Tristan
— Bom dia, Alfa! — Latifa diz assim que adentro a sala, porém, encontro uma mesa farta como pedi, mas todas as cadeiras estão vazias.
— Onde ela está? — pergunto tão friamente, acomodando-me em uma cadeira. Entretanto, a jovem sequer chega a me responder, pois logo Hazel adentra o cômodo, trazendo uma bandeja pesada nas suas mãos.
Franzo o cenho, encarando-a com dureza.
— O que pensa está fazendo? — Praticamente rujo para a garota, que estanca diante da mesa.
— Não é óbvio, Alfa? — Ela responde atrevida, fazendo o meu sangue ferver. — Eu estou servindo a mesa.
Seguro mais um rugido.
— Quero que largue isso agora, Hazel! — rosno. Entretanto, a feiticeira me lança um olhar petulante, soltando uma respiração consternada.
— Escute, eu lhe sou muito grata por me aceitar aqui na sua casa e por me proteger também. Agradeço por me dar um lugar confortável e quente para dormir, mas não estou acostumada a receber algo sem dar algo nada em troca.
— Nesse caso, não seria lhe dado, Hazel e sim, vendido. Agora largue isso e sente-se a mesa! — Volto a ordenar.
Ela bufa e isso me irrita.
— Escute, eu realmente...
— Estou ordenando que se sente em uma cadeira agora, Hazel! — rujo ainda mais forte, fazendo um gesto para a garota de pé diante de mim. Latifa imediatamente sai do seu lugar e tira a bandeja das suas mãos. Malcriada, a feiticeira volta a bufar.
Fecho as mãos em punho para esse seu comportamento, contendo a minha fúria. Contudo, Hazel me obedece mesmo a contragosto, porém, enquanto ela é servida, o seu olhar escrutínio enfrenta o meu.
— Como… como se sente? — Ela pergunta, mudando o seu estado irritado para calmo. Arqueio as sobrancelhas para essa sua pergunta sem entender o real sentido do seu questionamento. — Na noite passada, você parecia sentir muita dor e eu… — Ela tenta esclarecer, mas o fato de me lembrar do ela que fez na noite passada me faz ferver por outra vez.
— Não repita aquilo outra vez! — rosno enraivecido.
— Ah… aquilo? — Ela gagueja, mas não é de medo ou algo assim. Hazel parece irritada agora.
— Não volte a invadir o meu quarto, Hazel! — ralho rudemente.
— Me desculpe, mas eu só quis ajudá-lo…
— Não quero que me ajude! — A interrompo ríspido. — Você não tem nenhuma obrigação comigo.
Ela engole em seco.
— Você foi um idiota me chamando de feiticeira! — Ela volta a me atacar e eu volto a apertar os meus dedos contra a palma da minha mão.
Um... idiota? Ela não faz ideia de com quem está falando. Mas se continuar assim, logo descobrirá. Penso puto da vida.
— É o que você é, certo? — rebato com desdém.
— Não. Eu não sou uma feiticeira! — Hazel retruca, ainda mais irritada.
— Você me tocou e sibilou aquelas palavras de feitiçaria. Estava roubando os meus sonhos...
— Eu não estava roubando nada! — Ela grunhe contrariada, porém, para e respira fundo. — E não eram palavras de feitiçaria, Senhor Tristan! — Observo as suas bochechas ficarem vermelhas de raiva e devo dizer que esse tom lhe caiu muito bem.
— Já chega dessa conversa, Hazel! — Autoritário, resolvo dar um basta nesse assunto ridículo. — Entenda uma coisa. Você está aqui porque eu quero que esteja. Mas não se engane, porque o fato de estar sobre a minha proteção não lhe dá direito de fazer certas coisas — rosno brutalmente, ficando de pé. — Não ouse entrar no meu quarto outra vez. Não ouse me tocar como fez. E não use a sua feitiçaria dentro da minha residência. Isso é um aviso! — advirto-a com frieza. — E se você ousar me tocar de novo, prometo que não terei um pingo de piedade ao puni-la!
— Que droga, eu já disse que não sou uma...
— Agora coma e procure uma ocupação! — Corto-a bruscamente. — Quem sabe assim você consegue controlar essas suas malditas mãos atrevidas! — ordeno, dando-lhe as costas e saio da sala no mesmo instante.
HazelNão importa o quanto eu corra, a sua presença maligna não para de me acompanhar e os meus esforços jamais me salvarão da sua ira ferina. A mata escura e densa não me ajuda muito. Socorro! Tenho vontade de gritar, mas eu sei que o meu grito atrairá aquele a quem estou lutando com todas as minhas forças para escapar. Ele consegue sentir o meu cheiro e pior, consegue ouvir os meus sons, principalmente os sons da minha respiração. Não importa quão escondida eu esteja. Eu sei que ele me encontrará e que logo encontrarei o meu fim.Extremamente ofegante, paro a beira de um precipício e o desespero que me preenche parece partir a minha alma ao meio.Cautelosa, me viro para o encarar o meu fim. Ele tem um par de olhos vermelhos em cólera e as suas presas que me avisam claramente que eu não escaparei do seu ataque. A fera sabe que não tenho uma saída. Portanto, os seus paços de caçador são lentos e intimidantes, enquanto avalia a sua vítima. E com um salto o lobo parece se agigantar sob
HazelNa manhã seguinte…— Não importa, Atlas! Eu quero que investigue mais a fundo! — Escuto Tristan gritar ao telefone, enquanto os seus passos pesados ecoam pelo piso do corredor, me avisando que logo ele entrará no meu campo de visão. — Eu preciso ter certeza da verdade. Só então tomarei uma decisão.Ele adentra o cômodo e os nossos olhos se encontram. Contudo, abaixo imediatamente o meu olhar e fito o meu prato, onde tem uma fatia de bolo que ainda não toquei.— Tudo bem! Assim que tiver algo quero que me avise, não importa a hora. — Ele encerra a ligação e se acomoda a mesa. No entanto, ao segurar o talher, percebo um arranhão na sua pele e me pergunto como o conseguiu? — Preciso que fique dentro de casa hoje, Hazel. — Tristan avisa de repente, me fazendo erguer os meus olhos.— Por quê?— Porque eu estou dizendo que você não pode sair! — ruge e eu sei que ele quer me causar medo. Mas a verdade, é que essa sua atitude grosseira e feroz está me deixando com raiva.— Então agora e
TristanA cerca de um ano e meio quando perdi a minha companheira e consequentemente assumi a posição de líder da alcateia, perdi também a minha paz e a minha vontade de viver só preexistiu após assumir os cuidados com o meu povo. Mas foi aqui no meio dos humanos que encontrei um sentido para viver. Foi exatamente aqui que construí o meu império. Mas tudo isso tinha uma finalidade, encontrar alguém que eu nunca vi na minha frente, que se quer sei os detalhes da sua fisionomia, a fim de fazer-se cumprir uma profecia de décadas.Uma Santa. A quanto tempo não ouço falar sobre uma? A verdade, é que eu sinto que os deuses nos abandonaram nesse mundo e desde então, estamos matando nos aos outros. Desperto dos meus pensamentos quando o telefone começa a tocar em cima da minha mesa.— Senhor Tybalt? — Anabela, minha assistente humana diz assim que a atendo. — O Senhor Weylin deseja vê-lo.— Tudo bem, Bella. Deixe-o entrar.— Sim, Senhor!— E Bella, não quero ser importunado por ninguém.— É
Tristan— Você disse que colocou uma espiã dentro da minha casa? — O tom gélido o faz engolir em seco.— Foi necessário, Alfa.— Onde está a necessidade disso, Atlas? Por que está me espionando? — rujo ferozmente.— Não o estou espionando, Alfa. — Atlas ousa erguer os seus olhos para encontrar os meus. — Com o Senhor fora de casa, a Hazel fica completamente desprotegida…— Os meus homens estão cuidando da feiticeira. E você sabe que eu jamais falho com os meus compromissos. — Ele respira fundo e ousa me encarar outra vez, porém, ele não me desafia, consigo ver a submissão em suas retinas e isso me tranquiliza.— Asterin disse que a sentiu dentro da sua mansão. — Uno as sobrancelhas.— Do que você está falando, homem?— Alfa, eu preciso que me escute. E se depois quiser me castigar, receberei a minha punição sem reclamar. — Paro para pensar por alguns instantes. Contudo, aponto-lhe uma cadeira e me sento de frente para ele. — Sabemos sobre a profecia…— Isso já tem décadas e nada nunca
HazelNo meio da noite decido sair do meu quarto e aproveitar a quietude da casa para apreciar o luar direto do jardim. Eu sei, estou desobedecendo as ordens do Alfa todo poderoso. Mas essa é a única chance de liberdade que eu tenho. No mais, quem ousaria invadir a impenetrável muralha do Senhor Tristan Tybalt? Nem mesmo um louco ousaria fazer tal coisa. Resmungo mentalmente, deitando-me na grama verde para apreciar um céu totalmente escuro e estrelado, com um luar resplandecente em toda a sua glória. E por um mísero segundo sinto que sou arrebatada para o mundo dos sonhos.De repente, uma luz se projeta na minha frente e curiosa, me levanto para observá-la melhor.Sekhmet?Não, não seria a Santa da cura. Penso, ficando de pé para tentar aproximar-me. Entretanto, ao estender a minha mão para tocar na sua áurea, um barulho nos arbustos me desperta e percebo que tudo não passou de um sonho.— Quem está aí? — pergunto, levantando-me da grama e em estado de alerta preparo-me para um
Hazel… Tristan está em busca da verdade e quando ele descobrir, você se transformará em um reles pedaço de carne fresca que será devorada em poucos minutos por toda a alcateia.Essas palavras de Latifa não saem de dentro da minha cabeça. E elas estão me perturbando demais. Estão tirando o meu sono e me deixando inquieta. O meu coração está em agonia. E eu sei que não estou segura dentro dessa casa. Contudo, eu deveria saber disso desde o primeiro momento que pisei a planta dos meus pés nesse lugar. Lobos não são confiáveis. Eles nunca foram, ainda mais quando estão sedentos por vingança. Chegam a se tornarem irracionais e os donos da razão.Você precisa sair daqui Hazel. Precisa ir para bem longe desse lugar. Penso determinada e vou imediatamente para perto da cama, abaixo-me e puxo uma bolsa que mantenho lá embaixo com algumas coisas de que preciso. E cautelosa, saio do quarto sem fazer barulho.Controle a sua respiração. Aconselho-me antes que eles me escutem. Controle os seus medo
Hazel— Mande-os parar! Mande-os parar! — peço no mais completo pânico, mas eles não param e continuam avançando com seus ganidos raivosos. Logo sinto um par de mãos pesadas nos meus ombros e ao erguer a minha cabeça, encontro os seus olhos horrendos e brilhantes, apagando logo em seguida.***Um frio descomunal me faz abraçar o meu corpo trêmulo em uma tentativa absurda de me esquentar, mas é praticamente impossível. Atordoada, abro uma brecha de olhos e encaro as turvas grades brancas na minha frente. Então percebo que estou dentro de uma jaula quadrada, grande o suficiente para ficar de pé e caminhar dentro dela. Contudo, tudo ao meu redor está coberto de gelo.— Mas o que aconteceu? — pergunto, sentando-me em uma cama improvisada, coberta por peles macias tão brancas quanto o gelo que me cerca. — Ei? — grita, chegando perto das grades congeladas. — Tem alguém aí? — Um logo cinzento surge com seus passos lentos e olhar devorador, fazendo-me afastar mediamente. — Alguém! — Volto a gr
TristanQuando esse tormento vai se acabar? Quando terei paz dentro de mim outra vez?Me pergunto, enquanto sou atormentado por mais um pesadelo, onde todas as cenas daquela maldita noite se repetem incansavelmente dentro da minha cabeça. Em um ato de desespero, chego a apertar as laterais da minha cabeça, pressionando a minha fonte em uma tentativa de fugir desse meu fracasso.— Tristan? Tristan, acorde! — A voz impetuosa de Tino, junto a algumas batidas fortes na porta do meu quarto me arrancam do meu eterno sofrimento e imediatamente abro a porta para encarar o olhar amedrontado do frágil adolescente humano.— Tino, o que faz acordado a essa hora? — Ele respira fundo algumas vezes. Parece querer recobrar o seu fôlego. E isso me faz acreditar que ele correu até aqui.— É a Hazel! — Ele diz entre uma respiração pesada e outra. Contudo, uno as sobrancelhas.— O que tem a Hazel?— Ela… ela… — Tino toma o fôlego outra vez. — Eles a levaram, Tristan. A pegaram a caminho da floresta negra