Tristan
Enquanto ofego violentamente, observo a m*****a feiticeira sair do meu quarto. E só após ela fechar a porta do cômodo, aproximo-me mais da janela para respirar o ar frio da noite, em uma tentativa frustrante de me acalmar. As lembranças dolorosas do maldito sonho voltam a preencher a minha cabeça, e elas me atormentam como faz todas as noites desde que tudo aconteceu.
Ainda consigo ouvir os sons dos seus gritos de desespero chamando o meu nome, como a porra de um filme de terror. A minha respiração pesa dentro do meu peito igualmente aquela noite, comprimindo os meus pulmões tão rudemente, que chega a me impedir respirar. Portanto, luto em busca de ar, mas ele se recusa a encher os meus pulmões.
Lembro-me que à medida que eu corria em seu socorro, sentia o desespero preencher a minha alma e rasgá-la como se fosse um simples pedaço de papel. Eu jurei protegê-la de tudo e todos, mas cheguei tarde demais. E ao entrar dentro da sala de nossa casa, vi o meu mundo tão mágico e cheio de amor ser esmagado completamente, enquanto se afundava na poça do seu sangue, que não parava encharcar seu vestido branco.
LUNAAAA!
Gritei e eu sei que naquele momento toda a Maldagan conseguiu ouvir os sons do meu desespero. Além das florestas ao redor escutaram a voz da minha dor. Fraco e destruído por dentro, ajoelhei-me do seu lado, segurando-a nos meus braços sem me importar com o sangue que me sujava, que me marcava para sempre. E enquanto me quebrava em mil pedaços, me vi preenchido por uma fúria extrema demais, resgando tudo dentro de mim, destruindo o que havia de melhor, e saí em busca da única pessoa capaz de fazer tal atrocidade.
Malcon Traves, o Alfa da minha alcateia.
Ele deveria ser o nosso líder. Deveria proteger o nosso povo. Contudo, tornou-se um maldito ditador sem escrúpulos, incumbido de uma crueldade incomparável, humilhando-nos sem qualquer motivo, tornando-nos seus escravos e servidores. Sim, eu devia respeito e obediência a sua autoridade e poder, mas não naquela noite. E sim, eu estava determinado a morrer junto com ela se fosse preciso. Eu desejei ser destruído pelo poderoso Alfa e assim acabar com toda a minha dor.
Respiro fundo, erguendo a minha cabeça para fitar a lua em toda a sua glória e esplendor. O seu poder imediatamente me chama. Ela me atrair e me e envolve com a sua áurea amarelada, fazendo os meus instintos mais primitivos e sombrios sobressair a dor que insiste em rasgar o meu coração já machucado. E inevitavelmente sou transformado no ser mais poderoso, faminto e destrutivo que essa noite poderia ter.
A liberdade do meu ser me leva a correr livremente mata adentro, a agir feito um caçador noturno. E a velocidade é o meu libertador agora. Os sons da floresta me se aguçam. Eles calam os meus pensamentos mais negros, preenchem a fera dentro de mim e agora somente as batidas endurecidas do meu coração ferido se ouve.
***
Pela manhã...
— Bom dia, Alfa! — Latifa, a ômega fala abaixando o seu olhar para o chão e consequentemente a sua cabeça também se abaixa, como sinal de obediência e respeito a mim.
— Temos uma hóspede nessa casa, Latifa — aviso com um tom firme na voz. — Peça que montem uma mesa farta para o café da manhã — ordeno sem responder a sua congratulação, porém, sigo direto para o escritório aqui mesmo na minha casa.
— Certo, Alfa! — A jovem loba resmunga e segue cruzando a enorme sala de estar, indo o outro lado da espaçosa casa.
Logo adentro o cômodo bem iluminado pelos raios de sol que invadem livremente as paredes de vidros transparentes, trazendo a sua luz para as prateleiras cheias de livros e para uma enorme mesa de mogno, que contém alguns papéis, além de um computador em cima dela. Observo com orgulho o jardim que contorna essa casa, além de uma matar fechada em segundo plano. Uma opção que fiz questão de escolher para ficar mais o perto possível da natureza aqui no mundo dos humanos.
Assim que me acomodo em minha cadeira abro o computador e decido analisar alguns e-mails antes de finalmente dar o meu alvará para alguns pedidos e contratos. Por fim, decido ir ao encontro da minha indesejada hóspede e tomar o café da manhã na sua companhia. Penso que logo terei que retornar para a alcateia. Eu preciso saber sobre os acordos entre as cidadelas vizinhas e descobrir mais sobre o ataque a Maldócia e determinar algumas ordens necessárias em relação aos últimos acontecimentos.
E isso inclui a presença de Hazel no nosso meio, mas principalmente aqui na minha casa.
Sei que a sua presença desagrada a muitos na alcateia. A final, toda essa bagunça começou no meio do seu povo. A morte de Tunísia nunca será aceita pela sua família e menos ainda após o exilio de Lachlan. Sei que eles jamais ousarão passar por cima das minhas decisões. No entanto, mesmo sobre a minha proteção, eu sei que devo afastá-la do meu povo antes que algo pior aconteça.
Tristan— Bom dia, Alfa! — Latifa diz assim que adentro a sala, porém, encontro uma mesa farta como pedi, mas todas as cadeiras estão vazias.— Onde ela está? — pergunto tão friamente, acomodando-me em uma cadeira. Entretanto, a jovem sequer chega a me responder, pois logo Hazel adentra o cômodo, trazendo uma bandeja pesada nas suas mãos.Franzo o cenho, encarando-a com dureza.— O que pensa está fazendo? — Praticamente rujo para a garota, que estanca diante da mesa.— Não é óbvio, Alfa? — Ela responde atrevida, fazendo o meu sangue ferver. — Eu estou servindo a mesa.Seguro mais um rugido.— Quero que largue isso agora, Hazel! — rosno. Entretanto, a feiticeira me lança um olhar petulante, soltando uma respiração consternada.— Escute, eu lhe sou muito grata por me aceitar aqui na sua casa e por me proteger também. Agradeço por me dar um lugar confortável e quente para dormir, mas não estou acostumada a receber algo sem dar algo nada em troca.— Nesse caso, não seria lhe dado, Hazel e
HazelNão importa o quanto eu corra, a sua presença maligna não para de me acompanhar e os meus esforços jamais me salvarão da sua ira ferina. A mata escura e densa não me ajuda muito. Socorro! Tenho vontade de gritar, mas eu sei que o meu grito atrairá aquele a quem estou lutando com todas as minhas forças para escapar. Ele consegue sentir o meu cheiro e pior, consegue ouvir os meus sons, principalmente os sons da minha respiração. Não importa quão escondida eu esteja. Eu sei que ele me encontrará e que logo encontrarei o meu fim.Extremamente ofegante, paro a beira de um precipício e o desespero que me preenche parece partir a minha alma ao meio.Cautelosa, me viro para o encarar o meu fim. Ele tem um par de olhos vermelhos em cólera e as suas presas que me avisam claramente que eu não escaparei do seu ataque. A fera sabe que não tenho uma saída. Portanto, os seus paços de caçador são lentos e intimidantes, enquanto avalia a sua vítima. E com um salto o lobo parece se agigantar sob
HazelNa manhã seguinte…— Não importa, Atlas! Eu quero que investigue mais a fundo! — Escuto Tristan gritar ao telefone, enquanto os seus passos pesados ecoam pelo piso do corredor, me avisando que logo ele entrará no meu campo de visão. — Eu preciso ter certeza da verdade. Só então tomarei uma decisão.Ele adentra o cômodo e os nossos olhos se encontram. Contudo, abaixo imediatamente o meu olhar e fito o meu prato, onde tem uma fatia de bolo que ainda não toquei.— Tudo bem! Assim que tiver algo quero que me avise, não importa a hora. — Ele encerra a ligação e se acomoda a mesa. No entanto, ao segurar o talher, percebo um arranhão na sua pele e me pergunto como o conseguiu? — Preciso que fique dentro de casa hoje, Hazel. — Tristan avisa de repente, me fazendo erguer os meus olhos.— Por quê?— Porque eu estou dizendo que você não pode sair! — ruge e eu sei que ele quer me causar medo. Mas a verdade, é que essa sua atitude grosseira e feroz está me deixando com raiva.— Então agora e
TristanQuando se passa a viver dentro de um inferno o seu fogo já não surte o mesmo efeito da dor que se carrega dentro do peito. Portanto, sorrir é algo que já não consegue se fazer e o amor… esse apodreceu em algum lugar dentro do coração. Você não vive realmente, apenas existe. Mas tem um lado bom nisso tudo. A fraqueza jamais te alcançará.Meu nome é Tristan Tybalt, eu sou o Alfa de uma alcateia temida que vive no sul da Inglaterra. Mas para chegar até aqui perdi a pessoa mais valiosa da minha vida. A companheira com quem planejei um futuro sólido, com filhos e muito amor. Desde então, passo a maior parte do meu tempo no meu império instalado em uma cidade entre os humanos. E só regresso para a Maldagam, uma floresta negra onde habitamos desde sempre em casos extremos como o dessa noite.— Alfa!Um lupino fala abaixando os seus olhos em sinal de respeito a minha autoridade, e aproxima-se para me receber. Contudo, não esboço qualquer reação ao seu gesto. Apenas o olho firme de ond
TristanAlgumas horas depois...— Tristan? — Atlas, um dos ômegas mais próximos a mim fala assim que adentra a sala, onde uma mesa farta de café da manhã está exposta. — A quanto tempo, meu amigo? — Ele cantarola com ínfimo prazer, porém, apenas aponto uma cadeira para ele do outro lado da mesa.— O que o traz aqui tão cedo, Atlas? — inquiro, servindo-me uma xícara de café e ele faz o mesmo em seguida.— Eu preciso de um favor, Alfa. — Arqueio as sobrancelhas e aguardo que ele continue. — É sobre o ataque em Maldócia… — fala, referindo-se ao massacre na vila dos feiticeiros.— O que tem Maldócia?— É que, temos uma sobrevivente. — Confesso que essa informação me pegou de surpresa.— E?— Se você pudesse levá-la para a cidade consigo…— Fora de cogitação. — O corto determinado.— Alfa, se o Senhor pudesse protegê-la. — Ele insiste.— E por que eu faria isso? — ralho com desdém.— Hazel não tem mais ninguém, Alfa. Todos que ela amava e confiava morreram. E se ela ficar aqui, com certeza
Hazel— Logo dias negros estarão por vir, criança. — A voz envelhecida de minha avó preenche repentinamente a sala de estar, onde as minhas irmãs discutem animadas sobre o que vestir para as festividades da colheita.Uma noite muito divertida nos aguarda, mas Magdalena Mor está falando sobre escuridão, enquanto fita a noite que começa a cair, através de uma janela retangular de vidros transparentes. Devo dizer que é um contraste muito grande diante da alegria dos moradores de Maldócia, ma pequena cidade que fica ao sul da floresta mais tenebrosa da Inglaterra. Contudo, nunca tivemos problemas com os moradores de lá e esse é mais um motivo para não compreender a visão de uma senhora de cabelos grisalhos no canto da sala.— Uma nuvem negra ameaça a existência dos moradores de Maldócia. — Ela continua.— Vovó, por que não se senta um pouco? — peço, tocando com carinho nos seus ombros, para guiá-la até uma cadeira confortável. Entretanto, ao me afastar dela, sinto o leve aperto dos seus d
HazelOfegante, fito a porta do quarto e corro para fechá-la com chave. Respiro fundo algumas vezes e olho para as paredes de vidro, me perguntando se realmente estou segura nessa casa. Outro grito ecoa e esse parecia refletir uma grande dor. E curiosa, giro a chave lentamente na fechadura, abrindo apenas uma brecha da porta, para bisbilhotar o corredor vazio.— NÃO! — Outro grito surge na porta em frente a minha e me pergunto se devia ir até lá ajudá-lo.Céus, você está na casa dele, Hazel. Ajudá-lo é o mínimo que deveria fazer agora. Minha consciência aconselha-me e trêmula, respiro fundo, saindo do quarto com cautela para ir até a porta do quarto da frente.— Se… Senhor… Tristan? — gaguejo ao chamá-lo.Sim, estou muito nervosa. A verdade, é que Atlas, o lobo que me resgatou falou-me um pouco sobre esse homem. Ele é um Alfa poderoso. É temido por todos, é rígido e intolerante em suas decisões.“Não o olhe nos olhos”. Ele disse. “E não diga nada, deixe que eu mesmo falo com ele”.E a