Álvaro
… Oh, você tem quatro olhos e tem dois narizes também? E duas bocas. O som da rizada dela preenche os meus ouvidos quando paro no sinal vermelho e me pego sorrindo.
Respiro fundo.
O que você está fazendo comigo, menina? Esse questionamento preenche a minha mente.
… Ah meu Deus, mas que Ursinho malvado!
Logo os sons dos seus gemidos arrastados me aquecem, me embriagam e me eixam zonzo.
… Me desculpe! Me desculpe, eu… é que… coincidentemente a minha mãe insinuou que você e eu … que nós…
Coincidência? Você deve mesmo me achar um idiota, Melissa Jones! Aperto o volante com força e piso no acelerador quando o sinal finalmente se abre.
— Bom dia, Senhor Abravanel! — Molly fala, abrindo um sorriso doce de bochechas coradas, que ignoro prontamente
Melissa— Imbecil! Idiota! Mal-educado! Grosso! Estúpido! Escroto!Uma sequência de xingamentos sai da minha boca, enquanto macho com rigidez pelo corredor, até entrar no salão do restaurante, porém, paro abruptamente bem no espaldar largo. Respiro fundo e pego a minha bolsa, tiro uma carteira de dentro dela e a abro para olhar-me no espelho pequeno. Forço um sorriso para a minha imagem.— Não! — Mudo o meu sorriso, tornando-o mais largo. — Esse parece com o do Coringa — resmungo e faço outro sorriso. Esse é curto e amável. — Esse está perfeito. — Volto a caminhar direto para a minha mesa onde deixei o cliente a minha espera. — Peço mil desculpas pela demora, Senhor Picadily! — digo assim que me acomodo na cadeira.— Mas, o que aconteceu com a sua roupa? — Ele questiona quando os seus olhos se abaixam para o meu decote branco que uma mancha vermelha enorme.— Ah isso, não é nada demais. — Abro outro sorriso amarelo. — Foi um troglodita que
Álvaro… Só uma coisa, Abravanel. A minha mãe tem razão.… Ah é?… Eu sou mesmo uma garota muito ingênua. Como pude ter me enganado tanto com você? Por que por um mísero instante pensei que você fosse diferente dos outros caras, mas no fundo, você é exatamente igual a todos eles e sinceramente? Agora entendo por que ela preferiu o seu melhor amigo.… Até nunca mais, Abravanel!Esmurro fortemente o volante quando as suas palavras se repetem dentro da minha cabeça, lembrando-me de como fui um grande idiota. Ela tem razão em estar com raiva de mim, mas como eu podia saber se ela estava ou não envolvida com a sua mãe naquela maldita trama? Quer dizer, eu sequer faço parte do ciclo social de Cora Jones e mesmo assim ela se achou no direito de empurrar a sua filha para mim. Que
ÁlvaroMinutos depois…— Boa tarde, eu procuro por Melissa Jones. Acredito que ela deu entrada nesse hospital — falo assim que chego à recepção e impaciente, aguardo a moça mexer no seu computador.— Ah, claro. No momento a Senhorita Jones está em atendimento no segundo andar…Não a espero terminar de falar e vou imediatamente para um elevador. Assim que as portas se abrem encontro David confrontando com violência um rapaz que luta para escapar do seu agarre. Que merda, David! Rosno mentalmente e vou para cima dos dois, o afastando imediatamente. Meu amigo faz uma força brutal para se livrar de mim, porém, faço ainda mais força para mantê-lo preso a uma parede.— Que droga, David! — grito com ele. — Se acalme, homem!— Aquele merda estava…— Isso aqui é u
JúliaJúlia— Nossa, está tudo muito lindo, Júlia! — Melissa, minha melhor amiga de infância diz, abrindo um sorriso para linda e colorida decoração de um aniversário infantil.Sorrio também.— Você acha que ele vai gostar? — pergunto, sentindo-me ansiosa pela chegada de Alex.E pensar que nem tudo era simples e feliz assim na minha vida. Lembro-me do dia que me apaixonei à primeira vista pelo jovem e lindo Adrian, e pensei que esse seria o começo para uma felicidade plena e sem fim. E eu sei que teria sido exatamente assim se não fosse um maldito acidente que o tirou precocemente de mim. Depois, em meio a dor da sua perda, descobri que Adrian havia deixado um presente valioso para mim. Eu estava arrasada, mas estava grávida também. Perdida em uma linha temporal entre a felicidade de esperar um bebê e a tristeza de perder meu grande amor. Então descobri que pelo meu filho eu teria que sobreviver a essa tempestade. Por um tempo me vi sozinha e desesperada, mas tive que me recompor. Por
Júlia— Táxi! Táxi! — Chamo com um tom elevado na voz, correndo feito uma maluca porque estou em cima do horário como sempre. — Obrigada por esperar! — falo, acomodando-me no banco traseiro do carro e logo que ele entra em movimento fito a fachada do hospital, que deixo para trás com o meu coração partido.Arquitetura sempre foi o meu grande sonho e trabalhar para uma empresa de grande porte, que pode fortalecer o meu nome nesse mercado é uma conquista. No entanto, todos esses sonhos ficaram estagnados no instante que conversei com o cardiologista que me disse que o meu filho tem seus dias contados caso ele não faça um transplante de coração com urgência. Portanto, tenho trabalhado feito uma louca desde então. Horas extras por cima de horas extras para aumentar a minha renda e assim poder juntar um valor exorbitante para salvar a vida do único amor da minha vida. Com tanto trabalho tenho poucas horas de descanso e essas, eu dedico para o meu filho, passando noites e noites no hospital
Júlia— Como foi hoje? — Procuro saber.— Ele está bem cansado e dormiu praticamente o dia todo. — Solto um suspiro de lamento e me aproximo da cama para deixar um beijo calmo nos seus cabelos.— Eu já vou indo. — Melissa avisa, ajeitando a sua bolsa no seu ombro.— Está bem. E, obrigada por ficar com ele de novo!— Você sabe que eu faço com amor, não é? Não precisa me agradecer, querida. A final, é para isso que serve as amigas e além disso, eu sou a madrinha do Alex.Sorrio e após a sua saída, fico um tempo do lado do meu filho.— Mamãe? — Sua voz fraca faz um nó sufocar a minha garganta.— Oi, filhote! — Ponho um pouco de empolgação na minha voz, enquanto o abraço deitado na cama.— Você demorou!— Eu sei. É que a mamãe tinha uma reunião, mas… — Abro um sorriso largo e pego a minha bolsa. — Eu trouxe algo para a sua coleção. — Meu garoto abre um sorriso espontâneo, porém, fraco e ainda, os seus olhos se enchem de expectativas quando tiro uma pequena embalagem, estendendo-a para ele
JúliaEu acredito que um design orgânico para uma estrutura tão sofisticada ficaria legal. Penso, enquanto deslizo o mouse pelo desenho 4D. Hum, um balaústre daria mais dinamismo e elegância para as varandas também. Determino, arrastando uma linha para fechar melhor o desenho.… Soube de um doador compatível que está a caminho desse hospital. Meu trabalho é interrompido por um pensamento e eu respiro fundo.… É uma cirurgia muito cara e o plano de saúde do Alex não cobre.Cinquenta mil. Onde vou arrumar tanto dinheiro?— Júlia, você já terminou os croquis que te pedi?— Ah… o que? — Desperto atordoada.— O que há de errado com você? — Bia pergunta, me analisando com mais atenção.— Não é nada. — Meio a cabeça.— Eu preciso dos croquis, Júlia.— Ah claro. Eles já estão prontos. — Levanto-me e vou até a outra mesa para pegar o que me pediu.— Você está bem calada hoje. Tem certeza de que está tudo bem?— Eu tenho. Obrigada por perguntar! — Ela pega o que precisa e vai para a sua mesa.
Júlia— Como foi o seu dia, filho? — pergunto quando ficamos sozinhos no seu quarto. Porque sim. Ao passar por aquela porta deixo toda a minha bagagem lá fora. Todas as raivas, frustrações, estresses e cansaços do meu trabalho. Tudo fica bem distante de nós dois e como sempre me dedico inteirinha apenas para ele.Vê-lo abrir um sorriso infantil me alegra um pouco. Mel tinha razão. Ele parece bem melhor, mesmo com as suas condições.— Foi divertido.— Divertido?— Tio Paco me fez companhia e nós brincamos com os carrinhos por algumas horas.— Que legal!— E a tia Mel trouxe alguns bolinhos de queijo escondida dos médicos.— Os seus preferidos, imagino? — comento. — Bom, você foi muito paparicado hoje, Senhor Ricci e foi muito travesso também.Preciso fazer um lembrete de conversar com esses dois. Como puderam ser tão imprudentes e deixá-lo descarregar tanta energia durante o dia inteiro?— Agora você precisa dormir um pouco, filho. — Beijo as suas bochechas.— Não, mamãe. — Alex protes