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Júlia

Eu acredito que um design orgânico para uma estrutura tão sofisticada ficaria legal. Penso, enquanto deslizo o mouse pelo desenho 4D. Hum, um balaústre daria mais dinamismo e elegância para as varandas também. Determino, arrastando uma linha para fechar melhor o desenho.

… Soube de um doador compatível que está a caminho desse hospital.

Meu trabalho é interrompido por um pensamento e eu respiro fundo.

… É uma cirurgia muito cara e o plano de saúde do Alex não cobre.

Cinquenta mil. Onde vou arrumar tanto dinheiro?

— Júlia, você já terminou os croquis que te pedi?

— Ah… o que? — Desperto atordoada.

— O que há de errado com você? — Bia pergunta, me analisando com mais atenção.

— Não é nada. — Meio a cabeça.

— Eu preciso dos croquis, Júlia.

— Ah claro. Eles já estão prontos. — Levanto-me e vou até a outra mesa para pegar o que me pediu.

— Você está bem calada hoje. Tem certeza de que está tudo bem?

— Eu tenho. Obrigada por perguntar! — Ela pega o que precisa e vai para a sua mesa. No mesmo instante me preparo para voltar ao trabalho quando o vejo entrar no corredor, seguido do seu sócio e do seu assistente.

David Bennett, o dono da Bennett Designer S/A. Será que eu devo falar com ele? É claro que não. Você leu o contrato antes de entrar para essa empresa. Ele dizia claramente que novatos não podem pedir adiantamentos, tão pouco empréstimos. Ainda mais um tão alto assim.

Meu Deus, estou tão aflita! Rogo e me forço a voltar para a minha mesa. Contudo, não consigo focar no projeto.

… Vocês têm três dias. Eu preciso dessa bonificação. Preciso me concentrar, ou não conseguirei entrar para esse projeto tão importante. No horário do almoço aproveito para fazer algumas ligações. Parentes distantes e poucos amigos. É tudo que tenho para recorrer nesse instante, mas eles não podem me ajudar muito. E o máximo que consegui mal dá para um mês de medicamentos.

— Mel? — falo assim que ela me atende. — Ele está acordado?

— Oi, amiga. Advinha? Está acordado e bem animado também.

Sorrio.

— Me deixe falar com ele?

— Está bem. — Mel cantarola e no segundo seguinte escuto o som da voz infantil que faz o meu mundo inteiro florir.

— Mãe?

Segurar as lágrimas é a parte mais difícil. Ele precisa sentir a minha força para não fraquejar. Então, forço a minha voz sair forte e meiga na mesma proporção, enquanto conversamos sobre coisas engraçadas. Ouvir o som do seu riso é como um bálsamo para a minha alma que vive no mais completo pânico. É um acalento e penso que não posso viver sem ele. Eu preciso quebrar o meu orgulho e falar com o meu chefe. E mesmo que ele me diga que não, eu preciso encontrar um jeito de convencê-lo a me emprestar esse dinheiro. Estou disposta a virar uma escrava da Bennett Designer se for preciso.

— Eu te amo, mãe!

— Também te amo, filho!

***

Algumas horas depois…

— Mara, o Senhor Bennett ainda está na empresa? — pergunto diretamente para a sua secretária, que me lança um olhar especulativo.

— Sim, ele acabou de sair de uma reunião. Algum problema?

— Será que eu posso falar com ele só… um instante?

— Hum, preciso perguntar para ele, Júlia. Aguarde só um minuto. — Ela pede e eu aguardo ansiosa. — Tudo bem, ele vai te receber.

— Obrigada! — sibilo com um sorriso nervoso e caminho direto para a porta do seu escritório. Dou algumas batidas na madeira e na sequência escuto a sua ordem.

— Entre!

Primeiro sou absorvida pela imponência da sua sala. Móveis de um design moderno, cores neutras e paredes de vidros transparentes, que revelam uma noite escura de céu estrelado, além das luzes da cidade que parecem competir com o singelo brilho dos minúsculos astros. E bem atrás desse quadro está David Bennett, um CEO de feições rígidas e sempre sérias, olhando-me fixamente com seu olhar frio como gelo e indecifrável com as pirâmides do Egito.

— Senhorita Ricci, sente-se por favor! — Ele pede com seu timbre grosso e gélido. — Minha secretária me disse que você deseja falar comigo. É algo relacionado ao projeto?

— Ah, não. Na verdade, é algo… pessoal. — O homem me avalia por alguns segundos.

— Pessoal? — Meneio a cabeça em afirmação.

— Antes de falar, eu gostaria que soubesse que tentei de tudo, mas… eu não… — Limpo a garganta buscando coragem. — Senhor Bennett, eu preciso de uma certa quantia em dinheiro para resolver uma emergência familiar…

— Senhorita Ricci, me pergunto se você leu o seu contrato antes de assiná-lo? — Ele me interrompe calmo, porém, brusco.

— Sim, eu li. Mas como eu disse, é uma emergência.

— E de quanto seria essa sua emergência?

Engulo em seco.

— Cinquenta mil, Senhor. — Bennett arqueia as sobrancelhas.

— Me desculpe, mas a empresa não pode emprestar um valor tão alto para alguém que mal…

— Senhor Bennett, eu faço qualquer coisa! — Tento não parecer desesperada. — O Senhor pode retirar diretamente do meu salário se quiser. Ou coloque mais trabalho para eu fazer. Eu faço horas extras para pagar essa quantia se for preciso. Eu… realmente não tenho a quem recorrer — insisto, o interrompendo. E penso que ele não gostou dessa minha intromissão, pois o homem pressionou rigidamente o seu maxilar.

— Eu sinto muito, Senhorita Ricci, mas regras são regras!

Respiro fundo, sem saber o que fazer. Contudo, decido não insistir mais.

— É claro. — Lamento, me levantando da cadeira, porém, o olho nos olhos. — Me desculpe por importuná-lo, Senhor Bennett! — Dou-lhe as costas para sair do seu escritório.

— Senhorita Ricci? — O meu chefe me chama e esperançosa, volto a fitá-lo. — Eu disse que a empresa não poderia fazer esse empréstimo. Mas, eu posso ajudá-la com essa sua… emergência.

Esperançosa, me aproximo da sua mesa outra vez.

— Sente-se, Senhorita Ricci! — Bennett volta a apontar a cadeira. O seu olhar frio sempre fixado no meu. — Eu tenho uma proposta para lhe fazer.

Interessada, me acomodo na cadeira e o espero continuar.

— Eu dou o valor de cinquenta mil para você da maneira como você desejar. Em dinheiro, ou em cheque, não importa. Mas em troca, eu quero que passe uma noite comigo. — Resfolego, sentindo a minha garganta tampar com um nó que se forma no mesmo instante.

Mas o que ele está dizendo?

— Me desculpe, Senhor Bennett, mas acho que eu não entendi direito! — Sinto a minha voz tremular um pouco.

— Bom, eu acho que você entendeu direitinho, Senhorita Ricci. Mas não tenho problema algum em repetir. Eu quero você por uma noite na minha cama e em troca você terá o que tanto almeja.

Sinto um fogo aquecer demasiado as plantas dos meus pés e automaticamente ele sobe pelas minhas pernas, fazendo o meu sangue ferver por todas as partes do meu corpo. Então furiosa, me ponho de pé e espalmo as minhas mãos em cima da sua mesa, olhando firmemente nos olhos.

— Como você ousa?! — Não seguro uma reprimenda irritada. — Quem você pensa que eu sou?!

— Uma mulher linda e sexy. — Bunnett parece não se abalar com a minha reação brusca. — E eu não estou fazendo nada demais. Você precisa desse dinheiro. Eu tenho o dinheiro que você precisa, mas nada nessa vida vem de graça, Senhorita Ricci. — Ele me encara duramente. — Agora, que tal você ir para a sua casa agora e pensar com calma na minha proposta? Não tenha pressa, Senhorita Ricci. — Frio como uma pedra de gelo, ele aponta a direção da saída.

Trêmula e bufando de raiva, me afasto da sua mesa sem rebater as suas palavras ferinas. Contudo, antes de sair da sua sala ainda o encaro rígida por alguns segundos.

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