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Júlia

— Táxi! Táxi! — Chamo com um tom elevado na voz, correndo feito uma maluca porque estou em cima do horário como sempre. — Obrigada por esperar! — falo, acomodando-me no banco traseiro do carro e logo que ele entra em movimento fito a fachada do hospital, que deixo para trás com o meu coração partido.

Arquitetura sempre foi o meu grande sonho e trabalhar para uma empresa de grande porte, que pode fortalecer o meu nome nesse mercado é uma conquista. No entanto, todos esses sonhos ficaram estagnados no instante que conversei com o cardiologista que me disse que o meu filho tem seus dias contados caso ele não faça um transplante de coração com urgência. Portanto, tenho trabalhado feito uma louca desde então. Horas extras por cima de horas extras para aumentar a minha renda e assim poder juntar um valor exorbitante para salvar a vida do único amor da minha vida. Com tanto trabalho tenho poucas horas de descanso e essas, eu dedico para o meu filho, passando noites e noites no hospital com ele.

Mas não essa noite. Penso desolada, quando me lembro do seu olhar triste cobrando um pouco mais de mim.

— Como ele está? — pergunto para Mel pelo telefone, enquanto aguardo a última reunião do meu dia.

— Ele está dormindo agora. Você vai demorar?

Bufo alto.

— Meu chefe quer fazer uma reunião de última hora. Acho que é sobre o novo projeto que eles querem fazer. Parece que vão escolher alguns arquitetos em especial para trabalhar diretamente com ele.

— Nossa, amiga, você já trabalha tanto! Acredita que terá tempo para mais um projeto?

Bufo cansada.

— Não tenho certeza se ele me escolherá, Mel. Eu sou novata e estou sempre chegando em cima da hora. Você sabe como as coisas funcionam. Mas não vou mentir, eu realmente preciso de algo mais para fazer. O tempo está correndo sem piedade e o Alex… — lamento com um suspiro cansado.

— Pensamento positivo, Júlia. — Melissa como sempre me encoraja. — Você é uma das melhores arquitetas que eu conheço e tenho certeza de que você será escolhida para esse projeto.

Sorrio para essa sua confiança.

— Diga isso para o meu chefe arrogante e egocêntrico — resmungo, seguido de uma respiração profunda. Contudo, um pigarro atrás de mim me faz olhar para trás e empalideço ao ver que se trata de um dos sócios da Bennett Designer S/A.

— Ah, eu… preciso desligar — aviso para a minha amiga com voz estremecida. Entretanto, não a espero responder e encerro imediatamente a ligação. — Senhor Abravanel? — sibilo meio sem jeito.

— Senhorita Ricci! — Ele me cumprimenta e envergonhada, abaixo os meus olhos. — A reunião já vai começar. — Ele avisa com um tom baixo, porém, firme.

Aceno um sim sutil.

— É claro. Eu já… estou indo. — Agora ele acena sutilmente com a cabeça, se afastando de mim e só então solto o ar que prendi nos meus pulmões.

— Droga! — resmungo ainda mais desanimada depois dessa e forço-me a ir para dentro da sala de reuniões.

— Bom, já estamos todos reunidos? — Senhor Bennett inquire, encarando-me com certa dureza, enquanto caminho para uma das cadeiras. — Será que já podemos iniciar essa reunião? — Ele resmunga mal-humorado, se ajeitando em cima da sua cadeira, enquanto me acomodo na minha. — Como todos já sabem temos um grande projeto em mãos e gostaríamos de escolher entre os novatos da empresa o melhor para essa nova obra. E para isso vocês receberão um arquivo com algumas ideias sobre esse designer. O que eu quero é que vocês idealizem e mentalizem cada detalhe desse projeto. Tragam-me ideias inovadoras, algo que me convença que a sua ideia é o melhor a ser feito. Os três melhores designers receberão essa tarefa e uma bonificação extra por esse trabalho. Alguma pergunta? — O olhar firme de David Bennett percorre a mesa parando em cada funcionário em busca de interrogações.

Eu tenho uma. Penso, mas não ouso sibilar. Como farei isso presa dentro de um quarto de hospital, enquanto acompanho o meu filho que está lutando pela própria vida? Não importa, Júlia. Haverá um bônus de gratificação por esse trabalho e você precisa de todo dinheiro que puder juntar para salvar a vida do seu filho. Suspiro baixo, folheando as páginas do projeto e descubro que Bennett não exagerou quando mencionou algo grande. Um hotel de luxo com toda sorte de lazer, comércios e dormitórios em um lugar privilegiado perto de praias que são praticamente pedaços do paraíso aqui na terra.

— Vocês têm três dias! — Ele anuncia com um tom firme demais, me despertando no mesmo instante.

TRÊS DIAS?!

Meu cérebro grita.

Contudo, o chefão se levanta da sua cadeira e sai, deixando a equipe dentro da sala aturdidos e perdidos entre murmúrios interrogativos e reclamações. Olho para as horas no meu relógio de pulso. Não tenho tempo para isso agora. Penso ansiosa, recolhendo o material que acabei de receber e jogo tudo dentro da minha bolsa, saindo apressada da empresa direto para o hospital.

***

Eu jamais pensei que sentiria esse medo outra vez. Penso assim que adentro o quarto de hospital e encontro o Alex dormindo tranquilo em uma cama estreita. Perder o seu pai praticamente me quebrou por dentro e eu tive colar os meus cacos sozinha para suportar a sua perda e assim, receber a vida que ele deixou para mim. Mas agora, essa vida está por um fio de me deixar também.

É agoniante não poder fazer nada. Aterroriza-me o fato de estar de mãos atadas e me machuca ter que sorrir quando a minha vontade é de chorar.

— Ah, você chegou! — Mel sibila assim que percebe a minha presença dentro do quarto de hospital. E como sempre ela me abraça calorosamente. Contudo, não desvio os meus olhos de cima do meu garotinho.

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