Júlia
— Como foi hoje? — Procuro saber.
— Ele está bem cansado e dormiu praticamente o dia todo. — Solto um suspiro de lamento e me aproximo da cama para deixar um beijo calmo nos seus cabelos.
— Eu já vou indo. — Melissa avisa, ajeitando a sua bolsa no seu ombro.
— Está bem. E, obrigada por ficar com ele de novo!
— Você sabe que eu faço com amor, não é? Não precisa me agradecer, querida. A final, é para isso que serve as amigas e além disso, eu sou a madrinha do Alex.
Sorrio e após a sua saída, fico um tempo do lado do meu filho.
— Mamãe? — Sua voz fraca faz um nó sufocar a minha garganta.
— Oi, filhote! — Ponho um pouco de empolgação na minha voz, enquanto o abraço deitado na cama.
— Você demorou!
— Eu sei. É que a mamãe tinha uma reunião, mas… — Abro um sorriso largo e pego a minha bolsa. — Eu trouxe algo para a sua coleção. — Meu garoto abre um sorriso espontâneo, porém, fraco e ainda, os seus olhos se enchem de expectativas quando tiro uma pequena embalagem, estendendo-a para ele em seguida.
— Uau, esse é bem antigo! — Ela ralha, admirando a miniatura de um carro esporte na palma da sua mão. — Como conseguiu?
— E isso importa? — retruco, fazendo cócegas nelas. — Você gostou?
— Eu adorei! — Alex ainda tem os olhos fixos em cima do brinquedo. — Pode colocá-lo junto com os outros? — Ele pede me devolvendo o carrinho e eu o ponho em cima de uma mesa no canto de parede, onde contém meia dúzia de carrinhos. Contudo, quando retorno para perto, Alex já está dormindo outra vez.
Eu daria a minha vida para salvar a sua. Digo mentalmente, sentindo um nó sufocar a minha garganta outra vez. Entretanto, decido deixá-lo descansar e me deito um tempo do seu lado. Horas mais tarde, como um sanduíche que trouxe na minha bolsa e me dedico a estudar o arquivo do novo projeto da Bennett Designer. Pesquiso as melhores opções para uma área de lazer agradável e confortável, mas que não faça um contraste com a proposta exigida pelo cliente. Segundos depois, começo a desenhar uma planta com seus números, formatos e cores. E sem perceber, sou vencida pelo cansaço.
***
— Ei! — Escuto o som de uma voz baixa do meu lado e com um gemido, abro uma pequena brecha de olhos, encontrando o doutor Aristides em pé bem na minha frente. Imediatamente me recomponho e percebo que adormeci em cima de um amontoado de papéis e de lápis.
— Ah, Doutor, bom dia! — Fico de pé imediatamente.
— Bom dia! Você dormiu aqui? — Ele parece surpreso.
— Oh… é que… eu tinha um trabalho para fazer e… — Bocejo. — Aproveitei a noite para adiantá-lo.
O médico força um sorriso.
— Podemos conversar um pouco, Júlia?
— Ah… é claro.
O tom sério que ele usou para essa sua indagação me deixa um tanto receosa e isso me faz olhar para o meu filho que ainda dorme profundamente. Em seguida, saímos do quarto e vamos direto para o seu consultório. O jovem médico se senta atrás da sua mesa e educadamente aponta uma cadeira para mim.
— Eu acabei de receber os últimos resultados dos exames do Alex. — Aristides anuncia, deixando-me apreensiva.
— E? — Ele pressiona os lábios antes de me responder.
— Temo que o Alex não tenha muito tempo, Júlia. — O médico lamenta e o meu coração se aperta. — O seu filho precisa de um transplante com urgência.
A aflição me absorve.
— Eu soube de um doador compatível que está a caminho desse hospital. — Interessada, me ajeito em cima da cadeira e o olho dentro dos seus olhos. — É uma cirurgia muito cara, Júlia e o plano de saúde do Alex não cobre os gastos de uma cirurgia tão delicada que levará horas.
Essas últimas palavras invadem os meus ouvidos como um eco e eu engulo o meu choro.
— Quanto custa essa cirurgia, doutor?
— Cerca de cinquenta mil. Isso garantirá todos os materiais necessários, uma equipe médica preparada e a estabilidade do pós-cirúrgico.
Arfo em agonia.
— Cinquenta… mil?! — engasgo. — Eu não tenho todo esse dinheiro! — Sinto o desespero consumir a minha alma.
— Quem sabe se você fizer um empréstimo com o banco, ou…
— Um… empréstimo? — ralho sem esperança. — Claro, eu… posso tentar fazer isso.
Após essa conversa difícil retorno para o quarto e dedico algumas horas do meu tempo para o meu filho. Café da manhã, conversas engraçadas e divertidas, e um tempinho para contar uma história para ele. Até que Melissa chegou e ainda no hospital, tomo um banho rápido e ponho as roupas limpas que a minha amiga trouxe.
— Eu tenho que ir — sibilo baixo para não o acordar.
— Está bem. Vai em paz, amiga. E se concentre no seu trabalho, eu ficarei bem aqui com ele o tempo todo.
Cinquenta mil. Céus, onde vou tirar esse dinheiro? Penso na empresa. Com certeza eles não fariam esse empréstimo para alguém que só está começando. Bufo. Mas eu preciso tentar. Eu tenho que tentar qualquer coisa. Só não posso desistir da minha única família.
JúliaEu acredito que um design orgânico para uma estrutura tão sofisticada ficaria legal. Penso, enquanto deslizo o mouse pelo desenho 4D. Hum, um balaústre daria mais dinamismo e elegância para as varandas também. Determino, arrastando uma linha para fechar melhor o desenho.… Soube de um doador compatível que está a caminho desse hospital. Meu trabalho é interrompido por um pensamento e eu respiro fundo.… É uma cirurgia muito cara e o plano de saúde do Alex não cobre.Cinquenta mil. Onde vou arrumar tanto dinheiro?— Júlia, você já terminou os croquis que te pedi?— Ah… o que? — Desperto atordoada.— O que há de errado com você? — Bia pergunta, me analisando com mais atenção.— Não é nada. — Meio a cabeça.— Eu preciso dos croquis, Júlia.— Ah claro. Eles já estão prontos. — Levanto-me e vou até a outra mesa para pegar o que me pediu.— Você está bem calada hoje. Tem certeza de que está tudo bem?— Eu tenho. Obrigada por perguntar! — Ela pega o que precisa e vai para a sua mesa.
Júlia— Como foi o seu dia, filho? — pergunto quando ficamos sozinhos no seu quarto. Porque sim. Ao passar por aquela porta deixo toda a minha bagagem lá fora. Todas as raivas, frustrações, estresses e cansaços do meu trabalho. Tudo fica bem distante de nós dois e como sempre me dedico inteirinha apenas para ele.Vê-lo abrir um sorriso infantil me alegra um pouco. Mel tinha razão. Ele parece bem melhor, mesmo com as suas condições.— Foi divertido.— Divertido?— Tio Paco me fez companhia e nós brincamos com os carrinhos por algumas horas.— Que legal!— E a tia Mel trouxe alguns bolinhos de queijo escondida dos médicos.— Os seus preferidos, imagino? — comento. — Bom, você foi muito paparicado hoje, Senhor Ricci e foi muito travesso também.Preciso fazer um lembrete de conversar com esses dois. Como puderam ser tão imprudentes e deixá-lo descarregar tanta energia durante o dia inteiro?— Agora você precisa dormir um pouco, filho. — Beijo as suas bochechas.— Não, mamãe. — Alex protes
JúliaNo dia seguinte…— Essa reunião foi ridícula, Álvaro! — Escuto a voz brava e imponente do Senhor Bennett invadir o seu escritório nas primeiras horas do dia, quando poucos funcionários se arriscam a vir trabalhar e automaticamente fico de pé. Nossos olhos se encontram e eu prendo a respiração. — Eu te ligo depois. — Ele avisa, encerrando a ligação. E à medida que coloca o aparelho dentro do bolso lateral da sua calça social, ele caminha lento, porém, firme na minha direção. — Senhorita Ricci?— Eu aceito! — digo repentina. Ele une as sobrancelhas. — A sua proposta, Senhor Bennett. Eu aceito!— Ah, que ótimo!Bennett aponta uma cadeira atrás de mim e dá alguns passos para atrás da sua mesa, sentando-se em seguida. Os seus olhos vorazes me analisam. Então, ele abre uma gaveta da mesa e puxa um papel de dentro dela.— Eu fiz um contrato, Senhorita Ricci — Bennett fala com secura na voz, arrastando o papel na minha direção. Entretanto, não desvio os meus olhos dos seus e me forço a
Bennett— Eu estive pensando sobre o projeto da Bolt Vitton — falo, mantendo os meus olhos fixos na planta do cliente mais importante da empresa, enquanto analiso a superioridade e complexidade do projeto. — Não dá para colocar qualquer um na frente desse…— Uau, quem é ela? — Sou brutalmente interrompido pelo meu sócio e atordoado, olho para o homem que tem um olhar deslumbrado fixo além das paredes de vidro do meu escritório.— O que disse? — indago ainda confuso.— Meu Deus, David ela se parece com uma deusa enquanto caminha pelo corredor. — Álvaro Abravanel comenta, soltando um suspiro um tanto sonhador. Uno as sobrancelhas e olho na mesma direção que ele, encontrando Júlia Ricci, a nossa mais nova contratada no corredor, enquanto ela fala algo para a sua coordenadora.E sim, ele tem razão. Ela é uma mulher extremamente linda e perfeita em tudo que faz: digo referindo-me ao seu andar elegante, ao seu sorriso de dentes perfeitos, ao seu corpo e até mesmo o seu jeito de falar com as
BennettVê o seu vestido deslizar pelo seu corpo e revelar o conjunto de lingerie negra me acende por dentro. Logo o meu olhar voraz se rasteja pelas suas curvas preciosas, subindo pelos seios fartos e firmes dentro de um sutiã meia taça e suspiro, descendo um pouco mais para a calcinha rendada que esconde pouco do seu tesouro. Minhas mãos reclamam a sua maciez e o seu calor. Portanto, aproximo-me devagar, a puxo para mais perto de mim e antes de tomar a sua boca em um profundo beijo de língua, o meu olhar penetra no seu.— O seu perfume! — rosno, explorando a sua pele agora com a minha boca e língua. Aspirando o seu cheiro como um selvagem e quando ela ofega nos meus braços, segura nos meus ombros. E imagino que logo ela estará entregue, e que será minha… pelo menos por uma noite inteira.O preço do prazer.Cada uma delas sempre tem um preço a
JúliaAo abrir a porta da minha casa e olhar para as quatro paredes da minha sala, senti-me indigna de pisar no piso lustroso. No entanto, fecho porta atrás de mim e ela faz o som do mais pesado ferro, permitindo que as lágrimas inundam os meus olhos e que escorram imediatamente pelo meu rosto. Desesperada, largo as bolsas de qualquer jeito no chão e começo a arrancar o vestido do meu corpo, assim como a calcinha e o sutiã. E como se estivesse pegando fogo vou apressada para dentro do banheiro. Ligo o chuveiro e sinto imediatamente a água fria molhar os meus cabelos, e consequentemente ela escorre pelo meu corpo febril.O som da sua respiração ofegante preenche os meus ouvidos no mesmo instante, misturando-se ao som da água que cai no chão e o meu choro antes silencioso ganha um volume considerável, além de gritos e soluços. Sem conseguir impedir, sinto o calor da sua boca
Júlia— Amanhã, nas primeiras horas do dia.Meu sorriso se amplia e o meu coração bate mais forte.— Júlia, o Alex já está acordado, embora ele ainda esteja na UTI. E gostaria que você o visse e que conversasse com ele antes de começarmos.— É claro.— Preciso que ele se sinta seguro e tranquilo. E ninguém melhor do que a mãe para fazer essa parte.— Farei isso com o maior prazer, Doutora Lina.— Me chame apenas de Lina, Júlia. Agora vá ver o seu filho, querida. Nos vemos amanhã de manhã.***— Mamãe! — Alex fala assim que me vir entrar no quarto e ele me estende os seus braços, que eu não hesito em ir para eles. Contudo, afago levemente o seu tronco, fazendo um carinho ali, enquanto escuto as fracas batidas do seu coração.
JúliaOlhá-lo através de uma janela de vidro transparente é algo realmente frustrante. Eu queria tanto poder estar lá bem do seu lado. Segurar na sua mão e dizer que tudo vai ficar bem. No entanto, não posso me aproximar dele ainda. Contudo, eu não desisto dele um só segundo e fico horas em pé apenas o observando dormir tranquilamente. Sorrio esperançosa quando percebo que a sua respiração já está normal. Alex está tranquilo e segundo os médicos, ele só precisa ficar alguns dias no tratamento intensivo para não haver qualquer rejeição do seu corpo ao novo coração.Falta pouco, filho. Sibilo mentalmente. Entretanto, desperto quando sinto um toque firme no meu ombro e ao virar-me, encontro Melissa em pé do meu lado.— Por que ainda está aqui?— Eu… me perdi