Capítulo 5

"Hoje mesmo", respondeu o energúmeno. Saí do escritório com as pernas bambas e em silêncio. Não havia nada ser dito ou pensado. Aquele era o preço para manter a melhor noite da minha vida em segredo e eu pagaria. Pagaria com ódio e vingança, faria poses bem sensuais e um tanto eróticas só para provocar e fazê-lo se arrepender da ideia.

Antes de voltar para casa, passei numa loja de cosméticos e pedi a melhor base que eles tinham, uma que não sairia por nada e tivesse uma excelente cobertura. A mulher me ofereceu uma base caríssima que paguei no cartão de crédito, algo que eu evitava ao máximo.

Ao chegar em casa, tirei todo e qualquer pelo que tivesse para que a pele ficasse lisinha e a base se infiltrasse melhor na pele. Eu odiava aquela tatuagem, por tudo que ela representava e por todo o transtorno que estava me trazendo naquele momento.

Depois do banho, fiz toda a preparação de pele para que a maquiagem durasse toda a sessão e chegasse lá intacta, depois assisti um vídeo e fiz exatamente como o indicado e aparentemente sumiu, não havia nenhum sinal dela, coloquei uma calcinha para ver se o tecido iria tirar, mas ficou tudo no lugar. Ainda assim, coloquei os produtos na bolsa caso precisasse retocar.

A sala estava aberta, indicando que Mathieu já estava lá. Tudo estava iluminado em luz vermelha e branca e havia um divã no centro do cenário. Me assustei ao reparar em Mat parado ajustando uma câmera, só estava ele ali, não usava terno e a temperatura estava um pouco quente. Mordi o lábio e respirei fundo, adentrando a sala e atraindo a atenção dele.

— Oi, Louise. Seu figurino está no camarim. Começamos em cinco minutos. — respondeu sem olhar para mim.

Fui até a camarim para vestir o tal figurino, que mal tinha tecido, mais pareciam pedaços de renda e elástico e ainda assim era lindo, com renda branca, o sutiã era aberto, com apenas flores bordadas, deixando a maior parte exposta. A calcinha também tinha o bordado, com um pouco de renda transparente na frente e apenas um elástico atrás, havia também uma cinta liga. Respirei fundo e vesti a lingerie, aliviada ao ver que a maquiagem cobrindo o pássaro estava intacta e imperceptível.

Passei um batom vermelho, coloquei a sandália prata e me olhei no espelho, satisfeita com o resultado. O conjunto ficou bem sexy, como eu queria, coloquei o roupão e ajeitei o cabelo. Mathieu iria se arrepender da proposta, eu fazia questão.

Eu pensei que ele iria assistir o ensaio, mas como não chegou ninguém depois de mim e já estava tudo pronto, eu entendi que seria ele e isso mudava as coisas, depois daquela noite não dava mais para negar que eu me sentia completamente atraída por ele e isso era outra coisa que eu manteria em segredo absoluto.

Ele ouviu meus passos e se virou, fingi que não vi e aproveitei esse momento para retirar o roupão, o colocando numa cadeira próxima ao cenário. Parei de frente para ele, sua respiração estava mais pesada e havia algo em seus olhos, um desejo profundo, assim como eu também tinha.

— E então, como você prefere começar? — quebrei o silêncio e a tensão que se formava.

— É... bom... Pode se deitar. — e assim o fiz, me deitei de lado no divã vermelho, ele ajustou a luz, deixando o ambiente um pouco mais claro e começamos a sessão.

Depois da primeira instrução, eu sabia o que fazer, pesquisei um pouco antes de ir e a cada clique eu me sentia mais a vontade e deixava ele mais desconfortável. Mas não era assim tão simples, olhar para ele colocava um rosto no homem daquela noite e lembrar daquela noite me deixava excitada. Em meio a trocas de olhares e posições sensuais, o ambiente ficava cada vez mais quente e optei tirar o sutiã, Mat não se opôs, mas engoliu em seco quando o deixei cair.

Aquilo já estava se tornando uma sessão de tortura, para nós dois. Ambos com a respiração pesada e excitados. Cada parte do meu corpo desejava seu toque novamente e após vários cliques, ele se aproximou, eu estava sentada e ele se abaixou, tocando meu rosto. Respirou fundo, claramente se esforçando para não prosseguir com a ideia que tinha. Uma ideia que eu também tive. Ele piscou algumas vezes e balançou a cabeça em negação.

— Vamos jantar? Eu pago — a pergunta me pegou de surpresa e apenas balancei a cabeça concordando. De repente me dei conta de como eu estava e cobri meus seios.

Me levantei, peguei o roupão e o vesti, voltei para o camarim e coloquei meu vestido, escolhi um vestido por medo de que uma calça ou shorts estragasse a maquiagem. Mathieu me esperava na saída, mais uma vez eu precisaria do meu orgulho para fingir que nada aconteceu. Ele segurava o contrato e uma caneta, ao me entregar, vi que ele já havia assinado e o coloquei na bolsa para ler em casa.

Descemos para o térreo e caminhamos até um moto com adesivos que diziam seu nome: Kawasaki Ninja. O modelo cheio de carenagens em tons de preto e verde aparentava ser cara e rápida o suficiente para eu me arrepender de ter aceitado o convite.

— Pensando bem, melhor deixar o jantar para outro dia. Estou de vestido.

— Relaxa eu não vou correr, meu carro está no concerto e se puxar um pouco o vestido, você consegue subir. — ele me ofereceu um capacete e um pouco contrariada o peguei.

Subir naquela moto de salto e saia foi um pouco difícil, mas deu certo. Era notável que a moto não foi criada para andar devagar e muito menos o piloto, mas ele cumpriu sua palavra e não correu. Paramos num restaurante famoso em Nova Iorque e meu estômago demonstrava estar muito feliz, afinal Mat pagaria e eu não perderia isso.

O hostess nos levou até uma mesa disponível e nos entregou o cardápio.

— De entrada vou pedir bruscheta caprese, de prato principal carré com tagliatelle com pesto pistacchio e de sobremesa cheesecake de frutas vermelhas. — falei depois de ler o cardápio.

— Isso foi rápido.

— Estou com fome. — ele riu e chamou o garçom que anotou nossos pedidos.

Logo nossas entradas chegaram, Mat pediu o mesmo que eu.

— Até que você tem bom gosto. — comentou ao experimentar a comida.

— E a comida daqui é maravilhosa. — a fama não era atoa.

— Já veio aqui? — a resposta era que sim, o problema era com quem. Christian me trouxe uma vez, me lembro que me senti nas nuvens aquele dia, acho que por isso o tombo doeu tanto.

— Sim. — respondi tentando não prolongar o assunto, apesar que o estrago já estava feito, eu estava pensando em Christian e na noite que fomos ali. Para afastar o pensamento, fiz a pergunta que rodeava a minha mente desde que saímos do estúdio:— Ficou satisfeito com o ensaio?

— Preferia que tivesse me dito o nome da garota. — respondeu, me deixando decepcionada, apesar de saber que ele não ficou imune a mim.

— E por isso não gostou do ensaio? — ele suspirou e olhou para mim, ali eu percebi que algo havia mudado, mas não sabia bem o que era.

— Você é linda, Louise e atraente e sexy não tem como não ter gostado, você foi ótima. — ele se mexeu na cadeira, desviando o olhar. Sorri, envergonhada.

— Confesso que... — eu ia dizer que aquilo só aconteceu porque foi ele o fotógrafo, mas uma mulher muito elegante se aproximou da nossa mesa e agradeci por isso. Não podia me render ao charme dele e ser só mais uma em sua cama. Preferia continuar sendo a mulher desconhecida.

— Mathieu Bresson, só assim para nos encontrarmos, já que não responde as minhas mensagens, ignora minhas ligações e simplesmente finge que eu não existo. — disse a mulher visivelmente irritada, mas não era problema meu, então continuei a comer.

— Olha, Carol...

— Madison! Meu nome é Madison! Não acredito nisso, você é mesmo um babaca Mathieu.

— Madison, eu sinto muito se não deixei as coisas claras, mas eu não estou a procura de um relacionamento sério.

— É claro, posso ver que você prefere as putas. — olhei para ela e percebi que me encarava enraivecida.

— Olha, Madison não é? Eu não tenho nada a ver com as babaquices dele ok? Só quero comer em paz. — falei calmamente e ela riu.

— Eu não estou falando com você, vadiazinha, mas se o que eu disse te serviu...

Nesse momento meu sangue esquentou, quem era ela para falar assim comigo? Num impulso me levantei, peguei aquele maravilhoso prato cheio de macarrão e molho pesto e joguei na cabeça dela, atraindo toda a atenção dos clientes do restaurante.

— Vadiazinha é tua mãe que te criou. — a mulher ficou estática e boquiaberta, assim como quase todos no restaurante, não conseguiria mais comer ali com toda aquela atenção, por isso peguei minha bolsa e me digiri a saída.

Notei que Mat se levantou e veio atrás de mim, rapidamente tirou algumas notas da carteira e deixou na mão de um garçom enquanto tentava me alcançar. Eu já abria a porta para sair quando ele me alcançou, trazendo os capacetes.

— Desculpe por isso. — ele falou, me oferecendo um capacete.

— Eu já te conheço Mathieu, sei que você é assim. O problema foi ela me ofender. — eu estava muito zangada, sempre odiei que me tratassem como uma qualquer. E ainda estava com fome!

— Ainda está com fome? — apenas balancei a cabeça concordando e peguei o capacete. — Conheço um lugar mais... Calmo, só que não é um restaurante como esse.

— Tudo bem, não sou tão exigente. — falei já colocando meu capacete.

Seguimos para uma área mais afastada do centro de Manhattan, paramos de frente a uma lanchonete no estilo dos anos 80. O piso em preto e branco lembrava um tabuleiro de xadrez e as mesas de madeira eram acompanhadas de sofás revestidos de couro vermelho, um balcão com bancos de metal e estofado de couro também vermelho preenchiam o ambiente o deixando ainda mais nostálgico. Estava pouco movimentado e o cheiro de fritura parecia impregnado nas paredes. E embora eu tivesse uma dieta rígida, não me importaria em abrir uma excessão.

Nos sentamos em uma das mesas vazias e uma jovem e entediada garçonete veio nos atender e entregou um cardápio para cada. Aparentemente a especialidade da casa eram os hambúrgueres. Notei que Mat me observava atentamente e quando olhei para ele, desviou o olhar para o cardápio. Estava difícil decifrá-lo agora, acho que era mais fácil quando eu sabia que qualquer palavra que saísse da boca causaria uma discussão.

Pedimos hamburgueres e dessa vez comemos sem interrupções, porém, entre nós parecia que havia uma enorme pedra de gelo. Ele parecia... chateado? Triste? Decepcionado? Confuso? Um verdadeiro enigma e eu já estava ficando confusa com aquela reação.

— Está tudo bem? Aquela garota mexeu com seus sentimentos? — ele me olhou com seus olhos castanhos que naquela luz pareciam escuros; e soltou um riso anasalado.

— Eu nem mesmo lembrava o nome dela, Louise. — sorri me lembrando da cena, agora que passou, percebi o quanto foi engraçado e apenas a lembrança foi o suficiente para que eu tivesse uma crise de riso.

— Aquilo... Foi muito engraçado. — falei tentando me recompor. — "Carol...", "Meu nome é Madison" — imitei a cena e voltei a rir. Mat relaxou e esboçou um sorriso. Limpei o canto do olho onde uma lágrima teimou em escapar.

— Estava começando a achar que eu teria que comer o seu hambúrguer. — agarrei o lanche imediatamente.

— Desculpe, aquela cena foi engraçada, mas apesar disso, você foi um babaca com ela. — respondi, dando uma mordida no hambúrguer em seguida. Estava deliciosamente gorduroso e calórico, nada que dois dias de academia não resolvessem.

— Eu sei, não só com ela. — a resposta me surpreendeu e me deixou embaraçada. — Quer um milkshake?

— De chocolate por favor.

Assim que terminamos, montei na moto atrás dele com o mesmo medo e a mesma dificuldade de antes. Tive um primo que morreu num acidente de moto e depois disso passei a me sentir insegura com motos, mesmo que nem sempre aconteça acidentes.

— Lou, se segura em mim e relaxa. — Mat falou com a voz abafada pelo capacete.

— Por que? — pensei um pouco. — Mathieu! Nem pense em correr!

— Relaxa, Louise, só sinta o vento e confie em mim. — deu a partida na moto.

— O problema é justamente confiar em você. — murmurei, mas acredito que ele não ouviu.

Abracei sua cintura e escondi o rosto atrás de seus ombros, quanto mais velocidade a moto ganhava, mais eu apertava, até que ele pediu mais uma vez que eu relaxasse, pois estava sufocando ele. Então, decidi ser um pouco mais corajosa e seguir seu conselho inicial, o vento estava forte enquanto atravessávamos a ponte que ligava Manhattan ao Brooklin, mas aos poucos fui relaxando e até gostando da atividade.

Só havia uma questão: por que saímos de Manhattan?

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