MAYSUM
Ficamos nos encarando sem desviar o olhar um do outro, só se ouvindo o som das nossas próprias respirações, porém o silêncio é quebrado quando a porta atrás de mim é aberta e a senhora que encontrei minutos antes na recepção entrega o envelope que tinha em sua mão para ele e, em seguida, deixa o ambiente na mesma velocidade que adentrou.— Sente-se. — Diz apontando para a cadeira em frente a sua mesa, assim que se acomoda em sua poltrona. Sem delongas resolvo me sentar, quero acabar logo com tudo isso e sair desse lugar que parece me sufocar igualmente ao elevador. Ele abre o envelope tirando um montante de papéis, logo estende na minha direção, falando:— Nesse contrato então todas as cláusulas que você terá que seguir, assim como todos os benefícios que sua família irá receber assim que ele for assinado.Olho perplexa hora para os papéis e hora para Kadar que tem um ar de satisfação visível na sua expressão. Percebendo minha reação, sua voz novamente se faz presente:— Já que você mesma disse que nunca aceitaria a minha proposta, essa será a minha forma de fazê-la nunca cogitar em não cumprir com sua palavra. Caso isso aconteça não será só a vida do seu irmão que estará por um fio, e sim dos infelizes que você tem por pais.Além do tom de voz que ele profere suas últimas palavras, o modo como se refere aos meus pais faz, não só um nó se formar na minha garganta, como a raiva incendiar as minhas veias. Lanço-lhe um olhar rápido, e antes dele fazer o que tinha em mente, minha voz ecooa pelo cômodo:— O fato de você se achar o dono do mundo, de ter bens materiais e ser um homem influente perante a sociedade, não te faz melhor que ninguém. Tenho pena de você Kadar Maktoum, pois certamente nunca conheceu o amor e tão pouco foi amado, nem por aqueles que te deram a vida. Somente uma pessoa de coração sombrio como você, que se diz ser superior aos demais, poderia ter pensamentos e atitudes tão baixas e dignas do próprio demônio que habita em você. Eu e minha família podemos ser muito, mais muito inferiores em relação a posição social em que ocupa, mas uma coisa nós temos que nem todo seu dinheiro será capaz de comprar: amor. — Sem me importar com mais nada, me levanto e caminho na direção da porta. Depois de dar alguns passos e levar minha mão ao encontro da maçaneta, o homem atrás de mim volta a se pronunciar, fazendo com que todo meu corpo fique paralisado:— Acredito que deveria ter-lhe informado que minutos antes de entrar em minha sala fui avisado que o estado do seu irmão se agravou, e pela notícia que os médicos deram aos seus queridos pais, a essa hora devem estar inconsoláveis. Enquanto você proferia suas palavras, era um segundo que estava perdendo para salvar a vida do pequeno Burak. — Sem que eu possa controlar as lágrimas descem pela minha face, as lembranças das palavras ditas pela minha mãe que não irá suportar perder o nosso menino começa ecoar pela minha cabeça. Reflito por um instante, não posso deixar que eles continuem sofrendo. Suspiro quase silenciosamente, levo uma das mãos até meu rosto e enxugo as lágrimas, engolindo minha raiva. Viro-me e volto para o lugar que estava antes.Nos minutos seguintes, a cada frase que eu leio, sinto náuseas, um embrulho enorme se forma no meu estômago. Para Kadar sou uma moeda de troca, um objeto a qual ele será o dono e fará tudo que tiver vontade. Minha vontade é pegar o papel a minha frente e esfregar no rosto dele, mas eu estarei tirando a única chance que meu irmão tem para continuar vivendo. Mesmo perplexa e impactada com tudo que li, sem muitas delongas pego a caneta e assino o documento. Levanto o olhar e a visão a minha frente só alimenta ainda mais o sentimento que paira em relação a ele: ódio. O sorriso estampado em seu rosto indica o quanto ele se sente vitorioso, pois mesmo contra minha vontade, acabo de ter voltado atrás nas minhas palavras.Com tudo já resolvido e tendo somente uma semana como prazo para me tornar mais uma das propriedades de Maktoum, me levanto e caminho na direção da porta. Kadar que antes estava sentado se levanta e caminha na minha direção, deixando-me atordoada com suas palavras:— Vamos. Além de providenciar a transferência do seu irmão, temos que dar a notícia aos seus pais.Desde o momento que entrei no carro, mal consigo respirar normalmente. Minhas mãos estão trêmulas devido ao medo e vergonha de contar aos meus pais que me tornarei um objeto de prazer de Kadar Maktoum. Com tudo que estão passando com a doença do Burak, sei que essa notícia trará um desgosto muito grande a eles. Meus pensamentos são interrompidos assim que o carro para em frente ao hospital, e em passos vacilantes, começo a caminhar na direção da entrada principal. Os olhares das pessoas a nossa volta só me deixa ainda mais envergonhada, certamente por saberem quem é o homem do meu lado e terem cogitado que não passo de mais uma perdida que caiu nas garras do príncipe do deserto. Paramos em frente à porta, respiro fundo e antes que eu tenha qualquer outra reação, ele a abre revelando dois pares de olhos fixos na nossa direção.O silêncio se faz presente no ambiente, meus pais tem uma expressão totalmente desconhecida por mim, é como se já soubessem o que aconteceu, porém seus olhos que até o momento estavam fixos em nós, foram direcionados para a equipe médica que adentra o cômodo indo em direção ao leito do meu irmão. Em meio a mudança que terá a minha vida, fico feliz ao ver o brilho da felicidade nos olhos dos meus pais quando o médico informa que estão transferido Burak e hoje mesmo farão a cirurgia.Depois que os enfermeiros saem com meu irmão, os meus pais voltam com as mesmas expressões de antes. Respiro fundo me preparando para dar a triste notícia, e no momento em que meus lábios se mexem, as palavras ditas por Kadar não só faz os meus pais ficarem atordoados, como deixa-me sem qualquer reação.— Dentro de uma semana acontecerá o meu casamento com a sua filha, Maysun Wehbe.******!!!!!Casamento. Essa palavra está martelando na minha cabeça desde o momento em que Maktoum surpreendeu não só os meus pais como a mim com a notícia. Minha intenção era contar toda a verdade para meus pais, explicar que tudo que fiz e irei fazer será para o bem da nossa família, mas Kadar se antecipou comunicando a existencia de um casamento que a própria noiva desconhecia. Não sei qual a verdadeira intenção dele em querer a nossa união, pois as cláusulas do contrato deixaram bem claras do que eu serei para ele, onde minha única utilidade será dar-lhe prazer, além de me humilhar com tudo que está escrito naquele documento, o valor estipulado se caso eu mude de ideia após ele ajudar meu irmão é exorbitante, nem lavando todas as roupas da população de Dubai conseguirei quitar a dívida. O que me conforma é que Kadar passará a casa para o nome da minha mãe, dando a eles todo mês uma boa quantia para se manterem, e meu pai terá um emprego em uma das suas fábricas.Eles demoram um pouco para saírem do estado catatônico em que se encontravam, questionando sem delongas sobre a notícia repentina do meu casamento, mas como já percebi, Kadar está um passo a frente e deu uma explicação convincente. Não sei como ele consegue, mas se eu não soubesse os meios que está utilizando para me ter ao seu lado, teria a mesma atitude dos meus pais após ouvir a história que ele contou, que acabaram acreditando em cada palavra dita por ele. Desde o momento que nos conhecemos na praça até aqui, porém mudando o rumo dos acontecimentos, dando a entender que tanto eu como ele almejamos essa união. Quis gritar e dizer na frente dos meus pais tudo o que realmente está acontecendo, mas ao ouvir as palavras de minha mãe, que mesmo com tudo que está acontecendo jamais aceitaria qualquer ajuda dele em relação ao Burak, e muito menos esse casamento se soubesse que sua filha está — de alguma forma — sendo coagida a aceitar a união, trato logo de deixar claro que quero me unir em matrimônio com Kadar, que acabei me apaixonando e estou muito feliz com essa decisão.O medo em pensar que eles possam rejeitar a ajuda em relação ao meu irmão, abrindo mão da última esperança que temos para a sobrevivência do meu pequeno, me faz ter a confirmação de que devo guardar para mim mesma os últimos acontecimentos que dará uma nova chance de vida ao Burak. Essa será a minha gaiola, uma prisão que só a morte poderá me libertar. Depois de tudo esclarecido, Kadar nos dá licença, sumindo do nosso campo de visão até deixar o ambiente completamente, o que agradeço mentalmente. Não sei como terei forças para suportar esse homem pelo resto dos dias que ainda tenho de vida. Que Allah me ajude. Os minutos seguintes são de pura agonia por não saber como está indo a cirurgia do meu menino.Depois de horas que se pareceram mais uma eternidade, o cirurgião responsável surge na nossa frente, e as palavras ditas por ele faz meu coração transbordar de alegria. Como a cirurgia foi um sucesso, ele nos dá permissão para olharmos Burak, caminhamos ao lado da enfermeira que nos guia até o quarto em que ele está para se recuperar. Ao adentrar o ambiente e ver todo luxo e conforto do cômodo, levanto o olhar na direção dos meus pais que estam com os olhos brilhando de felicidade ao lado do meu irmão. A única certeza que tenho é que, por mais que minha vida seja um inferno ao lado daquele homem, a cena que vejo a minha frente vale qualquer sofrimento que terei que passar. Minha família é o meu bem mais precioso e por eles eu terei forças para não sucumbir diante do demônio que será o meu marido.KADARAlém dos homens que estam vigiando a casa dos Wehbe, o próprio Jamil ficou fazendo o monitoramento no hospital. Depois das palavras que ouvi quando estive na residência de Maysun, que nunca aceitaria minha proposta, coloquei em ação o que já tinha cogitado desde o momento que li no dossiê a situação deles em relação a casa onde vivem. Depois de efetuar a compra da residência, avisei ao antigo proprietário que precisava com urgência que o imóvel fosse desocupado.Quando fui informado que o estado de saúde do pequeno Wehbe tinha piorado, sabia que sua irmã não teria outra alternativa a não ser me procurar, e tudo aconteceu mais rápido do que eu esperava. Através dos homens que estavam e estão vigiando cada passo dela, soube antes mesmo dela chegar até a empresa que enfim aquela atrevida iria engolir cada palavra que me foi dito e aceitar tudo que eu tinha a propor. Para melhorar ainda mais o meu dia, soube que novamente seu irmão passou mal, onde a única alternativa era fazer imed
MAYSUNEla estende o vestido que até agora não havia percebido estar em suas mãos e pede para que eu vá até o banheiro me trocar, que em seguida ela irá arrumar o meu cabelo e fazer uma maquiagem descente e apresentavel. Mesmo contra a minha vontade, acabo fazendo o que ela manda. Não posso deixar que descubra toda a verdade. Entro no pequeno cômodo e olho para o vestido, ficando encantada com a riqueza de detalhes e mais ainda pela cor. Depois de vestida deixo o banheiro indo até ela, que já começa a arrumar os meus cabelos rapidamente. Lágrimas surgem no canto de seus olhos quando finalmente estou pronta.— Você está linda. Uma verdadeira princesa.Desvio meu olhar para o espelho, e eu mesma não acredito no que vejo. Modestia parte, estou muito bonita. Fico me olhando na frente ao espelho até ouvimos o som de alguém batendo na porta, abro a porta pensando ser o demonio que será meu marido, mas no lugar está uma senhora por volta dos 50 anos. De algum modo fico decepcionada, mas feli
MAYSUNCom os olhos fixos na mesa e ainda parada no mesmo lugar, Kadar fala em meu ouvido:— Vamos, você sentará ao meu lado.Em passos vacilantes caminho até o lugar indicado por ele, me acomodo ficando de cabeça baixa olhando para os objetos a minha frente. A senhora Maktoum pede que a comida seja servida, a sensação que tenho é de que todos estão me observando, levanto a cabeça tento a confirmação das minhas suspeitas. A mulher, por nome Haifa, que é prima de Kadar se pronuncia:— Deve ser difícil para alguém de uma classe inferior como você, que nunca viu uma mesa como esta, saber quais os utensílios deve usar. Primo, antes do seu casamento, você deveria contratar alguma professora para Maysun ter aulas de etiqueta já que será uma Maktoum. — Minha garganta se fecha no mesmo instante. Há sarcasmo em cada palavra proferida por Haifa, e antes que eu possa dar a resposta que merece, Kadar se pronuncia:— Talvez esse seja o motivo pelo qual ainda continua solteira, prima, por não sabe
MAYSUNQuatro dias se passaram desde o anúncio do meu casamento a família Maktoum. Sim, exatos quatro dias! Hoje começa o primeiro dos três dias que unirá a minha vida para sempre com a de Kadar. Durante esses quatro dias que se passaram, além da minha apresentação ao conselho do clã que ao saberem da notícia que Maktoum escolheu finalmente uma candidata a esposa, não fizeram objeção ao prazo para realização do casamento, o que me deu a entender que diante da fama do prepotente, arrogante e demônio que todos chamam de príncipe do deserto, os conselheiros estavam incrédulos e com medo dele mudar de ideia se caso eles não aceitassem a data tão próxima, quando, na verdade, teríamos que esperar três meses para realizar a união.Burak teve alta ontem e já se encontra em casa. A princípio mamãe estava muito nervosa assim que o médico informou que ele já podia voltar para casa, meu pai não entendendo sua reação a questionou, e ela contou sobre a venda da casa e que o proprietário nos tinha d
Terceiro dia do casamento....MAYSUNAssim que surgem os primeiros raios de sol, mesmo lutando contra uma vontade enorme de ficar na cama sem fazer absolutamente nada, me levanto. Tomo meu banho e já arrumada, saio do meu quarto indo fazer o desjejum. Assim que terminamos, minha mãe avisa que já está quase na hora de írmos para o palácio, e que devo me preparar para irmos. Duas horas se passam e o veículo que nos levará chega, partimos novamente para o palácio, e no percurso as lembranças dos dois dias anteriores invadem a minha mente. Ainda lembro da expressão de Kadar quando ele estendeu a caneta na minha direção e me afastei, a expressão na sua face me fez vibrar por dentro e no fundo eu queria sorrir, mesmo tendo plena certeza que levaria tudo adiante. Foi bom ver que o senhor arrogante que se acha o dono do mundo naquele momento estava sem reação por não saber o que de fato aconteceria. Me virei na direção dos meus pais que estavam emocionados com um giro nos calcanhares, voltei
MAYSUNCinco horas depoisNunca em toda minha vida fiquei tão nervosa quanto agora. Um imenso nó se forma em meu estômago pela perspectiva do que acontecerá nesse quarto. Depois de cinco horas, onde achei que seriam as piores da minha vida, porém acabaram sendo bem agradáveis, eu estou a um passo de me entregar a alguém que não amo.As lembranças das últimas horas invadem a minha mente. Após a entrada dos noivos, deu-se início a cerimônia e assim que tudo foi concretizado, começou a festa de verdade, com muita dança, comilança e quase todos estavam se divertindo. Durante toda festa fui presenteada com jóias, as quais Maktoum me deu a maior parte como manda a tradição.Também teve alguns dançarinos profissionais que se apresentaram e os convidados, que pareciam estarem ligados em uma potência de 220W, não deixaram a festa morrer um só minuto, garantindo assim muita dança e diversão. Quando já tinha passado umas duas horas, os convidados fizeram uma grande roda onde Kadar e eu ficamos n
KADARAssim que surgem os primeiros raios de sol, me levanto. Meus planos a um dia atrás era permanecer com o meu quarto e deixar para vir ao aposento de Maysun somente para me satisfazer do seu belo e delicioso corpo. Nunca em toda a minha vida acordei ao lado de uma mulher depois de transar, sempre as procurei para satisfazer minhas necessidades e depois as queria bem longe de mim, mas desde o momento em que vi a atrevida no primeiro dia de cerimônia do nosso casamento, algo que nunca senti antes pairou sobre mim. Acreditei que assim que a tivesse em baixo de mim e a possuísse, tudo iria passar, mas a maldita é tão deliciosa, com um corpo perfeitamente esculpido, com um cheiro maravilhoso, que tudo nela me deixou mais alucinado ao ponto de querer mais ainda me perder no meio de suas pernas.Não sei o que está acontecendo, mas jamais me deixarei levar por sentimentos tolos, tudo isso logo passará e Maysun será somente a mulher que estará sempre pronta para que eu possa satisfazer min
MAYSUNAcordo atordoada, sem nem saber em que momento adormeci, com a voz de Tita me chamando, em um impulso me levanto e só então olho para a enorme bandeja em suas mãos, que me deixa assustada por ter dormindo tanto. Depois que termino de almoçar, pergunto por Kadar e ela logo me informa que ele havia ligado dizendo que não viria para o almoço, porém era para ela trazer minha refeição no quarto. Fico feliz por não ter que comer ao lado de pessoas que já demostraram o quanto minha presença não os agrada.Passo parte da tarde entre a companhia de Tita e lendo um dos livros que trouxe, e novamente, minha outra refeição é feita no quarto. Maktoum ainda não chegou, então aproveito que o desconforto na minha vagina já não está me incomodando como antes e tomo um longo banho, só que dessa vez, deixo a banheira de lado e entro debaixo da ducha quente, deixando que a água escorra pelo meu corpo dolorido. As lágrimas que segurava desde ontém começam a descer. Termino o banho e vou até o close