimindo os meus pulmões tão rudemente, que chega a me impedir respirar. Portanto, luto em busca de ar, mas ele se recusa a encher os meus pulmões.Lembro-me que à medida que eu corria em seu socorro, sentia o desespero preencher a minha alma e rasgá-la como se fosse um simples pedaço de papel. Eu jurei protegê-la de tudo e todos, mas cheguei tarde demais. E ao entrar dentro da sala de nossa casa, vi o meu mundo tão mágico e cheio
Tristan— Bom dia, Alfa! — Latifa diz assim que adentro a sala, porém, encontro uma mesa farta como pedi, mas todas as cadeiras estão vazias.— Onde ela está? — pergunto tão friamente, acomodando-me em uma cadeira. Entretanto, a jovem sequer chega a me responder, pois logo Hazel adentra o cômodo, trazendo uma bandeja pesada nas suas mãos.Franzo o cenho, encarando-a com dureza.— O que pensa está fazendo? — Praticamente rujo para a garota, que estanca diante da mesa.— Não é óbvio, Alfa? — Ela responde atrevida, fazendo o meu sangue ferver. — Eu estou servindo a mesa.Seguro mais um rugido.— Quero que largue isso agora, Hazel! — rosno. Entretanto, a feiticeira me lança um olhar petulante, soltando uma respiração consternada.— Escute, eu lhe sou muito grata por me aceitar aqui na sua casa e por me proteger também. Agradeço por me dar um lugar confortável e quente para dormir, mas não estou acostumada a receber algo sem dar algo nada em troca.— Nesse caso, não seria lhe dado, Hazel e
HazelNão importa o quanto eu corra, a sua presença maligna não para de me acompanhar e os meus esforços jamais me salvarão da sua ira ferina. A mata escura e densa não me ajuda muito. Socorro! Tenho vontade de gritar, mas eu sei que o meu grito atrairá aquele a quem estou lutando com todas as minhas forças para escapar. Ele consegue sentir o meu cheiro e pior, consegue ouvir os meus sons, principalmente os sons da minha respiração. Não importa quão escondida eu esteja. Eu sei que ele me encontrará e que logo encontrarei o meu fim.Extremamente ofegante, paro a beira de um precipício e o desespero que me preenche parece partir a minha alma ao meio.Cautelosa, me viro para o encarar o meu fim. Ele tem um par de olhos vermelhos em cólera e as suas presas que me avisam claramente que eu não escaparei do seu ataque. A fera sabe que não tenho uma saída. Portanto, os seus paços de caçador são lentos e intimidantes, enquanto avalia a sua vítima. E com um salto o lobo parece se agigantar sob
HazelNa manhã seguinte…— Não importa, Atlas! Eu quero que investigue mais a fundo! — Escuto Tristan gritar ao telefone, enquanto os seus passos pesados ecoam pelo piso do corredor, me avisando que logo ele entrará no meu campo de visão. — Eu preciso ter certeza da verdade. Só então tomarei uma decisão.Ele adentra o cômodo e os nossos olhos se encontram. Contudo, abaixo imediatamente o meu olhar e fito o meu prato, onde tem uma fatia de bolo que ainda não toquei.— Tudo bem! Assim que tiver algo quero que me avise, não importa a hora. — Ele encerra a ligação e se acomoda a mesa. No entanto, ao segurar o talher, percebo um arranhão na sua pele e me pergunto como o conseguiu? — Preciso que fique dentro de casa hoje, Hazel. — Tristan avisa de repente, me fazendo erguer os meus olhos.— Por quê?— Porque eu estou dizendo que você não pode sair! — ruge e eu sei que ele quer me causar medo. Mas a verdade, é que essa sua atitude grosseira e feroz está me deixando com raiva.— Então agora e
TristanA cerca de um ano e meio quando perdi a minha companheira e consequentemente assumi a posição de líder da alcateia, perdi também a minha paz e a minha vontade de viver só preexistiu após assumir os cuidados com o meu povo. Mas foi aqui no meio dos humanos que encontrei um sentido para viver. Foi exatamente aqui que construí o meu império. Mas tudo isso tinha uma finalidade, encontrar alguém que eu nunca vi na minha frente, que se quer sei os detalhes da sua fisionomia, a fim de fazer-se cumprir uma profecia de décadas.Uma Santa. A quanto tempo não ouço falar sobre uma? A verdade, é que eu sinto que os deuses nos abandonaram nesse mundo e desde então, estamos matando nos aos outros. Desperto dos meus pensamentos quando o telefone começa a tocar em cima da minha mesa.— Senhor Tybalt? — Anabela, minha assistente humana diz assim que a atendo. — O Senhor Weylin deseja vê-lo.— Tudo bem, Bella. Deixe-o entrar.— Sim, Senhor!— E Bella, não quero ser importunado por ninguém.— É
Tristan— Você disse que colocou uma espiã dentro da minha casa? — O tom gélido o faz engolir em seco.— Foi necessário, Alfa.— Onde está a necessidade disso, Atlas? Por que está me espionando? — rujo ferozmente.— Não o estou espionando, Alfa. — Atlas ousa erguer os seus olhos para encontrar os meus. — Com o Senhor fora de casa, a Hazel fica completamente desprotegida…— Os meus homens estão cuidando da feiticeira. E você sabe que eu jamais falho com os meus compromissos. — Ele respira fundo e ousa me encarar outra vez, porém, ele não me desafia, consigo ver a submissão em suas retinas e isso me tranquiliza.— Asterin disse que a sentiu dentro da sua mansão. — Uno as sobrancelhas.— Do que você está falando, homem?— Alfa, eu preciso que me escute. E se depois quiser me castigar, receberei a minha punição sem reclamar. — Paro para pensar por alguns instantes. Contudo, aponto-lhe uma cadeira e me sento de frente para ele. — Sabemos sobre a profecia…— Isso já tem décadas e nada nunca
HazelNo meio da noite decido sair do meu quarto e aproveitar a quietude da casa para apreciar o luar direto do jardim. Eu sei, estou desobedecendo as ordens do Alfa todo poderoso. Mas essa é a única chance de liberdade que eu tenho. No mais, quem ousaria invadir a impenetrável muralha do Senhor Tristan Tybalt? Nem mesmo um louco ousaria fazer tal coisa. Resmungo mentalmente, deitando-me na grama verde para apreciar um céu totalmente escuro e estrelado, com um luar resplandecente em toda a sua glória. E por um mísero segundo sinto que sou arrebatada para o mundo dos sonhos.De repente, uma luz se projeta na minha frente e curiosa, me levanto para observá-la melhor.Sekhmet?Não, não seria a Santa da cura. Penso, ficando de pé para tentar aproximar-me. Entretanto, ao estender a minha mão para tocar na sua áurea, um barulho nos arbustos me desperta e percebo que tudo não passou de um sonho.— Quem está aí? — pergunto, levantando-me da grama e em estado de alerta preparo-me para um
Hazel… Tristan está em busca da verdade e quando ele descobrir, você se transformará em um reles pedaço de carne fresca que será devorada em poucos minutos por toda a alcateia.Essas palavras de Latifa não saem de dentro da minha cabeça. E elas estão me perturbando demais. Estão tirando o meu sono e me deixando inquieta. O meu coração está em agonia. E eu sei que não estou segura dentro dessa casa. Contudo, eu deveria saber disso desde o primeiro momento que pisei a planta dos meus pés nesse lugar. Lobos não são confiáveis. Eles nunca foram, ainda mais quando estão sedentos por vingança. Chegam a se tornarem irracionais e os donos da razão.Você precisa sair daqui Hazel. Precisa ir para bem longe desse lugar. Penso determinada e vou imediatamente para perto da cama, abaixo-me e puxo uma bolsa que mantenho lá embaixo com algumas coisas de que preciso. E cautelosa, saio do quarto sem fazer barulho.Controle a sua respiração. Aconselho-me antes que eles me escutem. Controle os seus medo