Capítulo 6

Ele parou a moto no Bridge Parque, que ficava abaixo da ponte, desci sem saber ao certo o que fazíamos ali. O parque estava bem iluminado e haviam poucas pessoas, o céu estava lindo, cheio de estrelas, apesar de não ter lua.

— Quase pensei que você estava me sequestrando. — brinquei, me virando para ele.

— Era esse o plano, mas meu carro estragou. — respondeu e sorri, ele sorriu de volta e abaixou a cabeça.

— Então... o que viemos fazer aqui? — começamos a andar, ele colocou uma mão no bolso e olhou para o céu.

— Não sei... Só queria andar um pouco. — parei por um momento, observando Mathieu, o homem que eu sempre odiei, apenas para não admitir o quanto o desejava. Ele deixou dois botões de sua camisa branca abertos e usava o terno por cima, a gravata havia sumido. Aparentemente ele não foi para casa e parecia cansado. — Tudo bem? — perguntou me tirando dos pensamentos.

— Sim... — respondi voltando a caminhar ao seu lado. — Como a Sarah está?

— Bem, está com uma babá. — olhou para o relógio de pulso que usava. — Ainda temos tempo, quer se sentar?

Concordei e retirei minha sandália para andar na grama sem afundar o salto, mas a sensação de pisar no fresco e macio era deliciosa, como uma massagem relaxante. Mat me olhava curioso, enquanto eu roçava os pés na grama, não pude evitar sorrir.

— Por que não experimenta? — perguntei, ele desviou o olhar e baixou a cabeça.

— Não acho que seja uma boa ideia eu tirar os sapatos. — eu ri, não iria desperdiçar a chance de rir da notícia.

— Mathieu Bresson tem chulé? Não deixe os sites de fofoca descobrirem Mat, você deixará de ser tão cobiçado. — brinquei e ele rapidamente tirou os sapatos sociais e as meias e quando percebi, ele se aproximava com os sapatos em mãos, não tive dúvidas, corri por minha vida. Ou melhor, por meu olfato.

Ele correu atrás de mim e graças a minha preocupação em saber se ele estava me alcançando, quase esbarrei numa árvore e com isso diminui a velocidade, antes que eu voltasse, ele me segurou pela cintura, mantendo os sapatos a uma distância segura.

— Sabe que eu estava numa posição favorável para me vingar, não é? — no exato momento me lembrei do tênis que acertei em suas costas, imaginando como seria uma vingança dolorosa. Me virei de frente para ele, ambos um pouco ofegantes e tão pertos que podia sentir sua respiração. Olhei em seus olhos, mas não deixei de observar seus lábios antes de chegar neles.

— Você não faria isso. — as palavras saíram num sopro. — Sabe que eu faria coisa pior depois.

Seus olhos se desviaram dos meus por alguns instantes, passando por meus lábios e colo. Senti minha respiração mais densa, por alguns segundos perdi o foco da conversa, atenta a cada movimento dele, desde seu peito subindo e descendo enquanto respirava, até o leve sorriso se transformar em uma risada rápida e seus olhos franzindo, quase se fechando, no ato.

— Você é cruel, Louise. — meu desejo era mostrar que ele estava errado, que eu apenas nunca quis admitir o que sentia, por isso o afastava. Mas ambos sabíamos, que acabaríamos nos machucando.

Sorri fracamente, desviando o olhar e dando um passo para trás, ele tirou sua mão da minha coluna e me virei de costas para ele, quebrando aquela conexão que tínhamos.

— Viu como o céu está lindo? — perguntei e me sentei na grama com cuidado. Ele se sentou ao meu lado e não pude evitar olhar para seus pés descalços. — Seus pés são bem feios. — comentei, fazendo uma careta, ele riu, jogando a cabeça para trás, tão relaxado que mal parecia o Mat que eu conhecia.

— Um contraste perfeito, não acha?

Conversamos por alguns minutos, como nunca fizemos antes. Sem insultos ou provocações e foi leve e divertido, precisávamos disso após a sessão de fotos torturante. Eu nunca me expus daquela maneira e talvez se fosse outra pessoa eu não teria me sentido tão à vontade.

***

Em menos de um dia fiz as malas para ir até Miami, onde seriam feitas as fotos. Eu estava animada e ansiosa, era minha primeira viagem como modelo e não era qualquer trabalho, a Diamond era uma das marcas mais luxuosas e procuradas, ter meu rosto estampando as revistas e catálogos da coleção de verão era um privilégio enorme.

Me acomodei no hotel financiado pela agência, o ambiente me surpreendeu pela sofisticação, não era nada luxuoso, mas era bem arrumado e amplo, em tons neutros e bem arejado, graças a janela com uma bela vista da cidade. Fui até a janela, pensando em como minha vida mudou desde que um Bresson entrou na minha vida de forma totalmente indireta, através da minha melhor amiga e desde então, nada foi como antes. Quase fui presa, perdi o emprego que eu tanto amava e tive que recomeçar em uma profissão que antes era algo distante.

E ainda tinha o Mat, que entrou na minha vida literalmente me dando um tapa na bunda e mexendo com meus sentimentos de um modo que me assustava e me fazia ser alguém que eu não gostava: a Louise escandalosa e chata, apenas na tentativa de mantê-lo longe do meu coração, que se encontrava despedaçado.

No dia seguinte, um estúdio improvisado foi montado logo cedo, para ter a praia quase vazia. Uma barraca foi armada para a troca de figurinos e maquiagem dos modelos. Como eu não queria que a minha tatuagem aparecesse, eu havia feito o processo de cobri-la com maquiagem novamente, selando bem para que não saísse e estava tranquila quanto a ela.

Depois da maquiagem e cabelo feitos, eu estava pronta para a primeira sessão de fotos, com três trocas de figurino. Coloquei o primeiro, que era um biquíni com pedrarias, o tom marrom intenso e com um brilho discreto da peça era o diferencial, lhe dava o luxo que só Diamond tinha. O modelo era perfeito e parecia se adequar a todos os tipos de corpo.

Quando saí, o sol já radiava sua luz e nos entregava seu calor, eu me sentia em casa, amava o verão e tudo que ele oferecia. Senti os pés afundarem na areia macia e fresca, o vento parcialmente salgado e o som das ondas se quebrando. Fizemos várias fotos com o biquíni marrom, nos coqueiros, na água do mar, na areia, na sombra e no sol.

Fizemos o mesmo com o segundo e terceiro figurino. Após uma pequena pausa, foram feitas outras fotos com os mesmos figurinos, porém com outros modelos juntos. Incluindo a Mel, com sua radiante pele negra, que na minha opinião, deveria ser um destaque na coleção.

Após as fotos, tivemos uma pausa para o almoço e voltamos para um estúdio fechado, com foco em exibir detalhes das peças. Depois, tivemos algumas horas vagas antes de voltar à praia para fazer a última sessão ao pôr do sol, aproveitei esse tempo para retocar a maquiagem sobre a tatuagem, segundo o que eu sabia, era o ensaio mais importante e eu não queria que a tatuagem aparecesse.

A maquiagem foi feita mais forte, com mais iluminação e tons dourados, meu cabelo ganhou um aspecto despojado, com cachos como se tivesse secado após um banho de mar, quase não me reconheci ao me olhar no espelho, estava impecável e linda, como uma verdadeira modelo de capa.

— Oh, meu Deus! É ainda mais linda pessoalmente! Sabe, assim que pus os olhos, eu sabia que era você a modelo perfeita para a Diamond Golden Glam. — disse um homem de meia idade, com cabelo levemente grisalho, vestido num terno de linho azul, perfeitamente ajustado e elegante, mas em contraste com toda a elegância, estava uma gravata com estampas de bananas descascadas. Demorei alguns segundos para reconhecer que ele era um dos estilistas da marca.

— Obrigada senhor Craig. — respondi com um leve sorriso.

— Essa campanha será um sucesso, apesar do atraso. — ele se virou para uma das mulheres que estavam atrás dele. — Onde está nosso astro? Onde está Brad Bad?

Brad Bad? Que nome era esse? Segurei o riso ao ouvir, percebendo que Craig falava sério. Alguém me chamou para ir ao provador colocar o primeiro figurino e de lá ouvi uma pequena movimentação e vozes masculinas seguidas por risos. Vesti o maiô disponível e coloquei o roupão por cima, com cuidado para não estragar o cabelo e maquiagem.

Ao sair, encontrei o tal astro, Brad Bad, retocando a maquiagem e cabelo. Era bonito, o típico homem que exala masculinidade, com olhar sedutor, cabelo bacana, corpo definido. Brad era exatamente o biotipo capa de revista, o cara que faria mulheres disputarem um espaço em sua cama. Um cara tipo o Mathieu, mas com feições ainda mais chamativas. Minha análise durou segundos, desviei o olhar assim que ele olhou para mim. Algo me dizia para não confiar nele.

Em poucos minutos iniciamos o ensaio, dessa vez, havia muito mais pessoas trabalhando na área, alguns seguranças escoltavam o local e Craig assistia tudo e dava instruções ao fotógrafo, tudo tinha que acontecer muito rápido, antes do sol se pôr por completo.

O "astro" com certeza não era um modelo profissional e eu fiquei um pouco incomodada com ele e aqueles músculos expostos e banhado a óleo corporal, mas tive que disfarçar o máximo possível. Tiramos fotos abraçados no mar, fotos na areia, com trocas de olhares e outras coisas que no resultado final, soariam bem sensuais. No fim da sessão, a iluminação dependia exclusivamente das lâmpadas improvisadas, apenas para auxiliar a equipe a desmontar todo o equipamento.

Eu estava exausta, foi um longo dia e muitas sessões, normalmente, seriam feitos em três dias, mas com o atraso inicial, tudo teve que ser feito às pressas. Depois que me troquei, a única coisa que eu queria era tomar um banho e dormir, mas o estilista da marca me chamou antes que eu saísse.

— Louise, você foi ótima querida. Já está sabendo da festa que a Diamond está promovendo para o lançamento da coleção? — ele não esperou que eu respondesse. — Será nesse fim de semana e quero que você participe como uma convidada, mas eu tenho um vestido glamouroso que criei inspirado na coleção, eu não iria lançar ele agora, mas vendo você, eu apenas sei que deve usá-lo na festa. Vou mandar alguém enviar para o seu quarto juntamente com o convite. — Falou tão rápido que demorei a entender.

— Ahn... Obrigada sr. Craig. — ele sorriu e se afastou.

— Quando me disseram que você era bonita, eu não imaginei que fosse tanto. — me virei para ver quem falava comigo e me deparei com o tal Brad Bad.

— Obrigada... Brad Bad. — respondi um pouco sem graça e me virei para sair, ele segurou meu braço me impedindo.

— Não vai retribuir o elogio? — disse se aproximando mais, comecei a ficar assustada, com o coração acelerado, mas precisava ficar calma.

— O senhor também... É muito bonito. — engoli em seco, torcendo para que me deixasse ir. Ele franziu os olhos.

— Não me conhece? — todos diziam que ele era um astro e a quantidade de seguranças no local após sua chegada não o deixava mentir, mas eu nunca tinha ouvido falar dele. Balancei a cabeça em negativa.

— Sinto muito.

— Eu sou um astro do cinema, protagonista de A Última Chamada, O Chefe, The Horus... — olhei para o lado pensando, não assisti nenhum desses filmes. — Ah que se dane! Eu quero você na minha cama essa noite.

Ele aproximou na tentativa de me beijar e soltou meu braço, aproveitei a chance para correr dali o mais rápido que pude, ouvi ele dizer várias coisas como "muitas queriam estar no seu lugar", "não vou te dar outra chance" e "vai se arrepender disso". Eu que não iria para cama com um homem arrogante feito ele, podia ser bonito, mas não valia a pena.

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