Parte 2...
— Então, se está informado sobre tudo, sabe bem o que eu quero - seguiu adiante com um nó na garganta — Minha mãe precisa muito de um tratamento e cada dia que passa o tempo fica mais curto para ela.
Ele deu um sorriso nojento que a deixou em alerta, soprando aquele cigarro horroroso que a sufocava.
Nem mesmo as belezas de Athenas a acalmaram quando pisou em solo grego no aeroporto. A capital de um país tão maravilhoso, cheio de história e cultura seria o destino perfeito para férias, mas ela não estava ali para isso.
A herança da era clássica era evidente em muitos pontos da cidade, com monumentos e obras de arte que contavam a gloriosa história do império grego.
Se estivesse ali a passeio poderia percorrer suas ruas e visitar seus museus, o Paternon e a Acrópole tão famosos em todo o mundo. Athenas foi uma das principais cidade-estado na Grécia antiga e qualquer estudante de artes ou história adoraria ficar ali um longo tempo. A cidade tinha um grande apelo emocional.
— Eu estava só esperando o momento certo, sabia que você um dia iria bater em minha porta.
Ficou com raiva. O homem era um descarado. Não escondia que tinha prazer em fazer com que ela se rebaixasse. Que nojo sentia dele agora.
Sua cabeça começou a latejar para aumentar ainda mais seu desconforto desde que iniciou aquela viagem a Athenas.
Se não fosse extremamente importante, jamais teria pisado ali e menos ainda pediria ajuda ao tio. Mas tinha muita coisa em jogo e não podia mais adiar.
Olhou em volta o escritório luxuoso e grande, assim como toda a casa. Mansão era a palavra correta. Ele vivia no luxo desde que nascera e gostava de ostentar isso na cara de todos. Era um homem arrogante. Fazia o que queria e se divertia em diminuir as pessoas.
Apertou os dedos das mãos que os nós dos dedos ficaram vermelhos. Ela precisava muito entrar em um acordo com ele para ajudar sua mãe. Era a última coisa que podia fazer.
O sorriso descarado lhe causava repulsa. Enquanto ela tinha três empregos para se sustentar e manter sua mãe, ele vivia sozinho naquela propriedade enorme gastando sem parar. Não tinha vergonha nenhuma de seu estilo de vida exagerado.
Começava a sentir ódio do tio, algo que não era comum em sua vida. Não perdia tempo tendo sentimentos ruins sobre os outros porque não podia. Realmente não tinha tempo para isso.
Sua vida era cheia desde pequena. Preferia se afastar ou seguir por outro caminho. Sabia que ele era um homem ruim pelo que sua mãe lhe contara, ainda que ela não falasse muito sobre a família de seu pai, mas nas poucas vezes em que falava, lhe dizia para não se aproximar de Yago Demetriou.
Precisava ser hábil para lidar com o tio ou de nada adiantaria ter se endividado para ir até Athenas. Não tinha condições de perder esta chance. Sua boca estava seca, mas precisava continuar seu plano.
Não poderia somente virar as costas e sair dali deixando o tio para trás, apesar de ser o que mais queria agora. Respirou devagar uma, duas vezes, buscando acalmar o tremor em seu corpo.
Não podia perder o foco do que viera fazer ali. Ele era um homem nojento, egoísta e mesquinho, mas era sua única saída. E infelizmente nesse caso, o fim justifica o meio.
Se ela tinha que suportar ser humilhada por esse homem para ter o que precisava para sua mãe, valeria a pena.
Yago era o único parente que lhe restava e infelizmente seu último recurso para não parar o tratamento da mãe tão enferma. Há longos anos ele não as procurava, nem mesmo por um simples telefonema.
Para ele, era como se elas tivessem morrido também naquele dia horrível dezesseis anos atrás.
Se Yago as tivesse ajudado naquela época, talvez tudo fosse diferente hoje e ela não estaria ali se humilhando e nem sua mãe morrendo aos poucos. Sentiu uma dor no coração.
Sua mãe era a pessoa mais importante em sua vida e tudo o que ela tinha. Qualquer sacrifício seria pouco para ajudá-la.
— Não fique com essa cara de imbecil, garota, foi você quem me procurou - riu de modo cínico.
— Só por grande necessidade - enrijeceu — Minha mãe precisa muito do dinheiro.
— Ela deveria ter vindo então - foi irônico.
— Se sabe de tudo, sabe que ela não teria como fazer isso - respondeu magoada por sua frieza.
Ele resmungou algo que ela não captou e apagou o resto do cigarro em um cinzeiro de porcelana.
— Ela teve muito tempo para me procurar.
— Se não o fez é por ter seus motivos.
Nathaly viu a mudança no rosto dele. Para pior.
— Claro, ela me odeia e a fez me odiar também, não foi? - apertou a boca — E está aí toda quietinha, porque sabe que sou sua única chance - riu de modo maléfico — Se eu não a ajudar vocês já eram. Ou melhor, ela já era - gesticulou — Você ainda pode se virar, é muito jovem e pode fazer outras coisas.
Estava explícito o prazer que ele sentia. Não recordava de ter conhecido outra pessoa assim em sua vida. E ainda por cima era seu único tio.
— Ela é sua cunhada e...
— Cale-se! - bateu na mesa com força — Nunca gostei de sua mãe. Ela foi a culpada principal por tudo o que aconteceu. Se não fosse por suas ideias idiotas meu irmão não teria morrido. Ele caiu em uma armadilha e ela teve culpa.
Nathaly prendeu a respiração chocada com a grosseria.
— Até em você ela errou. Deveria ter sido um menino - olhou-a com desprezo — De que me serve uma sobrinha imbecil? Você nem tem a aparência de meu irmão. Se não fosse seus olhos azuis e o nariz fino poderia ter sido de outro. Não lembra em nada meu querido irmão Yanno - fez uma cara desaprovadora — Esse cabelo horroroso parece que é palha queimada - começou a apontar seus defeitos — Não tem altura de um Demetriou e é magra como um esqueleto. Você é feia. Esse cabelo é ridículo - gesticulou apontando — Se não fosse por aquela mulher você estaria aqui comigo todo esse tempo e herdaria tudo. Seria criada de acordo, não em um país de gente maluca.
Ela sentiu um arrepio ruim percorrer sua espinha. A crueldade com que ele falava era horrível aos seus ouvidos.
Ela sabia que nunca tinha sido uma grande beleza, mas não era feia como lhe cuspiu. Também tinha sua estima própria. Sabia que não tinha o corpo bonito de suas amigas e nem o charme de muitas garotas de sua idade, mas não era preciso lhe dizer isso de modo tão frio.
Era muito magra sim, mas por necessidade. Respirou fundo. E não tinha dinheiro para se arrumar ou para gastar com coisas normais de uma mulher. Só fazia o que podia. O mais importante vinha antes de coisas fúteis.
É de impressionar a crueldade de certas pessoas, que não imaginam o quanto é difícil para alguém sem recursos, fazer algo, até mesmo cortar um cabelo.
Parte 3...Segurando a vontade de chorar ela pensou na diferença entre eles. O tio tinha tanta riqueza e ela era relegada a viver em grande dificuldade junto com a mãe e tudo isso poderia ser diferente se ele tivesse pelo menos um pouco de compaixão. Desde a entrada suntuosa com um enorme portão de ferro trabalhado até ali, a propriedade era cheia de coisas caras que mostravam riqueza. Enquanto isso ela morava com a mãe em um local minúsculo em uma área péssima da cidade, porque não tinham condições de se mudar para outro lugar. Por vezes sonhou em sair de lá, mas não tinha condições financeiras para tanto. Nunca havia saído de Vale Real, o que dirá fazer uma viagem internacional. Esta tinha sido a primeira vez que entrara em um avião.— Estou bem sendo uma garota e não quero rios de dinheiro, quero apenas o suficiente para ajudar minha mãe - disse com coragem.— Cale-se! - gritou — Não seja petulante menina, você precisa de mim. Aquela imbecil da sua mãe não a criou da forma certa
Parte 4...Ela engoliu a vontade de mandá-lo à merda. Claro que não teria roupas chiques e caras, não tinha como, mas tão pouco era uma mendiga. Conseguia se virar e comprar roupas dentro de seu orçamento que lhe serviam muito bem.— Ele vai pensar primeiro na parte financeira de nosso acordo e vai levar em consideração que você servirá apenas como um depósito de esperma que lhe dará o herdeiro de que precisa.Ela ficou vermelha ao ouvir o que disse. O homem tinha a capacidade enorme de ser um grosso a cada palavra que dizia. Que modo horrível de se expressar. — E depois que achar que pode ficar grávida, ele só tem que esperar a criança nascer e poderá se separar de você - gargalhou — É o que ele vai achar, mas não será assim.Ela olhou para a pasta ao seu lado com os papéis sobre sua vida e entendeu o quanto ele era moralmente perverso. Esperar anos para se vingar e usar um momento tão difícil como o que ela atravessava apenas por seu prazer.— Vai me dar o dinheiro se eu aceitar fa
Parte 5...— Vai abrir mão da empresa - deu uma risada triste e raivosa ao mesmo tempo, andando devagar pela varanda — Da nossa empresa, é claro. Se não fosse por Yago nós nunca teríamos perdido o que já era nosso de direito. Ele trapaceou meu pai e o enganou, tirando o que deveria ser seu desde seu nascimento.— Meio estranho isso... O que ele quer em troca disso?O pai parou em frente a ele e colocou a mão em seu ombro.— Que você se case com a sobrinha dele.— Como é que é? - gargalhou sem acreditar — Ele é louco? Acha que vivemos em que século? - gargalhou de novo.— Louco ele deve ser com certeza - Kratus torceu a boca, concordando — Mas é isso o que ele quer para devolver a empresa diretamente para você.— Meu Deus - balançou a cabeça rindo._ Não é para rir filho, é sério - disse sem traço de humor.— Pai, sabe que não penso em me casar ainda e a candidata jamais seria alguém daquela família nojenta. Imagine só, que absurdo.— Não é bem assim... Você já passou da hora de se cas
Parte 6...— Não pode ser cínico assim, filho. Serão os filhos dela também. Acha que vai querer se casar para ter herdeiros com alguma doença estranha? - balançou a cabeça.— Sei lá - mexeu os ombros — Tudo é possível com essa família. E não quero uma esposa, menos ainda sendo escolhida por aquele golpista ladrão.Chegou até a dar uma risadinha pensando que a sobrinha deveria ser muito feia ou ter um problema mental para que o tio precisasse lhe comprar um marido. Qual mulher hoje em dia aceitaria tal coisa? Ainda mais com o feminismo em alta.— Primeiro conheça a moça, deve ser uma ótima pessoa - ele riu — Falo sério, filho!— O senhor confia demais papai.— E você é desconfiado demais.— Pai, ela deve ter algum problema. Pense bem - meneou a cabeça fazendo careta — Se fosse uma pessoa normal nós saberíamos alguma coisa, por menor que fosse - balançou a cabeça — No mínimo deve ser entediante ou ter personalidade de um porco-espinho. Nunca soube nada de uma sobrinha dele na mídia.— E
Parte 1... Quatro dias depois...“Ganhe pra viver, viva com carinho. E de preferência, sem ter contas a pagar.Olhe pra você, não pro seu vizinho, que o tempo passa, não vai nunca te esperar.Tá bom, mas é bom não esquecer, que a vida não livra a de ninguém.Nosso futuro ninguém vê. E o presente é o que se tem.O amor e a paixão entram nesse jogo. A paixão é fogo, muito fácil de apagar.O verdadeiro amor cresce diferente. Cotidianamente, a gente tem que cultivar.A vida não é sempre o que se espera. Pobre de quem não se considera um aprendiz.Cada um é um, tudo vale nada, se até o fim da estrada, não se chega a ser feliz.”********** ********** Nathaly relia essas palavras desde que pegou uma revista no aeroporto, antes de embarcar, que falava sobre situações diferentes da vida e tinha algumas dicas, diretas e poemas sobre diversas situações. Mas nenhuma das dicas ali estava servindo para ela agora.Ela estava com os ouvidos doendo de tanto ouvir as reclamações do tio sobre ela nã
Parte 2...Ambos tinham culpa de tudo o que havia acontecido em sua vida. De todas as dores que passara até ali. Da perda de seu pai amado, do sofrimento de sua mãe e de sua impossibilidade de ser mãe também. De certa forma seu tio tinha razão, seria uma justiça.Ela teria que esconder que sua mãe continuava viva. Assim que ele fizesse o depósito em sua conta o valor seria repassado diretamente ao hospital, onde pagaria a dívida que já tinha e durante os outros meses pagaria sempre na data certa, mantendo o tratamento de sua mãe e sua cirurgia seria feita. Só precisaria manter a farsa do casamento enquanto sua mãe estivesse ainda em tratamento, depois poderia sumir da vida deles. Fugiria. Voltaria para o Brasil e daria um jeito de sumir com sua mãe.Daria adeus às preocupações financeiras e à pobreza. Seguiria com o casamento durante o tempo necessário e depois que acabasse a parte difícil do tratamento de sua mãe, ficaria mais um pouco com ele até fazer uma poupança que fosse sufici
Parte 1...“A paixão que queima. A paixão que arde. A paixão que explode no coraçãoVem do mais fundo profundo, onde não cabe a razão".********** **********Dizer que ela era bonita seria pouco. Era linda!Kostas a observou enquanto se aproximava. Caminhava um pouco hesitante, mas com aqueles saltos até o vento a derrubaria. A primeira coisa que notou foi seu cabelo vermelho, escuro como fogo. Nunca tinha visto uma ruiva tão forte. Sua pele muito branca contrastava com o vestido curto, também vermelho. Apertou o olhos para entender sua postura ao falar com o tio, eles pareciam estar discutindo. Talvez pelo exagero da sobrinha ao se vestir daquela forma para um encontro que poderia selar um grande acordo. Yago apesar de tudo era um homem de costumes gregos e deve ter achado errado que a garota se exibisse tanto. Mas como ela havia sido criada no Brasil deve ter achado normal se expor assim. Quando se aproximaram ele notou logo seus olhos de um azul muito forte e brilhante, quase
Parte 2...— Você me conhece pouco rapaz, mas sabe minha reputação - ameaçou Yago.— E nunca me importei com ela. Gosto de brigas, especialmente as antigas - seus olhos brilharam ameaçadores e ignorou o olhar de advertência do pai — Não gosto que se metam em meus negócios e deve conhecer minha reputação também.Nathaly apertou as unhas na palma da mão. Era só o que lhe faltava. Ambos eram a mesma coisa. Estava presa entre a cruz e a espada. Respirou fundo.Yago olhou para ela e lhe enviou uma ameaça velada, mas ela entendeu. Depois ele abriu um sorriso cínico para Kostas.— Tudo bem. De qualquer modo é bom que ela conheça a nova casa dela.Kostas franziu a testa com o aparente susto que ela levou e achou estranho que Yago já definisse o acordo como fechado. Ainda não tinha assinado nada.— Como assim? - olhou em volta nervosa, mas se segurando. Eles estavam em uma ilha. Ela estava cercada de água — Como minha nova casa? - sua voz passou um pouco do medo — Quer que eu venha morar aqui?