Júlia
Alguns dias…
— Júlia. — Senhor Abravanel fala, adentrando a minha sala.
— Senhor Abravanel? — Me ponho de pé imediatamente.
— Eu estou com um projeto grande para iniciar e preciso de ajuda. Está a fim de embarcar nessa comigo?
— Ah, eu não sei…
— Júlia, esse será mais um projeto que fará o seu nome brilhar no mundo arquitetônico. E você já está na metade da Bolt Vitton mesmo. Precisa iniciar outro projeto em breve e eu acredito que faremos uma boa dupla. O que acha? — Sem saber o que dizer apenas balbucio. — Que tal se sairmos para almoçar? Eu te passo os detalhes principais e você analisa cada um deles. Depois é por sua conta, o que acha? — Sorrio.
— Está bem. — Ele sorri de volta.
— Ótimo! Te encontro em meia hora?
— É claro.
— Perfeito!
— Olha só você. — Bia cantarola se aproximando. — Caindo nos encantos do Senhor Abravanel, hein?
— Não fale besteiras, Bia. É só trabalho —
JúliaHoras mais tarde…— Para a mansão Bennett — peço assim que entro em um táxi e acomodo o telefone na minha orelha para mexer em minha bolsa.— Júlia, o Paco ainda não aceitou essa situação. — Melissa fala do outro lado da linha.— O Paco não precisa aceitar situação alguma que diga respeito a mim e ao Alex, Mel — rebato com impaciência. — Eu pensei que soubesse disso.— Amiga, você sabe o quanto ele ama o Alex. E convenhamos que também estou preocupada com vocês.Suspiro alto.— Não precisa ficar preocupada, Mel. O Alex está bem. Nós estamos bem. O Senhor Bennett…— Tudo bem, eu acredito em você. Mas prometa que você vai pular fora se ele fizer algo que a machuque?— Eu prometo.— Chegamos, Senhora! — O taxista avisa.— Eu te adoro, Mel! — Decido encerrar essa conversa.— Também te amo, amiga!— Eu preciso desligar agora. E, Melissa?— Sim?— Não fale mais nada a re
BennettA porta do meu escritório se abre bruscamente e no mesmo instante Abravanel passa por ela feito um trator desgovernado. Com os seus olhos em cólera fixos nos meus ele fecha a porta e se aproxima da minha mesa, porém, ele não se senta como de costume. Álvaro parece um animal enjaulado, ansioso para o seu ataque. Contudo, mantenho-me friamente parcial, apenas o encarando firme e espero que ele diga algo. Seus lábios estão comprimidos rigidamente em uma linha fina e as suas mãos estão fechadas em punho com tanta força, que as suas falanges chegam a ficar esbranquiçadas. Entretanto, a sua raiva não me abala em nada e a minha armadura já está preparada para rebater o que que seja que esteja disposto a me dizer.— Qual é o seu jogo, Bennett? — Áspero e rude. Um Abravanel que nunca se revelou para mim antes.— Como é que é?
BennettMeu cérebro grita, fazendo um eco horrendo dentro da minha cabeça, porém, os meus pés não me obedecem e logo estou dando alguns passos duros na direção dos dois. E sem pensar duas vezes seguro na mão de Júlia, puxando-a para um beijo completamente inesperado. No ato, ela faz uma leve pressão contra o meu peitoral para afastar-se de mim, porém, não permito e seguro firme na sua cintura, colando-a ainda mais ao meu corpo.Calor. O seu calor invade o meu corpo sem qualquer restrição e parece querer derreter as minhas entranhas.O seu gosto. Droga, ele é exatamente como eu me lembrava.Deus, estou desejando que esse beijo nunca se acabe, mas ele se acaba e ao me afastar dela só um pouco encontro o seu olhar tão assustado quanto surpreso. Eu sei, eu também estou abalado com essa minha atitude completamente sem
JúliaJúlia— Nossa, está tudo muito lindo, Júlia! — Melissa, minha melhor amiga de infância diz, abrindo um sorriso para linda e colorida decoração de um aniversário infantil.Sorrio também.— Você acha que ele vai gostar? — pergunto, sentindo-me ansiosa pela chegada de Alex.E pensar que nem tudo era simples e feliz assim na minha vida. Lembro-me do dia que me apaixonei à primeira vista pelo jovem e lindo Adrian, e pensei que esse seria o começo para uma felicidade plena e sem fim. E eu sei que teria sido exatamente assim se não fosse um maldito acidente que o tirou precocemente de mim. Depois, em meio a dor da sua perda, descobri que Adrian havia deixado um presente valioso para mim. Eu estava arrasada, mas estava grávida também. Perdida em uma linha temporal entre a felicidade de esperar um bebê e a tristeza de perder meu grande amor. Então descobri que pelo meu filho eu teria que sobreviver a essa tempestade. Por um tempo me vi sozinha e desesperada, mas tive que me recompor. Por
Júlia— Táxi! Táxi! — Chamo com um tom elevado na voz, correndo feito uma maluca porque estou em cima do horário como sempre. — Obrigada por esperar! — falo, acomodando-me no banco traseiro do carro e logo que ele entra em movimento fito a fachada do hospital, que deixo para trás com o meu coração partido.Arquitetura sempre foi o meu grande sonho e trabalhar para uma empresa de grande porte, que pode fortalecer o meu nome nesse mercado é uma conquista. No entanto, todos esses sonhos ficaram estagnados no instante que conversei com o cardiologista que me disse que o meu filho tem seus dias contados caso ele não faça um transplante de coração com urgência. Portanto, tenho trabalhado feito uma louca desde então. Horas extras por cima de horas extras para aumentar a minha renda e assim poder juntar um valor exorbitante para salvar a vida do único amor da minha vida. Com tanto trabalho tenho poucas horas de descanso e essas, eu dedico para o meu filho, passando noites e noites no hospital
Júlia— Como foi hoje? — Procuro saber.— Ele está bem cansado e dormiu praticamente o dia todo. — Solto um suspiro de lamento e me aproximo da cama para deixar um beijo calmo nos seus cabelos.— Eu já vou indo. — Melissa avisa, ajeitando a sua bolsa no seu ombro.— Está bem. E, obrigada por ficar com ele de novo!— Você sabe que eu faço com amor, não é? Não precisa me agradecer, querida. A final, é para isso que serve as amigas e além disso, eu sou a madrinha do Alex.Sorrio e após a sua saída, fico um tempo do lado do meu filho.— Mamãe? — Sua voz fraca faz um nó sufocar a minha garganta.— Oi, filhote! — Ponho um pouco de empolgação na minha voz, enquanto o abraço deitado na cama.— Você demorou!— Eu sei. É que a mamãe tinha uma reunião, mas… — Abro um sorriso largo e pego a minha bolsa. — Eu trouxe algo para a sua coleção. — Meu garoto abre um sorriso espontâneo, porém, fraco e ainda, os seus olhos se enchem de expectativas quando tiro uma pequena embalagem, estendendo-a para ele
JúliaEu acredito que um design orgânico para uma estrutura tão sofisticada ficaria legal. Penso, enquanto deslizo o mouse pelo desenho 4D. Hum, um balaústre daria mais dinamismo e elegância para as varandas também. Determino, arrastando uma linha para fechar melhor o desenho.… Soube de um doador compatível que está a caminho desse hospital. Meu trabalho é interrompido por um pensamento e eu respiro fundo.… É uma cirurgia muito cara e o plano de saúde do Alex não cobre.Cinquenta mil. Onde vou arrumar tanto dinheiro?— Júlia, você já terminou os croquis que te pedi?— Ah… o que? — Desperto atordoada.— O que há de errado com você? — Bia pergunta, me analisando com mais atenção.— Não é nada. — Meio a cabeça.— Eu preciso dos croquis, Júlia.— Ah claro. Eles já estão prontos. — Levanto-me e vou até a outra mesa para pegar o que me pediu.— Você está bem calada hoje. Tem certeza de que está tudo bem?— Eu tenho. Obrigada por perguntar! — Ela pega o que precisa e vai para a sua mesa.
Júlia— Como foi o seu dia, filho? — pergunto quando ficamos sozinhos no seu quarto. Porque sim. Ao passar por aquela porta deixo toda a minha bagagem lá fora. Todas as raivas, frustrações, estresses e cansaços do meu trabalho. Tudo fica bem distante de nós dois e como sempre me dedico inteirinha apenas para ele.Vê-lo abrir um sorriso infantil me alegra um pouco. Mel tinha razão. Ele parece bem melhor, mesmo com as suas condições.— Foi divertido.— Divertido?— Tio Paco me fez companhia e nós brincamos com os carrinhos por algumas horas.— Que legal!— E a tia Mel trouxe alguns bolinhos de queijo escondida dos médicos.— Os seus preferidos, imagino? — comento. — Bom, você foi muito paparicado hoje, Senhor Ricci e foi muito travesso também.Preciso fazer um lembrete de conversar com esses dois. Como puderam ser tão imprudentes e deixá-lo descarregar tanta energia durante o dia inteiro?— Agora você precisa dormir um pouco, filho. — Beijo as suas bochechas.— Não, mamãe. — Alex protes