Rd Narrando
— Filho é você? — A dona Lúcia pergunta assim que me ouve colocando as chaves na mesa de vidro da sala. — Cheguei coroa — Aviso, não demorou muito pra piveta brotar na sala. — Ti tio — Ela disse vindo correndo pra cima de mim. — Você não tá irritando a vovó não é Raissa — Digo sério e ela me olha, tem o mesmo jeito de sonsa da mãe não é possível. — Avise ele Issa, que o único que irrita a vovó é ele por não escolher logo uma mulher pra casar nesse morro — Minha mãe disse séria e ao mesmo tempo sorrindo. — Você não perde uma oportunidade né coroa, só esquece que o filho tem alergia de coleira — Ela fecha o semblante. — Sua mãe já está velha Randle, sua vida é perigosa, não quero morrer antes de ver um filho seu. — A senhora tem muito pela frente ainda — Falo pegando uma maçã em cima do balcão. — No próximo baile do morro você terá a sua oportunidade, espero que escolha uma boa pessoa, não é porque você faz o que faz que deve casar ruim — Minha mãe avisa. — Faço o que preciso mãe, a senhora sabe disso — Ela pega Raissa no chão e leva pra cima. Minha mãe já passou por muita coisa pra criar eu e a minha irmã, mas desde que a Raiane morreu ela ficou decidida com a ideia de que eu preciso arrumar uma fiel, e é por esse motivo que eu nunca trouxe ninguém aqui, e nem quero, a dona Lúcia iria fazer um monte de perguntas e espalhar pro morro todo que eu tenho uma fiel, já basta a Vitória achando que tem chance disso acontecer com ela. Lívia Narrando Já estava dando dez horas da noite e eu continuava aqui fazendo o planejamento de aula pra essa semana, quando a minha irmã entrou do nada no meu quarto. — Desculpe professora, mas preciso de um rimel emprestado — Amanda diz indo direto nas minhas coisas. — Pra onde vai desse jeito? — Falo me virando vendo a mesma toda arrumada com um vestido curto e um salto alto. — Eu tô muito gata não tô? — Perguntou enquanto passava o rimel. — A nossa mãe sabe pra onde você tá indo? — Claro que não né Liv, ela está no segundo sono lá no sofá. — Meu Deus Amanda, custa avisar a Dona Cláudia? — Reclamo. — Custa quando você está faltando no trabalho por uma boa causa. — Você só pode ter perdido o juízo. — Falo passando a mão no rosto. Amanda saiu logo em seguida, e talvez essa seja a primeira pista para a confirmação da personalidade de duas irmãs totalmente diferentes, e bom, eu não preciso dizer qual seja a minha. 6:04 am a hora que meu despertador tocou me fazendo perceber que passei a noite sentada na cadeira, minhas costas doíam. Pra tentar disfarçar a cara amassada tomei um banho, me arrumei como de costume e saí do quarto, minha mãe sempre acordou junto comigo, ela sempre diz que eu não posso sair de casa sem tomar o café dela. Morro da rocinha 6:53am Eu já estava no morro, estacionando minha moto pra ser mais exata, hoje estava bem calmo em comparação aos outros dias. Assim que chego em frente ao colégio meu telefone toca, era a Amanda. — Amanda onde você tá? — Pergunto brava. — Que mal humor Liv, devia parar de tomar aquele café amargo da mamãe — Diz com voz de sono e eu desligo, não sou obrigada a ouvir uma bêbada. Assim que piso os pés no colégio sinto uma paz invadir meu corpo, e como se a minha alma flutuace por esses corredores. — Bom dia senhora Ana — a comprimento assim que a vejo no corredor. — Lívia, foi Deus que colocou você no nosso caminho — Exclamou. — em que posso ajudá-la? — É a minha filha, ela vai dar a luz essa semana e eu preciso ficar com ela — Ela disse preocupada — Claro, onde ela mora? Adoraria conhecê-la — Ela iria te amar também minha querida, mas minha filha mora em Porto Alegre, eu preciso de alguns dias, e você vai ficar no comando da escola até eu chegar de viagem — Ela avisou, como de implorasse pela minha resposta. — Senhora, eu, ainda não sei como tudo funciona aqui — Explico preocupada. — Não se preocupe Lívia, as meninas vão te ajudar, o único problema é que hoje a tarde eu teria uma reunião com o Rd, ele quer saber se o dinheiro está sendo aplicado de forma correta na escola — Ela deduz. — e está? — Pergunto — Sim claro que está, temos todas as notas de tudo que compramos para nossos alunos, não tem nenhum erro, Rd não costuma demorar muito não se preocupe. — Agradeço por confiar em mim senhora. — Você tem cara de líder Lívia, não vai me decepcionar, e se precisar de mim não esite em ligar. — Pode deixar comigo. Mesmo com as mãos geladas eu aceitei o pedido da diretora, talvez isso me ajude com alguma experiência. Algumas horas depois fui para sala de aula explicar aos meus alunos o que aconteceria nos próximos dias e é claro, eles não quiseram a nova professora, então foi um trabalho longo e difícil convencer crianças. Meu coração se cortou quando sai da sala e eles continuavam chamando pelo meu nome, decidi que algumas horas do dia ficaria na sala com eles todos os dias. até a diretora voltar. — Lívia, o Rd está na sua nova sala — Márcia, uma outra professora avisou. — Obrigada — me direciono imediatamente pra lá e quando abro a porta lá estava ele. Um homem alto, um físico deslumbrante, parecia ter as costas cobertas de tatuagens e não só os braços. de boné pra trás e um olhar desconfiado ele me fitou de cima a baixo. — Demorou demais, acha que eu sou desocupado mina.? — Diz com a voz grossa. — Bom, pelo visto não é só você — me dirigi até a mesa e sentei-me a sua frente.Lívia Narrando Se eu dissesse que aquele clima estava fácil, com certeza eu estaria mentindo. Ficar frente a frente a um dos piores bandidos do estado foi uma coisa que nunca imaginei, porém parte de me já suspeitava depois de aceitar esse emprego.— Bom, queria saber por onde o senhor deseja começar — Falei pegando a pilha de papéis que a Ana deixou separado.— Primeiramente pode me chamar de Rd tá ligada, e eu quero ver o que foi comprado pro lanche dos cria. — Disse sério e imediatamente lhe dei o relatório, ele parecia realmente interessado naquilo.— Algo mais? — Perguntei.— Quero que tu saiba que não quero ninguém com fome aqui beleza? nenhuma cria vai sair dessa escola com fome no final da aula — Avisou.— Não se preocupe — Falei recolhendo os papéis e só então percebi que ele me olhava. — Alguma dúvida?— Porque tá aqui? — Rd perguntou — Pra dar aulas, não é óbvio — Ele riu.— Tu brinca demais pô, mas se olha no espelho, tanto lugar pra tu dar aula e veio logo pro morro? —
Lívia Narrando A semana passou como um flash, mas confesso que gostei muito de passar esses dias sendo a diretora no lugar da Ana. Com certeza essa experiência vai me moldar para um futuro próximo. Ela havia me ligado hoje bem cedo para dizer que vai se ausentar mais duas semanas mas que estava tudo indo muito bem, disse que estava orgulhosa de mim mas não estava surpresa pois já sabia da minha capacidade.Como hoje é sábado não precisei ir para o morro, mas acordei cedo mesmo assim, quero passar um tempo com dona Cláudia, a semana toda correndo de um canto pro outro sem tempo de ficar com ela.Levantei logo da cama e fui pra cozinha preparar nosso café da manhã enquanto elas dormiam. Antigamente eu não me dava muito bem na cozinha, mas depois dos quinze finalmente aprendi, a minha irmã até hoje não faz conta de encostar no fogão, sempre digo a ela que nossa mãe não é eterna.Já estava terminado de colocar as xícaras quando dona Cláudia veio calambiando de sono ainda pela casa. — Qu
Lívia Narrando Como disse antes, acabei dormindo a tarde toda depois de finalizar as atividades da escola. E quando peguei no celular tinha mais mensagens de um número desconhecido. SMS On Oii gata, tudo bem? Não se preocupa! E a Gabi KSKSKS Quase tirei o juízo dos meninos pra conseguir teu número mana kkkkkk Oii Bibi 🥰 tudo bem? kkk não tem problema. Estamos te esperando aqui hoje, não queira levar falta hein A minha irmã que está perturbando pra ir, será que a passagem é de boa? — Perguntei. Não se preocupa, vou avisar meu irmão. SMS Off Coloquei uma roupa de academia e resolvi ir malhar. No fone um funk pra dar energia, olhei pra moto mas resolvi ir de carro. *** A academia não estava tão cheia, e eu adorava isso. Começei com um cardio na esteira e depois fui pro treino de perna. — Lívia — A voz ecoava atrás de mim, até tentei fingir que o fone estava no último volume mas ele insistiu. — Até quando você vai fingir que eu não existo mais? — Até quand
Lívia Narrando. No palco estava um DJ tocando as febres do momento. Eu não tinha visto mais o Gabriel e olha que eu olhei muito entre as pessoas, muitas mulheres rebolando até o chão quase nuas. Alguns homens que deixavam claro serem do crime, outros pareciam ser de fora. O Nando estava muito perto de mim e isso estava me incomodando um pouco, eu sei que não é com segundas intenções porque somos amigos a anos e nosso rolo foi de adolescência, mas as vezes eu me lembro porque não saiu muito com eles. — Mana, vamos no banheiro comigo? — Puxei ela devagar. — Calma menina, que pressa hein — Reclamou. — Devia ter escolhido outra coisa ao invés de salto alto fino no meio dessa multidão. — Não reclama do meu salto, já estou acostumada esqueceu. — Disse debochando. Assim que nos viramos pra continuar andando encontro a Gabi e algumas meninas. — Ai meu Deus, que bom que você veio Liv — Ela me puxou pra um abraço caloroso. — Não imaginava que era tão cheio assim. — Hoje ai
Lívia Narrando. — Você. Foi isso que Rd disse bem perto de mim, confesso que senti meu corpo tremer só pelo olhar dele. Mas se demonstrei? claro que não! Eu ri. — Normalmente nessa hora você já leva elas pro quartinho? — Gargalhei tomando um gole de água com gás. — Nem precisa falar duas vezes pô — Falou baixo. — Que bom pra você! aproveita e já escolhe a sua — Disse olhando pra aquelas mulheres rebolando no camarote, a maioria já estava cercando algum bandido, outras estavam esperando a presa. — Tu é osso duro morena — Falou como se tivesse planejando algo e logo em seguida levantou os braços como se tivesse chamando alguém. — O que tá fazendo? — Falei preocupada quando vi a Amanda sendo arrastada com os meninos pra onde eu estava. — Quero conhecer teu namorado pow — Ele disse sério. — Isso é mesmo necessário ? — Perguntei sem paciência. — Vai querer apresentar ou eu faço sozinho? — Ele me olhou, na realidade ele só queria saber como eu ia apresentar. O Pedro
Rd Narrando. Essa mina tirou meu juízo no mesmo instante que pisou no meu morro. Ousada, não tem medo de falar o que pensa! Gostosa, que chama atenção por onde passa. E agora que chamou a atenção do bandido aqui eu não vou perder a chance de entrar na vida dela. Mas falando sério eu nunca fui de demostrar interesse pra todo mundo, aliás pra ninguém, aqui e pega e não se apega mas do nada o trouxa aqui beijou a mina no meio de geral pô, beijei, logo eu que nem beijo mulher nenhuma desse morro. Nem a Victória que eu sei que dá só pra mim. Soltei a mina porque a coroa dela ligou. — Você pode me explicar que merda é essa Rd? Eu sai por cinco minutos e você já tá me traindo? — A Victória chegou gritando no meu ouvido. — Não fode caralho — Falei sem nem olhar na cara dela. — As meninas disseram que aquela puta trabalha na escola — Ela reclamava enquanto eu enchia o copo de whisky. — Ai Tória, gosto muito da tua amizade pô, mas vê se some da minha frente antes que eu te deixe
Aos poucos fui entendendo o que ele queria de mim, maluco? sim. Ele era. Mas sei lá? Não sei se foi a adrenalina mas enquanto agente andava de moto pelo morro eu senti a mesma sensação que sentia com o meu pai, uma sensação de segurança.A mãe dele era uma mulher extremamente carinhosa, ela nunca tinha me visto na vida mas me tratou muito bem. Me disse que pela manhã eu podia ir embora pois essa hora era muito perigoso pra mim.— A Raissa — Digo e ela me olha — Ela fala muito de vocês dois na escola — Ela sorriu enquanto arrumava um lençol na cama do quarto de hóspedes. — A Raissa é tudo pra nós, é tudo que sobrou dela — Percebi um olhar triste. — E impressionante a força que uma criança tem na nossa vida não é.— Concordo com a senhora, dona Lúcia. — E você? tem irmãos? — Ela perguntou.— Tenho uma mais nova que eu, o nome dela é Amanda e bom, e ela que tira o juízo da minha mãe na maioria das vezes — Ela sorriu junto comigo. — Espero que sua mãe não fique preocupada com você, o
— Você só pode estar louca Lívia, desde que seu pai morreu você não ouve mais ninguém. — A minha mãe Cláudia grita enquanto eu estou no banheiro do meu quarto me arrumando para o meu emprego novo, aliás no meu primeiro emprego na minha área que é a pedagogia.— Mãe a senhora precisa relaxar, eles são só pessoas como nós — Confessei pegando a mochila em cima da cama vendo a mesma me olhar.— Claro! São pessoas, não desmereci ninguém, mas são pessoas que moram numa favela, cheio de bandidos armados, prostitutas, tiroteio — Ela dizia sem parar.— Mãe, entendo a sua preocupação mas devia diminuir o uso da televisão aqui em casa.— Vai me dizer que não existe nada disso lá? — Ela me fita de cima a baixo.— Todo tipo de mal existe não é? Mas onde eu vou não, é só uma escola cheio de pequeninos que precisam de educação — Ela finalmente olha-me como se confiasse em mim.— Você não está pensando de ir com aquela moto não é? — Perguntou arqueando uma de suas sobrancelhas.— Acha que a Amanda va