MAYSUM
Acordo atordoada com meu pai me chamando e dizendo que irá até o hospital para assim mamãe poder descansar um pouco em casa. Depois que ele sai, tomo um banho e trato de fazer um café bem reforçado para ela tomar assim que chegar, certamente estará com fome. Cerca de uma hora depois enfim minha rainha está em casa. Alguns minutos depois de sua chegada e enquanto conversavámos, ouço uma batida na porta, minha mãe logo adentra a sala saindo da cozinha, sabendo que só pode ser o senhor Ebraim que veio pegar o dinheiro do aluguel. Caminho na sua frente e abro a porta, olhando para o homem que está parado com uma expressão diferente no seu rosto, acho um tanto estranho pois sempre está de cara fechada, como se tivesse de mal com a vida, mas não com... pesar. Saio dos meus devaneios quando ouço a voz da minha mãe.— Maysun, peça ao senhor Ebraim que entre, onde está sua educação?— Me desculpe senhor Ebraim, pode entrar.Enquanto o homem adentra o centro do cômodo, dona Fátima caminha até o pequeno móvel e pega o envelope que contém o dinheiro do aluguel, mas assim que ela estende o mesmo em direção ao homem a nossa frente, a voz dele se faz presente em tom de recusa e com pesar.— Como o contrato anual que tínhamos vence hoje, darei a vocês o prazo de cinco dias para desocuparem o imóvel, pois o novo proprietário me pagou muito mais que esse casabre vale.Minha mãe ao ouvir as palavras de Ebraim fica petrificada. Com a doença do Burak e com a notícia que Ebraim acaba de nos dar, o que será das nossas vidas? Mil pensamentos começam a ecoar na minha cabeça, mas suas últimas palavras fazem todo meu corpo estremecer.— O senhor Kadar, o novo proprietário, deseja que a sua propriedade seja desocupada o quanto antes possivél.*******!!!*****!Depois que o senhor Ebraim profere suas palavras, as quais só trazem tristeza para minha família, ele pega o dinheiro do aluguel e caminha na direção da porta, e antes de deixar o ambiente, volta a mencionar sobre o tempo que temos para desocupar a residência, pois não dará nenhum dia após o prazo estipulado. Fecho a porta e a imagem que vejo a minha frente faz meu coração se apertar. Mamãe, com os olhos cheios de lágrimas, desolada e sem esperanças. Caminho na sua direção e me sento ao seu lado, segurando suas mãos e tentando acalmá-la.— O que será da nossa vida, filha? Como faremos ficando sem casa e ainda tendo que pagar o tratamento do seu irmão? May, não irei suportar se algo acontecer ao Burak, seu irmão é apenas uma criança e não merece passar por tudo isso.A cada palavra dita por ela, lágrimas descem pelo seu belo rosto, assim como as lembranças de tudo que vivemos neste lugar, as imagens do meu irmão dando seus primeiros passos onde estamos começam a passar em flashes na minha frente. Sinto uma pontada em minha cabeça enquanto vários pensamentos se fazem presentes, e uma dúvida paira sobre mim. Espero que Alláh me ajude a encontrar o caminho certo a ser seguido.Mesmo com toda tristeza e sem saber o que faremos em relação ao nosso futuro, nos arrumamos e seguimos para o hospital, e durante todo o percurso, minha mãe se mantem calada. Ver todo sofrimento através dos seus olhos só alimenta ainda mais um pensamento que cresce a cada instante em minha mente, criando uma decisão perigosa. Chegamos no hospital e toda angústia que passamos com a notícia dada pelo seu Ebraim se torna pequena ao ver o meu pai totalmente desolado no corredor próximo ao quarto em que o Burak está, minha mãe ao ver seu estado começa a chorar descontroladamente, um medo agudo atravessa meu peito ao pensar que o pior tenha acontecido ao meu menino. Meu pai vendo o desespero de minha mãe nos conta que o estado de Burak piorou e que ele precisa ser operado imediatamente. Depois de alguns minutos em um completo silencio enquanto limpavamos as lágrimas, seguimos até o quarto onde ele está, e ao adentrar o ambiente, sinto meu coração bater mais forte, descompaçadamente. Me aproximo da cama com os olhos fixos no meu menino, tão pequeno e já tendo que passar por tamanha provação. Meus pais logo se aproximam do seu leito, seus rostos banhados em lágrimas, meu mundo desmorona a cada lágrima que cai. Me afasto um pouco e fico olhando para as três pessoas mais importantes da minha vida, minha mãe que tem um olhar cansado, uma expressão que suplica descanso, meu pai que sempre foi um homem forte está tão frágil com tudo que anda acontecendo. Penso em como ele reagirá quando souber que dentro de alguns dias nem teremos um lugar para dormir.Sinto algo dentro de mim explodir como uma granada, meus batimentos estão em um ritmo frenético, denunciando meu medo. O que era somente um pensamento martelando em minha cabeça, diante dos últimos acontecimentos, me dá a constatação que é o certo a ser feito.E então tomo minha decisão, por mais dificil e humilhante.Acordo atordoada no momento em que o sol ilumina o quarto, ainda sonolenta tento me acostumar com a forte claridade do ambiente. Lembranças recentes invadem minha cabeça, sinto um calafrio por todo o meu corpo ao lembrar do que tenho que fazer dentro de algumas horas. Estou muito nervosa mesmo, durante a noite acordei umas quatro vezes tendo uma crise de ansiedade e medo que não conseguia controlar. Aproveitando que meu pai saiu cedo para pegar algumas roupas e passar no hospital para ver como minha mãe e Burak estão, me levanto e sigo para o banheiro, tomando rapidamente meu banho e me vestindo. Saio de casa ao encontro do meu pior pesadelo, mesmo indo contra tudo que sempre acreditei, não posso voltar na minha decisão, pela felicidade e bem estar da minha família, não temerei a nenhum obstáculo que tenha que enfrentar.Durante todo o percurso penso em tudo que sempre cogitei para minha vida, dos sonhos que nunca serão realizados, do meu desejo em não ser apenas uma mulher entre as milhares que vivem nesse lugar, de mostrar que não importa o sexo ou a classe social, todos devemos ter direitos iguais perante a sociedade, mas no momento em que dizer para aquele demônio que aceito as suas condições, sei que minha vida jamais será a mesma e terei que aguentar as consequências da minha escolha.Depois de quase uma hora chego em frente a empresa Maktoum. Ainda lembro-me do passeio que fui quando ainda estudava, acabamos passando em frente a este lugar, que parecia enorme e ainda continua. Respiro fundo e adentro o ambiente, tudo a minha volta é incrivelmente luxuoso, ostentando muito dinheiro e poder. Me aproximo da recepção e digo meu nome sentindo um nó se formar na minha garganta, meus batimentos aumentam quando o recepcionista diz que o seu chefe já está me aguardando. Ele me fala em qual andar fica a sala da presidência, e mesmo sob alguns olhares masculinos curiosos na minha direção, sigo até o elevador e aperto no botão correto. Olho para minhas mãos assim que as portas se fecham e elas já estão tremendo e suando frio, meus dentes b**em um nos outros, tamanho é o meu nervosismo. Sinto meu coração quase parando dentro do meu peito. O elevador para depois de alguns minutos angustiantes. Saio do cômodo que parecia me sufocar a cada instante e caminho em passos lentos até encontrar outra recepção, falo com uma mulher que tem por volta de uns cinquentas anos, e sigo até a bendita porta. Meu coração b**e ainda mais forte do que antes, respiro fundo tentando acalmá-lo. Não deixarei que o homem dentro desta sala perceba o quanto a decisão que estou tomando me afeta, mostrarei a esse arrogante que por mais que tenha conseguido o que tanto deseja, podendo possuir meu corpo, jamais terá minha alma e meu coração, e sim meu desprezo.Dou mais alguns passos e fico paralisada olhando para a porta grande de madeira escura, que atrás dela se encontra o homem que mudará a minha vida. Com as mãos ainda trêmulas bato na porta esperando uma resposta que não vem. Resolvo abri-la, entrando na sala. O encontro sentado olhando fixamente para a porta, e agora para mim. Viro-me para fechá-la e em seguida solto um pequeno suspiro girando sobre os calcanhares, olho para ele antes de começar a caminhar até a poltrona. Me aproximo de sua mesa quieta e evitando olhá-lo, e antes que eu tenha qualquer reação, meu coração dispara, sinto todo o meu corpo estremecer quando sua voz potente ecooa pelo cômodo.— Maysum Wehbe, sabia que viria, só não cogitei que seria tão rápido.Um sorriso cínico se faz presente em sua face.Ouço as palavras proferidas pelo homem a minha frente, parando no mesmo lugar, intacta. Vejo-o se levantar, percebendo que me olha, desvio o olhar por um instante, procurando organizar os pensamentos. Tamanha proximidade com esse homem me impede de pensar com clareza, a energia poderosa e sombria que vem dele faz todo meu corpo estremecer e vários pensamentos se fazem presentes na minha mente.Como um homem com uma aparência tão bonita pode ter um coração empedrado? Como alguém que poderia estar ajudando o próximo se aproveita do sofrimento dos outros para conseguir seus objetivos? Movo a cabeça de modo que nossos olhares se encontram novamente, notando os diversos detalhes do seu rosto. Kadar tem cílios longos e espessos em torno dos olhos amendoados, lindos, porém há uma sombra negra também em torno deles. Engolindo em seco, assustada com o rumo dos meus próprios pensamentos, não entendo o porquê ainda dou atenção ao olhar do demônio a minha frente. Talvez pelo fato de nunca ter cogitado estar prestes a ir contra tudo aquilo que sempre acreditei e mais ainda por saber que o bem estar daqueles que são tudo na minha vida dependem das minhas ações.MAYSUM Ficamos nos encarando sem desviar o olhar um do outro, só se ouvindo o som das nossas próprias respirações, porém o silêncio é quebrado quando a porta atrás de mim é aberta e a senhora que encontrei minutos antes na recepção entrega o envelope que tinha em sua mão para ele e, em seguida, deixa o ambiente na mesma velocidade que adentrou.— Sente-se. — Diz apontando para a cadeira em frente a sua mesa, assim que se acomoda em sua poltrona. Sem delongas resolvo me sentar, quero acabar logo com tudo isso e sair desse lugar que parece me sufocar igualmente ao elevador. Ele abre o envelope tirando um montante de papéis, logo estende na minha direção, falando:— Nesse contrato então todas as cláusulas que você terá que seguir, assim como todos os benefícios que sua família irá receber assim que ele for assinado.Olho perplexa hora para os papéis e hora para Kadar que tem um ar de satisfação visível na sua expressão. Percebendo minha reação, sua voz novamente se faz presente:—
KADARAlém dos homens que estam vigiando a casa dos Wehbe, o próprio Jamil ficou fazendo o monitoramento no hospital. Depois das palavras que ouvi quando estive na residência de Maysun, que nunca aceitaria minha proposta, coloquei em ação o que já tinha cogitado desde o momento que li no dossiê a situação deles em relação a casa onde vivem. Depois de efetuar a compra da residência, avisei ao antigo proprietário que precisava com urgência que o imóvel fosse desocupado.Quando fui informado que o estado de saúde do pequeno Wehbe tinha piorado, sabia que sua irmã não teria outra alternativa a não ser me procurar, e tudo aconteceu mais rápido do que eu esperava. Através dos homens que estavam e estão vigiando cada passo dela, soube antes mesmo dela chegar até a empresa que enfim aquela atrevida iria engolir cada palavra que me foi dito e aceitar tudo que eu tinha a propor. Para melhorar ainda mais o meu dia, soube que novamente seu irmão passou mal, onde a única alternativa era fazer imed
MAYSUNEla estende o vestido que até agora não havia percebido estar em suas mãos e pede para que eu vá até o banheiro me trocar, que em seguida ela irá arrumar o meu cabelo e fazer uma maquiagem descente e apresentavel. Mesmo contra a minha vontade, acabo fazendo o que ela manda. Não posso deixar que descubra toda a verdade. Entro no pequeno cômodo e olho para o vestido, ficando encantada com a riqueza de detalhes e mais ainda pela cor. Depois de vestida deixo o banheiro indo até ela, que já começa a arrumar os meus cabelos rapidamente. Lágrimas surgem no canto de seus olhos quando finalmente estou pronta.— Você está linda. Uma verdadeira princesa.Desvio meu olhar para o espelho, e eu mesma não acredito no que vejo. Modestia parte, estou muito bonita. Fico me olhando na frente ao espelho até ouvimos o som de alguém batendo na porta, abro a porta pensando ser o demonio que será meu marido, mas no lugar está uma senhora por volta dos 50 anos. De algum modo fico decepcionada, mas feli
MAYSUNCom os olhos fixos na mesa e ainda parada no mesmo lugar, Kadar fala em meu ouvido:— Vamos, você sentará ao meu lado.Em passos vacilantes caminho até o lugar indicado por ele, me acomodo ficando de cabeça baixa olhando para os objetos a minha frente. A senhora Maktoum pede que a comida seja servida, a sensação que tenho é de que todos estão me observando, levanto a cabeça tento a confirmação das minhas suspeitas. A mulher, por nome Haifa, que é prima de Kadar se pronuncia:— Deve ser difícil para alguém de uma classe inferior como você, que nunca viu uma mesa como esta, saber quais os utensílios deve usar. Primo, antes do seu casamento, você deveria contratar alguma professora para Maysun ter aulas de etiqueta já que será uma Maktoum. — Minha garganta se fecha no mesmo instante. Há sarcasmo em cada palavra proferida por Haifa, e antes que eu possa dar a resposta que merece, Kadar se pronuncia:— Talvez esse seja o motivo pelo qual ainda continua solteira, prima, por não sabe
MAYSUNQuatro dias se passaram desde o anúncio do meu casamento a família Maktoum. Sim, exatos quatro dias! Hoje começa o primeiro dos três dias que unirá a minha vida para sempre com a de Kadar. Durante esses quatro dias que se passaram, além da minha apresentação ao conselho do clã que ao saberem da notícia que Maktoum escolheu finalmente uma candidata a esposa, não fizeram objeção ao prazo para realização do casamento, o que me deu a entender que diante da fama do prepotente, arrogante e demônio que todos chamam de príncipe do deserto, os conselheiros estavam incrédulos e com medo dele mudar de ideia se caso eles não aceitassem a data tão próxima, quando, na verdade, teríamos que esperar três meses para realizar a união.Burak teve alta ontem e já se encontra em casa. A princípio mamãe estava muito nervosa assim que o médico informou que ele já podia voltar para casa, meu pai não entendendo sua reação a questionou, e ela contou sobre a venda da casa e que o proprietário nos tinha d
Terceiro dia do casamento....MAYSUNAssim que surgem os primeiros raios de sol, mesmo lutando contra uma vontade enorme de ficar na cama sem fazer absolutamente nada, me levanto. Tomo meu banho e já arrumada, saio do meu quarto indo fazer o desjejum. Assim que terminamos, minha mãe avisa que já está quase na hora de írmos para o palácio, e que devo me preparar para irmos. Duas horas se passam e o veículo que nos levará chega, partimos novamente para o palácio, e no percurso as lembranças dos dois dias anteriores invadem a minha mente. Ainda lembro da expressão de Kadar quando ele estendeu a caneta na minha direção e me afastei, a expressão na sua face me fez vibrar por dentro e no fundo eu queria sorrir, mesmo tendo plena certeza que levaria tudo adiante. Foi bom ver que o senhor arrogante que se acha o dono do mundo naquele momento estava sem reação por não saber o que de fato aconteceria. Me virei na direção dos meus pais que estavam emocionados com um giro nos calcanhares, voltei
MAYSUNCinco horas depoisNunca em toda minha vida fiquei tão nervosa quanto agora. Um imenso nó se forma em meu estômago pela perspectiva do que acontecerá nesse quarto. Depois de cinco horas, onde achei que seriam as piores da minha vida, porém acabaram sendo bem agradáveis, eu estou a um passo de me entregar a alguém que não amo.As lembranças das últimas horas invadem a minha mente. Após a entrada dos noivos, deu-se início a cerimônia e assim que tudo foi concretizado, começou a festa de verdade, com muita dança, comilança e quase todos estavam se divertindo. Durante toda festa fui presenteada com jóias, as quais Maktoum me deu a maior parte como manda a tradição.Também teve alguns dançarinos profissionais que se apresentaram e os convidados, que pareciam estarem ligados em uma potência de 220W, não deixaram a festa morrer um só minuto, garantindo assim muita dança e diversão. Quando já tinha passado umas duas horas, os convidados fizeram uma grande roda onde Kadar e eu ficamos n
KADARAssim que surgem os primeiros raios de sol, me levanto. Meus planos a um dia atrás era permanecer com o meu quarto e deixar para vir ao aposento de Maysun somente para me satisfazer do seu belo e delicioso corpo. Nunca em toda a minha vida acordei ao lado de uma mulher depois de transar, sempre as procurei para satisfazer minhas necessidades e depois as queria bem longe de mim, mas desde o momento em que vi a atrevida no primeiro dia de cerimônia do nosso casamento, algo que nunca senti antes pairou sobre mim. Acreditei que assim que a tivesse em baixo de mim e a possuísse, tudo iria passar, mas a maldita é tão deliciosa, com um corpo perfeitamente esculpido, com um cheiro maravilhoso, que tudo nela me deixou mais alucinado ao ponto de querer mais ainda me perder no meio de suas pernas.Não sei o que está acontecendo, mas jamais me deixarei levar por sentimentos tolos, tudo isso logo passará e Maysun será somente a mulher que estará sempre pronta para que eu possa satisfazer min