Sophie vai a Paris visitar o irmão, conhecer pessoas não estava nos seus planos... Quem disse que os planos devem ser seguidos? Você sabe a diferença entre sonho e realidade? "James virou-se na direção em que Gus apontava, ansioso e em êxtase por poder vê-la pessoalmente, com apreensão e deleite observou a jovem que se aproximava"
Ler maisJames não tinha ideia de quanto tempo passara em frente ao computador, algo era certo, produzira uma grande estória, três anos após a publicação da Dama Cinza, finalmente reencontrou sua inspiração – E que forma inusitada aconteceu – pensou, relembrando o fato.Foi em uma reunião na casa de Gus, uma das muitas que o vizinho costumava organizar, queijos, vinhos e conversas literárias para os americanos perdidos em Paris. O amigo havia deixado o note sobre o branco balcão da cozinha, aberto em uma rede social, na tela uma jovem radiante, longo pescoço, cabelos castanhos e curtos, olhos como os de Bette Davis, ela sorria abraçada a um jovem alto e também bastante sorridente, na legenda a frase de seu único livro de poemas já publicado “E assim seguíamos brincando, feito o anjo chutado do Paraíso. Não consentíamos nenhuma adoração ao silêncio, não admitíamos que nenhum verso fosse esquecido.” - James sorriu com a lembrança – O amigo havia dito que aquela era sua irma, viria
– Insólita – a manha estava sendo insólita, pensou Sophie no banho. Acordara sem Ray, o que já a havia deixado bastante perdida, ele não costumava deixá-la só quando ela vinha visitá-lo, depois a visita surpresa de James– Será mesmo surpresa?- sussurrou para o nada, então TJ, provavelmente a melhor parte da manha ate agora. Decidiu que não pensaria em James, ainda não, depois absorveria a situação.Assim que James fechou a porta do apartamento de Ray, TJ a encarou curioso.– Sujeito peculiar – disse ele apontando com o polegar em direção a saída – O que tava rolando?– Sei la – disse Sophie com um sorriso inocente – trouxe o livro dele para mim… não pergunte mais, também não sei – Sorriu para o amigo.– Combinado, você não pergunta o que faco em Paris e eu não pergunto porque você estava seminua com o vizinho de 40 anos de Ray – TJ riu alto enquanto Sophie sacudia a cabeça fingindo reprimenda.– Sim, não perguntarei o
Acordou suando, assustado, sonhos e sonhos que pela manha não faziam sentido, névoas e promessas, uma garota com olhos de corsa, Modigliani e o fantasma de Lady Douglas, pernas e lábios, deleite e agonia. Abrir os olhos era um tormento, mesmo que as grossas cortinas do local estivessem cerradas impedindo a entrada do sol de verão, outra vez dormira no escritório, gemeu e lamentou por suas costas ao levantar. Quando ouviu Melinda falando com Ray na sala, se apressou, por instantes acreditou que a primeira visão do dia, seria de Sophie em sua sala de estar, com um vestido tao bonito quanto o da noite passada, sorrindo para ele. Qual não foi sua decepção ao notar que estavam apenas Melinda e Ray, juntos a porta, já se preparando para sair.– Hei – disse um James com voz sonolenta e um tanto decepcionada.– Oh… Ola James – respondeu um sorridente Ray, seguido por Melinda – Jay, vamos encontrar o Marc, não sei que horas acabará a reunião.James ainda proc
Sophie sussurrou para o irmão – Não atenda – Mas ele já estava diante da porta. Do outro lado, Melinda os esperava, vestida em um leve e esvoaçante vestido esmeralda que acentuava ainda mais o vermelho de seus cabelos, sorrindo de forma encantadora para os dois irmãos. A porta de seu apartamento estava aberta, mas não havia sinal de James, talvez o famoso escritor decidira os poupar de sua presença, Sophie não acreditou. Suspirou alto, não tinha nada contra Melinda, ate mesmo, não tinha nada contra James, mas desejava Ray apenas para ela, como fora o último verão, ocasionalmente TJ se juntava a eles, mas TJ trabalhava com Ray, era impossível ignorá-lo totalmente, além da total afinidade que surgira entre os dois, Sophie ate admitia gostar de TJ, ainda assim, havia sido diferente. Sophie sentia que algo estava fora do lugar, não Ray, não ela, provavelmente nem os vizinhos, era apenas o exterior, como se la fora houvesse mais pessoas querendo entrar, desfrutar do paraíso pessoal que e
Ele estava fervendo, precisou dar um tempo antes de entrar no prédio, sentia o desejo e a frustração dançarem em sua cabeça, tantos pensamentos irrealizáveis. Ascendeu um cigarro, respirou fundo, aspirou o perfume de Sophie, que a essa altura já sumira dentro do prédio junto a Melinda. Precisava retomar seu controle, algo acontecera, era êxtase e temor, algo acontecera ouviu seu coração rasgar.James ficou no carro tempo suficiente para tentar identificar o que sentia, não demorou muito para saber, fazia tanto tempo que não sentia algo assim – Foi em outra vida – sussurrou para o vazio – Foi um outro James. Não havia mistério ali, ele desejou, como a tempos não fazia, como julgara impossível acontecer novamente, desejou como desejara havia muito, perdera o controle e se encontrara sucessivas vezes em segundos… Sem mistério – Sim, seu estúpido, sem mistério, você apenas a quer – soprou a fumaça do cigarro que não havia absorvido – Sophie – O nome queimava por trás de seu
Sophie seguia Melinda escada a cima, ela carregava uma das bolsas da recém-chegada enquanto tagarelava sobre algo, Sophie notou, com certo alívio, que James não as seguia.– Moramos no mesmo andar. Pode imaginar? Americanos perdidos em Paris e ainda assim nos encontramos – Melinda parecia eufórica novamente, Sophie sorria para ela, mas a única coisa que estava em sua mente é que logo estaria nos braços de Ray e admitiu com egoismo, que não se importaria que o resto de Paris sumisse, inclusive e ainda mais, os vizinhos de seu irmão – não se sentindo bem por tal pensamento, pôs a culpa de tamanha má vontade com a solicitude de Melinda no cansaço da viagem – mas a verdade era uma, desde que ela chegasse logo aos braços de Ray, o resto do mundo podia explodir.Ray esperava em frente a porta aberta. Estava lindo, como Sophie se lembrava, grandes olhos azuis, sorrindo de boca fechada, seus belos e longos cabelos castanhos, ondulavam soltos até o meio das costas. Sophie
Olhou novamente ao redor, tudo se movimentava em um perfeito equilíbrio, exceto… exceto por uma garota parada a alguns metros dali, parecia estar suspensa no ar. Sentiu-se subitamente frustrado, o que vinha acontecendo com certa frequência havia algum tempo, mas dessa vez a força com que sentiu era tao forte que mesmo que usasse todas as palavras que conhecia não conseguiria expressar a sensação, aquilo o irritou. - Como poderia um escritor não ter as palavras certas? - Era como se a garota tivesse despertado nele aquele horrível sentimento de ver algo, no caso alguém, tao fora de seu alcance, que fica impossível negar a impossibilidade do êxito, quando qualquer tentativa para obter o que desejamos será em vão, frustração em seu estado mais bruto. Ainda assim, havia também a agradável sensação, como banhar-se em um mar agitado, libertadora e eufórica, uma sensação que parecia crescer em seu peito. Era a garota? Não podia ser a garota, uma estranha em frente ao aeroporto, a vida dele
Assim que cruzou as portas do aeroporto de Orly, Sophie sabia – Ray não vira!Em Manhattan estava sempre atrasado, quando lembrava de aparecer. Seria diferente em Paris? - Acho que não – suspirou. Sophie o perdoaria? Obviamente, afinal perdoava sempre. Desde que se lembrava, amava perdidamente seu irmão, mesmo com essas pequenas falhas quanto aos horários e compromissos, Ray nunca a decepcionou realmente. Havia muito, decidira ignorar as demais pessoas que conhecia, exceto ele. Ray tinha a capacidade de elevá-la – Como um êxtase religioso – pensou certa vez. Não havia um único dia em sua vida que seu irmão não estivesse la para ela, era seu cúmplice e melhor amigo, mesmo sendo cinco anos mais velho. Da parte de Ray havia reciprocidade, ele sabia da mistica que exercia sobre as pessoas e sabia que só havia uma pessoa, sua Sophie, que poderia fazer com que sucumbisse