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KADAR

Assim que chego na casa de Maysun, meus homens que estão vigiando o lugar me informam que os pais dela sairam as pressas com um menino desacordado. Trato de ligar imediatamente para Jamil, dando ordens para que ele descubra o que o garoto tem, e após encerrar a ligação, deixo o automóvel e em passos largos me aproximo da entrada da pequena residência a minha frente. Analiso minuciosamente a casa e não me agrada em nada vir a um lugar que pela aparência, já se dá para ver a pobreza com que vivem. Próximo a porta, dou uma batida na mesma e segundos depois, ela é aberta por aquela que vem ocupando os meus pensamentos.

A beleza diante dos meus olhos é estonteante, embora esteja vestida com trapos, os mesmo não foram capazes de ofuscar tamanha beleza. Me divirto ao ver a reação da mulher a minha frente que esá petrificada. Resolvo quebrar o silêncio no ambiente, e como odeio fazer rodeios, vou direto ao que interessa e nem espero um convite, já adentro o cômodo. Para minha total surpresa, o que Maysun Wehbe tem de bonita, também tem de atrevida. Ouço cada palavra que sai por entre seus lábios,e a minha vontade é de sair arrastando-a pelos cabelos e a fazer minha neste exato momento. Porém, ao olhar para a mulher que tem firmeza e convicção nas palavras que profere, respiro fundo para controlar a raiva que inflama em minhas veias e resolvo que mostrarei a ela que sempre tenho aquilo que desejo.

Caminho em direção a porta, mas antes de chegar, viro-me na sua direção, e minha voz ecoa no ambiente, assim que meus lábios se unem, não deixo que se manifeste e saio do pequeno cômodo. Mesmo com a raiva crescente dentro de mim, sou conhecido por sempre agir com cautela, por nunca ser movido por impulsos. Assim que chego próximo do veículo e me acomodo, ainda posso vê-la se aproximando da porta e analisando os veículos parados a sua frente. O automóvel entra em movimento e o meu celular começa a tocar. De primeira acho que é Jamil com as informações que lhe solicitei a não muito tempo, mas ao ver o nome da minha mãe na tela do objeto, sinto todo o meu corpo estremecer.

— Filho, você precisa vir com urgência para casa. O seu pai não está muito bem.

Posso perceber através da sua voz que desta vez não é somente uma crise como vem sendo ao longo dos últimos meses.

— Kadar, você está me ouvindo? O médico já está aqui, mas seu pai não cansa de chamar por você

— Já estou a caminho, mãe. Peça ao médico que faça até o impossível para acalma-lo.

— Não demore, por favor.

Encerro a ligação e peço ao motorista para ir o mais rápido possível. Passo todo o percurso com os pensamentos voltados para o meu pai. Não deixarei que nada de ruim aconteça a ele. Meus pais são as únicas pessoas por quem tenho algum sentimento bom, minha mãe é a única mulher que realmente merece algum respeito e admiração. Embora tendo que dividir meu pai com as outras três esposas, ela sempre soube se mostrar firme nas nossas tradições. Meus pensamentos foram interrompidos assim que sou avisado que chegamos ao nosso destino. Saio rapidamente do veículo, indo em direção a entrada principal do palácio. Atravesso o corredor de acesso ao aposento dos meus pais sentindo os meus batimentos acelerarem, minha garganta se fecha no momento que abro a porta e olho para a imagem a minha frente. Minha mãe tem o rosto banhado em lágrimas, enquanto o médico examina meu pai, que se encontra com alguns fios no peito e equipamentos ligados ao seu corpo. Ao notar minha presença, seus olhos logo se abrem e mesmo contra a vontade de todos, ele levanta a mão até a máscara de oxigênio e em meio de sussurros, sua voz se faz presente.

— Filho, você sabe que não tenho muito tempo de vida, mas não posso morrer em paz sem antes saber que o meu menino, que agora é um homem, estej... — Assim que ouço alguns bips ecoando pelo quarto, não deixo que termine de falar.

—Por favor, o senhor precisa colocar a máscara.

— Me deixe terminar, Kadar. Nada me fará mais feliz do que vê-lo casado antes de partir. Sua prima será uma ótima esposa para você, e assim tudo ficará entre nossa família.

Me espanto ao ouvir tamanha asneira saindo por entre seus lábios, mas ao ver minha reação, ele já sabe o que se passa em minha mente. Meu pai começa a ficar agitado, e diante da situação, eu mesmo fico desnorteado com as palavras que profero.

— Realizarei o seu desejo em me ver casado, mas jamais aceitarei que alguém escolha a mulher que levará o meu nome.

Ouve minhas palavras, um sorriso se faz presente em sua face. Levo a mão de encontro a máscara de oxigênio e a recoloco em seu rosto. Viro-me e minha mãe está com os olhos fixos na minha direção.

Depois de ver que o estado do meu pai está estável, o que me deixa um tanto intrigado pela sua subta melhora, ainda estarrecido com o que prometi, pois sei que a palavra de um Maktoum jamais pode ser voltada atrás, deixo o cômodo indo em direção ao meu aposento. Ao entrar no quarto novamente, ouço o toque do meu telefone, e assim que atendo, Jamil logo me passa as informações que solicitei mais cedo. Encerro a ligação com os pensamentos voltados para mulher que teve a ousadia em dizer que não seria minha. Um sorriso se faz presente em meu rosto.

Maysum Wehbe, tenho ótimos planos para você.

MAYSUN

Quando papai conta-me o que aconteceu com o meu irmão, meu coração gela, minha garganta se fecha de imediato com a posibilidade de perdê-lo. Eu não consigo acreditar que meu menino, que desde o seu nascimento só trouxe alegria para nossas vidas, possa nos deixar ainda tão jovem. Me aproximo do meu pai que está perdido em seus pensamentos, embora seja difícil conter esse sentimento de tristeza que nos apoderou, temos que nos manter firmes para ajudar o Burak. Peço a ele que tome um banho enquanto coloco seu almoço na mesa, pois não poderia deixar de se alimentar, e mesmo contra sua vontade, acabo o convencendo a comer um pouco. Quando termina pegamos as roupas para fazer a entrega antes de seguimos para o hospital, pelo que conheço do proprietário, amanhã bem cedo ele estará em nossa porta para pegar o dinheiro. Com o dinheiro do aluguel em mãos seguimos para o hospital, e ao entrar no quarto que meu irmão está, fico próxima da porta observando minha mãe que está com a cabeça encostada sobre o corpo frágil. Percebendo nossa presença no quarto ela logo levanta a cabeça e olha em nossa direção, seu rosto em uma expressão de total angústia. Uma tristeza e dor toma conta de mim, vê-la com seus olhos inchados de tanto chorar apenas parte mais meu coração. Mamãe é aquela que em meio as dificuldades é o nosso porto seguro, mas olhando para a mulher a minha frente, posso ver que a minha dor e a do meu pai são mínimas perto de tudo que ela está sentindo. Respiro fundo e caminho em sua direção, ela logo se levanta e sou envolvida em um forte abraço. Minha mãe começa a chorar descontroladamente, fico perdida, nunca a vi neste estado em todos os meus anos de vida. Alguns minutos depois ela se acalma, fico olhando para o meu irmão dormindo como o anjinho que é, minha mãe me informa que ele está sedado, já que havia acordado muito agitado minutos atrás.

Mesmo insistindo para ela ir até em casa e afirmando que ficarei com ele, não tem quem faça dona Fátima se afastar do nosso menino, com muita luta ela diz que amanhã cedo deixará meu pai com Burak e irá pegar algumas coisas e descançará. Depois que encerra o horário de visita, volto com meu pai para casa, com tudo que aconteceu achei melhor não comentar sobre a visita indesejada que tive mais cedo e muito menos sobre o real interesse daquele homem. Não sei o exato momento em que adormeço após chegarmos finalmente em casa.

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