Capítulo 06

Lívia Narrando

Se eu dissesse que aquele clima estava fácil, com certeza eu estaria mentindo. Ficar frente a frente a um dos piores bandidos do estado foi uma coisa que nunca imaginei, porém parte de me já suspeitava depois de aceitar esse emprego.

— Bom, queria saber por onde o senhor deseja começar — Falei pegando a pilha de papéis que a Ana deixou separado.

— Primeiramente pode me chamar de Rd tá ligada, e eu quero ver o que foi comprado pro lanche dos cria. — Disse sério e imediatamente lhe dei o relatório, ele parecia realmente interessado naquilo.

— Algo mais? — Perguntei.

— Quero que tu saiba que não quero ninguém com fome aqui beleza? nenhuma cria vai sair dessa escola com fome no final da aula — Avisou.

— Não se preocupe — Falei recolhendo os papéis e só então percebi que ele me olhava. — Alguma dúvida?

— Porque tá aqui? — Rd perguntou

— Pra dar aulas, não é óbvio — Ele riu.

— Tu brinca demais pô, mas se olha no espelho, tanto lugar pra tu dar aula e veio logo pro morro? — Ele sorriu meticuloso.

— Os moradores do morro não são piores e nem melhores que ninguém, se não tem mais nenhuma dúvida peço que se retire pois tenho muito trabalho aqui — Disse séria e ele sorriu de lado.

— Gostei da tua postura — Ele se levantou — Amanhã tem baile aqui no morro, espero que venha — Não respondi nada e ele saiu, aliás o cheiro do perfume dele ainda ficou na sala.

Não vou mentir que quando ele saiu me senti um pouco entusiasmada, ficar frente a frente a um traficante não foi tão ruim assim, ainda mais quando se trata de um traficante gatinho.

Depois de terminar minhas tarefas conseguir sair um pouco mais cedo, e aproveitei pra procurar um salão no morro a pé porque não queria chamar a atenção. Quando desci a rua da escola uma moto parou do meu lado, e era o Biel.

— E aí mina, suave? — Ele perguntou

— Ainda bem que você apareceu Biel.— Suspirei cansada de andar — Você pode me dizer onde encontro um salão de beleza aqui? — Ele me olhou de baixo pra cima.

— Lá vem, tem um lugar na rua da praça que as mina não sai de lá, deve ser lá mermo — Explicou.

— Eu tô muito longe de lá? — Perguntei

— Sobe aí morena, só não acostuma flw.

— É muito bom ter amigos aqui.— Falei e ele riu.

Biel me levou ao que parecia ser um salão bem grande por sinal, e como já era esperado todos olhavam pra mim quando descia da sua moto.

— Ai Lívia, na próxima vem de moto beleza, ninguém te conhece aqui ainda.

– Não se preocupe, obrigada denovo. — Me despedi dele e andei direto pro estabelecimento.

Lá tinha mais ou menos umas cinco meninas fora as atendentes, todas me olharam muito, me senti como uma carne no açougue.

— Bom dia tudo bem? você tem alguma manicure disponível aqui? — Perguntei a mulher mais velha que estava no caixa.

— Olá, meu nome é Monique, temos sim querida fique a vontade. — Ela me mostrou com as mãos onde era pra sentar.

A moça que começou a fazer minhas unhas era super calada, mas não parecia ser mal educada, porém ao lado tinha uma menina loira, aparentemente da minha idade que parecia inquieta, e foi aí que a manicure dela falou.

— Você é a nova professora do colégio não é? Sou a mãe do Raul.

— Sou sim, o Raul é um menino muito inteligente, aliás meu nome é Lívia.

— Obrigada — Ela respondeu educada.

— Não sabia que era amiga do Gabriel. — A loirinha falou do nada e as meninas só me olharam.

— Ele me ajudou assim que cheguei no morro, você deve ser a Gabriela não é? — Tentei arriscar.

— Ele te falou de mim? então meu irmão te considera uma amiga — Ela sorriu. — Fico feliz em conhecer você Lívia.

— O prazer é meu.

As conversas no salão eram superficiais, coisas do dia a dia de uma mulher, mas finalmente me senti relaxada em um lugar, normalmente o peso dos olhares daquela oficina eram bem piores.

— E aí Lívia, você vai conhecer o baile da rocinha amanhã? — A mãe do Raul perguntou.

— Não sei se devo, ainda sou nova aqui

— Devia vir amiga, assim todo mundo te conhece — A Gabi afirmou.

— Vocês tão sabendo da novidade — A moça que fazia minha unha disse — A mãe do Rd quer uma nora.

— Onde ouviu isso Nanda? — A dona do salão perguntou.

— Mais e verdade, a tia Lucia quer muito uma nora, não é novidade nenhuma — Gabi comentou.

— Não é fácil chegar no nível deles — A mãe do Raul debateu.

— Pelo contrário, dona Lúcia é um amor de pessoa igualmente a dona Ruti — Ela disse olhando pra Gabi e ela sorriu.

— A minha mãe e outra que sofre pra conseguir uma nora, mas vocês conhecem os meus irmãos, tá difícil — Ela disse olhando pra mim.

— Você tem mais um irmão? — Perguntei.

— Sim, O JP também é meu irmão, só eu e o Gabriel que somos gêmeos.

— Você tem irmãos Lívia? — A Nanda pergunta

— Sim, uma, o nome dela é Amanda, mas somos o oposto uma da outra.

— Trás ela com você amanhã — A Gabi sugeriu, mas confesso que essa não é uma ideia boa pra mim.

— Vou falar com ela — Falei sorrindo.

Assim que terminei as unhas da mão me despedi delas e voltei pra minha moto, já estava quase anoitecendo. Quando estava próximo do ponto vi Rd escorado na minha moto, e por um milagre ele era o único lá.

— Tudo bem? — Falei assim que me aproximei, ele estava com uma cara de poucos amigos.

— Vai poder vir amanhã professora? — Ele perguntou aleatório.

— Talvez — Ele me fitou.

— Qual é a tua de andar pelo morro na garupa dos outros? — Olhei sem entender.

— Desculpa? mas não entendi

— Já passei a fita pelo morro que tu é como se fosse morador, na próxima vai na tua moto ou com tuas perna mina. — Ele falou, me olhou, e saiu. Fiquei totalmente confusa e minha única iniciativa foi ligar a moto e ir embora.

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