Capítulo 3

Louise

Meu despertador natural me acordou junto com o sol nascente, sua luz forte adentrou o quarto mais fraca graças às cortinas pesadas do quarto, mas seriam o suficiente para que eu visse quem foi o homem que me deu tanto prazer e conseguiu controlar o fogo que eu estava. Me virei para ele, me deparando com AQUELE rosto, a barba curta, o maxilar definido, os lábios levemente finos, o nariz longo e um pouco torto, que sempre imaginei ter sido quebrado. Mathieu Bresson. Eu dormi com meu maior inimigo e o pior foi que gostei, gostei tanto que seria difícil ignorar o que aconteceu, mas era o que eu faria. Meu orgulho jamais me permitiria contar o que houve ali.

Saí sorrateria da cama, vesti minha roupa às pressas e tentando fazer o mínimo possível de barulho e saí do quarto, voltando para o meu que, coincidentemente, era de frente para o dele. Respirei fundo, minha mente insistia em relembrar os momentos da noite passada e eu senti que estava molhada. Mas era o Mathieu! Justo ele!

Tomei um banho e vesti uma legging e top para correr, precisava e esfriar a cabeça e o corpo para pensar no que fazer caso ele soubesse que era eu. Se ele não soubesse, eu não contaria, jamais admitiria que transei com Mathieu Bresson.

Mas não foi exatamente culpa minha, minha melhor amiga me colocou naquela situação. Eu tinha certeza que foi ela. Eu nunca fui uma maluca que invade o quarto de um desconhecido para transar, mas isso aconteceu logo após eu tomar uma taça de champanhe entregue por ela, que tinha um sorriso bem suspeito e insistiu que eu tomasse. Se eu não fosse correr, mataria ela e talvez o Mathieu também, ou o sequestraria e o faria de escravo sexual.

Viu só? Eu estava ficando louca!

Fui até a praia para correr e só voltei quando os batimentos cardíacos estavam mais altos que meus pensamentos. Acho que naquele dia quebrei meu recorde de maior distância em menos tempo, porém, assim que cheguei, as lembranças continuavam lá e o tesão também, eu só estava mais cansada e mais furiosa com a Alyssa por me colocar naquela situação.

Para a sorte dela, só a encontrei depois de tomar um banho, hábito que herdei da minha mãe, ela sempre dizia que banho nunca é demais, apesar do costume nos Estados Unidos ser diferente. Ela sorria para mim e a puxei para um canto na enorme cozinha da mansão, perto das panelas e um pouco escondido.

— Pelo visto sua noite foi boa. — falou sorrindo.

— Sim... Porque você colocou alguma coisa naquela bebida! — exclamei, tentando não falar alto e me manter calma.

— Não seja tão ingrata, há quanto tempo você não transava? — perguntou cruzando os braços. A resposta era que fazia muito tempo, desde o Christian, o babaca que me enganou. Fiquei com tanto medo de me envolver novamente, que evitei bares, baladas e conversas por aplicativo por mais de um ano, disposta a não deixar que ninguém mais usasse meu coração como brinquedo.

— Não estou sendo ingrata, a questão é muito maior que isso. — exitei em contar para ela.

— Então o que aconteceu? Foi tão ruim assim? Ele tinha DST? — mas eu teria que contar, agora ela tinha a obrigação de me ajudar a manter essa história em segredo.

— Não! O problema é que foi com Mathieu! — falei baixo, mas demostrando todo meu desgosto. Ela abriu um amplo sorriso e segurou meu braço.

— Isso é ótimo! Vocês vão parar de brigar, você será oficialmente minha cunhada e a Sarah vai ter uma madrasta incrível! — seu sorriso se desfez ao ver minha reação.

— Ele não sabe que era eu e eu não vou contar, você também. Isso nunca aconteceu. — falei sério.

— Só espero que ele não tenha gostado, caso contrário, fará de tudo para descobrir.

— Alyssa! ... Louise. — Mathieu apareceu como um fantasma nos assustando, ele percebeu nossa cara de espanto, mas ignorou completamente. — Você consegue me arrumar uma lista com o nome das suas amigas e primas que estiveram aqui ontem? É urgente.

Alyssa olhou rapidamente para mim e sorriu.

— Para o que Mat? Elas ainda estão aqui, pode encontrar quem procura. — ele pensou um pouco.

— Talvez você possa me ajudar mais do que a lista, sabe qual delas tem uma tatuagem de pássaro um pouco... Íntima?

— Tatuagem?! — soltei sem querer, me arrependendo imediatamente e desejando ser enterrada viva. Não podia acreditar que ele viu a tatuagem.

— Sim... Você a conhece? — perguntou, finalmente olhando para mim.

— Não! Não, é só que... Bem, muitas mulheres tem tatuagens íntimas e nem todas elas contam para as amigas ou primas e...

— A Louise tem razão. — Alyssa me cortou ao ver que eu estava estendendo demais a resposta e iria me complicar. — Não sei de nenhuma delas que tenha uma tatuagem como você descreveu.

Ele abaixou as sobrancelhas um pouco decepcionado.

— Certo... — e saiu dali.

— Se eu fosse te dar um conselho, diria para contar logo, vai evitar problemas. — Alyssa também saiu, me deixando sozinha com as panelas.

Uma das coisas que me fazia odiar o Mathieu, era justamente o fato dele ser um mulherengo pervertido. Logo ele esqueceria e esse segredo iria comigo para o túmulo. Mas eu precisava confessar que gostei dele estar me procurando, era sinal de que gostou tanto quanto eu.

Decidi ir embora após o almoço, não queria ficar e acabar levantando suspeitas sobre mim e Mathieu. Faltando pouco para chegar no posto de gasolina, o carro desligou, com o impulso que já estava, o estacionei no acostamento. A rodovia estava quase deserta àquela hora e o sol tórrido indicava que seria uma longa caminhada até o posto.

Depois de andar o que pareceram horas, um carro diminuiu a velocidade e começou a me acompanhar, ao olhar para o motorista, descobri ser ninguém mais ninguém menos que Mathieu, com um sorriso debochado no rosto. Continuei andando e ele continuou me seguindo.

— Quer uma carona?

— Não, já estou chegando. — respondi sem olhar para ele.

— Faltam 3 Km para próximo posto de gasolina. — parei. Isso significava que eu só andei 500 metros. Olhei para trás e lá estava o vermelhão, imaginei que o tanto que eu havia andado nem o veria mais. Não deveria ter corrido tanto mais cedo.

Suspirei e dei a volta na bela Mercedez azul dele, abri a porta, me sentei no confortável banco de couro e aproveitei o frescor do ar condicionado.

— Onde está a Sarah? — perguntei, tentando não levar a conversa a temas como tatuagens e mulheres.

— Ficou na mansão, mais tarde vou voltar para buscá-la. — falou sem tirar a atenção da estrada, mesmo que estivesse pouco movimentada.

— Entendi.

Minutos se passaram, Mat olhava para mim e desviava o olhar, o silêncio ficava desconfortável, afinal era totalmente anormal.

— Preciso da sua ajuda. — falou finalmente, quebrando o silêncio.

— Com o que? — perguntei, por um breve segundo despreocupada.

— Para achar a mulher que dormiu comigo ontem. — foi direto.

— Não posso te ajudar. — respondi, tentando fugir do assunto.

— Por que?

— Porque não posso! — chegamos no posto e rapidamente desci do carro. Comprei um galão de gasolina e voltei.

— Você sabe quem ela é. — não era uma pergunta. — Se me contar, pode me pedir qualquer coisa, um carro novo... O que você quiser.

— Qual o problema com meu carro? Eu não tive tempo de abastecer, mas ele está em ótimas condições! Não quero nada de você. — respondi, me recordando dos motivos que eu tinha para odiá-lo. Um deles era essa mesma arrogância.

— Louise... Não quero mais brigar com você. Vamos, por favor, parar de agir como crianças e conversar como adultos? — não respondi. — O carro foi apenas uma sugestão.

— Por que quer tanto saber quem era? — olhei para ele, a claridade agora atingia seu rosto, deixando o castanho claro dos seus olhos mais notáveis.

— Porque sim. — continuei olhando para ele, esperando uma boa resposta. — Porque foi diferente. — respondeu quase num sussurro.

— E não passou pela sua cabeça que, se ela não falou o nome, não revelou o rosto e não esperou a manhã, talvez ela não queria que você descubra.

— Mas eu vou descobrir quem era a dona da tatuagem, você contando ou não. — fez uma pausa. — Era você, Louise?

Gelei e precisava de uma resposta rápida. Engoli em seco e desviei o olhar.

— Eu sou modelo. Não é bom ter tatuagem, ainda mais uma no lugar que você disse. — ele não pareceu convencido. — E eu não gosto de você, sempre deixei isso claro, não tenho motivos ou ter desejos para ter feito isso.

Ele travou o maxilar e franziu o cenho.

— Então por que não diz quem era? — perguntou sem olhar para mim.

— Eu não posso! — ele parou o carro de frente para o meu e desci rapidamente.

Coloquei a gasolina, algo que eu já estava ganhando prática e entrei, dando a partida logo em seguida. Só que o carro não ligou. Tentei outra vez e outra e outra, mas nada. Era tudo o que eu precisava!

Encostei a cabeça no volante, não estava na minha melhor fase financeira para gastar com carro. Mathieu se aproximou da minha janela e apoiou o braço na porta. Olhei para ele, o vento bagunçava seu cabelo e o meu, embora eu pensasse que ele iria rir da minha situação, ele me surpreendeu ao dizer:

— Liga para o reboque e eu te levo para casa. Se continuar tentando pode piorar a situação. — balancei a cabeça concordando e peguei meu celular ligando para o reboque em seguida.

Mathieu indicou um mecânico, mas eu sabia que eu não poderia pagar e pedi que o levassem para o meu prédio. Fui com o Mathieu de carro, chegamos antes do reboque e só então me dei conta de que teria que empurrar o carro até a minha vaga na garagem. O homem do reboque me ajudou a colocar o carro no lugar e Mathieu apenas assistia tudo. Depois que terminamos e paguei o homem, ele se aproximou.

— Sabe que vai ter que pagar outro reboque para levar na mecânica, não é? — cruzei os braços, claro que eu sabia, a questão era que eu só poderia pagar no próximo mês e apenas se eu conseguisse a campanha da Diamond ou outra tão boa quanto.

A campanha de verão da Diamond seria a solução para metade dos meus problemas além de impulsionar minha carreira, me colocando em campanhas cada vez maiores. Eu participei do ensaio teste para ser o rosto da campanha, mas minha inexperiência era um empecilho e eu não estava tão confiante.

— Sei, mas eu não posso pagar por isso agora. — suspirei, frustrada com tudo aquilo, o carro era meu meio de transporte para o trabalho. — Não sou igual a você, Mat, não tenho dinheiro para resolver todos os problemas antes mesmo deles aparecerem.

Caminhei a passos largos para fora do estacionamento, deixando Mathieu para trás. Aquele dia estava sendo longo demais e eu só queria descansar e esquecer de tudo que aconteceu.

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