Lívia Narrando
Como disse antes, acabei dormindo a tarde toda depois de finalizar as atividades da escola. E quando peguei no celular tinha mais mensagens de um número desconhecido. SMS On Oii gata, tudo bem? Não se preocupa! E a Gabi KSKSKS Quase tirei o juízo dos meninos pra conseguir teu número mana kkkkkk Oii Bibi 🥰 tudo bem? kkk não tem problema. Estamos te esperando aqui hoje, não queira levar falta hein A minha irmã que está perturbando pra ir, será que a passagem é de boa? — Perguntei. Não se preocupa, vou avisar meu irmão. SMS Off Coloquei uma roupa de academia e resolvi ir malhar. No fone um funk pra dar energia, olhei pra moto mas resolvi ir de carro. *** A academia não estava tão cheia, e eu adorava isso. Começei com um cardio na esteira e depois fui pro treino de perna. — Lívia — A voz ecoava atrás de mim, até tentei fingir que o fone estava no último volume mas ele insistiu. — Até quando você vai fingir que eu não existo mais? — Até quando eu puder — Digo assim que me viro e tomo água. — Já se passaram três meses, eu tô com muita saudade de você — Eu ri. — Fala sério Matheus, não atrapalha meu treino — Digo em tom sarcástico. — Não entendo porque você não me perdoa, não foi nada demais — Ele começou a falar e aquilo foi me tirando do sério. — Você tá igual um disco arranhado, muda o disco meu filho — Ele me olhou triste. — Ainda vou te reconquistar, anota aí. — Afirmou. — Para Matheus, já mandei serrar meus chifres e você aí doido pra colocar denovo? — debochei é ele sorriu fraco saindo dali. As vezes eu preciso ser assim pra que ele possa entender que uma taça quebrada nunca mais volta ao normal. Não estendi muito meu treino pois já era quase nove da noite, fui logo pra casa. — O que você tá fazendo? — Perguntei pra Amanda assim que passo de frente o quarto dela no corredor. — Não acho nada legal pra usar Lívia, tudo aqui é velho — Reclamou no meio de uma montanha de roupas. — Meus Deus Amanda, você é muito exagerada — Revirei os olhos. — Você diz isso porque nem sai, e porque ainda não tá se arrumando, tava na academia até agora? — Perguntou arqueando uma de suas sobrancelhas. — Os seus amigos não vão dar trabalho não é? — Falo encostando na porta do quarto. — Pelo amor de Deus Lívia, o que pode acontecer demais num baile funk? — Ela Gargalhou. — Você vai ver — Afirmei e sai dali. Abri meu guarda roupa e praticamente só tinha roupa de trabalho, de verdade, eu nunca fui de ser uma Amanda da vida. Mas felizmente tinha alguns vestidos que a minha mãe me abrigava a comprar pra sair com o Matheus, a família dele é daquelas cheias de frufru que uma roupa diz o caráter da pessoa ou talvez a carteira. Tomei um banho, lavei o cabelo, sequei e tentei fazer uma maquiagem bem simples, nada pra chamar a atenção. Acabei escolhendo um vestido vermelho com um decote em V na parte dos seios. Depois do silicone eu fiquei mais avontade em usar esse tipo de roupa. Depois de vesti-lo, um salto preto fino me encarava, mas a preocupação veio quando me lembrei das ruas do morro, será que é uma boa ideia? talvez seja melhor colocar o salto grosso. E bom, foi isso que fiz. Pra finalizar passei um batom vermelho e desenhei bem as curvas da minha boca. Tirei uma foto no espelho mas acabei nem postando. — Liv, cuida da sua irmã, aí meu Deus como você tá linda minha princesa. — Dona Cláudia diz aparecendo na porta. — Mãe, o que achou? — dei uma voltinha e ela sorriu. — Tá muito linda, cuidado hein! Me passa o endereço qualquer coisa se vocês precisarem. — Ela sugeriu e me lembrei que a Amanda não tinha dito que seria no morro. — Não se preocupa mãe, meu celular tá aqui pra qualquer coisa — Depositei um beijo na sua testa. — Se divirtam, mas não muito — Nossa mãe avisou em voz alta enquanto as duas se arrumavam. — Já estou pronta — Gritei para a Amanda ouvir e agilizar. — Tô quase — sussurrou enquanto colocava um salto, e bom, adivinhem, era um salto finíssimo. Já era quase onze da noite quando finalmente saímos de casa, apesar de querer ir no meu carro a Amanda me convenceu a ir com os meninos. O Nando e o Lucas são cara legais, apesar de beberem muito. Já fiquei com o Nando a muito tempo atrás mas hoje somos amigos também. O Lucas sempre foi apaixonado na Amanda mas pelo visto a anta nunca percebeu ou nunca quis perceber, até o jeito que ele olha pra ela é diferente. Me colocaram na frente com o Nando porque dizendo eles eu sou meio que "de casa" Assim que chegamos na "barreira" havia o dobro de homens do que normalmente eu vejo por aqui, cada um segurava uma arma enorme nas costas oque me fez gelar. O Nando parou o carro e eles vieram. — Hoje o baile não é pra playboy pnc — A voz afirmou firme. — Boa noite, o Rd tá aí? — Falei do nada e todos do carro me olharam. — O chefe tá em outra parada, qual a tua com ele? — Avise que eu cheguei — Digo séria e a Amanda me olha tipo " essa é a mesma sonsa que mora lá em casa?" Algum tempo depois um cara sem camisa com máscara na cara se aproxima. — Foi mal aí professora, o meiota não te conhece ainda — Jp disse com uma voz safada. — Onde é o baile? — Pergunto — Duas ruas depois da escola, o chefe te aguarda — ele provocou e finalmente conseguimos subir. — O que foi aquilo que o chefe te aguarda? — Amanda perguntou curiosa. — Não leva a sério, eles são assim aqui — Digo sem muita importância saindo do carro. Pedi pro Nando não estacionar tão na frente, não sei se é permitido então não quis arriscar. Nós quatro fomos andando em direção do baile, o som estava exageradamente alto. Enquanto caminhávamos meus olhos encontraram Gabriel vindo na minha direção, ele tava muito bonito de cabelo cortado, uma roupa branca que marcava os músculos do braço. — Achei que tu não vinha pô — Ele me abraçou de leve. — A doida da Gabriela surtou com o Jp pra conseguir teu número — Nós dois rimos. — Só vim porque ela chamou — pisquei pra ele. — Valeu a pena então — diz, enquanto todo mundo olhava pra gente. — Deixa te apresentar, esses são o Nando e Lucas nossos amigos e essa é a Amanda minha irmã — Ele estendeu a mão como um anfitrião do morro. — Aproveitem aí rapaziada, espero que gostem do morro também igual a professora aqui — Ele disse olhando pra minha irmã — Tenho que resolver uma parada mas depois agente se vê — Ele piscou pra mim e saiu. — Então era pra ele que você ria enquanto respondia a mensagem? — Amanda provocou. — O que? não tá doida? Ele é só meu amigo, me ajudou quando cheguei aqui no morro. — Disse calma. — Ele parece tá bem na tua Liv — Lucas afirmou, e bom, fiquei com medo né? porque disso ele entende. — Vamos entrar gente. Entramos em fila, mas confesso que mesmo assim foi complicado passar pelo tumulto na porta. Os meninos puxaram agente pro bar onde dava pra ter uma visão geral do ambiente. — Até que é bem organizada — A Amanda disse olhando em volta, e realmente era uma casa de festas bem moderna, pelo visto não é só a escola que ele investe bem. — Lá deve ser o camarote — O Nando falou e nós olhamos pra parte de cima do outro lado. — Então meninas o que vão beber? — Lucas perguntou. — Vamo começar com um whisky né? — A Amanda sugeriu já bem assanhadinha. — Acho que eu prefiro ficar só no energético. — Qual é Lívia, aproveita — Lucas diz. — Ela é cafona, não é atoa que é a titia do morro — Ela Debochou, o Nando me olhou e me passou o copo. — Vamos aproveitar então irmãzinha. Ps: Deixe aqui a sua opinião sobre a história a cada capítulo, a autora gosta muito de ler eles 🥰 vou deixar meu perfil aqui @livrariadamii @miiautoraLívia Narrando. No palco estava um DJ tocando as febres do momento. Eu não tinha visto mais o Gabriel e olha que eu olhei muito entre as pessoas, muitas mulheres rebolando até o chão quase nuas. Alguns homens que deixavam claro serem do crime, outros pareciam ser de fora. O Nando estava muito perto de mim e isso estava me incomodando um pouco, eu sei que não é com segundas intenções porque somos amigos a anos e nosso rolo foi de adolescência, mas as vezes eu me lembro porque não saiu muito com eles. — Mana, vamos no banheiro comigo? — Puxei ela devagar. — Calma menina, que pressa hein — Reclamou. — Devia ter escolhido outra coisa ao invés de salto alto fino no meio dessa multidão. — Não reclama do meu salto, já estou acostumada esqueceu. — Disse debochando. Assim que nos viramos pra continuar andando encontro a Gabi e algumas meninas. — Ai meu Deus, que bom que você veio Liv — Ela me puxou pra um abraço caloroso. — Não imaginava que era tão cheio assim. — Hoje ai
Lívia Narrando. — Você. Foi isso que Rd disse bem perto de mim, confesso que senti meu corpo tremer só pelo olhar dele. Mas se demonstrei? claro que não! Eu ri. — Normalmente nessa hora você já leva elas pro quartinho? — Gargalhei tomando um gole de água com gás. — Nem precisa falar duas vezes pô — Falou baixo. — Que bom pra você! aproveita e já escolhe a sua — Disse olhando pra aquelas mulheres rebolando no camarote, a maioria já estava cercando algum bandido, outras estavam esperando a presa. — Tu é osso duro morena — Falou como se tivesse planejando algo e logo em seguida levantou os braços como se tivesse chamando alguém. — O que tá fazendo? — Falei preocupada quando vi a Amanda sendo arrastada com os meninos pra onde eu estava. — Quero conhecer teu namorado pow — Ele disse sério. — Isso é mesmo necessário ? — Perguntei sem paciência. — Vai querer apresentar ou eu faço sozinho? — Ele me olhou, na realidade ele só queria saber como eu ia apresentar. O Pedro
— Você só pode estar louca Lívia, desde que seu pai morreu você não ouve mais ninguém. — A minha mãe Cláudia grita enquanto eu estou no banheiro do meu quarto me arrumando para o meu emprego novo, aliás no meu primeiro emprego na minha área que é a pedagogia.— Mãe a senhora precisa relaxar, eles são só pessoas como nós — Confessei pegando a mochila em cima da cama vendo a mesma me olhar.— Claro! São pessoas, não desmereci ninguém, mas são pessoas que moram numa favela, cheio de bandidos armados, prostitutas, tiroteio — Ela dizia sem parar.— Mãe, entendo a sua preocupação mas devia diminuir o uso da televisão aqui em casa.— Vai me dizer que não existe nada disso lá? — Ela me fita de cima a baixo.— Todo tipo de mal existe não é? Mas onde eu vou não, é só uma escola cheio de pequeninos que precisam de educação — Ela finalmente olha-me como se confiasse em mim.— Você não está pensando de ir com aquela moto não é? — Perguntou arqueando uma de suas sobrancelhas.— Acha que a Amanda va
Lívia Narrando Bom, é claro que na TV mostra como são as casas aqui, mas eu não imaginava que algumas eram literalmente em cima de pedras, alguns becos são minúsculos mas por sorte a escola ficava numa rua razoavelmente grande, onde o portão da Escola se encontrava ao centro, as paredes dos muros eram pixadas com um grande desenho de gramas e crianças brincando, e talvez a parte mais linda desse morro seja esse mundo imaginário.E como ainda estava cedo, os alunos não haviam chegado. Mas aproveitei para ir conhecendo o lugar. Quando pisei o pé dentro daquele ambiente fiquei muito encantada com todo aquele capricho, não estava diferente de uma escola num bairro bom do RJ, o dono daqui deve realmente amar educação.— Você deve ser a professora nova não é? — Uma mulher de aparentemente cinquenta anos disse com um sorriso sincero.— Bom dia, tudo bem? Sou! Meu nome é Lívia Azevedo — Estendo minha mão satisfeita.— Seja bem vinda Lívia, espero que sua passagem aqui seja duradoura, meu nom
Lívia Narrando O dia hoje demorou muito pra terminar, a diretora veio falar comigo sobre o episódio de mais cedo, ela explicou que o tio da Raissa tinha um temperamento difícil mas que ele era uma boa pessoa, ele é conhecido como Rd, e olha que legal, também é o dono do morro e o pior bandido de todos, bom não foi assim que ela disse mas foi assim que eu entendi.Assim que cheguei no ponto do táxi um dos homens estava sentado bem próximo. — Ai mina, tua moto acabou furando, só tô avisando pra tu não achar que foi algum de nós aqui — Ele explicou com certa sinceridade na voz.— Tudo bem, imprevistos acontecem. Afirmei — Sabe onde eu consigo uma oficina? — Só subir mais duas quadras, tem um borracheiro lá — Ele explicou, então quando tentei subir ele falou — Vai andar na moto furada maluca? tá querendo dormir no morro mesmo? — O que eu posso fazer? — Disse confusa— Eu levo pra tu, tu pode subir com o Biel — Ele disse olhando pra um rapaz loiro, de olhos azuis e bom, parece que tatu
Lívia Narrando — Não imaginei que aqui tinha uma vista dessa — Falei, admirada olhando tudo da parte mais alta do morro. Dava até pra sentir o vento do mar.— Imaginei que ia gostar — Gabriel comenta.— Trás muitas aqui? — Pergunto meio que na amizade, sem maldade e ele sorri.— Tá achando que bandido tem tempo de ser guia turístico? — Dechocha de um jeito brincalhão.— Nos jornais eles parecem ter vida de luxo.— Ainda bem que te jogaram pra favela mina, mó dahora conhecer as cultura dos cria — Nós rimos juntos, ele era legal comigo, e na minha cabeça eu precisava de um amigo aqui dentro.— Valeu por me apresentar um pouco do morro, faz quase duas semanas que estou aqui e só conheço o caminho da escola.— Se quer um conselho de amigo é melhor não andar por aqui sozinha não pô — Ele disse sério — O pessoal não te conhece ainda, sacou?— Tô ligada — Falei firme e ele riu.— A Gabriela ia curtir teu jeito — Ele comentou subindo na moto.— Você é casado? Aí meu Deus não quero nenhuma lo
Rd Narrando — Filho é você? — A dona Lúcia pergunta assim que me ouve colocando as chaves na mesa de vidro da sala.— Cheguei coroa — Aviso, não demorou muito pra piveta brotar na sala.— Ti tio — Ela disse vindo correndo pra cima de mim.— Você não tá irritando a vovó não é Raissa — Digo sério e ela me olha, tem o mesmo jeito de sonsa da mãe não é possível.— Avise ele Issa, que o único que irrita a vovó é ele por não escolher logo uma mulher pra casar nesse morro — Minha mãe disse séria e ao mesmo tempo sorrindo.— Você não perde uma oportunidade né coroa, só esquece que o filho tem alergia de coleira — Ela fecha o semblante.— Sua mãe já está velha Randle, sua vida é perigosa, não quero morrer antes de ver um filho seu.— A senhora tem muito pela frente ainda — Falo pegando uma maçã em cima do balcão.— No próximo baile do morro você terá a sua oportunidade, espero que escolha uma boa pessoa, não é porque você faz o que faz que deve casar ruim — Minha mãe avisa.— Faço o que preci
Lívia Narrando Se eu dissesse que aquele clima estava fácil, com certeza eu estaria mentindo. Ficar frente a frente a um dos piores bandidos do estado foi uma coisa que nunca imaginei, porém parte de me já suspeitava depois de aceitar esse emprego.— Bom, queria saber por onde o senhor deseja começar — Falei pegando a pilha de papéis que a Ana deixou separado.— Primeiramente pode me chamar de Rd tá ligada, e eu quero ver o que foi comprado pro lanche dos cria. — Disse sério e imediatamente lhe dei o relatório, ele parecia realmente interessado naquilo.— Algo mais? — Perguntei.— Quero que tu saiba que não quero ninguém com fome aqui beleza? nenhuma cria vai sair dessa escola com fome no final da aula — Avisou.— Não se preocupe — Falei recolhendo os papéis e só então percebi que ele me olhava. — Alguma dúvida?— Porque tá aqui? — Rd perguntou — Pra dar aulas, não é óbvio — Ele riu.— Tu brinca demais pô, mas se olha no espelho, tanto lugar pra tu dar aula e veio logo pro morro? —